Que país é este?! – Índice dos países com reconhecimento limitado

São 193 os Estados Membros da ONU, porem existem outras nações “de facto” independentes mas com reconhecimento limitado. Alguns são bem acessíveis para viajar, outros nem tanto. Sempre importante lembrar que países onde o Brasil não tem relações diplomáticas você não tem assistência nenhuma em caso de dificuldades.

1- República da Transnístria

Lenin

Lenin

Reconhecimento: 3 estados não membros da ONU

Capital: Tiraspol

Moeda: Rublo da Transnístria

Visto: Emitido na fronteira, necessita de registro caso fique mais de 12 horas

Relato: (Clique aqui)

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2- Kosovo

Ponte de pedra com a mesquita ao fundo

Ponte de pedra com a mesquita ao fundo

Reconhecimento: 109 estados membros da ONU

Capital: Pristina

Moeda: Euro

Visto: Brasileiros não precisam

Relato: (Clique aqui)

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3- República da Abecásia

Novi Afon

Novi Afon

Reconhecimento: 4 Estados da ONU e 3 não membros

Capital: Sukhumi

Moeda: Rublo e Aspar da Abecásia (não muito utilizado)

Visto: Autorização de entrada pode ser solicitada por e-mail, visto necessário para a saída emitido no Ministério das Relações Exteriores

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4- Chipre do Norte

Porto

Porto Girne

Reconhecimento: 1 estado membro da ONU

Capital: Nicósia

Moeda: Lira turca, Euro e Libra esterlina

Visto: Brasileiros não precisam

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5- República de Nagorno-Karabakh

Mesquita

Mesquita em Agdam

Reconhecimento: 3 estados não membros da ONU

Capital: Stepanakert

Moeda: Dram armênio

Visto: Emitido no Ministério das relações exteriores e necessário para sair do país (para entrar não precisa)

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6- República da Somalilândia

Memorial de guerra

Memorial de guerra

Reconhecimento: Sem reconhecimento internacional

Capital: Hargesia

Moeda: Shilling da Somalilândia

Visto: Emitido na fronteira ou com antecedência em uma das ” Embaixadas”

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7- Palestina

Free Palestine

Free Palestine

Reconhecimento: 138 estados membros da ONU

Capital: Jerusalem Oriental (ocupada), Ramallah (provisória)

Moeda: Shekel

Visto: Brasileiros não precisam

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8- Saara Ocidental (República Árabe Sarauí)

Bases militares por todos os lados

Bases militares por todos os lados

Reconhecimento: 84 estados membros da ONU

Capital:  Laayoune (ocupada), Bir Lehlou (provisória)

Moeda: Dirham

Visto: Brasileiros não precisam

Relato: (Clique aqui)

Vídeo:

9- República da Ossétia do Sul

RSO- República da Ossétia do Sul

RSO- República da Ossétia do Sul

Reconhecimento: 4 estados da ONU e 3 não membros

Capital: Tskhinval

Moeda: Rublo

Visto: Autorização de entrada pode ser solicitada por e-mail com um mês de antecedência, visto necessário para a saída emitido no Ministério das Relações Exteriores

Relato: Devido a uma queda de barreira na estrada não pude visitar

Dos países “de facto” independentes ainda tem Taiwan, reconhecido somente por 21 estados membros da ONU, mas que eu ainda não visitei.

Existem muitas outras regiões que já foram ou gostariam de ser independentes, mas hoje fazem parte de outros países, portanto não sendo “de facto” independentes. Algumas foram transformadas em regiões autônomas (ou semi-autônomas) e Repúblicas, outras mantém governo no exílio.

Algumas destas regiões por onde eu já viajei:

Tibet

Relato: (Clique aqui)

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Curdistão

Relato: (Clique aqui)

no centro da cidade

Citatel de Erbil

República da Chechênia

Relato: (Clique aqui)

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República de Karakalpak

Relato: (Clique aqui)

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República da Ossétia do Norte

Relato: (Clique aqui)

Dargavs

Dargavs

Caxemira

Relato: (clique aqui)

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Xinjiang (Turquestão Oriental)

Relato: (Clique aqui)

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República da Inguchétia

Relato: (Clique aqui)

