Quirguistão ou Uzbequistão?

Os soviéticos conseguiram fazer uma bagunça nas fronteiras de seus países  Existem territórios descontínuos dentro de outros países  Verdadeiras ilhas de um pais dentro do outro. Existem regiões do Uzbequistão e Tajiquistão dentro do Quirguistão  Sem contar que no sul do Quirguistão  existe uma maioria Uzbek. Claro que isto não terminaria bem. Confrontos ocorrem com uma certa frequência  No ano passado, logo após a revolução  centenas de pessoas morreram em um destes conflitos. Nossa viagem agora era pela parte oeste do pais, seguindo para o sul. Nos mantivemos no Quirguistão, mas culturalmente parecia estarmos no Uzbequistão.

Os irmãos da Bibi chegaram cedo, vindo de Istambul  Tínhamos agilizado um taxi para buscar eles e nos encontramos no hotel. Foi aquela festa. Conversamos um pouco e dormimos, mas acordando cedo, para eles poderem entrar no horário local.

Sabíamos que a viagem iria proporcionar momentos difíceis  que eles não estão acostumados. O primeiro dia foi bem tranquilo, fazendo poucas coisas, e com comida não tao exótica  O João sentiu mais o jetlag, mas o Marco já topou umas caminhadas mais longas pela cidade. Fomos também no museu, ver uns painéis soviéticos além de muitas fotos da revolução do ano passado. Impressionante ver a cidade tao calma em chamas e sangue no ano passado.

propaganda URSS anti-USA

Tínhamos ficado amigos de umas pessoas de um cafe, e fomos la novamente para apresentar meus cunhados. Acabou tendo mais cerveja que cafe, mas a interação foi bem legal. Quando chegou a hora de pegarmos estrada, fomos num taxi mega antigo, mas reformado, ate o lugar onde saiam os taxis comunitários  Negociamos, e depois de acharmos que tínhamos nos dado bem, tivemos que esperar um tempão, nos trocaram de carro, esperamos ainda mais. Nos colocaram numa minivan, foram levar um passageiro em casa buscar as malas, e acabamos perdendo bastante tempo. Foi um alivio pegar a estrada.

Tudo ficou bem quando o visual começou a aparecer. Iniciamos por um vale, subimos, subimos, ate nem sentirmos mais o calor. Pelo contrario, tivemos ate que nos agasalhar. Passamos por tuneis, vimos intermináveis montanhas, e as horas foram passando. O problema e que a viagem era longa, e tinha chão pela frente. Paramos para comer, mas sem perder muito tempo. Outras paradas eram só para pegar água ou tirar foto.

estrada

Rodeamos um belíssimo lago azul, e depois acompanhamos um rio da mesma cor, que depois vimos ter sido represado. Depois de descer de mais um passe de 3500 mts, o clima foi ficando mais desértico  Estávamos ao lado da fronteira do Uzbequistão  onde seria uma continuação do Fergana Valley.

LagoRio

Saímos da estrada principal (que liga as três maiores cidades do pais) e fomos sentido Arslanbob, pequena vila ao lado de uma imensa floresta de nozes. Chegando la gostamos de cara. Um lugar cheio de vida, bem tradicional. Ficamos numa casa que tinha um deck com vista para a floresta, e tinha uma porção de Uzbks, de uma outra cidade do Quirguistão, hospedados la.

Tiramos um dia só para conhecer o lugar, conversar com os nossos amigos, e aproveitar a vista do deck, tomando muito chá e comendo frutas. Mais de 90% da vila e Uzbek, e dos bem tradicionais. Todos vestidos a caráter  com seus chapéus e botas, e mulheres com lenços na cabeça e vestidos. Mercado de rua, e muitas carnes penduradas mostravam que a refrigeração não era muito comum por aqui.

vista das refeições

Nesta região não utilizam muito os yurts, então resolvemos acampar. Saímos todos a cavalo, parecia uma expedição  Ainda passamos numa cachoeira de 80 mts, antes de iniciar uma forte subida. Todo o trajeto era fantástico  desde saída da cidade ate os pequenos barracos improvisados ao longo da montanha. Na hora do almoço tivemos a grata surpresa de que nosso cozinheiro sabia muito bem o que fazia. Comemos muito bem antes de descansarmos um pouco e seguirmos viagem montanha acima. Nuvens apareceram (esta ficando comum, não !) no topo da maior montanha (4500 mts), quando chegamos num jailoo. Ainda demos uma cavalgada para tentar fugir da chuva. E deu certo, tinha uma casa de pau a pique que parecia estar estrategicamente colocada para nos. Deu tempo de entrarmos para logo iniciar a tempestade. Mas do mesmo jeito que vem, vai, e logo o tempo limpou novamente. Armamos as barracas ali mesmo, pois o lugar era perfeito

tempestade

protegidos

O pessoal ficou conversando com o guia e o cozinheiro, enquanto eu brincava com umas crianças que moravam ali perto. Ainda decidi subir uma montanha ao lado, com companhia das crianças  La em cima tinha a vista da floresta de nozes de um lado, e o jailoo com a maior montanha do outro.

