Sobre qual região deveria ser o próximo livro??

Meu primeiro livro foi De Cape Town a Muscat: Uma aventura pela África. Já estou com material bem adiantado para o próximo livro. Se tudo der certo, fica pronto nos próximos meses. Mesmo já sendo “carta marcada” fiquei curioso para saber qual região os leitores tem maior interesse, então resolvi criar a enquete. Se puder, comente sua opção! 🙂

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Minha primeira viagem para a Ásia (2004)

Já escrevi bastante sobre a Tailândia, mas como na primeira vez que fui para lá, quase 10 anos atrás, fiz um roteiro diferente das outras viagens, resolvi postar aqui.

A viagem foi via Frankfurt, Alemanha, onde passei o dia e foi bom para quebrar a longa viagem.

Pit stop na Alemanha

Pit stop na Alemanha

Chegando em Bangkok, fui direto para Chiang Mai, no norte do país, onde fiquei um tempo treinando Muay Thai. Eu já treinava há muito tempo e fui para lutar. Mas recomendo para todos que gostam de esportes, mesmo quem nunca treinou.  Não só o treino, mas o dia a dia dos campos de treinamento são fantásticos. Quem passa esta sugestão, mas gosta de coisas culturais dos países, pode optar por fazer cursos de massagem tailandesa ou culinária. Um curso de mergulho nas ilhas pode não ser cultural, mas não é nada mal também.

Treinamento

Treinamento

Como escrevi em outros posts, Chiang Mai é uma cidade super bacana, fácil de se encantar, cheia de templos, mercados de rua nos finais de semana com ótima comida a preços ridículos! Peguei um trem para Bangkok mas saltei antes, em Ayutthaya, antiga capital do país. Ruínas e monumentos fantásticos, que podem ser percorridos de bicicleta sem pressa. A cidade fica ao lado de um rio e pescadores fazem pratos típico inacreditáveis! Nada sofisticado como as feirinhas de Chiang Mai, mas num destes lugares, estilo pé sujo ( ok, baixa gastronomia) que eu comi a melhor comida tailandesa de todos os tempos!!

Templos

Templos

Buda

Buda

Acabei mudando minha logística e em vez de ir até BKK resolvi me aventurar fora da rota principal, para evitar ir e voltar pela mesma estrada. Para chegar em Kachanabury, normalmente acessada de BKK, tive que fazer 2 conexões de ônibus, por cidades que nem o nosso alfabeto utilizavam, imagine falar inglês. Viajar pela rota principal da Tailandia é muito fácil, devido a boa infraestrutura e estarem preparados para receber turistas. Mas saindo desta rota as coisas mudam um pouquinho. Levei um papel escrito em tailandês, com o nome da cidade que eu queria ir, e as principais cidades do caminho. Eu torcia para que a tailandesa que me ajudou escrevendo as informações soubesse o que estava fazendo. Não preciso dizer que foi muito divertido.

Qual onibus?

Qual ônibus?

menu: Prato mais caro 4 USD

menu: Prato mais caro 3 USD

Kachanabury foi palco de batalhas importantes na segunda guerra mundial, imortalizada no filma “A ponte do rio Cay”. A ponte esta lá, ou a reconstrução dela, pelo menos. Existem barcos casas e uma região rural que pode ser explorada. O Tiger Temple, onde monges cuidam de tigres e você pode tirar fotos com eles. Hoje existem outras opções no país, mas inicialmente era só lá para brincar com os gatinhos. Tem um monte de passeios turísticos, uns bem legais, outros nem tanto. Andar de barco de bambu, de elefante ou até dar banho nos elefantes no rio. Tem um parque nacional bem bacana lá também, com caminhadas, cachoeiras e piscinas naturais. Alias os parques nacionais na Tailândia são super bem estruturados.

parque

parque

Monge com tigre

Monge com tigre

Indo para BKK passei rapidamente no mercado flutuante que é extremamente turístico, mas pode te render boas fotos. Depois de tantas cidadezinhas pequenas foi um choque chegar no caos barulhento e poluído de Bangkok. É uma cidade gigante, mas muito autentica!

Fiquei num quarto que era um pulgueiro, nos arredores de Kao san Road, recanto mochileiro da cidade (pelo menos era, já mudou bastante). Não acreditei quando encontrei quartos ainda mais baratos perto de china town (eu estava pagando 100 bath). Mas a região onde eu estava cumpriu bem o papel. Não é a melhor localização, mas também não é tão ruim assim. Fiz a peregrinação pelos principais templos da cidade, visitei o fantástico palácio real, fui assistir lutas de MT no principal estádio do país, oLumpine, algumas vezes, me aventurei do outro lado do rio onde dizem estar “bairros sem interesse” mas que achei bem interessante. Existem diversas coisas pare se fazer na cidade, de dia e de noite. Me diverti muito no “Ping Pong Show” que esta mais para circo que para show erótico. Alem de lançar bolas de ping pongue, soprar sarabatana em balões, soprar velas (…) as mulheres fumam charuto,e não, não é com a boca. Uma delas ofereceu para um sueco, magico profissional, que estava viajando comigo fazia uns dias. Houve aquele minuto de silencio para saber o que faria, quando ele conferiu o charuto, deu uma cheirada e fumou. Haha

Palacio Real

Palacio Real

Outro dia divertidíssimo foi num karaokê gigantesco, com apresentações de danças coreografadas e tudo mais. Lotado de tailandeses, todos muito empolgados dançando e cantando. Como não tinham muitos turistas, éramos alvo para as prostitutas e ladyboys. Na verdade era muito difícil de distinguir se era um ou outro!

Brigas de besouros em um mercado. Adoram apostar.

Brigas de besouros em um mercado. Adoram apostar.

Com uma noitada destas acabei até acordando tarde para pegar o ônibus para o Camboja. Estava meses sem beber, treinando e me preparando para a luta, e depois acabei “colocando o pé na jaca”.

Na volta do Camboja ainda passei per BKK antes de seguir para o sul, para a simpática Krabi, de onde fui para Railay. Duas pequenas praias, com rochas gigantes saindo do mar. Lugar meio resort, mas achei um chalé bacaninha, disparado a melhor pousada da viagem (também pagando 6 vezes mais que a média). Preço? vinte dólares.