Torres Inguches

Torres Inguches

"O fato de que poucas pessoas vão,
é uma das razões mais fortes para viajar para um lugar"
- Paul Theroux
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Principado de Svaneti

Quando saí para meu projeto dos “Países que não existem”, sabia que passaria pela Geórgia varias vezes. Sabia também que não poderia dar a atenção devida ao país. Não seria a primeira vez. No início de 2011, quando parti de Istambul para percorrer a Rota da Seda, minha ideia inicial era de passar pela Geórgia e Armênia antes de ir para o Irã. Acabamos nos atrasando um pouco e teríamos somente duas semanas para percorrer estes países (alguns vistos da Ásia Central tem data marcada). Surgiu a possibilidade de visitarmos o Norte do Iraque e optamos por esta rota. Seria muito mais difícil voltar para para o Iraque do que para a Geórgia. Não é que eu estava certo?!

Como a Bibi não foi comigo, existe uma probabilidade bem alta de eu voltar para os Cáucasos. A região que eu mais gostei da Geórgia acabou aparecendo no roteiro meio que por acaso. Dias antes, um deslizamento de terra bem grande aconteceu na Military Highway, estrada que liga a Geórgia com o Sul da Russia. Falavam em semanas para liberar a estrada, pois até o posto de fronteira que tinha sido danificado. Com isto ia por água abaixo meu plano de visitar a Ossétia do Sul, já que o único acesso permitido é via Russia. Com esta situação, tínhamos alguns dias extras e não foi difícil escolher o destino: O antigo Principado de Svaneti, a mais alta região habitada da Europa.

Não deixa de ter uma ligação com o meu projeto, já que no passado já fez parte do Reino da Abkhazia, antes de ser anexado ao reino da Geórgia. Devido a localização estratégica, sempre foi de extrema importância. Foi protetorado dos Bizantinos para se defenderem dos persas e dos russos que temiam a invasão dos otomanos. Tão isolado que mesmo durante a URSS conseguiu preservar bastante sua tradição.

Estávamos voltando da República da Abecásia, o Marcelo iria encontrar com dois amigos em Tbilisi capital da Geórgia, e eu fiquei em Zugdidi. Sabia da infrequência do transporte publico no período da tarde. As estradas, apesar das ultimas reformas, ainda são lentas e cheias de curvas. Parei no pequeno patio de ônibus e me informaram que quando chegassem mais passageiros sairia. Estava com uma cara que demoraria horas e resolvi comer alguma coisa. Me deliciava com mais um prato tipico da região quando vi uma marshrutka (lotação) parando na frente do patio onde funcionava a “rodoviária”. Sai correndo a tempo de embarcar sentido Mestia, “capital” de Svaneti.

Caminho para Mestia

Caminho para Mestia

Não demorou muito e começamos a subida. A paisagem foi mudando, curvas e mais curvas, penhascos e lagos. Foram horas de viagem, mas poderiam ser dias que não reclamaria. Cabeça encostada na janela, vendo a paisagem incrível passar como se fosse a televisão da vida real. Só tirei o sorriso do rosto quando percebi que o motorista estava bêbado. Numa das nossas paradas ele tomou mais duas garrafas de cerveja, o que me deixou preocupado. Cheguei a pensar em pegar carona, mas o final de tarde se aproximava e a estrada não tinha movimento. As curvas aumentaram, mas nosso “piloto” parecia saber o que estava fazendo. Horas mais para frente, paramos para ajudar a tirar um sofá de cima de uma caminhonete e entregar para uma família. Muito contentes com minha ajuda, já me convidaram para comer e beber. O vinho rolava solto, mas para meu desespero a bebida preferida do motorista era o Chacha, uma vodka feita de uva, tipo uma grappa. Como não adiantava intervir, achei melhor relaxar, ou melhor, beber para relaxar. A “festa” de ultima hora parecia não acabar e acabei seguindo um uma outra lotação que passou por ali. Começava a anoitecer, a paisagem de montanha continuava incrível, e as primeiras torres de vigia dos Svaneti começaram a aparecer.

