Road trip pelo Canadá

Confesso que não tinha planos de viajar para o Canadá tão cedo, mesmo sabendo das belezas naturais do país. Mas meus pais tinham um sonho de fazer uma viagem de Motor Home toda a família junta e não foi difícil de aceitar 😉

Viajamos antes para a parte leste, eu a Bibi e meus país, e percorremos Toronto, Niagara Falls, Tousand Islands e Montreal. Quase 1000 km em um carro alugado.

Em Toronto, o que mais gostamos foi o Kensington Marquet, que fica perto de Chinatown. Inicialmente uma região de imigrantes do leste europeu, hoje bastante ocupada por portugueses e neo-hippies.  Um taxista canadense tentou nos falar que lá era lugar de drogados, jovens e imigrantes, tentando nos desanimar. Adoramos o lugar, cheio de brexós, arte de rua, pequenas confeitarias, lojas, todas com estilo. Tinha um pub tocando um bom e velho rock e paramos para tomar uma cerveja e curtir o lugar. Voltamos lá para nos abastecer de comidas, frutas, queijos para a viagem do dia seguinte.

Kensington market

carro todo pintado e com uma horta de temperos.

As famosas cataratas de Niagara foram nossa próxima parada. Muito bonito o que a natureza fez, mas não se pode falar do que os homens fizeram ao lado. Cheia de hotéis, uma poluição visual gigante. Me surpreendeu de não precisar pagar para entrar. Para curtir tem que olhar numa só direção, e esquecer o que está ao lado.

Niagara Falls

Niagara Falls

Nossa piada preferida quando estávamos indo para as Thousand Islands era que pediríamos uma salada com molho local. Diz a lenda que a receita foi inventada em uma das mansões das quase duas mil ilhas que ficam na fronteira dos USA e Canadá. Fizemos um passeio de barco pela região para conhecer as ilhas, mas o tempo não ajudou. De qualquer forma todas as estradas secundárias e cidadezinhas ao lado do rio são muito charmosas e ótimas para um piquenique. Dormimos em uma pousada na pequena cidade de Ananoque.  Bela cidadezinha!

tousands islands

thousand islands

Montreal é uma daquelas cidades grandes agradáveis. Mas achei que forçam demais o lado europeu dela, apesar de ter uma ou outra referência. Quando fomos na Basílica de São José estavam tocando um órgão que produzia sons com sinos de diferentes tamanhos, muito bacana. Mas o show (literalmente) ficou mesmo com o festival de Jazz que estava acontecendo. Os artistas de Mali Amadou & Marian fizeram que o pessoal esquecesse que estava chovendo e pulasse sem parar.

Voamos para Vancouver, onde encontramos minha irmã Pati, cunhado Nuno e sobrinhos, Pedro e Luiza. Minha outra irmã/cunhado (Gi/Dan) que moram em Londres não puderam ir desta vez, e fizeram falta.

Depois de rodar a cidade com montanhas de pano de fundo, repetimos a dose da Tailândia (onde andamos de bicicleta por Sukothai), pedalando em família pelo parque Stanley entre totens e jardins.

Existem muitos imigrantes morando no Canadá. O Canadá é uma terra de oportunidades, incentivam trabalhadores de diversas categorias a emigrar para lá. Sei que foi muito divertido encontrar indianos de Punjab e falar para eles que havíamos ido para o Golden Temple duas vezes, discutir sobre a história do Guru Nanak e sobre o Sikhismo (religião deles). Um paquistanês disse que conhecemos mais do país dele do que ele mesmo. Mesmo discurso de um marroquino que pouco viajou pelo seu país. Agora quem ficou chocado foi um curdo, quando soube que eu tinha visitado sua cidade natal no norte do Iraque. Nos olhava incrédulo e queria saber mais sobre o que fomos fazer lá.

