Minha primeira viagem para a Ásia (2004)

Já escrevi bastante sobre a Tailândia, mas como na primeira vez que fui para lá, quase 10 anos atrás, fiz um roteiro diferente das outras viagens, resolvi postar aqui.

A viagem foi via Frankfurt, Alemanha, onde passei o dia e foi bom para quebrar a longa viagem.

Pit stop na Alemanha

Pit stop na Alemanha

Chegando em Bangkok, fui direto para Chiang Mai, no norte do país, onde fiquei um tempo treinando Muay Thai. Eu já treinava há muito tempo e fui para lutar. Mas recomendo para todos que gostam de esportes, mesmo quem nunca treinou.  Não só o treino, mas o dia a dia dos campos de treinamento são fantásticos. Quem passa esta sugestão, mas gosta de coisas culturais dos países, pode optar por fazer cursos de massagem tailandesa ou culinária. Um curso de mergulho nas ilhas pode não ser cultural, mas não é nada mal também.

Treinamento

Treinamento

Como escrevi em outros posts, Chiang Mai é uma cidade super bacana, fácil de se encantar, cheia de templos, mercados de rua nos finais de semana com ótima comida a preços ridículos! Peguei um trem para Bangkok mas saltei antes, em Ayutthaya, antiga capital do país. Ruínas e monumentos fantásticos, que podem ser percorridos de bicicleta sem pressa. A cidade fica ao lado de um rio e pescadores fazem pratos típico inacreditáveis! Nada sofisticado como as feirinhas de Chiang Mai, mas num destes lugares, estilo pé sujo ( ok, baixa gastronomia) que eu comi a melhor comida tailandesa de todos os tempos!!

Templos

Templos

Buda

Buda

Acabei mudando minha logística e em vez de ir até BKK resolvi me aventurar fora da rota principal, para evitar ir e voltar pela mesma estrada. Para chegar em Kachanabury, normalmente acessada de BKK, tive que fazer 2 conexões de ônibus, por cidades que nem o nosso alfabeto utilizavam, imagine falar inglês. Viajar pela rota principal da Tailandia é muito fácil, devido a boa infraestrutura e estarem preparados para receber turistas. Mas saindo desta rota as coisas mudam um pouquinho. Levei um papel escrito em tailandês, com o nome da cidade que eu queria ir, e as principais cidades do caminho. Eu torcia para que a tailandesa que me ajudou escrevendo as informações soubesse o que estava fazendo. Não preciso dizer que foi muito divertido.

Qual onibus?

Qual ônibus?

menu: Prato mais caro 4 USD

menu: Prato mais caro 3 USD

Kachanabury foi palco de batalhas importantes na segunda guerra mundial, imortalizada no filma “A ponte do rio Cay”. A ponte esta lá, ou a reconstrução dela, pelo menos. Existem barcos casas e uma região rural que pode ser explorada. O Tiger Temple, onde monges cuidam de tigres e você pode tirar fotos com eles. Hoje existem outras opções no país, mas inicialmente era só lá para brincar com os gatinhos. Tem um monte de passeios turísticos, uns bem legais, outros nem tanto. Andar de barco de bambu, de elefante ou até dar banho nos elefantes no rio. Tem um parque nacional bem bacana lá também, com caminhadas, cachoeiras e piscinas naturais. Alias os parques nacionais na Tailândia são super bem estruturados.

parque

parque

Monge com tigre

Monge com tigre

Indo para BKK passei rapidamente no mercado flutuante que é extremamente turístico, mas pode te render boas fotos. Depois de tantas cidadezinhas pequenas foi um choque chegar no caos barulhento e poluído de Bangkok. É uma cidade gigante, mas muito autentica!

Fiquei num quarto que era um pulgueiro, nos arredores de Kao san Road, recanto mochileiro da cidade (pelo menos era, já mudou bastante). Não acreditei quando encontrei quartos ainda mais baratos perto de china town (eu estava pagando 100 bath). Mas a região onde eu estava cumpriu bem o papel. Não é a melhor localização, mas também não é tão ruim assim. Fiz a peregrinação pelos principais templos da cidade, visitei o fantástico palácio real, fui assistir lutas de MT no principal estádio do país, oLumpine, algumas vezes, me aventurei do outro lado do rio onde dizem estar “bairros sem interesse” mas que achei bem interessante. Existem diversas coisas pare se fazer na cidade, de dia e de noite. Me diverti muito no “Ping Pong Show” que esta mais para circo que para show erótico. Alem de lançar bolas de ping pongue, soprar sarabatana em balões, soprar velas (…) as mulheres fumam charuto,e não, não é com a boca. Uma delas ofereceu para um sueco, magico profissional, que estava viajando comigo fazia uns dias. Houve aquele minuto de silencio para saber o que faria, quando ele conferiu o charuto, deu uma cheirada e fumou. Haha

Palacio Real

Palacio Real

Outro dia divertidíssimo foi num karaokê gigantesco, com apresentações de danças coreografadas e tudo mais. Lotado de tailandeses, todos muito empolgados dançando e cantando. Como não tinham muitos turistas, éramos alvo para as prostitutas e ladyboys. Na verdade era muito difícil de distinguir se era um ou outro!

Brigas de besouros em um mercado. Adoram apostar.

Brigas de besouros em um mercado. Adoram apostar.

Com uma noitada destas acabei até acordando tarde para pegar o ônibus para o Camboja. Estava meses sem beber, treinando e me preparando para a luta, e depois acabei “colocando o pé na jaca”.

Na volta do Camboja ainda passei per BKK antes de seguir para o sul, para a simpática Krabi, de onde fui para Railay. Duas pequenas praias, com rochas gigantes saindo do mar. Lugar meio resort, mas achei um chalé bacaninha, disparado a melhor pousada da viagem (também pagando 6 vezes mais que a média). Preço? vinte dólares.