Mestia - Geórgia

Mestia com suas torres

A pequena Mestia funciona como a capital da região. Até que tem uma boa estrutura turística (mais que imaginava/queria), com hotéis e um ou outro restaurante onde o pessoal fica tomando cerveja e escutando musica no final da tarde. Muitos homestays onde as famílias fazem um dinheirinho extra alugando os quartos das suas casas. Alias, muitas destas casas já são verdadeiras pousadas, cheias de estrangeiros. Eu paguei 25 Lari, cerca de 10 euros para um quarto privado, com direito a café da manhã e jantar (bem servidos!).

Arredores de Mestia

Arredores de Mestia

Caminhadas

Caminhadas

O fato de ter ficado isolada nas montanhas por tanto tempo, preservou a cultura Svaneti. Eles tem uma língua própria, bem diferente do georgiano. As roupas, comidas e costumes também são diferentes. A partir de Mestia tem uma serie de passeios e trekkings para fazer. Algumas igrejinhas super antigas, um museu etnográfico mas a cultura e visual da região que são a grande atração. Cercada de montanhas, algumas delas nevadas e com diversas torres defensivas (construídas entre os seculos 9 e 12). Fiz uma caminhada até o Glacial Chalati, passando por outras belas paisagens. Não foi difícil conseguir carona na volta, e nem fiquei surpreso quando me convidaram para beber. Beber parece ser um esporte nacional por aqui também!

Glaciar

Glaciar

Foram dias gostosos mas ainda não tinha terminado a minha jornada por Svaneti. Um pouco ao sul de Mestia fica Ushguli, quatro pequenos vilarejos com casas de pedra, cheios de torres defensivas, à sombra da maior montanha da Georgia ( Mt Shkara, 5068metros). O caminho não é fácil, umas quatro horas para percorrer menos de 50 quilômetros, mas o trajeto é fascinante. Ushguli é daqueles lugares que se pode usar qualquer tipo de elogios e superlativos, mas mesmo assim não se consegue descrever a beleza da região. Tão pouco as fotos conseguem traduzir o encanto do lugar!

Ushguli, Svaneti

Ushguli, Svaneti

Caminhei entre as vilas, visitei igrejas, monastérios e observei o dia a dia da região. As imponentes montanhas ao fundo – alem do povo em geral- davam todo um clima para o vale. Cachorros usados para pastoreio estavam por todos os lados. Alguns faziam companhia nas caminhadas, outros intimidavam quando me aproximava de alguma casa ou tentava interagir com alguém. Mais para frente vou escrever sobre as inúmeras atrações da Georgia, país com potencial turístico muito grande, mas Svaneti foi o lugar que mais gostei de todos que visitei!

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Gostaria de ter passado mais tempo nestes vilarejos, dar chance ao acaso, entrar no dia a dia local. Existem diversas casas que alugam quartos, deve ser uma experiência incrível ficar uns dias por ali. Infelizmente acabei só passando o dia. Na noite anterior soube que a fronteira com a Russia tinha sido reaberta, e apesar da lentidão, era possível atravessar. Eu já havia perdido a data de entrada para a Ossétia do Sul, mas não deixava de ser uma oportunidade de visitar algumas repúblicas do Norte do Cáucaso, que ficam no sul da Russia.

Interessante que em linha reta, se atravessasse as montanhas, eu não estava a mais de 10 km do sul da Russia (a montanha mais alta da Europa fica do outro lado da fronteira,  o Monte Elbrus, com 5642mts).  Porem a unica estrada da Georgia para a Russia é a Military Highway . Eu teria que voltar até Mestia, acordar muito antes do sol nascer para garantir espaço em uma lotação até Tbilisi e da lá pegar outra lotação, montanha acima novamente, até Kazbegi. Confesso que senti falta de ter uma das coisas mais importantes numa viagem, “Tempo”, mas compensei com muita disposição. Cansativo? Claro que sim, mas as paisagens, pessoas e experiencias faziam que eu quase não lembrasse disto!

 

República da Abecásia, mais um dos países que não existem?

Depois de uma rápida passagem por Tbilisi, capital da Geórgia, pegamos outro trem noturno, até Zugdidi, no oeste do país. Mais uma viagem longa em um trem lento. Chegamos o dia ainda não havia amanhecido e buscamos transporte até a fronteira. Bem, fronteira na pratica, pois na teoria a Geórgia considera a Abecásia como parte do seu território. É um país de facto independente, mas com reconhecimento limitado, mais um dos “Países que não existem”.