Aproveitamos o lugar, comemos bem, vimos ate uma briga de cavalos. Veio outra tempestade, passou, e depois de uma noite razoável de sono, estávamos levantando acampamento.

Montanha abaixo entramos na floresta de nozes. As guerras de nozes foram inevitáveis  e o Marco sofreu um pouco, pois um piazinho acabava me abastecendo de munição, enquanto ele tinha que pegar das arvores.

Almoçamos na floresta, e depois de um tempo pelas trilhas, iniciamos uma subida novamente. Passamos por vários trabalhadores rurais, muitos deles mulheres. Alias as mulheres da região constroem casas, cortam mato, cortam comida para os animais, alem de cuidar da casa é claro.

Chegamos a um lugar com uma super vista, e a guerra de nozes acabou, até porque os caminhos ficaram estreitos, e tava ficando perigoso.

Voltamos a vila, e ficamos na mesma casa. O banheiro não era nem um pouco acolhedor, mas o nosso deck compensava. Quase teve briga por um banho quente. Nos divertiamos pois pediamos uma comida e vinha outra, a comunicacao era bem complicada, mas tudo dava certo no final.

De Arselambob pegamos estrada para Jalalabad, passado por varias carroças de burricos, e um visual bem parado no tempo. Esticamos ate Osh, segunda maior cidade do Quirguistão.

Osh não tem muitas atracões  Tem um mercado super movimentado, com Kirgs, Uzbeks, Tajiks dentre outros povos. Eram incontáveis o numero de pessoas com olhos claros, sejam elas com cara de asia central ou mais orientais.

O parque da cidade, que fica ao longo do rio, e muito legal. Cheio de gente, com brinquedos antiquerrimos, casas de chá e pessoas cantando em pequenos karaokes. Uns jogavam xadrez  enquanto outros surravam o boneco “bob” para ver quem batia mais forte. Fomos algumas vezes no Cafe Califórnia  pois o pessoal tava querendo comida ocidental. Ficava bem ao lado do prédio principal da universidade.Arranjamos transporte para atravessar a fronteira com a China, e apesar do calor subimos a montanha sagrada da cidade, o Salomon Throne.

Aproveitamos o mercado para nos abastecer de frutas e comida e cedo pegamos a estrada ate Sary Tash. A viagem foi bem mais tranquila que imaginávamos  e ainda mais bonita. Paramos só numa vila no caminho, e ao avistar uma cordilheira, com belíssimas montanhas (de mais de 7 mil metros), sabíamos que tínhamos chegado. Ficamos numa casa simples, e aproveitamos para andar pelo pasto, com aquele visual incansável ao fundo. Brincamos com crianças  nos comunicamos como podíamos  Comemos bem, caminhamos um pouco mais, e sentimos cansaço por causa da altitude.

No outro dia saímos cedo, pois sabíamos que teríamos alguns desafios pela frente. Paisagens incríveis ate chegar ate o primeiro check point. Outros controles ate a imigração propriamente dita. De la não podíamos seguir de carro. Com passaportes carimbados, nos dividimos e pegamos carona em caminhões.  Não demorou muito ate surgir uma imensa fila, não tendo outra possibilidade a não ser ir a pe. Mais um controle, mais caminhada, agora com subida, ate chegar num controle chines. Não entendiam o que falávamos  nem nossa nacionalidade. Mesmo com o visto olhavam numa lista de países e finalmente apontamos Brasil. Poucas dezenas de metros depois, outro controle, agora com revista de mochilas. Tudo certo, pegamos mais um caminhão para rodar os 7 km ate a imigração propriamente dita. Tudo indicava que tínhamos chegado na China, mas será que era China mesmo?

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Pós revolução nas montanhas celestiais!

O Quirguistão é um pais montanhoso, muito montanhoso. Algumas destas montanhas atravessam boa parte da Asia Central. Uma das maiores cadeias de montanhas ‘e a Tian Shan, que significa “Montanhas Celestiais”. O Quirguistão divide outras coisas com seus vizinhos, a origem do povo e da língua são praticamente os mesmos. A independência de todos estes países também aconteceu na mesma época, com o colapso da URSS. Mas entrando na politica as coisas ficam diferentes. O Uzbequistão tem o mesmo ditador, odiado por todos, desde a independência  O mesmo acontece com o Cazaquistão  se bem que o ditador la ‘e adorado por muitos (o que não faz o petróleo . No Quirguistão um ditador não se mantem por tanto tempo. Em 2005 houve a revolução das tulipas, e depois de muito quebra-quebra e mortes, o ditador teve que fugir do pais. Novo presidente, sistema e problemas antigos, muita corrupção  nepotismo e descontentamento fizeram com que a população fosse as ruas novamente ano passado. Novo quebra-quebra e violência  Carros incendiados e a policia/exercito abrindo fogo contra a população  Centenas de mortos e milhares de feridos. O novo presidente não aguentou a nova revolução  e também teve que fugir. O pais ainda sente esta revolução recente. Existem os otimistas, mas outros falam que so os marionetes foram trocados. Hoje o Quirguistão  assim como o Brasil, tem uma Presidenta. Vamos ver como ‘e que elas se saem…