Pegamos um carro, atravessamos de ferry, e fomos para a ilha Vancouver, fazendo algumas paradas como em Chemainus, com seus painéis, até chegar na simpática Victória. Cidade gostosa, clima mais de interior, com um museu incrível (Royal BC Museum) e o famoso Butchart Gardens. Muitos hidro aviões subindo e descendo e barcos para fotografar as Orcas. Ainda visitamos um amigo de um amigo que nos recebeu super bem. Seu filho mora no Laos com uma Uzbeque e estavam visitando os pais, então papo não faltou.

Voltando para Vancouver a Bibi me perguntou o que eu estava achando da viagem até ali. Como sempre, usei uma das minhas histórias com duplo sentido.

Disse: “É como ir num cinema super moderno, assistir uma comédia romântica”. Você vai se divertir, ser bem atendido, comer bem, mas no futuro vai mais se lembrar da companhia do que do filme e dos serviços” (risos).

Mas está viagem teria uma experiência nova. De Vancouver alugamos dois Motor Home e seguimos sentido Montanhas Rochosas.  A primeira parada foi em Salmon Arm, em um camping na frente de um lago. Precisava ver a alegria do meu sobrinho cortando lenha (comprada na recepção) para fazer fogo. Estávamos ainda entendendo todos os “esquemas” dos Motor Home, mas tudo dava certo no final. Apesar do verão, de noite esfriou bastante, mas era só ligar o aquecimento para em instantes estar tudo ok. Com banho garantido, não precisar arrumar mochila, a Bibi passou a gostar bastante da brincadeira também.

Logo estávamos chegando nas Montanhas Rochosas propriamente ditas. O Lake Louise, o mais famoso cartão postal de Banff foi nossa porta de entrada. Lindo, não é um cartão postal, é uma pintura. O problema é que tem que olhar numa só direção, pois ao redor já tem hotel, estacionamento (…) já perde bastante a graça e a autenticidade do lugar. Se não tivessem matado todos os índios, quem sabe ainda teria um pequeno aspecto cultural por ali. Mas não sobrou nada, apenas algumas referências nas placas explicativas dos parques. Quase todos nós achamos o outro lago que fica ali perto, o Moraine, mais bonito. O fato de estarmos com dois Motor Home ajudou, pois para subir estas montanhas utilizávamos somente o pequeno, que facilitava para estacionar.

Lake Moraine

Lake Moraine

Dormimos perto do Jhonston Canyon, num camping bem simples na Bow Valley Parkway, estrada secundária que liga o Lake Louise até Banff. Muito bonita, calma, dava vontade de estar com uma bicicleta. Toda esta área das Montanhas Rochosas tem diversas trilhas, lagos cachoeiras. Dá para gastar um tempo explorando a região.  Banff é uma cidade gostosa, centro deste parque nacional, que recebe 5 milhões de turistas todo ano (mais que o numero de turistas estrangeiros no Brasil). Ficamos num camping belíssimo e super bem estruturado, com vista para as montanhas.

Mas a estrada tira o folego mesmo mais ao norte, a caminho de Jasper, quando é chamada de Icefilds Parkway. Diversas opções de paradas, para curtir o visual, fazer trilhas e tomar banho nos lagos de desgelo. Eu, o Nuno e o Pedrinho encaramos água gelada, que estava de doer!! Com uma vista tão bonita ao longo da estrada, não tem por que ir rápido. O trajeto de Banff até Jasper pode ser completado em 3 horas, mas acabamos dormindo pelo caminho. Um dos campings menos estruturados que ficamos, não tinha ninguém para atender. Colocava o dinheiro num envelope com número, e o número no Motor Home. No meio do mato, com montanhas iluminadas pelo pôr do sol e um rio de desgelo passando ao lado. Vimos um pequeno lince que gerou uma empolgação geral.  Mas olhando as fotos com zoo estamos achando que está mais para um gato grande! Ou não rsrs

Uma das paradas da Icefilds

Uma das paradas da Icefilds

Eu e a Bibi ficamos no motor Home menor, e os seis no grande. Mas revesávamos para curtir a bagunça do outro motor home, com música e bate papo. Revesávamos para dirigir o Motor Home grande também, apesar de não existir grandes segredos.