A região passou por diversos domínios, existiam principados menores fazendo parte de reinos maiores. Politicamente a Georgia sempre teve uma influência muito grande na região, mas etnicamente e linguisticamente o povo de lá é mais ligado aos seus vizinhos do norte, no Cáucaso russo. Como colapso da URSS a Abecásia quis ser um país, e não somente um território da Georgia.

Chegando próximo do rio Igur, um pequeno posto de controle da Georgia. Quase passamos despercebidos mas nos chamaram e anotaram o número do nosso passaporte. Carroças faziam o transporte até o outro lado, mas fomos caminhando pela pequena estrada e depois por uma longa ponte, onde lá no fundo já era possível avistar uma bandeira da República da Abecásia e barreiras do exército.

Ponte Georgia x Abecásia

Ponte Georgia x Abecásia

Meia dúzia de pessoas formavam uma fila, uns se encostavam na pequena guarita, ao lado de uma cancela fechada. A fronteira ainda não tinha aberto,  esperamos um tempo por ali, só fantasiando como seria do outro lado. Quando liberados, andamos pelos corredores de grade e arame farpado até o controle de passaporte em si. Na nossa vez, o oficial perguntava em um inglês sofrível detalhes da nossa viagem. Ele falava alto, quase que gritando, como que se desta forma fossemos entender melhor. Eu tinha anotado uns nomes de hotéis, mas o que falei não ficava bem no centro da cidade e ele ficava fazendo mais perguntas pois a resposta não tinha sido muito precisa.

Fronteira

Amanhecer na fronteira

fronteira

Primeiro controle Abecásia

Imigração feita, fomos negociar um transporte. Existem duas opções: Um táxi direto ou lotação até Gali não muito longe dali, e outra até Sukhumi, capital da Abecásia. Negociamos o valor com um taxista, conseguimos outros passageiros para dividir, e desta forma o preço não ficou muito mais alto do que se fizéssemos em etapas. Já tínhamos um pouco de Rublos russos, moeda utilizada lá, o que facilitou bastante, pois se não existe nenhum comercio na fronteira, imagine uma casa de cambio. A Abecásia tem sua própria moeda, o Apsar, mas é basicamente figurativo, o Rublo que é a moeda corrente.

Fomos percorrendo a estrada, parecia que entravamos em um filme pós-guerra. Tudo abandonado, casas destruídas, já sendo tomadas pela vegetação. Marcas fortes de destruição, como se o cheiro de morte e do ódio ainda estivessem no ar. Fora estas ruínas ao longo da estrada, pouco lembrava que alguém já viveu ali. Por outro lado, o cinza dos destroços quase que desaparecia com tanto verde ao redor, isto para não falar das belas montanhas no horizonte. Muito poucas pessoas, uma região rural quase que esquecida no tempo. Vacas, muitas delas. Pastando e passeando no meio da estrada, que quase não tem movimento. Uma ou outra vila, mas o lugar é desolado. Esta é a região onde a maioria dos georgianos moravam, sendo expulsos em diversas guerras, até serem massacrados numa tentativa de limpeza étnica. Os que sobreviveram fugiram para a o outro lado do rio Ingur, ou atravessaram as montanhas.

Estradas vazias

Estradas vazias próximo a Gali

Até Sukhumi tudo abandonado, depois tudo  bem cuidado

Até Sukhumi tudo abandonado, depois tudo bem cuidado

Quando o cristianismo chegou na região, os abcasos se converteram. Séculos mais tarde, já sob o domínio Otomano, alguns se converteram ao islamismo. No século 19, quanto a Russia invadiu a região, estes abcasos  muçulmanos lutaram pelos otomanos. Com a conquista russa, tiveram que fugir para onde hoje é a Turquia, dentre outras regiões do Oriente Médio. Como a região ficou esparsamente povoada, os russos incentivaram e forçaram a imigração de Georgianos, armênios dentre outros povos. Quem diria que no futuro os Russos apoiariam os Obcasos contra os Georgianos…

Entramos em Sukhumi, e depois de deixar um passageiro, pedimos para nos levar direto na imigração. Tínhamos uma autorização de entrada, com datas específicas inclusive, mas precisa ir até o Ministério de Relações Estrangeiras para tirar o visto propriamente dito. Quando o motorista entendeu onde queríamos ir, exitou um pouco. Fez uns telefonemas, perguntou na rua e nos levou em um prédio do governo. Gesticulava e dizia “Niet, Niet (Não)”. Depois fomos saber que era feriado regional. Estávamos numa região bem central e decidimos ir caminhando mesmo. Passamos por parques e praças, muito arborizados mas sem uma viva alma. Logo chegamos ao State Drama Theatre e na parte principal do calçadão.