Depois da despedida da mãe e Clau, tiramos um dia para descansar, lavar roupas e programar os próximos dias. Nosso próximo destino era Kol Ukok, bem perto de Kochkor, montanha acima. Havia uma pequena possibilidade de chuva, mas quando acordamos de manha, resolvemos cancelar, pois as montanhas estavam encobertas com nuvens escuras. Não foi a primeira vez que as montanhas fizeram isto comigo. Prorrogamos para o dia seguinte. Depois de ter chovido, parecia que daria certo, mas só no tempo de tomar cafe da manha, o vento bateu e as nuvens voltaram. Cancelamos novamente, mas arriscamos uma saída pela vila. Próximo do horário de almoço o tempo limpou, e decidimos aproveitar a oportunidade. O inicio da subida ficava a poucos km da nossa pousada. Tivemos que esperar um pouco ate nossos cavalos chegarem. Nesse meio tempo já iniciou nova movimentação de nuvens. Mas todos falavam que só na primavera que chovia forte, que no verão seria uma chuva fraca e curta. Resolvemos arriscar. A subida por um vale, sempre montanha acima, com uma super vista de Kochkor e suas montanhas atras. Os cavalos passavam por pedras, rios, ladeiras, com a maior tranquilidade. A medida que fomos subindo, fomos nos aproximando dos restos de neve, e também das nuvens, que ja estavam quase ao nosso lado. Ameaçava chover, mas por um momento parecia que tudo tinha ficado para trás  Foi quando já bem no alto da montanha, iniciou um vento forte.

Tempestade vindo

Trovoadas não muito longe, no cume das montanhas ao nosso lado. Veio uma chuva fina e já tínhamos colocado a roupa adequada. Ficou frio, bem frio. De repente minha jaqueta preta foi ficando branca. Falei para a Bibi se cuidar que estava chovendo granizo, mas logo percebemos que não tinha problema, na verdade estava nevando! Sim, neve em pleno verão do Quirguistão  Olha, só não foi melhor, porque passamos um frio desgraçado  Nossas mãos congelavam, e não queríamos parar para pegar mais roupas na mochila. Nao muito tempo depois, atingimos o ponto mais alto, e o tempo abriu totalmente. Parecia combinado para podermos ver a paisagem do lago azul com as montanhas nevadas ao fundo. Ainda tínhamos que contornar o lago, para chegar mais perto das montanhas, e ver em qual dos sete yurts que ficaríamos  O lugar era fantástico  perfeito para mim, com certeza um dos lugares que mais gostei nesta segunda etapa da viagem! Eu ficaria uma semana la só subindo as montanhas ao lado, glaciais e outros lagos. O problema para a Bibi ‘e que era zero estrutura. Nada de banho, na verdade não tinha nem banheiro. Bem autentico.

vista da janela do yurt

A família que ficamos era bem gente fina, e passamos um bom tempo dentro do yurt nos aquecendo com chá quente. Mesmo de dia ligaram o aquecimento, queimando bosta, e claro. Tinha um japonês acampando ali ao lado. Conversamos bastante e tomamos leite de égua, aquele fermentado. O vento estava de cortar, mesmo com o tempo bom. Eu parecia uma criança andando para cima e para baixo. Com o entardecer a temperatura despencou ainda mais, e o céu parecia um planetário.  Nosso yurt tinha uns furos, mas pelo menos as cobertas eram grossas. Durante a noite cheguei a pensar que um lobo atacava uma ovelha de tanto que ela berrava, mas estava só dando cria haha. Segunda vez que isto acontece, outro dia foi uma jumenta. Eu tinha falado que iria entrar no lago, mas não tive coragem. Alem de encarar a água quase congelada, teria que sair num vento gelado. Ficou para a próxima.