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Railay

Railay

Escalar pedra para curtir o visual, pegar praia, mas foi o único lugar que não fiz amigos rápido, talvez pelo estilo das pessoas que vão para lá. Acabei alugando um caiaque para ir para outras praias e ilhas, e conheci dois canadenses e um inglês que estavam viajando de caiaque entre as ilhas, dormindo nas praias. A lua cheia se aproximava e acabei combinando com eles de ir para a ilha de KO Pha-Ngan, do outro lado da península, onde tem a famosa, “Full Moon Party”. Ônibus até Suratani, barco estiloso, super carregado com bugigangas e até porcos em gaiolas. Um grande tatame onde todos dormiam um ao lado do outro.

barco

barco

Dividimos chalés e curtimos a ilha, de dia rodando de scooter ou jogando vôlei, e de noite na balada. Chegou o dia a grande Full Moon. Milhares de jovens na praia, bêbados, drogados ou simplesmente felizes por terem a liberdade ali que não teriam nos seus países europeus. Musica, malabares com fogo, mas eu já tava meio cansado para ser bem sincero. A pré festa tinha sido suficiente para mim. Estava mesmo é sentindo falta das pequenas cidades, da paz dos templos e longas reflexões. Foi bom conhecer, saber que existe, me divertir, mas nunca mais inclui este tipo de programa nas minhas viagens.

Full Moon

Full Moon

scooter de dia

scooter de dia

 

Nesta viagem descobri que pessoas “malucas” paravam suas carreiras e saiam para viajar por longos períodos. A semente estava plantada…

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Em terras Khemer (2004)

Fui para o Camboja em 2004, atravessando a fronteira com a Tailândia.

Chegada no reino do Camboja

Chegada no reino do Camboja

Não foi munto difícil achar um ônibus até a cidade de Siem Reap (referencia a uma vitória sobre o reino do Sião-Tailândia), mas a estrada era esburacada e longa. Paisagens de campos de plantação de arroz pela janela e pessoas interessantes.

Estrada da fronteira até Siam Reap

Estrada da fronteira até Siem Reap

Posto de gazolina

Posto de gasolina

Plantações de arroz

Plantações de arroz

Siam Reap tem crescido desordenadamente. Ainda sobrou uma influência francesa, já que fazia parte da indo-china, que tinha domínio francês. Turistas do mundo inteiro utilizam como base para visitar o fantástico complexo de templos de Angkor. Consegui achar acomodação barata bem fácil. Existem varias formas de visitar Angkor. Pode ir em um transfer, tour,  alugar um tuk-tuk ou até mesmo de bicicleta. O lugar é gigantesco, e o ideal é de passar alguns dias lá para ver com calma.

Angkor Wat

Angkor Wat – Wat significa templo

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Painéis contando histórias do reino e de Buda

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Angkor Wat, sempre cheio de pessoas

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Cercado de florestas, muitos templos tem macacos perambulando.

A vantagem de tirar alguns dias para conhecer o lugar é que não o dia não fica tão corrido, dá para fugir do calor e dos bandos de turistas.  Achei um cantinho e fiquei curtindo o lugar sozinho, pensando na vida. Acabei até tauando o lugar anos depois.

rostos

rostos

Bayon

Bayon (seculo 12 e 13)

Cada parte do complexo de templos é de uma época e tem uma característica . Existiram reis budistas e hindus, e eles iam modificando culturalmente o lugar. Nos templos Bayon, existem mais de 200 rostos. O rei fez sua imagem parecer com a de Buda, tentando passar a imagem de um semi Deus. Fantástico o lugar!

Natureza retomando território

Natureza retomando território dos templos

Buda

Buda

estatuas

estatuas

No Camboja é fácil se deparar com pessoas mutiladas pela terrível guerra, ou pela herança delas, as minas terrestres. Não vou dizer que não incomoda olhar. O Khemer Rouge promoveu um genocídio ao tentar introduzir uma sociedade comunista. O mais estranho é que em um conflito com o Vietnã, este regime recebeu apoio dos EUA, mostrando que as alianças políticas iam bem além do Comunismo x Capitalismo. Como tinha somente um mês para viajar pela Tailândia e Camboja, acabei deixando para conhecer o sul do país em uma outra viagem.

Era hora de voltar para Bangkok, encarando a terrível estrada novamente. O retorno foi pior, pois o ônibus quebrou trêss vezes, e tive que pegar carona para chegar na fronteira. Muitas imagens, pessoas e lembranças. Só temo pelo crescimento desordenado do turismo na região.

Crianças

olhares

Bicicleta

Bicicleta, meio de transporte oficial da região

carona? ok, mas tem espaço?

Carona? ok, mas tem espaço?

Plantações

O dia está para peixe?

chegando na fronteira

chegando na fronteira, crianças pediam para serem fotografadas

2.000.000.000 Kg de bombas!!! / Despedida do Sudeste Asiático

Dois bilhões de kg de explosivos foi a quantidade de bombas que os EUA jogaram no Laos durante a chamada de Guerra Secreta, que ocorreu entre 1964 e 1973. Teoricamente os EUA não estavam em guerra com o Laos, estavam somente atacando os norte vietnamitas que cruzaram a fronteira para se esconder nas matas do Laos (imaginem se a Inglaterra bombardeasse o sul do Brasil para acertar Argentinos que estivessem cruzado a fronteira para se esconder), e acabar com uma das rotas do Ho Chi Min. Isto faz com que o Laos seja ate hoje o pais mais bombardeado da historia.Foram diversas missões, com gastos de alguns milhões de usd por dia para os cofres americanos. Mas o custo maior foi para o povo do Laos, não só na época mas ate hoje. Em torno de 30% das bombas não detonaram na sua queda, mas muitas delas continuam explodindo. O Laos e um pais muito pobre, e a população rural vê as bombas não detonadas como uma oportunidade de ganhar dinheiro, vendendo o metal como sucata. As principais vitimas são as crianças! Neste período também existia uma disputa de poder interna, e o bombardeio americano só fez com que a população apoiasse cada vez mais o lado comunista, que em 1975 assumiu o poder, que mantem ate hoje. O pais se manteve fechado por muitos anos, mas tem tentado seguir o caminho “comunista mas ganhando dinheiro” de seus vizinhos China e Vietnã, mas ainda esta engatinhando, e ainda deve demorar muitos anos para colher os resultados. A primeira resposta já veio: o turismo tem aumentado significativamente.