State

State Drama Theatre

Cafés descolados, hotéis, lojas com camisetas e bonés com bandeira da Abecásia, além de quinquilharias que turistas gostam. Era como se existisse um universo paralelo. Claro que tínhamos passado por um ou outro prédio com buracos de bala, mas a realidade ali é outra. Um lugar preparado e acostumado a receber turistas. Antes que imaginem turistas de diferentes nacionalidades, deixa eu ser mais específico: Turistas Russos! A fronteira com a Russia não é muito longe dali, seguindo por uma estrada litorânea,  são 140 km ao norte, bem pertinho de Sochi, famosa pelos jogos olímpicos de inverno.

Tinham me indicado algumas “goztinitza”, pequenas pousadas ou casas que alugam quartos. Para nossa surpresa, estavam todas lotadas. Uma disponível queria alugar só para longos períodos. Muito solícitos, tentavam ligar para conhecidos tentando achar uma vaga para nós. Foi quando um turco-abecaso, que falava um pouco de inglês se aproximou para ajudar. Nos recomendou um antigo hotel soviético. Disse que estavam reformando, ainda era de péssimo estado, mas o preço era bom. Fomos caminhando e batendo papo na direção deste hotel. Nos despedimos quando ele chegou perto da sua casa, e meio que por acaso, achamos uma pousada muito boa, ainda em construção também. O preço não era dos melhores, mas negociamos um pouco e nos deixamos ser convencidos pelo proprietário, gente finíssima. Ele falava inglês, seria uma ótima fonte de informações, o lugar era incrível, com um super café da manhã. Nosso cansaço e pouco tempo que teríamos lá com certeza ajudou na decisão também.

Atravessamos a cidade até o pátio onde ficam os ônibus e lotações, bem perto da velha estação de trem. Tivemos que esperar um tempo mas logo saímos sentido norte, primeiro subindo uma montanha e depois beirando a praia.

Estação de trem

Estação de trem

Bem fácil de pegar ônibus, só ler a placa

Bem fácil de pegar ônibus, só ler a placa

Litoral da Abecásia

Litoral da Abecásia

Avisávamos constantemente os passageiros onde queríamos descer, para ter certeza que não esqueceriam da gente e nos déssemos conta só próximo da Russia. Paramos em Novy Afon, um lugar movimentado perto da calmaria que estava Sukhumi. Cheio de turistas russos, seja indo para as paias com boias, nos restaurantes ou buscando os passeios da região.

Cavernas, lagos, cachoeira e cânion,  o antigo forte Anacopia em uma montanha e o Monastério Novi Afon entre as arvores. Região muito bonita, onde os moradores tentam aproveitar o fluxo de turistas e peregrinos. Muitas barraquinhas no caminho que leva até o belo monastério. As montanhas verdes atrás e os jardins floridos na frente deixavam o lugar ainda mais bonito. Já tínhamos ouvido falar bem, mas mesmo assim nos surpreendeu bastante pela beleza (interior e exterior) e grandiosidade do lugar. Na entrada distribuíam lenços para as mulheres cobrirem a cabeça e aventais caso alguém tivesse de bermuda.

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A praia mais famosa, Gagra, não fica muito longe, mas depois de passar por um parque e um memorial, resolvemos parar na praia ali na frente mesmo. Tanto os locais quanto as centenas de turistas pareciam pouco se importar se a República da Abecásia tem ou não reconhecimento internacional. Dentre os membros da ONU, Venezuela, Nicarágua, Nauru e Russia reconhecem (Vanuatu e Tuvalu reconheceram mas voltaram atrás). Outros países não membros como Transnístria, Ossétia do Sul e Nagorno-Karabakh também reconhecem, mas no final das contas isto muda muito pouco a vida local.