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Railay

Railay

Escalar pedra para curtir o visual, pegar praia, mas foi o único lugar que não fiz amigos rápido, talvez pelo estilo das pessoas que vão para lá. Acabei alugando um caiaque para ir para outras praias e ilhas, e conheci dois canadenses e um inglês que estavam viajando de caiaque entre as ilhas, dormindo nas praias. A lua cheia se aproximava e acabei combinando com eles de ir para a ilha de KO Pha-Ngan, do outro lado da península, onde tem a famosa, “Full Moon Party”. Ônibus até Suratani, barco estiloso, super carregado com bugigangas e até porcos em gaiolas. Um grande tatame onde todos dormiam um ao lado do outro.

barco

barco

Dividimos chalés e curtimos a ilha, de dia rodando de scooter ou jogando vôlei, e de noite na balada. Chegou o dia a grande Full Moon. Milhares de jovens na praia, bêbados, drogados ou simplesmente felizes por terem a liberdade ali que não teriam nos seus países europeus. Musica, malabares com fogo, mas eu já tava meio cansado para ser bem sincero. A pré festa tinha sido suficiente para mim. Estava mesmo é sentindo falta das pequenas cidades, da paz dos templos e longas reflexões. Foi bom conhecer, saber que existe, me divertir, mas nunca mais inclui este tipo de programa nas minhas viagens.

Full Moon

Full Moon

scooter de dia

scooter de dia

 

Nesta viagem descobri que pessoas “malucas” paravam suas carreiras e saiam para viajar por longos períodos. A semente estava plantada…

2.000.000.000 Kg de bombas!!! / Despedida do Sudeste Asiático

Dois bilhões de kg de explosivos foi a quantidade de bombas que os EUA jogaram no Laos durante a chamada de Guerra Secreta, que ocorreu entre 1964 e 1973. Teoricamente os EUA não estavam em guerra com o Laos, estavam somente atacando os norte vietnamitas que cruzaram a fronteira para se esconder nas matas do Laos (imaginem se a Inglaterra bombardeasse o sul do Brasil para acertar Argentinos que estivessem cruzado a fronteira para se esconder), e acabar com uma das rotas do Ho Chi Min. Isto faz com que o Laos seja ate hoje o pais mais bombardeado da historia.Foram diversas missões, com gastos de alguns milhões de usd por dia para os cofres americanos. Mas o custo maior foi para o povo do Laos, não só na época mas ate hoje. Em torno de 30% das bombas não detonaram na sua queda, mas muitas delas continuam explodindo. O Laos e um pais muito pobre, e a população rural vê as bombas não detonadas como uma oportunidade de ganhar dinheiro, vendendo o metal como sucata. As principais vitimas são as crianças! Neste período também existia uma disputa de poder interna, e o bombardeio americano só fez com que a população apoiasse cada vez mais o lado comunista, que em 1975 assumiu o poder, que mantem ate hoje. O pais se manteve fechado por muitos anos, mas tem tentado seguir o caminho “comunista mas ganhando dinheiro” de seus vizinhos China e Vietnã, mas ainda esta engatinhando, e ainda deve demorar muitos anos para colher os resultados. A primeira resposta já veio: o turismo tem aumentado significativamente.

Pouco depois do sol nascer já estávamos pegando um pequeno barco para atravessar o rio e fazer a imigração no Laos. Não sou muito chegado a uma embaixada e sempre que e possível tirar o visto só na fronteira opto por isto. No caso do Laos foi meio roubada. Como todo pais comunista era uma burocracia gigante, e a fila de estrangeiros não era muito menor. Um oficial olhava os passaportes e separava em pilhas, enquanto batia alguns dados na maquina de escrever, outro preenchia os vistos um a um e colava no passaporte, enquanto outro ainda separava o papel da imigração. Não, depois de tudo isto não estava pronto! Tinha que ir no guichê ao lado para ganhar o carimbo. Depois de uma boa espera fomos comprar uns mantimentos e ir ate o barco. Na parada num restaurante onde estavam organizando tudo, nos alertaram que a cidade onde pararíamos para dormir (seguiríamos por 2 dias de barco ate Lung Prabang) era muito pequena, e com pouquíssimas opções. Contaram de pessoas que ficaram sem hospedagem no passado e tal. Sabia que estavam exagerando, mas mesmo normalmente não reservando com antecedência, decidimos garantir para não nos preocuparmos, ate porque o preço estava ok pela qualidade do hotel. Assim que chegamos no barco onde passaríamos os próximos dois dias, arranjamos um banco, que alem de não ser muito confortável, não tinha muito espaço para os pés. A medida que o barco foi ficando super lotado, ficamos gratos de ter pelo menos um banco desconfortável. Umas duas duzias de pessoas tiveram que setar no chao. Houve um inicio de revolta para conseguir outro barco, e novos passageiros se recusaram a entrar. Alguns poucos se levantaram do chao e foram para fora, mas a maioria ficou. Inacreditavelmente surgiu outro barco, e os corajosos revoltos foram bem folgados. Não vi nenhum colete salva vidas, portanto não seria o numero de pessoas que causaria uma tragedia. Sabia que o nível do rio Mekong estava baixo, mas não imaginava que estaria tao seco. Logo percebemos que caso o barco afundasse não passaria do nível do beiral do barco, e não duvido que pudéssemos sair andando. Em muitos momentos o barco raspava no fundo de areia. Fomos navegando por bonitas paisagens, grande parte por matas intocadas. Confesso que achava que seria um barco mais “local” e não praticamente só com turistas. Vimos ate uma família simples do Laos ter que se levantar para dar lugar aos turistas. Já chegando o final da tarde o barco atracou, e nos falaram que teríamos que seguir por terra, pois não passaria pela parte rasa que tinha a frente. Subimos as dunas com as mochilas e la em cima tinha uma caminhonete esperando. No caminho presenciamos um senhor discutindo com um cara do Laos que tinha carregado sua bagagem e estava cobrando mais que o combinado, inclusive tentando levar a mala de volta. O preço da caminhonete estava bem acima do justo, e todo mundo foi andando mesmo. Eles falavam que demoraria de uma a duas horas e tal. Depois de uma certa negociação, eles vendo que não teriam passageiros, acertamos um preço justo para o trajeto. A caçamba foi lotada, principalmente com o pessoal mais velho. Umas 4 ou 5 subidas e descidas íngremes, não mais que 10 minutos na desconfortável caçamba (com um cara sendo segurado pela cinta para não cair) pararam falando que havíamos chegado. Quando percebemos vimos que chegamos juntos com o pessoal que veio a pé. Apontavam em direção ao rio e la fomos nos. Eu tentava perguntar onde era a pousada que tinha reservado e só me falavam que era bem mais para frente, pelo menos uma hora de barco. No caminho um senhor de mais de 70 anos caiu ao descer os íngremes barrancos. Passei a ajuda-lo e carregar sua mochila também. Chegando na praia muitas fogueiras, musica alta e algumas barraquinhas de comida com luzes improvisadas. Tinham esteiras espalhadas pelo chão e todos já iam se acomodando. Fui perguntar sobre o barco e falaram que só sairíamos no dia seguinte, pois não dava para navegar no escuro. A Bibi ficou revoltada quando descobriu que teríamos que dormir ali. Fui falar com um cara que parecia que estava organizando a “festa” e ele não foi nem um pouco simpático. Falei do hotel reservado, e da situação do senhor que tinha caído 3 vezes e tal. Ele gostou menos ainda e passou a gritar comigo, falando que tínhamos sorte de ter comida, água e fogo blablabla. Mantive a calma e falava para ele relaxar, falar feito gente mas não dava certo. Discuti bastante com ele a partir disto. Tentei ganhar o apoio de um pessoal que já estava se deitando e tomando uma cerveja para boicotar o lugar (já tinham boicotado a caminhonete por achar injusto), mas para minha surpresa um cara mandou eu ficar na minha e aproveitar a cerveja. O que nos revoltou e que aquilo tudo tinha claramente sido planejado, tipica armadilha para turista. Prepararam tudo para vender comidas e bebidas a preços de turista. Depois de ter dormido no deserto entre Somalilândia e Djibuti com o carro encalhado, e também na beira da estrada na parte mais selvagem do Moçambique com o transporte quebrado, não tive como ficar quieto. Não me prorroguei na discussão com o “fazido” europeu, só o chamei de “cool hippie” e para ele aproveitar a “super aventura” dele. Não sei se ele entendeu, mas ficou quieto ao ver o senhor que tinha se machucado ser xingado e até empurrado ao ir reclamar. Tínhamos ouvido maravilhas do povo do Laos, de pessoas que viajaram por muitos países, mas provavelmente o aumento do turismo esta trazendo problemas também. Arranjamos um lugar numa das esteiras, próximo a uma fogueira. Comemos numa das diversas opções de refeições e tomamos uma gelada cerveja. Isto que estávamos no meio do nada, a vilazinha mais próxima que passamos tinha meia duzia de casas de madeira. Estranho não?! Crianças passavam recolhendo garrafas e restos, quando passei a brincar com eles. Primeiro mostrando as tatuagens, que eles adoram, e depois com aquela brincadeira do tapa na mão, que tem que tirar antes do outro acertar. Juntou mais de uma duzia e eu ficava desafiando todos, fazendo caretas e barulho de monstro. Ate amarrei uma faixa nos olhos para jogar de olhos vendados. Arranquei varias gargalhadas e eles amaram, mesmo não conseguindo se comunicar, pelo menos não por linguagem. Como teríamos que acordar junto com o sol, a Bibi já foi se agasalhando e se cobrindo com uma fina manta que temos. As mochilas foram usadas como travesseiro. O orvalho da madrugada aumentou a sensação de frio, que so terminou com a vinda do sol. Uma pequena cachoeira ao nosso lado fazia o único barulho da noite.