No meio do caminho uma grande parada onde existem ônibus que levam os turistas até um glaciar. Os canadenses não são americanos, mas sabem como ganhar dinheiro.  Para quem gosta de facilidades e uma boa foto, pode ser uma boa, mas novamente, a experiência ou qualquer aspecto cultural,  não fazem do parte do pacote.

Seguimos pela estrada maravilhosa, com aquelas montanhas e lagos azuis. Muitas placas sobre a vida selvagem e cuidado com os ursos. Como existe este grande numero de turistas, no passado houve problemas com ursos, que vinham revirar lixeiras em busca de comida fácil. Hoje desenvolveram lixeiras inteligentes, a prova de urso, praticamente solucionando os problemas.

Jasper é outra cidadezinha gostosa, menor que Banff. Mas o parque ao seu redor é bem maior, e as possibilidades infinitas. Deve ter canadense que cada verão vai para um lugar diferente. Se bem que encontramos trailers fixos em alguns campings, com jardim, deck e tudo!

Ainda fizemos uma parada no meio do caminho para Vancouver na volta. O início da estrada ainda estava bem bonito, mas depois virou simplesmente uma auto estrada. Escolhemos um camping todo estruturado, onde deixamos os motor home prontos para a devolução, já que na noite seguinte dormiríamos no estacionamento da locadora, para entregar de manhã bem cedo e seguir para o aeroporto (2000 km nesta parte da viagem).

Uns foram, outros ficaram e comentava com a Bibi: como é bom ter uma família que gosta de viajar!

Família reunida

Família reunida

Publicidade

O Haiti “turístico”?!

No domingo, o transito de Porto Príncipe não era o mesmo. As ruas estavam vazias, sem congestionamento. Filas só nas igrejas, onde pessoas se amontoavam do lado de fora para escutar a missa. A informação que tínhamos é de que a viagem da capital, Porto Príncipe, até Cap-Hatien, segunda maior cidade, duraria cerca de 5 horas, trafegando pela C-1, principal estrada do país. Saímos cedo para o dia render, ainda bem! No posto de gasolina passageiros se amontoavam em velhos ônibus. Algumas vans na esquina oposta ofereciam o mesmo destino. Não iriam até Cap-Hatien, mas chegam perto, diziam. Poucos quilômetros de moto completariam o trajeto. Pagamos os sete dólares e resolvemos encarar, já que nossa chegada em PaP também foi na periferia. Fomos viajando por terras devastadas e entendemos da onde vinha lenha para todo o carvão consumido para cozinhar. Depois de um tempo a pequena estrada foi se estreitando até parecer uma simples rua. Não estávamos na estrada principal do país e sim na C-3. Sei que num momento chegamos a uma pequena cidade e atravessamos um cemitério. Acho que não erra uma grande rota!haha Não muito depois a van parou, ponto final, ainda bem longe de onde queríamos chegar. Já estávamos amigos do Pascal, uma passageiro gente boa que nos ajudou a comunicar. Por aqui só se fala creole.

Cacamba

Cacamba

CARRO QUEBRADO

Carro quebrou pela primeira vez

Poderíamos ir até Cap-Hatian do moto, mas a estrada era sem asfalto dali para a frente e ainda estava longe.  Resolvemos pegar motos só até a próxima cidade, não tão longe dali. Numa moto fui eu, o motorista e o nosso novo amigo e em outra o Marcelo e outro motorista. Incrível como mesmo com a pobreza do país a região rural é bem mais estável. Não que a vida seja fácil, mas pelo menos tem terra para plantar, melhores condições de higiene, dentre outras coisas. Uma vida humilde, mas que não choca. A urbanização e aglomerações com certeza geram grandes problemas, isto e fácil de observar em diversos pa’ises .