Pouco depois do sol nascer já estávamos pegando um pequeno barco para atravessar o rio e fazer a imigração no Laos. Não sou muito chegado a uma embaixada e sempre que e possível tirar o visto só na fronteira opto por isto. No caso do Laos foi meio roubada. Como todo pais comunista era uma burocracia gigante, e a fila de estrangeiros não era muito menor. Um oficial olhava os passaportes e separava em pilhas, enquanto batia alguns dados na maquina de escrever, outro preenchia os vistos um a um e colava no passaporte, enquanto outro ainda separava o papel da imigração. Não, depois de tudo isto não estava pronto! Tinha que ir no guichê ao lado para ganhar o carimbo. Depois de uma boa espera fomos comprar uns mantimentos e ir ate o barco. Na parada num restaurante onde estavam organizando tudo, nos alertaram que a cidade onde pararíamos para dormir (seguiríamos por 2 dias de barco ate Lung Prabang) era muito pequena, e com pouquíssimas opções. Contaram de pessoas que ficaram sem hospedagem no passado e tal. Sabia que estavam exagerando, mas mesmo normalmente não reservando com antecedência, decidimos garantir para não nos preocuparmos, ate porque o preço estava ok pela qualidade do hotel. Assim que chegamos no barco onde passaríamos os próximos dois dias, arranjamos um banco, que alem de não ser muito confortável, não tinha muito espaço para os pés. A medida que o barco foi ficando super lotado, ficamos gratos de ter pelo menos um banco desconfortável. Umas duas duzias de pessoas tiveram que setar no chao. Houve um inicio de revolta para conseguir outro barco, e novos passageiros se recusaram a entrar. Alguns poucos se levantaram do chao e foram para fora, mas a maioria ficou. Inacreditavelmente surgiu outro barco, e os corajosos revoltos foram bem folgados. Não vi nenhum colete salva vidas, portanto não seria o numero de pessoas que causaria uma tragedia. Sabia que o nível do rio Mekong estava baixo, mas não imaginava que estaria tao seco. Logo percebemos que caso o barco afundasse não passaria do nível do beiral do barco, e não duvido que pudéssemos sair andando. Em muitos momentos o barco raspava no fundo de areia. Fomos navegando por bonitas paisagens, grande parte por matas intocadas. Confesso que achava que seria um barco mais “local” e não praticamente só com turistas. Vimos ate uma família simples do Laos ter que se levantar para dar lugar aos turistas. Já chegando o final da tarde o barco atracou, e nos falaram que teríamos que seguir por terra, pois não passaria pela parte rasa que tinha a frente. Subimos as dunas com as mochilas e la em cima tinha uma caminhonete esperando. No caminho presenciamos um senhor discutindo com um cara do Laos que tinha carregado sua bagagem e estava cobrando mais que o combinado, inclusive tentando levar a mala de volta. O preço da caminhonete estava bem acima do justo, e todo mundo foi andando mesmo. Eles falavam que demoraria de uma a duas horas e tal. Depois de uma certa negociação, eles vendo que não teriam passageiros, acertamos um preço justo para o trajeto. A caçamba foi lotada, principalmente com o pessoal mais velho. Umas 4 ou 5 subidas e descidas íngremes, não mais que 10 minutos na desconfortável caçamba (com um cara sendo segurado pela cinta para não cair) pararam falando que havíamos chegado. Quando percebemos vimos que chegamos juntos com o pessoal que veio a pé. Apontavam em direção ao rio e la fomos nos. Eu tentava perguntar onde era a pousada que tinha reservado e só me falavam que era bem mais para frente, pelo menos uma hora de barco. No caminho um senhor de mais de 70 anos caiu ao descer os íngremes barrancos. Passei a ajuda-lo e carregar sua mochila também. Chegando na praia muitas fogueiras, musica alta e algumas barraquinhas de comida com luzes improvisadas. Tinham esteiras espalhadas pelo chão e todos já iam se acomodando. Fui perguntar sobre o barco e falaram que só sairíamos no dia seguinte, pois não dava para navegar no escuro. A Bibi ficou revoltada quando descobriu que teríamos que dormir ali. Fui falar com um cara que parecia que estava organizando a “festa” e ele não foi nem um pouco simpático. Falei do hotel reservado, e da situação do senhor que tinha caído 3 vezes e tal. Ele gostou menos ainda e passou a gritar comigo, falando que tínhamos sorte de ter comida, água e fogo blablabla. Mantive a calma e falava para ele relaxar, falar feito gente mas não dava certo. Discuti bastante com ele a partir disto. Tentei ganhar o apoio de um pessoal que já estava se deitando e tomando uma cerveja para boicotar o lugar (já tinham boicotado a caminhonete por achar injusto), mas para minha surpresa um cara mandou eu ficar na minha e aproveitar a cerveja. O que nos revoltou e que aquilo tudo tinha claramente sido planejado, tipica armadilha para turista. Prepararam tudo para vender comidas e bebidas a preços de turista. Depois de ter dormido no deserto entre Somalilândia e Djibuti com o carro encalhado, e também na beira da estrada na parte mais selvagem do Moçambique com o transporte quebrado, não tive como ficar quieto. Não me prorroguei na discussão com o “fazido” europeu, só o chamei de “cool hippie” e para ele aproveitar a “super aventura” dele. Não sei se ele entendeu, mas ficou quieto ao ver o senhor que tinha se machucado ser xingado e até empurrado ao ir reclamar. Tínhamos ouvido maravilhas do povo do Laos, de pessoas que viajaram por muitos países, mas provavelmente o aumento do turismo esta trazendo problemas também. Arranjamos um lugar numa das esteiras, próximo a uma fogueira. Comemos numa das diversas opções de refeições e tomamos uma gelada cerveja. Isto que estávamos no meio do nada, a vilazinha mais próxima que passamos tinha meia duzia de casas de madeira. Estranho não?! Crianças passavam recolhendo garrafas e restos, quando passei a brincar com eles. Primeiro mostrando as tatuagens, que eles adoram, e depois com aquela brincadeira do tapa na mão, que tem que tirar antes do outro acertar. Juntou mais de uma duzia e eu ficava desafiando todos, fazendo caretas e barulho de monstro. Ate amarrei uma faixa nos olhos para jogar de olhos vendados. Arranquei varias gargalhadas e eles amaram, mesmo não conseguindo se comunicar, pelo menos não por linguagem. Como teríamos que acordar junto com o sol, a Bibi já foi se agasalhando e se cobrindo com uma fina manta que temos. As mochilas foram usadas como travesseiro. O orvalho da madrugada aumentou a sensação de frio, que so terminou com a vinda do sol. Uma pequena cachoeira ao nosso lado fazia o único barulho da noite.

Rio Mekong

Subindo as dunas

Boa noite!!