 

O retorno foi com tempo bom, mas longo e sem paradas. As centenas de marmotas continuavam correndo, atravessando a trilha, e dando sinal para as outras. Depois de umas cinco horas resolvemos descer dos cavalos, e seguir a pé  pois já não dava mais para aguentar de dor. Ficamos na casa da mesma família, e tomamos um merecido banho quente. Nosso próximo destino era Naryn, algumas horas dali. Chegando la decidimos nem ficar na cidade, e continuar a viagem ainda mais ao sul, bem perto da fronteira com a China. No caminho muita poeira, e muitos caminhões e chineses trabalhando na nova estrada. Saímos em uma estrada secundaria, passando entre um cânion  ate chegar em Sary Tash. Ficamos em Yurts no vale, com vista para o antigo e diferente caravançarai  Mal tínhamos chegado, vieram umas pessoas se apresentar para nos. Um deles se dizia o Consul do Brasil no Quirguistão.  Dei risada, pois ele mal falava inglês. Ele tinha um boné com o Cruzeiro do Sul e escrito em Kyrgs.

Demorou um bom tempo ate entender que era um titulo honorário  e que ele era um homem de negócios  Fomos convidados para um banquete com eles, tiraram muitas fotos e demos muita risada. Fomos forcados a tomar umas vodkas. Quando alguém oferece um brinde, todos escutam atentamente esta pessoa falar sobre cada um da mesa, e depois viram o copo. Nos fizemos de bobo e fomos tomando devagar. Tinha uma jornalista que falava bem inglês  e ela serviu como interprete. E-mails trocados, mais fotos, prometemos ir ate o seu cafe restaurante “Pele”, para conversarmos mais. Ele contou que tinham 11 brasileiros em Bishkek, sendo que 3 eram jogadores de futebol, e nos prometeu colocar em contato com eles. Neste lugar não tinha chuveiro, mas tinha uma daquelas saunas de pedra, onde aquecem a água com fogo, e mistura água fria para tomar banho. Melhor do que nada, mas depois de limpo fica aquela sensação de suado.

Banquete

Noite fria, mas um bom yurte fez com que nem sentíssemos  Tivemos uma surpresa que no dia seguinte não encontraram os nossos cavalos. Eles amarram as patas dianteiras do cavalo como se fosse uma algema, mas mesmo assim eles desapareceram. Foram pulando sei la para onde. Ficaram procurando ate tarde, e so nos avisaram quando já não dava mais tempo de subir os mais de 4000 mts ate o passe que daria para enxergar mais um lago entre as montanhas. Decidimos caminhar pelo vale, sem pretensão de ir muito alto. Depois de algumas horas, quando vimos uma movimentação de nuvens, decidimos voltar, pois nova tempestade estava vindo. Inacreditavelmente conseguimos chegar nos Yurts sem nos molharmos.

Caravansarai

Ainda visitamos o caravançarai por dentro, antes de retornar para Narin. La chegando achamos um apto bem barato, mas como queríamos interação, buscamos uma casa de família  Ficamos num daqueles blocos soviéticos caindo aos pedaços  mas que dentro era bem reformado. Alias Narin e cheia destes blocos, uma cidade bem espalhada, decadente, com um rio cortando ao meio.

Narin

Caminhamos pela cidade e ficamos amigos de umas pessoas de Bishkek que estavam no quarto ao lado. Trabalhavam para a Unicef, e acabamos jantando juntos. Novamente nos incluíram nos rounds de vodka, e ficamos escutando como os tempos soviéticos eram bons, muito melhores que agora. Um deles brincava: “antes não tínhamos dinheiro, mas tínhamos tudo! Agora podemos ter dinheiro, mas não temos nada…”. Quando ele disse que se tivesse uma nova URSS ele sairia correndo para la sugeri dele ir para Cuba, mas acho que ele não entendeu minha ironia, ou talvez tivesse bebido demais para isto.

Adoramos nossa estadia, nossas anfitriãs e vizinhos, mas tínhamos que voltar para Bishkek. Pegamos uma mashtruka (microonibus) e encaramos a estrada. Nosso hotel tava lotado, e ao buscar um lugar para ficarmos acabamos encontrando nossos amigos israelenses de Bukhara. Saímos para jantar, bater papo e contar as aventuras do ultimo mês  Deu tempo de acertar mais um ou outro detalhe, nos mudarmos para o nosso hotel favorito, pois teríamos nova companhia. Agora os irmãos da Bibi que viriam para viajar conosco.

Bishkek

Meus Pais foram para o Quirguistão!!!