interior

interior

Cercas vivas com roupas estendidas para secar, carros de boi, aquele ritmo de vida lento. Poucos quilômetros para frente chegamos até uma pequena cidade onde tinha uma caminhonete com varias pessoas na caçamba. Nos juntamos a eles e fomos atravessando rios onde pessoas lavavam roupa, motos e usavam como banheiro numa distancia de poucos metros. O carro quebrou, quebrou novamente, e chegamos a Saint Raphael. Devíamos ter acompanhado nosso amigo, que optou por pagar por uma moto. A caminhonete parecia mais segura, mas quase não chegamos. Alguns quilômetros mais para frente quebrou de vez. Ficamos interagindo com a criançada curiosa que sempre aparece nestas horas. Estávamos levando na esportiva, mas nos preocupava o fato de termos progredido poucos quilômetros nas ultimas horas. Ainda tínhamos um longo caminho pela frente e quem sabe não completaríamos o trajeto naquele dia. O povo era simpático e sabia que alguém iria nos oferecer abrigo, então no final das contas até que seria uma boa experiência.

Passou outra caminhonete e tentamos pegar. O motorista da nossa ficou revoltado, queriam que pagássemos a passagem inteira, mesmo tendo viajado poucos km. O Marcelo discutiu um pouco com ele, mas tudo se acalmou depois que fiz umas brincadeiras. No sentido contrario passa uma caminhonete moderna, baixam o vidro e era um missionário, com seus filhos adolescentes arrumados no banco de trás. Perguntam se estava tudo ok, e  quando viram que estávamos somente viajando por ali arregalaram os olhos.  Não estávamos tão longe, mas segundo as novas informações, a viagem demoraria mais algumas horas. A estrada de terra era lenta. Decidimos pagar o nosso passe. Negociei de só um pagar já que não tínhamos rodado quase nada. Vimos que não era uma pratica só com estrangeiros. Os locais que nos acompanharam na nova caminhonete também foram cobrados e alguns revoltados discutiram bastante. Horas depois voltávamos para o asfalto e chegamos em Cap-Hatien. Na parada estava muito movimentado, mas ao andar pelas ruas tudo estava deserto por ser domingo. Demos uma olhada em 2 hotéis, caros e pulgueiros e fomos tomar algo para pensar melhor. Para quem estava viajando desde cedo, não faria diferença pegar mais uma moto até o outro lado da montanha e mais um barco até a vila de Labadie. Ficamos amigos do barqueiro que nos levou numa pousada, que era bonita, com praia particular, mas cara e sem vida. Explicamos o que queríamos e fomos levados até a vila de pescadores, numa enseada linda, onde conseguimos um quarto por 10 usd, num bar-karaoque. Ainda deu tempo de mergulhar aquele mar azul e ficar ali até escurecer, mesmo com a chegada da chuva!

Tudo acontecia na pequena praça na frente de onde estávamos. A noite pratos de arroz, feijão e peixe eram servidos por 1 usd. Cerveja gelada, salgados e doces também eram fáceis de conseguir. Uma noite fomos convidados para jantar, tendo como cardápio os mesmos pratos vendidos na rua. Ficamos muito contentes com a hospitalidade. O pessoal batendo papo e o ritmo do dia a dia não mudava muito. Todos se encontrando, crianças indo para escola todas arrumadas, com um borbulho maior quando chagavam os pequenos barcos de pesca. Algumas praias muito bonitas no final de pequenas tilhas. Não muito longe dali tem uma praia particular da Royan Cribean, e um dia parou um navio gigantesco. Pensamos que poderiam invadir a “nossa praia”, mas o máximo que fizeram foi se aproximar da vila com um barco e fazer um safari fotográfico com lentes tele objetivas.

Indo para a escola

Indo para a escola

Personalidade

Personalidade

Jet skis e barcos levavam o pessoal para algumas ilhas, tudo exclusivo. Se é melhor para nós, que com isto tivemos paz, o mesmo não acontece com a população local, que deixa de receber uma receita. Nos falaram que pagam para o governo 10USD por turista, mas não acredito que este dinheiro seja aplicado localmente. De qualquer maneira a vida ali é bem diferente de Porto Príncipe. Condição de vida digna e um estilo de vida parecido com tantos outros lugares que vivem da pesca.