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Perguntando sobre transporte, e cansados de esperar um ônibus de volta, ficamos muito contentes quando um micro-ônibus de excursão russa nos deu carona. O motorista não parava de falar, provavelmente contando histórias do lugar e fazendo piadas, pois o pessoal não parava de dar risada.

Também pudemos aproveitar Sukhumi. Caminhamos pelo longo calçadão na beira do mar, conhecemos o jardim botânico, exploramos praças e mercadinhos e até fizemos degustação de vinhos. Num lugar cheio de russos, não foi novidade termos problemas para pedir comida. Cansados de tentar que nos entendessem, depois de falar inglês, português e até imitar galinha, a solução foi olhar para as mesas ao lado, escolher o prato mais bonito e apontar dizendo, quero este! Até que dava certo.

Calçadão em Sukhumi

Calçadão em Sukhumi

Jardin Botânico

Jardin Botânico

Conversei longamente com o dono do hotel que ficamos. Perguntava sobre o não reconhecimento internacional da Abecásia, e ele dava de ombros. Na verdade nós só precisamos da Russia, discursava. “O Ocidente acha que precisamos do reconhecimento deles, mas não precisamos, não estamos nem aí. Nossa vida não mudaria nada (…) o império americano e europeu esta em declínio, esta crise mundial só confirma isto (…) enquanto a Russia só se fortalece…” A exaltação russa era grande, assim como é a dependência da Abecásia do vizinho do norte. Sou meio provocativo e questionei porque a Russia não anexava a Abecásia de uma vez. Ele disse que a soberania era respeitada. Mais tarde fui saber que todos os abecasos puderam tirar passaporte russos, bastava mostrar os passaportes soviéticos. Alias, puderam usar os passaportes da URSS até 2011! Praticamente todos tem dois passaportes, e alguns dupla cidadania. Mesmo os que não tem o passaporte russo, podem viajar tranquilamente para a Russia com o passaporte abcáso, só não podem ir para outros países que não reconheçam a Abecásia como país.

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Tínhamos notado alguns carros modernos e caros nas ruas, muitos deles em alta velocidade e cantando pneu. Nosso amigo turco-abecaso dizia que algumas famílias controlavam tudo por ali. Talvez por causa disto que tiveram tantos protestos nas ruas meses antes (Abril 2014). Quando fomos tentar tirar o visto ficamos sabendo que o escritório havia mudado de lugar. Conseguimos as direções e faltava perguntar na rua para saber se estávamos no caminho certo. Na nossa primeira tentativa um senhor nos colocou no carro e foi até a porta do Ministério de Assuntos Exteriores. Entramos, sem fila e já fomos atendidos. Um senhor falou brincando “não, não é permitido voltar para a Geórgia”, mas riu antes de nos assustarmos. Pagamos pelo nosso visto e fomos embora. simples assim.

Visto

Autorização para entrar, Visto para sair.

Abecásia não é só Lada

Não são só Ladas que circulam por Sukhumi

Fizemos a volta em etapas, usando as lotações. Fila na fronteira, eu passei e o Marcelo foi chamado para entrevista. Queriam saber onde tínhamos ido, o que fomos fazer lá mas nada de mais. Tenso mesmo foi quando já tínhamos saído da ultima barreira e resolvemos tirar uma foto. Poxa, um banco de carro jogado num canto para as pessoas esperarem a cancela abrir parecia fotogênico. O guarda não gostou! Chamou outro soldado e recolheram nossos passaportes. Até achei que teríamos que pagar alguma coisa para sermos liberados, mas não. Quiseram ver as fotos da maquina que estávamos usando e pediram para apagarmos umas. Falavam “you jornalist?!” e nós no “niet, sorry, toutrist”. Imploramos perdão por uns minutos e eles nos liberaram provavelmente pensando “turistas estúpidos, por que tirar foto na fronteira!”

Seguimos pela ponte, passamos um posto de controle até a imigração da a Geórgia. O oficial só verificou o nosso passaporte (provavelmente para ver se não vinhamos da Russia, o que é proibido) e nos liberou. Pegamos outra lotação e logo me despedi do Marcelo. Ele iria para a capital, Tbilisi, se encontrar com dois amigos e eu seguiria para as montanhas, com a certeza de que a Abecásia existe!