Sabe aquele ditado “ o fruto não cai longe do pé ,” pois ‘e meus pais adoram viajar. Eu não tinha nem nascido e eles já tinham percorrido quase toda a Europa e boa parte da America. Moraram fora do Brasil e estavam sempre planejando uma viagem. Quando eu era pequeno a rotina não mudou. Acampávamos cada ano em um lugar diferente. Ctba-Bahia, Litoral do Rio, SP e SC, Goias, Pantanal, Argentina,Chile. Cada um tinha sua função no acampamento. Também fizemos outras viagens sem ser acampando, mas sempre bem fora do estilo “pacote”. Uma viagem para a Europa, por exemplo, teria piqueniques na beira da estrada com bastante frequência  Eles já tinham passado dos 40 quando acamparam pelo interior da Franca. Com a “idade” (haha) o espirito aventureiro foi diminuindo, mas não tanto assim. Não pensaram duas vezes antes de nos encontrar na Tanzânia e Quênia  e encarrar aquele ônibus de Arusha para Mombassa (não e para qualquer um!). Desta vez, pelas minhas descrições queriam nos encontrar no Uzbequistão  mas devido ao trabalho e nosso roteiro, não foi possível  Queria só saber o que os amigos deles falaram quando contaram que estavam de malas prontas para o Quirguistão!!

A viagem de Almaty para Bishkek (capital do Quirguistão  foi tranquila. Estrada boa, e um táxi comunitário decente. Só tivemos que esperar um pouco para chegar outros passageiros, mas o tempo perdido foi recuperado na fronteira. Entramos numa fila, o oficial perguntou de longe de onde eramos, e saiu do seu guichê  pegou nossos passaportes, levou para uma salinha, carimbou, e abriu a corrente ao lado da fila para passarmos. Simples assim, sem formulários sem nada. Estávamos no Quirguistão.

A chegada em Bishkek nos mostrou que o pais era bem mais pobre que seu vizinho com petróleo,  mas também tinha montanhas como pano de fundo na sua principal cidade. Nos hospedamos nos apartamentos dentro de uma escola de Negocios e Gerenciamento. Prédio antigo, mas aparentemente o curso de MBA lá é bom para os padrões locais. Um dia tinha uns soldados com capus estilo terrorista dentro de um carro. Devia ter alguém importante lá. Nosso quarto/apartamento era bom. bem antigo, mas limpo, arejado e com um bom preço. Uma senhora russa que tomava conta do lugar era super atenciosa e nos adotou. Deu tempo de reconhecer a região,  entender sobre os preços, logística e tudo que é necessário até o dia que a mãe e o Clau chegaram.

Matamos a saudades e conversamos um monte, ate a hora de sair para comer e rever a cidade, que é relativamente pequena. Prédios do governo, a larga avenida principal, praças e guardas na frente do museu, e os esquisitos prédios soviéticos. Acertamos alguns detalhes que estavam faltando para a volta deles e decidimos o nosso roteiro.

Dia seguinte estávamos pegando a estrada ate a cidade de Karakol, contornando a parte norte do lago Issyk-Kol. Paramos para comprar frutas, curtir o visual de montanha, mas não podíamos nos enrolar muito, pois era uma boa esticada.

Karakol e uma cidadezinha bacana, com casas tipicas, uma igreja ortodoxa interessante e uma Mesquita Dungan (etnia originaria a alguns seculos atras, de pais árabes e mães chinesas) bem autentica. Nos divertimos tentando nos comunicar na mesquita, para entender mais do lugar, e tambem ao ser levado para o restaurante errado ao pegar o táxi.

Mesquita Dungan

casas tipicas

O Quirguistão não é um lugar para se ficar em cidades, e na manha seguinte já estávamos indo para o Canion Jetti-Orguz. Passamos por formações rochosas vermelhas, pela ultima vila, ate encarrar uma estrada bem mais precária  Cruzamos pontes de madeira, passamos por diversos yurts ate chegar num vale, na beira de um rio, onde estavam nossos yurts.

Foi engraçado ver a mae e o Clau com suas malas de rodinha escolhendo o yurt que iriam ficar, mas eles estavam bem animados. A família que cuidava do lugar é bem simpática  O Quirguistão fica embaixo de neve quase todo o ano. O pais é quase só montanha, e durante menos de 4 meses por ano a neve derrete, e vem uma pastagem bem verde. São os chamados Jailoos. Os Kirgs levam seus rebanhos para esta região fértil, e moram em yurts.

Curtimos a beira do rio, conversamos, caminhamos montanha acima para uma cachoeira. Eu tomei banho de rio gelado, vimos estrelas, e ficamos no yurt para se proteger do frio quando a noite caiu.

Haviam outros yurts próximos dali, onde alguns locais pareciam frequentar nos finais de semana, para aproveitar o lugar e tomar uma vodka.

Fomos a cavalo seguindo o vale. Não e um passeio tão curto, mas muito, muito bonito. Boa parte das montanhas é reflorestada, beiramos o rio, passando por yurts bem isolados, com uma vida bem tipica. Para coroar, cavalos pastando com uma montanha imensa ao fundo, com neve no topo.