Rio Mekong

Subindo as dunas

Boa noite!!

De manha pegamos outro barco até Pak Beng onde estava nosso hotel. Pedimos para nos esperarem e fomos tentar pegar o dinheiro de volta. Chegando la falaram que não era culpa deles, e que poderíamos ficar la aquela noite, mas que não dariam o dinheiro de volta. Eu e um outro cara pedimos com uma super simpatia, insistindo e implorando, dizendo que não estava certo. Chegou um gordão e falou para irmos embora que não ganharíamos nada. Quando ele falou que estava la no “acampamento” no dia anterior nos revoltou. Realmente era bem perto, ele pode ir la ganhar dinheiro dos “troxas” e nos não podíamos ir ate o hotel. Falamos que íamos colocar na internet, que era tudo planejado e tal. O cara ficou louco e veio para cima de mim gritando. Eu peitei ele e gritei de volta quando ele me perguntou: “Vai fazer o que agora, boxear comigo?” Eu respondi no maior espirito filme de hollywwod: “ Isto seria uma tarefa muito fácil para mim, mas hoje so vou levar o dinheiro…” haha Como falou que não tinha dinheiro, sugeri que nos desse alguma coisa do bar/restaurante. Ele liberou 5 itens, independente do valor, mas que e claro que era menos que metade do que pagamos. Peguei 5 garrafas grandes de cerveja, por ser o produto mais caro. De volta ao barco, trocamos duas cervejas por refeições, bebidas e salgadinho. Não tinha mais o que fazer e tomamos as outras 3. Quentes? Claro que não, negociei de trocar por geladas e eles ficarem com o casco. Assim passou mais um dia navegando, por paisagens ainda mais bonitas. Ficamos batendo papo com um pessoal que tínhamos conhecido na noite anterior e fazendo novas amizades. Uma forte chuva veio, coisa que fazia tempo que não víamos. Foi o tempo de colocar as lonas na lateral do barco para já passar. Nas margens as poucas pessoas que víamos estavam ou estendendo redes de pesca ou garimpando. Alias vimos muitos garimpeiros, mas não consegui entender se era ouro ou alguma pedra preciosa.

Chegamos em Luang Prabang já no inicio da noite, e foi só achar um hotel para um merecido descanso. As vezes acho que a Bibi implica um pouco com um ou outro lugar que ficamos, mas tive que tirar o chapéu para ela. A revolta de dormir numa esteira (sorte que ela agora tem um colchonete de yoga), sem nem barraca foi a primeira reação, mas quando viu que não teria outra saída, encarou super na boa. Não foi a primeira vez que percebo isto.

Luang Prabang e uma pequena cidade, muito charmosa na beira do rio Mekong. E patrimônio da Unesco e tem dezenas de casarões franceses antigos (lembram que Laos era parte de Indochina, colonia francesa?) alem de muitas estupas e templos budistas misturados. O centrinho e super astral, mas minusculo. Existem também diversas cachoeiras e cavernas nos arredores da cidade. Não posso dizer que fizemos muito por la a não ser pular de café em café, ate chegar hora de um happy hour e por ai vai. Durante os dias encontrávamos algumas pessoas do barco, batíamos papo, trocávamos informação e o tempo ia passando. A Bibi curtiu umas lojinhas e cidade apesar de pequena já tem uma boa estrutura para estrangeiros. Tem um mercado noturno com varias opções de comidas, e a influencia francesa deixou muitos sanduíches feitos com baguetes. Achamos curioso que existe um toque de recolher a meia noite. Todas as pousadas fecham as 23 horas. Os viajantes mais festeiros não gostaram muito da ideia. Existe uma lei que você não pode fazer sexo com outra pessoa que não seja casado, seja ela do Laos ou estrangeira. Esta inclusive escrito nas regras dos hotéis, pregadas atras das portas. Diz a lenda que teve gente que já foi presa por isto.

No Laos o Budismo e muito forte também. Um dia eu acordei as 5 e maia da manha para ver as famílias oferecerem comida para os monges. Eles vem caminhando em pequenos grupos com suas vasilhas, recebendo as comidas. Quando param para pegar, diferentes grupos vão se encontrando, formando longas filas. E assim e o inicio das manhas, com monges indo para cima e para baixo. Em alguns lugares vi eles abençoando as famílias com mantras. Muito astral, e o lugar da um super clima.