O banho de caneca não nos incomodava, mas a musica alta tarde da noite não era muito agradável. De qualquer forma a luz caia com frequência, então nunca chegou a atrapalhar totalmente a nossas noites de sono.

Nos despedimos desta vila gostosa e das praias e voltamos para Cap-Hatien. Arrumamos um hotel e fomos pegar um Tap-Tap até Milot. Ali esta Sans Souci, ruínas de um antigo palácio. Num sol forte, seguimos uns sete quilômetros montanha acima, até chegar na Henri´s Citatele. Chegamos cansados e molhados de suor por nao parar em nenhum momento. Para nos era só um passeio, mas fomos conversando com crianças que faziam este trajeto todos os dias para ir para a aula. O forte foi uma grata surpresa. Patrimônio da Unesco, muito bem preservado, todo rodeado por montanhas com uma super vista. Maravilhoso!!

Palacio Sans Soiusi

Palacio Sans Soiuci

Canhões e munição dava todo um estilo para o local. Novos centros de visitante sendo construídos mostram que sabem o potencial turístico do lugar, que é incrível!

Henri's Citatele

Henri’s Citatele

Patrimonio da Unesco

Patrimonio da Unesco

Fomos encarar a ladeira abaixo quando nos ofereceram carona. Fomos surpreendidos quando descobrimos que iriam  até Cap_Hatian, e com isto ganhamos um bom tempo. Com mais tempo exploramos bastante o mercado local. Na verdade o mercado já começa com uma grande feira de rua algumas quadas dali. O mercado coberto contrastava com a “calma” de Cap-Hatien ( calma comparado com Porto Príncipe). As manifestações de voodoo não eram tão presentes, apesar de estarem em algumas barraquinhas. Comidas, roupas, mas tudo muito desorganizado e caótico. Uma água suja no chão me fazia lembrar que o meu tênis tinha furado, e o cheiro de peixe e carne sem refrigeração  nos fazia temer sobre nossa alimentação. Temer mais ou menos, pois no dia seguinte lá estávamos nós tomando um suco com gelo que nos ofereceram no ônibus que ia para a Republica Dominicana. Uma coisa que ficou faltando fazer no Haiti foi assistir as brigas de galo, paixão nacional.

Cap Hatien

Cap Hatien

Cap Hatien

Cap Hatien

Na Republica Dominicana aquele contraste. Longe de ser um país rico, mas com um fluxo intenso de turismo, tudo é preparado para estes. Fizemos nossa base no norte do país, Sossua, Cabarete e região. Ficamos numa pousada gostosa, com café da manha e jantar inclusos, com bom preço. Aproveitei para surfar e bater papo com estrangeiros. Mas nossas cabeças ainda estavam no Haiti. Algumas pessoas tinham morado/trabalhado lá, então foi legal discutir nossas impressões com eles.

A antiga pequena vila de Cabarete já virou um polo turístico, impulsionados pelos vendos do wind e kite-surf. Não e uma praia só de resorts como Punta Cana, mas muitos já estão sendo construídos. Muitos condomínios de casas, todas para estrangeiros, que tem diversos voos para aeroportos da região. A noite baladas descoladas com musica internacional, cheias de prostitutas. No final de semana achamos um karaokê onde o pessoal jogava sinuca, dominó e cantava muito mal. Talvez o único lugar que não tinham prostitutas, ou pelo menos não estavam trabalhando. Tomamos umas como despedida e no dia seguinte fomos até Santo domingo, onde pegaríamos o voo de volta para o Brasil. Ainda deu tempo de dar mais uma caminhada e jantar. Fomos com bastante antecedência para o aeroporto, então a blitz do exercito, que queria um dinheiro para não nos enrolar muito, não nos assustou.