O cavalo é o meio de transporte oficial. Vimos muita gente mega carregados andando tranquilamente a cavalo. Outro com o filho dormindo tranquilamente, sem se preocupar com o balanco do animal.

e o filho dormindo

Apesar de isolado, este lugar tinha um chuveiro quente, aquecido a lenha, o que facilitou bastante as coisas. Tentamos ficar na fogueira depois que escureceu, mas o yurt ainda era o local mais quente a noite.

De Jetti-Orguz tivemos que voltar para Karakol, parada estratégica para pequenas compras e pegar nosso novo transporte, que mais parecia uma Kombi 4 x 4. As janelas não abriam e estava calor. Logo iniciou a subida e entendemos o porque de não abrir, pois levantou a maior poeira. A estrada foi piorando. Logo não dava mais para chamar de estrada, parecia o leito de um rio seco. Sempre subindo, beirando um penhasco com um pequeno rio la embaixo. Logo estávamos acima dos 3000 metros de altitude. Horas depois, parada estratégica para ir ao banheiro, e já podíamos avistar o Altyn-Arashan, nosso próximo destino. Mais um vale, com meia duzia de casas, muito verde e outra magnifica montanha nevada ao fundo.

Existe uma casa que ‘e abrigo para montanhistas e já foi estacão metereóloga, que funciona praticamente como um albergue. Para ter mais privacidade pegamos uma outra ali perto. Nada de banheiro, e banho só nas águas termais. Um lugar fantástico e eles tiveram a capacidade de fazer uma construção de madeira com uma piscina lajotada para canalizar as águas termais, da para entender? Nada de banho com visual  mas pelo menos era um banho. O tempo fechou, e tivemos que nos recolher na cabana antes que o esperado. Eu e o Clau vimos um rato atravessar a sala, mas não falamos nada para não mudar o humor das mulheres.

O local e base para visita de glaciais, lagos e cachoeiras, mas são passeios bem longos. Depois das horas de caminhada em Jetti-Orguz, achamos que podia ser um pouco demais. Com a mudança de tempo optamos por caminhar no vale, e nos divertimos atravessando as estreitas pontes de tronco de arvore. Percebemos que a noitada na cabana principal tinha sido longa, pois varias garrafas vazias de vodka estavam a mostra. Uma turista Kirg relatou que ninguém estava lá, e nos mesmos tivemos que preparar o almoço. Esta Kirg já tomou conta da cozinha, e depois descobrimos que era uma cantora. Mostrou uma de suas musicas e nos surpreendemos com sua voz. Era uma pessoa bem bacana, que estava de lua de mel la, e não entendia o que estávamos fazendo ali. Alias, esta pergunta foi frequente na Asia Central. Viajar aqui? Mas porque?

Quando o tempo melhorou, lavei roupas no rio, com uma sinfonia de meeee’, de tantas ovelhas e cabras que tinham no lugar. Logo era hora de voltar para Karakol, para mais uma pausa no hotel. Mas antes disto tinha que encarar estrada abaixo, “com emoção”!

De Karakol para Kochkor seria outra esticada, desta vez beirando a parte sul do Issyk-Kol. Nesta margem nada de cidades com mini resorts para russos bêbados  era tudo bem mais tranquilo. Em um lugar ou outro, ainda tinha um hotel, mas bem mais pacato. Passamos perto de uma mina de ouro. Quase 20% do PIB do Quirguistão vem do ouro e outros minérios explorados. Nos divertimos ao parar para comprar algo para comer no meio do nada e encontrar uma Kirg que falava alemão.

Issyk Kol

Chegamos na pequena cidade de Kochkor e ainda deu tempo de dar uma caminhada. A mãe e o Clau se surpreenderam que uma refeição para quatro pessoas, com cerveja, custou menos de 15 reais. Para quem já comeu por menos de um dólar cada não era surpresa, mas pelo nível do restaurante o preço estava muito bom (e a comida também!).

Fomos no escritório do CBT (comunity based tourism) para arranjar um home stay, e nosso programa para os próximos dias. São varias famílias cadastradas, com classificação das casas de uma a três edeweiss. Quartos amplos, com tapetes pendurados na parede e bonitas cortinas. O lugar foi aprovado por todos.

Passamos num movimentado e bacana mercado de animais antes de encarar mais algumas horas de carro, novamente montanha acima, agora a mais de 3500 metros. O caminho ja era um passeio em si. Logo apos o passe, ja acima da linha do gelo, deu para ver o lago Song-Kol, com um vasto jailoo de um lado e montanhas nevadas do outro.

Yurt desmontado e o Lada novo

indo para a montanha

Uma serie de yurts, muitos deles com cobertas esticadas ao sol. Muitas ovelhas, cavalos, mas nem uma unica arvore. O lugar estava movimentado, bem mais que esperávamos  Logo entendemos que era final de semana. Desta vez teríamos que dividir o yurt. No escritório do CBT in Kochkor, ficamos com pena de uma americana do Peace corp, que não podia ir para o lago pois teria que pagar o transporte sozinha. Acabamos oferecendo de ela ir com a gente. No final das contas queriam que ela ficasse no mesmo yurt conosco, mas batemos o pé e acabaram arranjando outro lugar para ela.