Clima diferente tinha a nossa próxima parada, Vang Vieng, a algumas horas ao sul dali. Outra cidade ao lado de um rio, mas o clima ali e de festa. O famoso toque de recolher do pais não funciona direito, e duvido que a gringarada se preocupe com as outras leis também. No primeiro café que paramos, cheio de almofadas para ficar largado, veio o cardapio de bebidas e outro de drogas. Pode-se escolher opio, maconha, chá de cogumelo e por ai vai. Para estranheza do garçom, a Bibi pediu um shake de banana com café e eu um de melancia. Um pouco mais ao lado tinha uma placa colorida com uma seta apontando para onde seria “neverland”, a terra do nunca. Encontramos um escocês gente boa do barco que estava por ali uns dias e foi nos contando como que funcionava tudo. Deixou bem claro que era uma loucura. Ainda era estranho para nos imaginar, pois as ruas estavam vazias, e nos estávamos numa pousada tranquila de frente para belíssimas montanhas estilo as de Halong Bay. Mas sabia da reputação do lugar já a um bom tempo. Final de tarde o pessoal começou a voltar do rio onde fazem “Tubing”, e grupos de pessoas pintadas, enfaixadas, cantando, ficaram mais frequentes.

Vang Vieng o estilo e outro. São casas e pousadas simples, com diversos bares, cafés, restaurantes baratos e agencia de viagens. Entramos no clima e fomos pegar uma noite num dos bares mais famosos, ate porque era aniversario do escocês. Musica alta, galera dançando e bastante doidões. A bebida principal e um baldinho de wiskey, que pode vir com coca, energético e outros acompanhamentos. Tomamos nosso primeiro baldinho e nem achamos forte. Depois que ficamos amigos de um casal sueco, e eles completaram nosso segundo baldinho com wiskey que a coisa começou a desandar. Uma pista de dança que mais parecia um palco passou a ter nossa presença, e cantamos e dançamos abracados com nossos novos amigos. Não preciso nem dizer que dormimos a manhã seguinte inteira, né?!

Bibi e seu “baldinho”!

O inicio já tinha sido pesado, e nem tínhamos ido ao “Tubing”. Ficamos na duvida se íamos só no rio ou se pegávamos as boias para descer o rio. Resolvemos pegar as boias para fugir da muvuca. Pra quem acha que o Tubing e que nem descer o rio Nundiaquara de boia esta muito enganado. Fomos de tuk tuk ate o ponto de partida, onde já dava para ver a primeira dezena de bares. Te recebem com uns shots de bebida gratuita (que e claro que negamos depois da noitada). Cada bar com um deck, um tipo de musica a todo volume, e cheio de gente. Existe cordas onde o pessoal se balança para cair no rio, escorregadores adaptados alem de outros “brinquedos”. Logo entendemos o alto índice de pessoas enfaixadas e machucadas na rua…

Tubing!

Pulamos logo na água para fugir dali, mas tentávamos ser pescados a cada bar que passávamos. Eles jogam uma corda para você ser puxado para o bar. Tubing e basicamente isto, ir descendo o rio, e bebendo de bar em bar. Se não parar demora entre uma e duas horas, mas a maioria passa o dia inteiro, passando por todos os bares, e ate perdendo a boia na hora de voltar. Fomos sem parar em nenhum, aproveitando de outra maneira. O lugar e belíssimo, impressionante mesmo. Podem nos chamar “velhos”, “casadões” mas não voltamos nenhum dia para praticar o Tubing como ele deve ser feito, nem para os barzinhos. Não por acharmos que não valia a pena, nem por achar perigoso ou algo do tipo. Simplesmente porque arranjamos outras coisas para fazer. Arranjamos um lugar belíssimo em uma parte tranquila do rio onde passamos um dia todo e em outro fomos caminhar pela parte rural ate algumas das cavernas. A Bibi já tinha ido em cavernas estruturadas, com iluminação, corrimão, mas nunca numa caverna selvagem. Estas cavernas foram muitos utilizadas em guerras no passado, e nos com lanternas rastejamos por vãos, nos espremendo por passagens ate grandes salões. Difícil foi explicar para a Bibi que não daria para sair, e teríamos que voltar todo o longo caminho. Entendi quando ela resolveu me esperar do lado de fora. Meu “guia” era uma criança de não mais que 12 anos, que andava dentro das cavernas como se estivesse no seu playground. Voltamos por aquelas estradinhas de terra, cercadas de montanhas, com aquela ótima sensação de ter feito exercício e estar num lugar tao bonito.

Ainda demos uma saidinha de noite para nos despedirmos do local. Parece que tinham mais loucos, tinha ate gente dando cambalhota. Descobrimos que o escocês não saiu no dia do seu aniversario porque tomou um chá de cogumelo e a cara das pessoas passou a derreter na frente dele. Depois disto foi seu intestino que derreteu e ele passou as 3 primeiras horas do seu aniversario curtindo uma diarreia no banheiro da sua pousada… Tomamos só uma cervejinha, então estávamos totalmente fora do ambiente. Vieram umas loucas falar com a gente e tivemos que despistar e fugir para o hotel…haha comedia!

Quando estava pagando a pousada para ir embora, vi o dono com uma camiseta de futebol do Laos. Perguntei se ele não queria trocar por uma do Brasil e ele aceitou na hora. Batemos papo ate a hora de eu sair e perguntei quem era o jogador numero 4, a camisa que agora era minha. Ele respondeu sorridente que era ele, pois era camisa do time local, não da seleção…haha

Com o “camisa 4”!!!

De la para Vietane são mais um punhado de horas. A capital do Laos e minuscula, e não tao interessante como Luang Prabang. Ate o rio que deveria dar um charme estava seco e estão fazendo um aterro ou algo assim. Como já tivemos overdose de templos não fomos nem visitar os principais. Demos uma caminhada pelo centro e fomos ate o centro de reabilitação, onde tem uma exposição bem interessante sobre os bombardeios americanos, alem de diversos videos. As bombas se abriam e dentro continham centenas de bombas menores, cada uma com um poder de destruição de um raio de ate 30 metros. O numero de bombas jogado foi maior que a população do Laos na época. No ritmo que estão levando para limpar as áreas com bombas não detonadas, ainda vai demorar centenas de anos para que a região fique segura e não ocorram mais acidentes. Muito, mas muito triste…

De Vietiane pegamos um voo para Kuala Lumpur. Ficaríamos 24 horas la ate pegar o voo para a próxima etapa da viagem, então fomos ate a querida Chinatown. Interessante que KL foi nossa porta de entrada do Sudeste Asiático, e acabou sendo também a de saída, gracas aos preços baixíssimos das passagens da Air Asia. A Bibi teve uma reação alérgica, provavelmente de uma cera de depilação e ficou toda inchada. Já tínhamos conseguido remédios, mas como estávamos com tempo depois do check in no aeroporto resolvemos ir ate o ambulatório. Como o medico estava no outro aeroporto, nos levaram de ambulância ate la. Tudo ok, só novos remédios que fizeram o rosto e as mãos desincharem.