Santo Domingo

Santo Domingo

No voo de volta, sentado durante toda a madrugada numa poltrona que não reclinava, pensava como eu era uma pessoa de sorte.

Haiti, existe futuro?!

Batendo papo com o Marcelo, um amigo meu do Rio,  conheci através desse blog e falamos sobre possibilidades de viagens através de programa de milhagens, que nos dois tínhamos. Eu falei sobre viajar pela Transamazônica, ou ir ate o Peru para descer o Rio Amazonas de barco. Ele estava mais propenso a uma viagem internacional e sugeriu Republica Dominicana, que estava com milhas reduzidas. Eu falei que não tinha grandes interesses na Rep Dominicana, mas se desse para atravessar para o Haiti, toparia. Fiz umas pesquisas sobre necessidade de visto para brasileiros, além de ler um ou outro relato de viajantes que foram para la. Retornei o telefonema e ele aceitou a viagem na hora! A Bibi não poderia ir dessa vez, então iríamos eu e o Marcelo (também já experiente com viagens).

Ao chegar em Santo Domingo ainda deu tempo de rodar a parte antiga da cidade, onde existe um festival de ” títulos”. A primeira rua das Américas, a igreja em atividade a mais tempo nas Américas, o forte mais antigo das Américas e por ai vai… A cidade velha tem seu charme, ruas de pedra com  iluminarias nas paredes das casas coloniais, além de varias Igrejas. Ate casas onde morou o Cristovão Colombo.  Não sei se foi porque viajei por dois meses na América Central no início do ano, ou pelas minhas viagens pela A. do Sul, só sei que o lugar não me cativou. Bonito, ponto. Legal, ponto. Sem superlativos.

a

St Domingo

Pode ser que a minha ansiedade tenha atrapalhado um pouco, sei que no dia seguinte quando pegamos o ônibus para Porto Príncipe-Haiti, dai sim sentia que a viagem estava começando. Um ônibus de luxo, da empresa brasileira Marcopolo, já mostrava os dois mundos que iríamos presenciar. O valor da passagem, 40 USD, era quase o valor do salário mínimo no Haiti, mas pouquíssimas pessoas tem acesso a este salário.

A viagem é relativamente longa, e com o passar das horas a paisagem vai se modificando. Verde, seco, lagos, mas o que impactou mesmo foi a aproximação da fronteira. Dezenas de containers na beira da estrada, vendendo vários tipos de mercadorias. Muitas pessoas, um mercado improvisado e um pequeno posto de imigração. Carimbo de saída da Rep Dominicana, carimbo de entrada, e estávamos em outro país, depois de ver a cara de espanto do oficial da imigração ao dizermos que estávamos indo a turismo, é claro.