De manha pegamos outro barco até Pak Beng onde estava nosso hotel. Pedimos para nos esperarem e fomos tentar pegar o dinheiro de volta. Chegando la falaram que não era culpa deles, e que poderíamos ficar la aquela noite, mas que não dariam o dinheiro de volta. Eu e um outro cara pedimos com uma super simpatia, insistindo e implorando, dizendo que não estava certo. Chegou um gordão e falou para irmos embora que não ganharíamos nada. Quando ele falou que estava la no “acampamento” no dia anterior nos revoltou. Realmente era bem perto, ele pode ir la ganhar dinheiro dos “troxas” e nos não podíamos ir ate o hotel. Falamos que íamos colocar na internet, que era tudo planejado e tal. O cara ficou louco e veio para cima de mim gritando. Eu peitei ele e gritei de volta quando ele me perguntou: “Vai fazer o que agora, boxear comigo?” Eu respondi no maior espirito filme de hollywwod: “ Isto seria uma tarefa muito fácil para mim, mas hoje so vou levar o dinheiro…” haha Como falou que não tinha dinheiro, sugeri que nos desse alguma coisa do bar/restaurante. Ele liberou 5 itens, independente do valor, mas que e claro que era menos que metade do que pagamos. Peguei 5 garrafas grandes de cerveja, por ser o produto mais caro. De volta ao barco, trocamos duas cervejas por refeições, bebidas e salgadinho. Não tinha mais o que fazer e tomamos as outras 3. Quentes? Claro que não, negociei de trocar por geladas e eles ficarem com o casco. Assim passou mais um dia navegando, por paisagens ainda mais bonitas. Ficamos batendo papo com um pessoal que tínhamos conhecido na noite anterior e fazendo novas amizades. Uma forte chuva veio, coisa que fazia tempo que não víamos. Foi o tempo de colocar as lonas na lateral do barco para já passar. Nas margens as poucas pessoas que víamos estavam ou estendendo redes de pesca ou garimpando. Alias vimos muitos garimpeiros, mas não consegui entender se era ouro ou alguma pedra preciosa.

Chegamos em Luang Prabang já no inicio da noite, e foi só achar um hotel para um merecido descanso. As vezes acho que a Bibi implica um pouco com um ou outro lugar que ficamos, mas tive que tirar o chapéu para ela. A revolta de dormir numa esteira (sorte que ela agora tem um colchonete de yoga), sem nem barraca foi a primeira reação, mas quando viu que não teria outra saída, encarou super na boa. Não foi a primeira vez que percebo isto.

Luang Prabang e uma pequena cidade, muito charmosa na beira do rio Mekong. E patrimônio da Unesco e tem dezenas de casarões franceses antigos (lembram que Laos era parte de Indochina, colonia francesa?) alem de muitas estupas e templos budistas misturados. O centrinho e super astral, mas minusculo. Existem também diversas cachoeiras e cavernas nos arredores da cidade. Não posso dizer que fizemos muito por la a não ser pular de café em café, ate chegar hora de um happy hour e por ai vai. Durante os dias encontrávamos algumas pessoas do barco, batíamos papo, trocávamos informação e o tempo ia passando. A Bibi curtiu umas lojinhas e cidade apesar de pequena já tem uma boa estrutura para estrangeiros. Tem um mercado noturno com varias opções de comidas, e a influencia francesa deixou muitos sanduíches feitos com baguetes. Achamos curioso que existe um toque de recolher a meia noite. Todas as pousadas fecham as 23 horas. Os viajantes mais festeiros não gostaram muito da ideia. Existe uma lei que você não pode fazer sexo com outra pessoa que não seja casado, seja ela do Laos ou estrangeira. Esta inclusive escrito nas regras dos hotéis, pregadas atras das portas. Diz a lenda que teve gente que já foi presa por isto.

No Laos o Budismo e muito forte também. Um dia eu acordei as 5 e maia da manha para ver as famílias oferecerem comida para os monges. Eles vem caminhando em pequenos grupos com suas vasilhas, recebendo as comidas. Quando param para pegar, diferentes grupos vão se encontrando, formando longas filas. E assim e o inicio das manhas, com monges indo para cima e para baixo. Em alguns lugares vi eles abençoando as famílias com mantras. Muito astral, e o lugar da um super clima.

Clima diferente tinha a nossa próxima parada, Vang Vieng, a algumas horas ao sul dali. Outra cidade ao lado de um rio, mas o clima ali e de festa. O famoso toque de recolher do pais não funciona direito, e duvido que a gringarada se preocupe com as outras leis também. No primeiro café que paramos, cheio de almofadas para ficar largado, veio o cardapio de bebidas e outro de drogas. Pode-se escolher opio, maconha, chá de cogumelo e por ai vai. Para estranheza do garçom, a Bibi pediu um shake de banana com café e eu um de melancia. Um pouco mais ao lado tinha uma placa colorida com uma seta apontando para onde seria “neverland”, a terra do nunca. Encontramos um escocês gente boa do barco que estava por ali uns dias e foi nos contando como que funcionava tudo. Deixou bem claro que era uma loucura. Ainda era estranho para nos imaginar, pois as ruas estavam vazias, e nos estávamos numa pousada tranquila de frente para belíssimas montanhas estilo as de Halong Bay. Mas sabia da reputação do lugar já a um bom tempo. Final de tarde o pessoal começou a voltar do rio onde fazem “Tubing”, e grupos de pessoas pintadas, enfaixadas, cantando, ficaram mais frequentes.

Vang Vieng o estilo e outro. São casas e pousadas simples, com diversos bares, cafés, restaurantes baratos e agencia de viagens. Entramos no clima e fomos pegar uma noite num dos bares mais famosos, ate porque era aniversario do escocês. Musica alta, galera dançando e bastante doidões. A bebida principal e um baldinho de wiskey, que pode vir com coca, energético e outros acompanhamentos. Tomamos nosso primeiro baldinho e nem achamos forte. Depois que ficamos amigos de um casal sueco, e eles completaram nosso segundo baldinho com wiskey que a coisa começou a desandar. Uma pista de dança que mais parecia um palco passou a ter nossa presença, e cantamos e dançamos abracados com nossos novos amigos. Não preciso nem dizer que dormimos a manhã seguinte inteira, né?!

Bibi e seu “baldinho”!