Quase 4,5 meses tinham se passado, e estávamos saindo do sudeste asiático. Um lugar muito gostoso, com um leque de coisas totalmente diferentes para se fazer. Culturas e comidas fantásticas! No geral bastante turístico, mas isto não significa que não existam varias regiões para serem exploradas. Como foi bom descobrir que a Indonésia e ainda mais legal que eu imaginava, reencontrar com a Tailândia e descobrir um novo pais “daqueles” como o Mianmar! A beleza natural do Laos, os Orangotangos e mergulhos em Borneo, cultura e beleza do Vietnã e a modernidade de Singapura. Saímos com a certeza de que voltaríamos, não só porque ficaram lugares para conhecermos, (sem contar países inteiros, perdão Filipinas), mas para voltar para os mesmos deliciosos lugares que estivemos.

Assim como os portugueses fizeram a mais de 500 anos, estávamos a caminho das índias…

País dourado!!

A Birmânia é um antigo inimigo da Tailândia.  O Burma vivia invadindo o Sião (antiga Tailândia) e a rivalidade existe ate hoje. Tipo um Brasil x Argentina, mas com a diferença de que o Myanmar e muito mais subdesenvolvido. Seria mais fácil imaginar um Tailândia x Vietnã  ou Tailândia  x Malásia.  Ninguém na Tailândia entendia porque iriamos para o Myanmar, até nos desencorajavam. Lembro que no início dos anos 90 via videos de desafios do Boxe tradicional da Birmânia contra o Boxe Tailandês em videos lá na academia Chute Boxe da rua Visconde do rio Branco. Por onde passava procurava um lugar para aprender esta forma antiga de combate, mas e muito difícil, pois não e comercializado, não virou um “esporte” como o Muay Thai.

Mandalay não e uma cidade muito atraente. Se já estava dando o adjetivo de empoeirada para outros lugares, aqui e o campeão. As atracões, algumas antigas capitais, ficam ao redor da cidade, e resolvemos fazer com calma, em vez de pegar um carro e ir em todas as cidadezinhas no mesmo dia. Os lugares preferidos foram Amarapura e Sagaing. Na primeira tem diversos monastérios, um lago com um longa ponte de Teca, onde vimos um super por de sol com um passeio de barco. Já Saigang tem uma colina com centenas de estupas, e e uma região famosa para meditação. Fomos sempre de transporte local, o que só em si já era uma aventura. Nos divertíamos com o pessoal. Em Mandalay tem um templo bacana também  daqueles que as mulheres não podem se aproximar do altar principal. Gostamos de visitar um monastério antigo todo feito de Teca, onde a Bibi aproveitou para tirar duvidas sobre Budismo e Meditação com um monge. Ficava numa região com muitos monastérios  então eram dezenas, se não centenas de monges para cima e para baixo. Ao pedir informações acabamos fazendo amizade com um deles que fez questão de nos levar no monastério dele para conhecermos e vermos a hora da meditação e mantras.

Monges e seus mantras

Final de tarde “da queles” em Amarapura

Vista de dentro dos transportes

Sempre cabe mais um!

Andamos bastante de Triciclos também  e desta forma fomos ate um café indicado, para comemorar o aniversario da Bibi. Lugar super descolado, decoração  câmeras de segurança  muito acima da expectativa. Como era um lugar com iluminação indireta, trouxeram um “abajur” para lermos o cardápio  Não e que era um abajur de camelo, em forma de gato, com etiqueta de preço e tudo!!!haha Quase não acreditamos. A Bibi falou que o banheiro não era la estas coisas, e não tinha toalha, só papel higiênico para enxugar as mãos. Mas a comida estava boa, e estão quase la. Haha

Depois de alguns cafés da manha juntos, trocas de informações de viagem, por coincidência estávamos pegando um ônibus junto com os alemães  Desta vez para Pagan, um dos maiores complexos de templos do mundo, com mais de 4000 estupas. Mordemos nossa língua  e acabamos ficando muito amigos do casal, tendo ate ido jantar algumas vezes juntos. Pagan teve seu ápice a quase 1000 anos atras, e sua beleza e unica. Já estávamos de saco cheio de visitar templos (isto que sou chegado num templo, estupa, igreja, mesquita…), e para nossa surpresa eles não eram tao interessante. Deixa eu explicar melhor. Poucos dos quase 4500 templos tem estatuas diferentes, pinturas, pedras entalhadas. Estes são muito interessantes, mas o legal mesmo e pegar uma bicicleta e andar pelo meio deles todos. Montamos dois roteiros para olhar os principais, e nos outros dias foi meio que sem destino. Parava onde dava vontade, repetia os mais legais, e subíamos terraços dos que tinham acesso. Muitos deles por corredores escuros, onde a lanterna foi muito útil.  Isto era a parte mais legal, descobrir um super templo, sem ninguém  para ver o visual e o por de sol. Sempre voltávamos já de noite, pois nos perdíamos no horário devido tamanha beleza. Um dia, na volta para o hotel, fomos surpreendidos por uma lua cheia gigante, amarelada, levantando por trás das estupas ponte agudas. Momento Mastercard!! A Bibi que andava meio triste com a crise dos 30, cantava sem parar, andando de bicicleta com os bracos para o lado e escutando musica…

Rodoviaria de Mandalay

Pagan!!

Um dos mais de 4000 templos

Precisa falar alguma coisa?

!!!

Íamos para outros lugares no Myanmar, mas gostamos tanto que resolvemos ficar mais tempo em Pagam. Pessoas chegavam, iam e nos lá. Tem um boa seleção de restaurantes, e a Bibi podia comer comida italiana, já que não se adaptou a culinária local. Num destes dias, por acaso, encontramos a Marlinda, nossa amiga e companheira de viagem da Indonésia !! Como o mundo e pequeno!! Fizemos vários passeios juntos e jantamos alguns dias também  Legal que ela e psicologa, faz Yoga, se dando super bem com a Bibi, alem de ser largadona, fazer treking, viajar sozinha de mochila, se dando muito bem comigo. Há, alem de pegar no pé da Bibi!!haha Estas coincidências me fez lembrar que em 2001 conheci um americano e um brasileiro em Amsterdam. Semanas depois, por acaso, encontrei o americano na rua em Barcelona. Já o brasileiro, encontrei 8 meses depois, numa festa, em San Diego. O mundo e mesmo pequeno! Fizemos planos de quem sabe encontrar a Marlinda novamente na Índia  alem dos alemães  já que e destino de todos nos, só com chegadas em datas diferentes. Os alemães já passaram 5 meses e meio lá, e estão voltando para mais 2 meses.