Caminhamos pela beira do lago, no pasto onde edelweiss era que nem praga. Como o banheiro era bem meia sola, e nao tinha nenhuma arvore, era hora das mulheres colocarem as cangas para funcionarem e procurar um barranco ou pequeno leito de rio seco para se proteger.

O por de sol foi longo. Com as montanhas altas, depois que ele se escondeu, ate ficar escuro demorou muito tempo, e as cores variavam de vermelho a alaranjado, com os yurts já com suas chaminés funcionando. Um super clima! Quando parecia que ficaria escuro, do outro lado surge uma lua cheia gigante. Ate esquecemos que sem o sol a temperatura tinha caído muito, e ficávamos olhando bobos o evento que parecia ter sido programado.

Nosso yurt era aquecido. Tinha um pequeno forno onde queimava bosta seca, combustível muito popular por aqui.

Um dia alugamos cavalos, e seguimos em direção a yurts mais afastados, perto das montanhas. Estava longe e ao fazer a volta, viramos em direção ao lago onde fomos ate a beira. Um super visual, do lago a nossa frente, com as montanhas nevadas ao fundo, tudo calmo, só com barulho de alguns cavalos galopando.

Com tanto cavalo, claro que tomamos leite de égua. Desta vez tirado na hora, não o fermentado. Bem melhor o gosto, aprovado por todos, menos a mãe que não experimentou. Tava tudo mais calmo por ter passado o final de semana. Conversamos bastante com a família dona do yurt, muito simpáticos. Durante o inverno eles moravam numa vila perto de Karakol, e acompanhavam novelas brasileiras na televisão (depois de futebol e carnaval, a novela e muito associada ao Brasil).

Comemos um delicioso peixe frito, e foi uma das poucas vezes que a mãe e a Bibi não ficavam separando a gordura da sopa.

Mais algumas horas de viagem de volta, com novas paradas para fotos, mesmo já tendo passado pelo caminho. Voltamos para a casa da mesma família, e enquanto a mãe e Clau arrumavam a mala, nos aproveita vamos para mandar coisas que não íamos mais usar e pequenas compras que fizemos.

Dia seguinte cedo já nos despedimos. Eles pegavam transporte para Bishkek, de onde iam para o Uzbequistão  e nos continuávamos peles montanhas.

Companhia perfeita! Deu aquela tristeza na despedida, uma saudades antecipada, mas a certeza de que outras fantásticas viagens juntos iriam acontecer em algum canto do mundo.

Vistos complicados 2

Os posts sobre vistos complicados já esta servindo mais para desmistificar alguns vistos do que outra coisa. Não sei se eu tenho viajado demais, mas já não são tao complicados. Podem ser um empenho, mas nada que nao se possa contornar.

Para viajar para alguns países  como os da ex-URSS (além de outros), muitas vezes e solicitado uma LOI, carta convite. Como ia para a região  resolvi providenciar as LOIs assim que o visto do Irã chegou. Sabia do caso de um amigo que tirou o visto do Uzbequistão sem a carta convite, mas não poderia correr o risco. A carta pode demorar semanas para ficar pronta, e se o visto fosse negado, isto custaria muito tempo a mais em Istambul.

Entrei em contato com uma agencia que providencia o convite sem outros serviços inclusos (muitas vendem um pacote com hotel, transporte…). Eu fiz o pedido para o Cazaquistão  Uzbequistão e Quirguistão  Logo descobri que o Quirguistão não esta solicitando cartas convites para brasileiros.

Visto Cazaquistão:

-Trem de 40 minutos ate a estacão de Florya. Andar 15 minutos, achar o endereço  Descobrir que o Consulado mudou. Tentar se comunicar com os vizinhos para descobrir onde e o novo endereço.  Acabar pegando um táxi até o local. Descobrir que o consulado esta fechado sem nenhum motivo aparente.

-Outro dia, retornar até o já conhecido endereço,  preencher o formulário de 3 folhas, entregar a carta convite e uma foto. Pagar uma taxa num banco perto do endereço antigo, retornar para entregar o recibo. Muita chuva e um taxista que mandou nos descermos no meio do caminho, pq recebeu uma chamada, isso nos atrapalhou também, alem de nos molharmos bastante.

-Retornar no Consulado dois dias uteis depois. Perguntar sobre o passaporte e a mulher não achar. Esperar uns 15 minutos enquanto ela faz diversas ligações.  Chega a pessoa que nos atendeu no outro dia. Procura o nosso passaporte e entrega com o visto (mesmo tendo deixado partes do formulário em branco, como dados dos vistos da sequencia da viagem).