O inicio já tinha sido pesado, e nem tínhamos ido ao “Tubing”. Ficamos na duvida se íamos só no rio ou se pegávamos as boias para descer o rio. Resolvemos pegar as boias para fugir da muvuca. Pra quem acha que o Tubing e que nem descer o rio Nundiaquara de boia esta muito enganado. Fomos de tuk tuk ate o ponto de partida, onde já dava para ver a primeira dezena de bares. Te recebem com uns shots de bebida gratuita (que e claro que negamos depois da noitada). Cada bar com um deck, um tipo de musica a todo volume, e cheio de gente. Existe cordas onde o pessoal se balança para cair no rio, escorregadores adaptados alem de outros “brinquedos”. Logo entendemos o alto índice de pessoas enfaixadas e machucadas na rua…

Tubing!

Pulamos logo na água para fugir dali, mas tentávamos ser pescados a cada bar que passávamos. Eles jogam uma corda para você ser puxado para o bar. Tubing e basicamente isto, ir descendo o rio, e bebendo de bar em bar. Se não parar demora entre uma e duas horas, mas a maioria passa o dia inteiro, passando por todos os bares, e ate perdendo a boia na hora de voltar. Fomos sem parar em nenhum, aproveitando de outra maneira. O lugar e belíssimo, impressionante mesmo. Podem nos chamar “velhos”, “casadões” mas não voltamos nenhum dia para praticar o Tubing como ele deve ser feito, nem para os barzinhos. Não por acharmos que não valia a pena, nem por achar perigoso ou algo do tipo. Simplesmente porque arranjamos outras coisas para fazer. Arranjamos um lugar belíssimo em uma parte tranquila do rio onde passamos um dia todo e em outro fomos caminhar pela parte rural ate algumas das cavernas. A Bibi já tinha ido em cavernas estruturadas, com iluminação, corrimão, mas nunca numa caverna selvagem. Estas cavernas foram muitos utilizadas em guerras no passado, e nos com lanternas rastejamos por vãos, nos espremendo por passagens ate grandes salões. Difícil foi explicar para a Bibi que não daria para sair, e teríamos que voltar todo o longo caminho. Entendi quando ela resolveu me esperar do lado de fora. Meu “guia” era uma criança de não mais que 12 anos, que andava dentro das cavernas como se estivesse no seu playground. Voltamos por aquelas estradinhas de terra, cercadas de montanhas, com aquela ótima sensação de ter feito exercício e estar num lugar tao bonito.

Ainda demos uma saidinha de noite para nos despedirmos do local. Parece que tinham mais loucos, tinha ate gente dando cambalhota. Descobrimos que o escocês não saiu no dia do seu aniversario porque tomou um chá de cogumelo e a cara das pessoas passou a derreter na frente dele. Depois disto foi seu intestino que derreteu e ele passou as 3 primeiras horas do seu aniversario curtindo uma diarreia no banheiro da sua pousada… Tomamos só uma cervejinha, então estávamos totalmente fora do ambiente. Vieram umas loucas falar com a gente e tivemos que despistar e fugir para o hotel…haha comedia!

Quando estava pagando a pousada para ir embora, vi o dono com uma camiseta de futebol do Laos. Perguntei se ele não queria trocar por uma do Brasil e ele aceitou na hora. Batemos papo ate a hora de eu sair e perguntei quem era o jogador numero 4, a camisa que agora era minha. Ele respondeu sorridente que era ele, pois era camisa do time local, não da seleção…haha

Com o “camisa 4”!!!

De la para Vietane são mais um punhado de horas. A capital do Laos e minuscula, e não tao interessante como Luang Prabang. Ate o rio que deveria dar um charme estava seco e estão fazendo um aterro ou algo assim. Como já tivemos overdose de templos não fomos nem visitar os principais. Demos uma caminhada pelo centro e fomos ate o centro de reabilitação, onde tem uma exposição bem interessante sobre os bombardeios americanos, alem de diversos videos. As bombas se abriam e dentro continham centenas de bombas menores, cada uma com um poder de destruição de um raio de ate 30 metros. O numero de bombas jogado foi maior que a população do Laos na época. No ritmo que estão levando para limpar as áreas com bombas não detonadas, ainda vai demorar centenas de anos para que a região fique segura e não ocorram mais acidentes. Muito, mas muito triste…

De Vietiane pegamos um voo para Kuala Lumpur. Ficaríamos 24 horas la ate pegar o voo para a próxima etapa da viagem, então fomos ate a querida Chinatown. Interessante que KL foi nossa porta de entrada do Sudeste Asiático, e acabou sendo também a de saída, gracas aos preços baixíssimos das passagens da Air Asia. A Bibi teve uma reação alérgica, provavelmente de uma cera de depilação e ficou toda inchada. Já tínhamos conseguido remédios, mas como estávamos com tempo depois do check in no aeroporto resolvemos ir ate o ambulatório. Como o medico estava no outro aeroporto, nos levaram de ambulância ate la. Tudo ok, só novos remédios que fizeram o rosto e as mãos desincharem.

Quase 4,5 meses tinham se passado, e estávamos saindo do sudeste asiático. Um lugar muito gostoso, com um leque de coisas totalmente diferentes para se fazer. Culturas e comidas fantásticas! No geral bastante turístico, mas isto não significa que não existam varias regiões para serem exploradas. Como foi bom descobrir que a Indonésia e ainda mais legal que eu imaginava, reencontrar com a Tailândia e descobrir um novo pais “daqueles” como o Mianmar! A beleza natural do Laos, os Orangotangos e mergulhos em Borneo, cultura e beleza do Vietnã e a modernidade de Singapura. Saímos com a certeza de que voltaríamos, não só porque ficaram lugares para conhecermos, (sem contar países inteiros, perdão Filipinas), mas para voltar para os mesmos deliciosos lugares que estivemos.

Assim como os portugueses fizeram a mais de 500 anos, estávamos a caminho das índias…

Ano novo chines na terra dos livres.

A Tailândia, passou por diversas guerras e invasões no passado, quando ainda era chamada de reino do Sião. Eram batalhas com o Império Kremer, hoje Cambodja, e com a Birmânia, alem dos chineses. Tudo isto, junto com a grande esperteza do rei, fez com a Tailândia moderna nunca fosse colonizada por países europeus, ao contrario de todos os seus vizinhos. Não e a toa que e chamada de terra dos livres (Thai + Land). Com isto, a cultura do pais e unica, e não segue os padrões ocidentais.

Existe uma grande tolerância para as diferenças, e um fato muito interessante e a integração dos LadyBoys na sociedade. O país é o numero um na cirurgia de troca de sexo, e os ladyboys atendem nos restaurantes, caixas e em qualquer cargo publico ou privado, sem nenhuma discriminação.