Nos com a Marlinda no terraço de um dos templos

Estas estradas de terra nos renderam 2 pneus de bicicleta furados

Nossas “magrelas” ali em baixo

Aqui, antes da chegada do Budismo, todos acreditavam em “Nats”, que são espíritos em formas humanas, mas que podem aparecer em animais, plantas e outras formas. E uma religião  ou crença  muito interessante, mas infelizmente pudemos aprender pouco, devido a falta de informação em inglês  e da fraca comunicação dos devotos. Fomos ate o Mt Popa, montanha com um monastério pendurado no topo. Muito bonito de baixo, mas a vista de cima não e tao bonita, pois a terra e totalmente plana. Este templo e budista, mas assim como na maioria dos lugares, a devoção se mistura com os Nats, tendo imagens de todos. Este e inclusive um dos lugares mais sagrados do Nat. As longas escadarias estavam enfestadas de macacos, e suas respectivas fezes. Vimos algumas engraçadas cenas de macacos roubando comida de turistas desavisados.

Mt Popa

Tava bom, mas tínhamos que voltar. Pegamos as péssimas estradas, e observamos mulheres e jovens  trabalhando pesado ao produzir e carregar cascalho para as novas estradas. No ônibus todo o corredor estava lotado de passageiros, sentados em banquetinhas de plastico. Em Yangon já tínhamos endereço, pois adoramos a hospitalidade do primeiro hotel. O bom daqui, e vários outros lugares que passamos, que se chegar as 4 da manha por exemplo, vai pagar a diária so do dia seguinte. E sempre erly check in.

Corredor do ônibus top de linha.

Tínhamos que ir no mercado e fomos num que ficava em um shopping. Muito diferente a parte “moderna” deles. A Bibi ficou estudando no hotel e eu fui no YMCA, onde anunciavam aulas de Kick Boxing. Tinha a esperança de que fosse o Burmise traditional boxing. Cheguei la na hora do treino e não tinha ninguém  Aparentemente não teria treino por algum motivo. Peguei o endereço de outro local onde este treinador dava aulas, mas não me pareceu muito profissional. Na saída conheci o Aungpyi, que adorou a historia de eu me interessar pela tradição deles. Me levou na casa dele e me apresentou para a mãe dele. Me presenteou com dvds de diversas lutas profissionais e conseguiu o carro da mãe dele emprestado. Aparentemente representante da classe media daqui, esta terminando o curso de medicina, que segundo ele e muito fraco, mas ele quer ajudar as pessoas. Rodamos para fora da cidade e quando ele contava calorosamente do seu fim de namoro acabou batendo o carro, arrancando o espelho retrovisor do meu lado. Que susto! Me levou sem eu saber no principal campo de treinamento de Burmese traditional boxing. Um galpão aberto, com quatro sacos de pancada, alguns pneus e umas espumas em colunas. Inacreditável que dois dos campeões nacionais saíram desta estrutura. Logo eles chegaram e pude fazer um treino com eles. O treinador super atencioso arranhava um inglês  e discutimos bastante sobre as diferenças para o Boxe Tailandês  alem de me mostrar vários detalhes. Me explicaram que existem poucos centros de treinamento, que a maioria dos campeões vem da região rural, e treinam em família  ou pequenas vilas. Voltei para casa feliz da vida e fomos num bar que vimos por acaso num mapa turístico.  O proprietário e neo zelamdêz, e o bar e impecável.  Difícil entender como que o lugar se paga, pois apesar de caro para os padrões locais, só tínhamos nós (com direito a escutar Bossa Nova!). Uma coisa que e difícil para o povo brasileiro entender e como as cidades grandes ao redor do mundo são seguras. Com todo o tamanho e pobreza de Yangon, nem pensamos em não levar o computador na mochila. Andamos pelas ruas escuras do centro (aqui sempre acaba a energia, daí só fica iluminado os lugares com geradores, o resto só na vela!), para comer a deliciosa pizza. Claro que o WiFi não funcionou…

Burmise traditiona boxing!

Ultimo dia de Yangon tentamos ir num suposto museu na antiga casa de Aun San, mas tava fechado e abandonado. Fomos até um parque onde ficamos sentados conversando no gramado, de gente para o lago com o Palácio flutuante. De la caminhamos ate a Swedagon pagoda, que tínhamos gostado tanto. Fiz amizade com um cara enquanto a Bibi meditava e fiquei tirando duvidas dos Nats e Budismo. Deixamos para trás os trocentos Budas deitados existentes por aqui. Enquanto a Tailândia se orgulha do Buda de Wat Pho, com seus 46 metros de comprimento, aqui eles tem de 40, 60, 90, cento e poucos metros. Mas depois de um tempo chega de Buda…

Palacio flutuante

Acordamos cedo para o nosso voo que era no inicio da manha. Claro que levantaram para preparar o café, mesmo fora do horário tradicional. Um dos funcionários ainda dormia em quatro cadeiras alinhadas, com uma lista telefônica como travesseiro, antes de acordar com um sorriso gigantesco no rosto para nos servir. O povo do Myanmar com certeza entrou para a minha lista dos Top 5 mais simpáticos do mundo, junto com Malawi, Tanzânia, Somalilândia  e Iêmen (menções honrosas para Zâmbia e Uganda). Estes dias o Pedro (meu sobrinho) falou para a Pati que queria estar do Myanmar, e eu, não queria sair sair do Myanmar…

No país que venceu a guerra americana.