Paisagem

Paisagem

Imigração Haiti

Imigração Haiti

ONU

Passamos por acampamentos provisorios-definitivos, por pequenas vilas e com o tempo a zona urbana foi se aproximando. Pessoas vendendo de tudo ao lado da estrada, blocos gigantescos de gelo no meio de serragem chamavam a nossa atenção. Moradias simples e ruas movimentadas. Alguns quartéis de “ajuda” internacional e ao fundo avistamos montanhas, quando nos informaram que já estávamos nas redondezas de Porto Príncipe. Ninguém sabe ao certo onde inicia a cidade, já que ela cresceu tanto que engloba algumas cidades vizinhas. Com a destruição de parte da cidade pelo terremoto em 2010, as pessoas tiveram que se espalhar ainda mais.
O ônibus parou em um “terminal privado”, um terreno cercado, que fica ao lado da embaixada americana. Imaginava que a parada seria numa área boa devido a embaixada estar ali, mas estava enganado e deu até aquele friozinho na barriga, tipo´,^ tá, e agora^?! Logo apareceu um taxista, o único autorizado a estar ali dentro e nos ofereceu de levar até o hotel por 60 USD. Inicialmente ignorei e fomos tentar outra alternativa. O Marcelo conseguiu moto-taxis enquanto eu tentava negociar com o taxista, que deve estar acostumado com trabalhadores de ONGs. No final das contas ele xingou as motos que entraram ali sem autorização, cobriu o preço oferecido por eles, mas levando outros passageiros junto. Entramos na caminhonete achando uma fortuna os quinze dólares por pessoa que acertamos, mas logo mudamos de opinião. Primeiro porque era longe e segundo porque não se pode levar em conta somente o custo do combustível. As ruas completamente esburacadas e cheias de poças de agua, um transito caótico, onde vence o mais forte. E o nosso motorista achava que era o mais forte. Buzinava, tirava lascas milimétricas de outros carros, contornava por dentro de postos de gasolina para ganhar alguns metros no engarrafamento. Em alguns momentos comboios de caminhonetes da ONU e de ONGs, com expatriados sérios curtindo um ar condicionado. Mas a realidade fora da bolha deles era outra. A senhora com o bebe de colo teve que se espremer perto do muro quando nosso motorista invadiu a calçada. Nem reclamou, deve ser comum. Quem escutava muita reclamação eram os carros que não davam passagem, se não “colava” no carro da frente para deixar atravessar quem estava perpendicular ‘a rua principal. Eu pensava, “pelo menos estamos indo devagar” quando nosso carro disputa – e vence – um lugar com um  trator com sua pá erguida. Ainda tive a oportunidade de ver um carro da polícia levar bronca por não dirigir de acordo com as ” leis” locais e caminhonetes com soldados da ONU, com seus capacetes azuis, coletes a prova de bala e cara de mau. A ida até o hotel demorou cerca de uma hora e meia e no final já estávamos achando que tínhamos feito um bom negocio! Imagine pegar uma moto por aquele trajeto?!!

Nosso hotel foi um achado. Num bairro tranquilo, ruas de terra ladeira acima, mas uma ótima qualidade. Devido ao grande fluxo de estrangeiros, os hotéis são super inflacionados, se paga muito para receber bem pouco. Foi o hotel mais barato que encontrei, por isto surpreendeu. Agora nós que estávamos numa bolha, totalmente separados do mundo ali fora, mas não por muito tempo. Largamos as coisas e já saímos para explorar o bairro. Crianças se aproximaram e com o reconhecimento da região fomos ganhando confiança, aprendendo um pouco como que as coisas funcionavam por ali.

Nosso bairro

Nosso bairro

Nossos vizinhos

Nossos vizinhos

O recepcionista falou que ia nos levar para jantar, tinha entendido que seria um restaurante de algum familiar. Fomos passando por barraquinhas iluminadas a vela (não existe iluminação publica em grande parte de Porto Príncipe), quando chegamos num hotel. Era de alto padrão, mas os pratos estavam em torno de 7 USD, então resolvemos ficar. Em outra mesa tinha um grupo de missionários americanos junto com haitianos. Um dos haitianos veio conversar com a gente e contou que conseguiu um emprego em Michigan- EUA, onde mora como asilado desde o terremoto. Disse que tem uma vida boa, mas que morre de saudades do seu país, dos familiares e amigos, do seu canto. Foi a primeira de muitas outras demonstrações de amor ao Haiti que escutamos.

Caminhamos ladeira abaixo até a rua principal do bairro. A única com asfalto, ou pelo menos com um pouco de asfalto. Fomos num mercado e na hora de pagar a conta levamos um susto. Tínhamos estranhado que os preços indicados estavam muito baratos. Um dólar americano é o equivalente a quase 45 Gouldes, moeda nacional. Mas eles indicam e falam preços em “Dóla” ou “Hatien” (pronunciam “reichiens”), moeda imaginaria que vale 5 Gouldes.