O rei, que com sua hábil negociação, cedeu algumas terras para um, fez acordos com outros, e foi se acertando com todo mundo. Depois de mais de 60 anos no poder ele continua quase uma unanimidade. Na verdade existe uma oposição, mas a massa o adora e existem posteres e quadros dele em qualquer biboquinha. Teoricamente ele só tem um poder figurativo, assim como a rainha do Reino Unido, mas na pratica não e bem assim. Em 2006 o exercito deu um golpe de estado, derrubando o primeiro ministro, que não se acertava muito com o rei. Adivinhem quem comanda o Exercito? Pode não ser algo muito democrático, mas que todos os tailandeses devem muito a vossa majestade, devem, e eles sabem disto.

O voo de Yangon era para Bangkok, mas só faríamos uma conexão seguindo para Chiang Mai. A espera no aeroporto acabou sendo muito prazerosa, pois encontramos o Vicente, sócio da Pati na Pulp e nosso amigo ha muuitos anos. Ele estava vindo do Vietnã, rumo a Hong Kong e deu tempo de almoçarmos juntos e batermos papo. Nos meus links da para ir direto para os videos de viagem da Pulp, que são muito legais, cliquem la.

Nos com o Vicente almoçando no aeroporto de BKK

Em Chiang Mai, do aeroporto ate a pousada foi tranquilo, pois já era a terceira vez que chegava na cidade. Ficamos na mesma pousada que fiquei em 2004, com um super jardim e musica ambiente. A pousada e bacana, uma quadra do Thapa Gate. Um ponto desagradável, mas curioso, foi que um rato roeu a mochilinha da Bibi para pegar comida que tinha dentro. Quando a Bibi foi reclamar para o dono ele falou que tinha ratos sim, devido tanto mato no jardim, mas a linha do Budismo que ele seguia, fazia com que não pudesse praticar nenhum mal contra os animais. Contou que antes tinham cobras, e ele tinha que conversar com elas para irem embora.

Foram dias tranquilos, aproveitando o Festival das Flores que estava acontecendo, e com isto a feirinha de final de semana estava muito maior, e tinha ate um palco com apresentação de danças. As comidas da feirinha são algo a parte. Dezenas de pratos diferentes a preços baixíssimos. A partir de 30 centavos de real já dava para comer alguma coisa. Aproveitei para ir em mais uma luta de Muay Thai, mas não era num ginásio próprio, e sim no meio de bares, onde turistas bebiam e se preparavam para a noitada. Nesta região de bares vi os insetos fritos para vender, que degustei na primeira vez que vim para cá. Se engana quem acha que tem em tudo que e canto. O lugar mais fácil de achar e justamente onde estão os estrangeiros bêbados, provavelmente os maiores comedores de insetos da Tailândia!!

Comida boa!

Comida de bêbado!

Mais Muay Thai

Tínhamos vindo pra Chiang Mai para dar entrada no visto para a Índia, pois o consulado aqui era bem mais tranquilo que a Embaixada em Bangkok. Mesmo o motorista do tuk tuk tendo se perdido com a mudança de endereço do consulado, conseguimos chegar cedo la e encaminhar tudo. Demoraria 5 dias uteis, portanto uma semana. Pegamos o primeiro ônibus que conseguimos para Pai, um cidadezinha mais ao norte do pais, já próxima da tríplice fronteira (Tailândia-Myanmar-Laos). Pai já foi um daqueles segredos, cidadezinha super gostosa no meio das montanhas, mas foi descoberta, e esta crescendo bastante. Hoje e bem turística, mas preserva seu charme. Muitos estrangeiros vem para cá e ficam, portanto virou meio que um lugar Hippie. Muitos vivem de pintura, musica, artesanato e por ai vai. Cada um se vira como pode e vai ficando. Lojinhas descoladas estão surgindo aos montes, e os padrões dos hotéis também estão aumentando com o fluxo de turismo. O ponto alto do lugar e a natureza, pois o visual e incrível. Todos vem para fazer treking, rafting, visitar vilas de minorias étnicas, cachoeiras, etc. Nos tínhamos outros planos. Eu já tinha entrado em contato com o campo de treinamento de Muay Thai e ficaria treinando boa parte do dia. A Bibi ia fazer yoga e para não ficar entediada arranjamos uns cursos para ela. Meu dia a dia era treinar, descansar e treinar de novo. O da Bibi era Yoga e curso de culinária tailandesa, Yoga e curso de massagem tailandesa, ou Yoga e mais Yoga. Claro que de noite dávamos umas voltas pelo centrinho, que e todo movimentado, mas nada de dormir tarde. O treino era bom, mas bem menos puxado que os que fiz da outra vez, mas mesmo assim passava de cinco horas de treino diarios. São vários treinadores, sendo que o principal já foi campeão no Lumpinee em Bkk. Tinha desde iniciantes que estavam tendo o primeiro contato com o Boxe Tailandês, ate lutadores profissionais que vieram aprimorar suas técnicas. Claro que eu não tava na melhor forma física, pois na viagem não pratico nenhum esporte regular, mas me empenhei. Pra ser sincero depois de uns dias, com os muculos todos doloridos, e já sem os pelos na canela, pensei: Porque estou me empenhando tanto se poderia só me preocupar com a parte técnica? Até dei uma relaxada depois disto. No sábado é dia de sparring, coisa que não e muito comum nos treinos tailandeses (pois eles lutam muito e não podem estar machucados), mas devido ao grande numero de estrangeiros que tem por aqui. Fui lá e foi bacana. Só teve um lutador francês que quis “ver o lado”, e posso dizer que ele ganhou o que queria…haha Comecei a soltar o jogo e o pessoal elogiou bastante. Ponto alto para quando derrubei o treinador ex-campeão duas vezes. Recebi uma proposta firme para ficar dando aula de MMA e BJJ ali, mas recusei. Mandei um email para alguns amigos no Brasil, para ver se alguém se candidata, mas ate agora nada. Não sabem o que estão perdendo…

treino duro

Lugar astral

Rango da hora!!

Sera que aprendeu?