O povo vietnamita e originário do sul da China. Durante mais de mil anos esteve sobre o domínio dos Chineses. Mais recentemente, no seculo 19, teve a colonização francesa, e a região passou a se chamar Indochina (atualmente Laos, Vietnã e Camboja). Na segunda guerra mundia foi a vez do Japão invadir a região. Com o final da guerra, o povo vietnamita, liderado pelo revolucionário Ho Chi Minh, iniciou o processo de independência do país. Foram poucos anos ate que conseguissem expulsar os franceses, que mesmo com apoio financeiro e bélico dos EUA tiveram que retirar suas tropas. Foi realizado um acordo em Genebra, mediado pelas Nações Unidas onde foi marcada a data que seria realizada uma eleição para que o Vietnã finalmente pudesse ser um país independente. Desrespeitando este acordo, com medo do comunismo e perda de influencia na região, os EUA financiaram um governo no sul do Vietnã, e não aceitaram a unificação e eleições. Com isto o Vietnã invadiu o sul para unificar o pais e acabar com anos de domínio estrangeiro na região. Os EUA mandaram muitos soldados e armamentos, dando inicio a por aqui chamada “Guerra Americana”.
Mesmo com toda a tecnologia, experiencia de gueras anteriores, usando armas químicas e toneladas de bombas a mais que as utilizadas na segunda guerra mundial, depois de anos os EUA tiveram que deixar a região. Perderam a guerra para pequenas guerrilhas de vietcongs, fortalecidos pela população local.
Ho Chi Minh, o líder da independência do pais, estudou em colégio francês, sendo fluente na língua. Trabalhou em navios tendo vivido por mais de 30 anos no exterior. Em Paris já fazia parte de partidos políticos, mas foi na URSS que conheceu o Socialismo. Infelizmente ele não viu seu pais livre, mas ate hoje é adorado e lembrado por todos.
Um ano após a guerra efetivamente terminar, Saigon, a maior cidade do sul do Vietnã, foi renomeada Ho Chi Minh City (HCMC). Nosso voo da Indonésia chegou a HCMC já no inicio da noite, e confesso que estava um pouco preocupado por não ter visto. No guia dizia para não chegar sem visto e um internauta brasileiro disse que em Hanoi, capital do pais, havia observado filas e confusão para tirar o visto na chegada. Eu tinha encaminhado todo o processo pela internet, e tinha a carta da imigração impressa. Não é que para nossa surpresa o processo foi super tranquilo e rápido. Passaporte carimbados fomos sacar dinheiro e arranjar um táxi, pois os ônibus já não estavam circulando mais. Para diminuir os custos, convidamos uma alemã que tínhamos conhecido no aeroporto da Indonésia para ir com a gente, e nos dirigimos para o terminal de voos domésticos, onde os táxis são mais baratos.
A surpresa não ficou só por causa do visto. Todos falavam mal da movimentada HCMC, e nós que não gostamos muito de cidades grandes já fomos com aquele preconceito. Ao chegar vimos aquele caos de motocicletas na rua (muito mais que na Indonésia), pessoas com aqueles chapéus em forma de cone, que só esperávamos ver nas plantações de arros, e muitas “figuras” nas ruas, todos muito animados. Ficamos numa região agitada, cheia de barzinhos, com mesas na rua. Foi só tomar uma cerveja gelada e brindar a chegada no novo país. Deu tempo ate de experimentar a lula seca com molho de pimenta que os vendedores trocavam por um punhado de moedas.
Como estávamos numa região central, era fácil de caminhar por tudo. Comemos um gostoso sanduíche e tomamos um ice coffe na rua de café da manha e a Bibi já viu que não teria problemas com a comida daqui.

Cafe da manha

Fomos andando ate o mercado Bem Than. Impressionante como por mais previsíveis que estes mercados possam ser, são sempre legais. Tinham desde boas falsificações de marcas famosas, produtos chineses e vietnamitas, alem de uma boa praça de alimentação. Difícil era tirar a Bibi das lojinhas. Muitas vezes deixava ela e só voltava depois para buscar. O museu War Renmants não fica muito longe dali, e fomos andando pelos cafés e mini hotéis (muito bons e baratos!) até la. De fora já da para ver tanques, aviões e helicópteros americanos expostos como relíquia.

Relíquias

Museu muito bem montado, com a parte histórica, dados da guerra e outra com muitas fotos (algumas chocantes). Os efeitos das armas químicas na população e soldados americanos (crianças nasceram deformadas muitos anos após o fim da guerra), e replicas das prisões onde os americanos torturavam os vietnamitas. Vendo os filmes americanos nos faz acreditar que a tortura era só praticada “do outro lado”, o que claro que e mentira. Pra quem não leu, “Brasil nunca mais” relata documentos e torturas na ditadura no Brasil, alem de como os EUA treinou os militares brasileiros para saber torturar com eficiência. Sera que casos de tortura como os mostrados no Iraque são isolados?
O palácio da independência estava ali ao lado. Fomos surpreendidos pelo transito de final de tarde onde  dezenas de motos avançavam loucamente sobre as calcadas. Aquela deliciosa sensação de “estou viajando”.

Sim, estou viajando!

Existem alguns locais interessantes nos arredores de HCMC. Um deles e o principal templo do Caodeismo, religião local que mistura vários aspectos do Catolicismo, Budismo, Taoismo e Confucionismo. Chegamos para presenciar a cerimonia deles. Alem de todas as religiões citadas, e representadas com imagens, ainda tinham aspectos que lembravam o Islamismo. Esta região já funcionou como um “Vaticano”. Era uma enorme fazenda, onde estava o centro religioso do Caodeismo. Com o Comunismo esta região foi subdividida, e está bem menor.

Caodeismo

Fomos também nos tuneis de Cu Chi, região estratégica onde varias batalhas foram travadas. O sistema de tuneis passa de 200 km de extensão, e foram construídos sem projeto nenhum e sem mapas. Como os Vietcongs tinham pouca chance contra os americanos, atraiam eles para os tuneis, onde tinham uma  boa superioridade. Assistimos filmes da época e conhecemos muitas das armadilhas. Como estávamos na região dos tuneis claro que tivemos que experimentar. Eu fui num original, apertado, claustrofóbico e escuro, onde se rasteja por folhas ate a saída. Não da nem para imaginar o que e estar num lugar destes  numa guerra, com bombas e inimigos por perto. Existe um outro túnel alargado para os ocidentais. Este com luzes e saídas a cada 10 metros. A Bibi tentou um destes, mas saiu na primeira oportunidade.

Vietcong sorridente saindo do túnel

No meio do mato existem bonecos no melhor estilo parque temático para nos explicarem como era o dia a dia. No final de tudo se pode comprar munição e disparar a sua própria metralhadora. E, os comunistas de hoje estão bem mudados. Na verdade o comunismo aqui já foi diminuindo no final dos anos 80, quando a população passou a ter direito de propriedade de terra. Com o colapso da URSS não tiveram outra opção a não ser a economia de mercado. Hoje a terra vale muito, e as desapropriações para construir metros, trens aéreos tem feito muita gente rica. Empresas estrangeiras estão por todo o lado, a taxa de desemprego e inferior a 2% e o crescimento anual de 7% (antes da crise ano passado).
Difícil saber o que realmente vale a pena visitar e o que são “armadilhas” para turistas. O Mekong Delta, por exemplo, ao sul de HCMC, estava nos nossos planos iniciais, mas acabamos pulando e indo direto para o norte. Concluímos que para realmente conhecer o Delta, o mercado flutuante e as vilas, teríamos que ir por conta própria, passando alguns dias, e não num tour que passava ate por fazendas de apicultura e fabrica de bala.