Quirguistão:

-Tram, subida e uma ladeira, Consulado fechado. Espera. Abre. A mulher passa por nós varias vezes e não fala nada. Arruma a mesa dela. Vai para a cozinha. Faz chá  Toma chá enquanto vê os emails. Nos chama na frente de uma família que chegou antes. Formulário de uma só pagina e foto. Pagar taxa no banco ali perto. Escritório do banco (que não é no banco). Entregar o recibo. Falaram para voltar em 4 dias uteis. Dei uma chorada pois tinha que pegar o visto do Uzbequistão  Deixou eu ficar com o passaporte e entregar no dia seguinte, e prometeu o visto para 3 dias uteis (antes do fds).

Uzbequistão:

Carta convite atrasou sem motivo. Preenchi formulário na internet e imprimi copia. Coloquei “ainda esperando” no local onde pedia o numero da carta convite (não imprimia se não estivesse preenchido). Tram, funicular em vez de subir a ladeira pois estava chovendo, metro, descobrir qual micro-ônibus vai ate o bairro do Consulado. Ao chegar, subir uma escadaria na chuva. Aguardar a vez. Entregar o formulário e foto. Torcer para não falarem nada da carta convite. Descer a escadaria (uma quadra de escada) na chuva e ir ate o banco. Pagar a taxa, levar o comprovante. Esperar (com os pés molhados) 4 hrs num cafe/restaurante. Pegar o visto mesmo sem carta convite. Comemorar, descer as escadas com o novo amigo viajante que estava pegando visto. Pegar micro-ônibus  pegar metro. Ir até o consulado do Quirguistão  Entregar o passaporte. Escutar que vai demorar 4 dias mesmo, e não 3 ( e com isto perder o trem do final de semana).

Então, pode ser empenho, complicado neste sentido, mas difícil também não é. Achei que até foram fáceis  Claro que não se comparam ao vistos que pegamos nas fronteiras, mas aquele mito de “sera que vão me dar o visto”  nestes casos é um pouco de exagero.

Caso alguém precise dos endereços  preços  nomes dos transportes de tudo isto em Istambul, é só falar. Não coloquei, pois ficaria meio chato para quem não vai usar.

Bem, logo a viagem propriamente dita começa, e ainda existem algumas embaixadas para serem visitadas.

 

How I posted in Lonely Planet forum:

Hello, I just want to share my experiences about getting Central Asian visas in Istanbul.

Kazakistan (with Loi):
The Consulate is no longer at Florya Caddesi 62. It is on the corner of Konakli and Germeyan, not far from there.
Get the train from Sirkeci to Florya station, takes about 30 to 40 min (1,75 lira). It’s about 15 minutes walking, or 4,5 lira by taxi (it was raining a lot).
You have to fill the 3 page application, one photo, and pay at the Bank (another 15 min walk or 5 lira taxi). The cost of visa depends of your nationality. Brazilians have to pay 30 usd, and some Canadian had to pay 100 usd. You have to pay 6 lira commission to the bank. You co back and give the recite to them, and have to wait 2 working days.
On the application asked about the next country visa or Loi. I left it blank, but got the visa.
Open 9-12 and 15:30 to 16:30

They didn’t talk much there, but was easy process.

Kyrgystan:
The Consulate is on La Martin Caddesi, 7. Going out of the funicular exit, make a diagonal on your right side. Very easy to find.
Got the one page form, gave them a picture an no Loi was required. Payed the 80 usd for the visa at a bank 5 min from there. Went back, and she said to pick up the visa 4 working days later. I Begged for 3 working days and she agreed. She let me stay with the passport one more day so I could get the Uzb visa. Had to give back the passport before 17 of the following day.

Open everyday 10-12 and 14 to 17.

The lady took her time to start to work in the morning. Had tea, checked emails, but after was extremely friendly and helpful.

Uzbekistan:
I had appied for the Loi 3 weeks before, but since it had not arrived, decided to try without it.

Take the metro (1,75 lira)on Taksim and stop at 4 Levent. Exit on “Yeni Levent” and catch the minibus (1,50 lira) to Istiniye (ask to be dropped at “Devlet hastanesi”. The consul is on a parallel street as the one you will go down. You have to go up on the hill. (thanks Cam & Noemi!)
Sehit Halil Ibrahim Caddesi, 23 .
You MUST apply at www.evisa.mfa.uz and bring one copy with you.
Open Mon, Wen, Fri 10-12 and 15-17
Payed the 80 usd at the bank, plus 6 lira commission and got the visa in the same day, without Loi.

Not much talk there. They want you to have everything on hands and ready. Not that friendly but very straightforward.

If you buy the akbil, you will pay less every transport in a row that you get.

I hope it helps.