No meio das montanhas…

Etapa treino superada, os deliciosos chás de gengibre que sempre tomávamos a noite foram trocados por geladas cervejas. Voltamos pelas dezenas de curvas ate Chiang Mai, para o Ano Novo Chines. E o terceiro ano novo que passo em menos de cinco meses (ano novo etíope, o nosso e agora o chines). O ano novo chines tem calendário móvel, pois e baseado nas fases da lua. A Tailândia segue outro calendário, mas devido o grande numero de imigrantes e descendentes chineses, comemoram o evento aqui também. Nosso visto para a Índia ficou pronto e deu para se despedir da comida tailandesa com as trocentas opções da feirinha. Ficamos mais um dia para eu ver dois dos meus companheiros de treino lutarem. Em tantas lutas que tinha assistido aqui, ainda não tinha apostado nenhuma vez, pratica muito comum. Já tinha gastado um dinheirinho em cerveja quando decidi recuperar numa aposta na luta principal da noite. Quando não tava colocando dinheiro, estava acertando todos os palpites, baseado na aparência dos lutadores e pelo primeiro round. Na ultima luta conhecia o irlandês, que lutaria com um tailandês. Não que achasse ele um super lutador, mas tinha nocauteado nas suas duas ultimas. Apostei nele só por ter treinado junto, e perdi!! A cerveja que eu queria “recuperar” acabou saindo o dobro…haha Como a Bibi citou o livro da Elizabet Gilbert “Comer rezar e amar”, não tive como não lembrar do livro “versão masculina” “Beber, jogar e foder”. Depois que o cara descobre que e corno vai para a Irlanda para beber, Las Vegas para jogar e Tailândia para o resto. Mal ele sabia que poderia fazer os três na Tailândia!!hahaha

Muvuca na rua

Se não tivéssemos que pegar o visto para a Índia, poderíamos ter ido direto de Pai para o Laos já que era pertinho. De qualquer forma não estávamos muito longe, e pegamos um ônibus até a fronteira, onde passaríamos a noite.

País dourado!!

A Birmânia é um antigo inimigo da Tailândia.  O Burma vivia invadindo o Sião (antiga Tailândia) e a rivalidade existe ate hoje. Tipo um Brasil x Argentina, mas com a diferença de que o Myanmar e muito mais subdesenvolvido. Seria mais fácil imaginar um Tailândia x Vietnã  ou Tailândia  x Malásia.  Ninguém na Tailândia entendia porque iriamos para o Myanmar, até nos desencorajavam. Lembro que no início dos anos 90 via videos de desafios do Boxe tradicional da Birmânia contra o Boxe Tailandês em videos lá na academia Chute Boxe da rua Visconde do rio Branco. Por onde passava procurava um lugar para aprender esta forma antiga de combate, mas e muito difícil, pois não e comercializado, não virou um “esporte” como o Muay Thai.

Mandalay não e uma cidade muito atraente. Se já estava dando o adjetivo de empoeirada para outros lugares, aqui e o campeão. As atracões, algumas antigas capitais, ficam ao redor da cidade, e resolvemos fazer com calma, em vez de pegar um carro e ir em todas as cidadezinhas no mesmo dia. Os lugares preferidos foram Amarapura e Sagaing. Na primeira tem diversos monastérios, um lago com um longa ponte de Teca, onde vimos um super por de sol com um passeio de barco. Já Saigang tem uma colina com centenas de estupas, e e uma região famosa para meditação. Fomos sempre de transporte local, o que só em si já era uma aventura. Nos divertíamos com o pessoal. Em Mandalay tem um templo bacana também  daqueles que as mulheres não podem se aproximar do altar principal. Gostamos de visitar um monastério antigo todo feito de Teca, onde a Bibi aproveitou para tirar duvidas sobre Budismo e Meditação com um monge. Ficava numa região com muitos monastérios  então eram dezenas, se não centenas de monges para cima e para baixo. Ao pedir informações acabamos fazendo amizade com um deles que fez questão de nos levar no monastério dele para conhecermos e vermos a hora da meditação e mantras.

Monges e seus mantras

Final de tarde “da queles” em Amarapura

Vista de dentro dos transportes

Sempre cabe mais um!

Andamos bastante de Triciclos também  e desta forma fomos ate um café indicado, para comemorar o aniversario da Bibi. Lugar super descolado, decoração  câmeras de segurança  muito acima da expectativa. Como era um lugar com iluminação indireta, trouxeram um “abajur” para lermos o cardápio  Não e que era um abajur de camelo, em forma de gato, com etiqueta de preço e tudo!!!haha Quase não acreditamos. A Bibi falou que o banheiro não era la estas coisas, e não tinha toalha, só papel higiênico para enxugar as mãos. Mas a comida estava boa, e estão quase la. Haha

Depois de alguns cafés da manha juntos, trocas de informações de viagem, por coincidência estávamos pegando um ônibus junto com os alemães  Desta vez para Pagan, um dos maiores complexos de templos do mundo, com mais de 4000 estupas. Mordemos nossa língua  e acabamos ficando muito amigos do casal, tendo ate ido jantar algumas vezes juntos. Pagan teve seu ápice a quase 1000 anos atras, e sua beleza e unica. Já estávamos de saco cheio de visitar templos (isto que sou chegado num templo, estupa, igreja, mesquita…), e para nossa surpresa eles não eram tao interessante. Deixa eu explicar melhor. Poucos dos quase 4500 templos tem estatuas diferentes, pinturas, pedras entalhadas. Estes são muito interessantes, mas o legal mesmo e pegar uma bicicleta e andar pelo meio deles todos. Montamos dois roteiros para olhar os principais, e nos outros dias foi meio que sem destino. Parava onde dava vontade, repetia os mais legais, e subíamos terraços dos que tinham acesso. Muitos deles por corredores escuros, onde a lanterna foi muito útil.  Isto era a parte mais legal, descobrir um super templo, sem ninguém  para ver o visual e o por de sol. Sempre voltávamos já de noite, pois nos perdíamos no horário devido tamanha beleza. Um dia, na volta para o hotel, fomos surpreendidos por uma lua cheia gigante, amarelada, levantando por trás das estupas ponte agudas. Momento Mastercard!! A Bibi que andava meio triste com a crise dos 30, cantava sem parar, andando de bicicleta com os bracos para o lado e escutando musica…

Rodoviaria de Mandalay

Pagan!!

Um dos mais de 4000 templos

Precisa falar alguma coisa?

!!!