Qual e o pais do futebol? Comemoração de jogo de meio de campeonato

Pegamos então um ônibus direto para Mui Ne, uma pequena praia que esta sendo tomada por resorts e lojas. Ficamos no canto ainda pouco desenvolvido da praia. O lugar, com seus ventos fortes, e muito procurado para a pratica de Kite Surf, e tinham dezenas de pessoas voando com suas pranchas e “pipas”, alem de outras fazendo suas aulas experimentais.

Kite surfing

Com tantos jovens, existem diversos bares e clubes. Em uma noite fomos conferir um deles, no mair estilo Ibiza, todo decorado, com uma piscinona no meio. Encontramos um italiano que viaja o mundo vendendo vinhos e ficamos conversando, mas sem muito foco, devido a sua embriagues. No final da noite o DJ colocou uma seleção de remix de musicas brasileiras, e deu aquele saudosismo.
Com tanto vento na região, existem muitas dunas, que se tornaram uma atracão. Alugamos uma moto e fomos beirando a costa, passando pelas vilas de pescadores com seus cestos que utilizam para pescar,  ate chegarmos nas dunas brancas. Para quem já foi para o nordeste, ou Joaquina e Siriu, nada de impressionante, nem perdemos tempo. Pegamos estrada e fomos ate as dunas vermelhas (mas que para nos também eram brancas). Estas sim, muito bonitas. Ficamos rodando as estradinhas de terra, com vista para o lago e dunas, parando para curtir o lugar quando dava vontade.

Dunas

Região pesqueira

Como decidimos pegar o ônibus noturno, para chegar em Nha Trang já pela manha tivemos um problema. A Bibi tinha dado uma bermuda para a recepcionista do hotel levar num costureiro, e só ficaria pronto no dia seguinte. La fomos nos, após o expediente, ate a cidade onde ela mora. Aquele transito de motocicletas e auto-falantes dando noticias no maior estilo comunista, deram um clima. Com a bermuda em mãos todos fomos tomar um Pho, sopa tipica daqui, numa barraquinha de praça e bater papo. Acabou sendo um super programa.
Os ônibus noturnos aqui tem cama, então viajando a noite se ganha tempo. São três fileiras de beliches, onde fica bem reclinado, apesar de não ser totalmente deitado, pois tem que ter espaço para os pés do passageiro de trás. Se não couber, como no meu caso, tem uma “janelinha” nas laterais  para colocar o pé para fora.

“Janelinha” para o pé

Em Nha Trang encontramos o hotel com melhor custo beneficio de toda a viagem. Por seis dólares (para duas pessoas), hotel limpo com wi fi, aircon, água quente. Só não tinha café da manha. Já fiquei em muito hotel por menos de três, dois dólares, mas a baixa qualidade acompanhava o preço, o que não era o caso aqui.
A praia aqui e mais desenvolvida, cheia de lojas, restaurante e avenidas largas. Rodamos a cidade, nos localizamos na região. Existem muitas ilhas, com água excelente para mergulho. Tentam te vender muitos passeios para as ilhas, com almoço e entradas inclusas. Resolvemos ir de teleférico para curtir o visual. Quando chegamos la nos demos conta que era tudo estilo a praia de Sentosa, guardadas as diferenças entre Singapura e Vietnã,com varias atividades bem turísticas inclusas. Sorte que era cedo e deu tempo de voltar alugar uma moto e sair para fazer outras coisas mais interessantes. Fomos num monastério, que tem um Buda sentado no topo de uma montanha. Vista para a região e com direito a uma briga de galo bem na frente da estatua. Fomos pela estrada costeando a praia, passando por ruínas do Império Chan até dar vontade de voltar. Parada no mercado publico antes de voltar para o hotel, para ver todas as esquisitísses da comida local. Pra quem não quer arriscar nada diferente, pode escolher uma lagosta, que e assada nas barraquinhas de rua mesmo.

Briga de galo

A viagem ate Hoi An foi longa, a primeira que o ônibus noturno foi realmente útil. Na tv passavam filmes bizarros, onde lutadores chineses arrancavam a cabeça de seus oponentes com socos e estrangulavam outros com suas próprias tripas…  Ao chegar, o ônibus parou direto num hotel. Hotel muito bom, com preço razoável, mas bem longe da área de interesse. Tentavam te convencer que era melhor ficar ali, que emprestavam bicicletas para ir para a cidade. De manha, depois de uma noite dormindo no ônibus, você quase cai na historia deles. No Vietnã e tudo assim, sempre tentando se dar bem em cima de você, tentando te vender alguma coisa por dez vezes o preço real, não pode levar muito a serio, se não se estressa. Sai para caminhar e ver outras opções de hotéis como base de comparação. Não demorou muito para ver que estava muito longe e voltei para buscar a Bibi e ir ate a área central. A cidade e muito legal, com suas ruas estreitas, arquitetura com influencia europeia alem de uma comida tipica muito boa. Passaram os dias e nos rodávamos as mesmas ruazinhas, para cima e para baixo. Muitas lojas vendem de tudo, desde quinquilharias ate roupas. A região e cheia de alfaiates, que fazem ternos e vestidos muito bons por preços inacreditáveis.
Justo no dia que íamos para My Son, as maiores ruínas Cham da região, amanheceu chovendo. Como ficava a uma hora de viagem de onde estávamos, resolvemos encarar, pois o tempo poderia estar melhor la. Engano nosso! Chuva e mais chuva. Acho que foi o primeiro dia de chuva mesmo em oito meses de viagem. Fomos conhecer as ruínas debaixo de água. Claro que e difícil de aproveitar assim. My Son já não esta em um bom estado de conservação, já passamos por templos impressionantes, o que nos deixa mais críticos, e ainda debaixo de água. Roubada total!! Voltando para a cidade a chuva parava e voltava, mas conseguimos aproveitar mais um pouco. Não nos cansávamos de passar pela ponte coberta japonesa pela decima vez, fazer o circuito andando pelas principais ruas da cidade. O único ponto negativo da cidade e que não se pode andar 5 metros sem algum tentar te convencer a entrar num restaurante, loja, barco…

Hoi An

dragon fruit

Não e só de moto que o pessoal anda no Vietnã

Desta vez uma viagem “curta” de ônibus e estávamos em Hue, antiga capital, centro politico de vários acontecimentos históricos, com sua citadela murada. Da hora que chagamos ate a hora que saímos foi chuva sem parar. Sabe aquela pancada de chuva de verão? Imagine 48 hrs assim. Se fosse São Paulo tava debaixo de água. Do hotel íamos para um restaurante e voltávamos. De noite até nos aventuramos até um bar, pois estávamos entediados. Cheguei a andar algumas quadras para tentar ver a região, mas era impossível. Foi o lugar que estivemos mas sentimos que não conhecemos. Não adiantava ficar mais, pois nem sinal de que melhoraria o tempo. Só nos restava seguir viagem.