Íamos para outros lugares no Myanmar, mas gostamos tanto que resolvemos ficar mais tempo em Pagam. Pessoas chegavam, iam e nos lá. Tem um boa seleção de restaurantes, e a Bibi podia comer comida italiana, já que não se adaptou a culinária local. Num destes dias, por acaso, encontramos a Marlinda, nossa amiga e companheira de viagem da Indonésia !! Como o mundo e pequeno!! Fizemos vários passeios juntos e jantamos alguns dias também  Legal que ela e psicologa, faz Yoga, se dando super bem com a Bibi, alem de ser largadona, fazer treking, viajar sozinha de mochila, se dando muito bem comigo. Há, alem de pegar no pé da Bibi!!haha Estas coincidências me fez lembrar que em 2001 conheci um americano e um brasileiro em Amsterdam. Semanas depois, por acaso, encontrei o americano na rua em Barcelona. Já o brasileiro, encontrei 8 meses depois, numa festa, em San Diego. O mundo e mesmo pequeno! Fizemos planos de quem sabe encontrar a Marlinda novamente na Índia  alem dos alemães  já que e destino de todos nos, só com chegadas em datas diferentes. Os alemães já passaram 5 meses e meio lá, e estão voltando para mais 2 meses.

Nos com a Marlinda no terraço de um dos templos

Estas estradas de terra nos renderam 2 pneus de bicicleta furados

Nossas “magrelas” ali em baixo

Aqui, antes da chegada do Budismo, todos acreditavam em “Nats”, que são espíritos em formas humanas, mas que podem aparecer em animais, plantas e outras formas. E uma religião  ou crença  muito interessante, mas infelizmente pudemos aprender pouco, devido a falta de informação em inglês  e da fraca comunicação dos devotos. Fomos ate o Mt Popa, montanha com um monastério pendurado no topo. Muito bonito de baixo, mas a vista de cima não e tao bonita, pois a terra e totalmente plana. Este templo e budista, mas assim como na maioria dos lugares, a devoção se mistura com os Nats, tendo imagens de todos. Este e inclusive um dos lugares mais sagrados do Nat. As longas escadarias estavam enfestadas de macacos, e suas respectivas fezes. Vimos algumas engraçadas cenas de macacos roubando comida de turistas desavisados.

Mt Popa

Tava bom, mas tínhamos que voltar. Pegamos as péssimas estradas, e observamos mulheres e jovens  trabalhando pesado ao produzir e carregar cascalho para as novas estradas. No ônibus todo o corredor estava lotado de passageiros, sentados em banquetinhas de plastico. Em Yangon já tínhamos endereço, pois adoramos a hospitalidade do primeiro hotel. O bom daqui, e vários outros lugares que passamos, que se chegar as 4 da manha por exemplo, vai pagar a diária so do dia seguinte. E sempre erly check in.

Corredor do ônibus top de linha.

Tínhamos que ir no mercado e fomos num que ficava em um shopping. Muito diferente a parte “moderna” deles. A Bibi ficou estudando no hotel e eu fui no YMCA, onde anunciavam aulas de Kick Boxing. Tinha a esperança de que fosse o Burmise traditional boxing. Cheguei la na hora do treino e não tinha ninguém  Aparentemente não teria treino por algum motivo. Peguei o endereço de outro local onde este treinador dava aulas, mas não me pareceu muito profissional. Na saída conheci o Aungpyi, que adorou a historia de eu me interessar pela tradição deles. Me levou na casa dele e me apresentou para a mãe dele. Me presenteou com dvds de diversas lutas profissionais e conseguiu o carro da mãe dele emprestado. Aparentemente representante da classe media daqui, esta terminando o curso de medicina, que segundo ele e muito fraco, mas ele quer ajudar as pessoas. Rodamos para fora da cidade e quando ele contava calorosamente do seu fim de namoro acabou batendo o carro, arrancando o espelho retrovisor do meu lado. Que susto! Me levou sem eu saber no principal campo de treinamento de Burmese traditional boxing. Um galpão aberto, com quatro sacos de pancada, alguns pneus e umas espumas em colunas. Inacreditável que dois dos campeões nacionais saíram desta estrutura. Logo eles chegaram e pude fazer um treino com eles. O treinador super atencioso arranhava um inglês  e discutimos bastante sobre as diferenças para o Boxe Tailandês  alem de me mostrar vários detalhes. Me explicaram que existem poucos centros de treinamento, que a maioria dos campeões vem da região rural, e treinam em família  ou pequenas vilas. Voltei para casa feliz da vida e fomos num bar que vimos por acaso num mapa turístico.  O proprietário e neo zelamdêz, e o bar e impecável.  Difícil entender como que o lugar se paga, pois apesar de caro para os padrões locais, só tínhamos nós (com direito a escutar Bossa Nova!). Uma coisa que e difícil para o povo brasileiro entender e como as cidades grandes ao redor do mundo são seguras. Com todo o tamanho e pobreza de Yangon, nem pensamos em não levar o computador na mochila. Andamos pelas ruas escuras do centro (aqui sempre acaba a energia, daí só fica iluminado os lugares com geradores, o resto só na vela!), para comer a deliciosa pizza. Claro que o WiFi não funcionou…

Burmise traditiona boxing!

Ultimo dia de Yangon tentamos ir num suposto museu na antiga casa de Aun San, mas tava fechado e abandonado. Fomos até um parque onde ficamos sentados conversando no gramado, de gente para o lago com o Palácio flutuante. De la caminhamos ate a Swedagon pagoda, que tínhamos gostado tanto. Fiz amizade com um cara enquanto a Bibi meditava e fiquei tirando duvidas dos Nats e Budismo. Deixamos para trás os trocentos Budas deitados existentes por aqui. Enquanto a Tailândia se orgulha do Buda de Wat Pho, com seus 46 metros de comprimento, aqui eles tem de 40, 60, 90, cento e poucos metros. Mas depois de um tempo chega de Buda…

Palacio flutuante

Acordamos cedo para o nosso voo que era no inicio da manha. Claro que levantaram para preparar o café, mesmo fora do horário tradicional. Um dos funcionários ainda dormia em quatro cadeiras alinhadas, com uma lista telefônica como travesseiro, antes de acordar com um sorriso gigantesco no rosto para nos servir. O povo do Myanmar com certeza entrou para a minha lista dos Top 5 mais simpáticos do mundo, junto com Malawi, Tanzânia, Somalilândia  e Iêmen (menções honrosas para Zâmbia e Uganda). Estes dias o Pedro (meu sobrinho) falou para a Pati que queria estar do Myanmar, e eu, não queria sair sair do Myanmar…