Café da manhã tomado, fomos negociar com os Tap-Tap, sistema de transporte por aqui. São minivans, caminhonetes ou até micro-ônibus todos enfeitados, muitos deles com musica alta. Para quem acompanha o Blog ou leu meu livro vai se lembrar dos Matatus do Quênia. São a versão haitiana dos Matatus!! Muitas pinturas de santos, que são entidades do voodoo, além de jogadores de futebol! Se no Quênia tinha muitos times ingleses em evidencia, no Haiti os brasileiros que fazem sucesso, ao lado do Messi, é claro. O mais legal foi ver uma pintura antiga do Neymar com a camisa do Barcelona, bem na semana que anunciaram a sua transferência para o time catalão.

Num primeiro contato nos sentimos viajando invisíveis, ninguém nos notava e esboçava uma reação com nossa presença, boa ou ruim. Imagino que seja pelo grande numero de estrangeiros vivendo no país (sentimos isto no norte do Iraque também). Mas ao cumprimentarmos alguém, ou simplesmente trocar um sorriso tudo mudava. Já se abriam todos e rolava uma boa inteiração.

Passamos por ruas imundas  e ao nos aproximarmos do centro da cidade o caos só aumentava. A desordem do transito era grande e mesmo gostando dos Tap-Tap confesso que foi bom caminhar pelas ruas. O centro da cidade é deprimente. Esgotos a céu aberto, lixo por todos os lados. Na calçada vendiam de tudo, parecia um grande brechó. Alguns vendedores mais cuidadosos colocavam as roupas em cabides e plásticos para não se sujarem com a poeira que levantava. Uma região chamou atenção, onde vendiam carvão, que é a forma utilizada por eles para cozinhar, já que existe falta de gás.

Carvão

Carvão

Lixo e ruinas

Lixo e ruínas

A arte não está só nos tap-tap, vimos diversos pintores, artistas de rua, além da musica fazer parte do dia a dia. Percebemos que o lugar ainda esta em ruínas, mas a vida continua. Dois anos e meio se passaram desde o terremoto e os escombros ainda fazem parte da paisagem urbana. O palácio do governo não esta mais lá, assim como a catedral. Ao lado das ruins da catedral postes de iluminação solar contrastavam com famílias que armaram barracas e vivem por ali.

Nas ruas, vendedores de caranguejos numa esquina, um senhor com sua maquina de escrever na outra, esperando que alguém o contratasse para escrever uma carta. As ruas, ou quadras, pareciam ser separadas por setores, e tinham restos de equipamento eletrônico (sucata na maior parte do mundo), produtos chineses, roupas, qualquer coisa que possa ser vendida. Serviços também, passamos por uma região onde era um salão de beleza a céu aberto. Mulheres faziam as unhas e montavam o ultimo penteado. Alias, capricham no estilo dos cabelos por aqui. Tranças do tudo que é tipo, dreads, raspado, chuquinha, todos estilosos e chamando atenção. O sol estava forte quando chegamos na região das comidas. Caixas e camelôs eram afastados quando um carro tentava atravessar a “feira”. Hortaliças, peixes, comidas empacotadas e outras provenientes de doação estavam disponíveis. Poucos metros dali, atrás dos vendedores, um esgoto corria sem que espantassem os clientes. Os prédios destruídos pelo terremoto, também não causam estranheza para quem esta ralando no dia a dia de Porto Príncipe. Dizem que no Haiti ninguém tem emprego, mas todo mundo trabalha. È uma grande verdade. Povo trabalhador, muito guerreiro, sem futuro, mas de cabeça erguida. Já viajei por regiões muito pobres, já vi situações de vida muito duras, mas estava difícil de controlar as emoções ali. A cabeça fica a mil por uns dias e se dormir é fácil pelo cansaço, o descanso não é simples, pois a mente não para, nem o coração.

feira

feira perto do mercado

vendedores

vendedores no centro

Antigo Palácio

Antigo Palácio

O grande mercado coberto é uma atração. Além de toda a vida do dia a dia, fomos direto na sessão do Voodoo. Quem relaciona a pratica a magia negra esta enganado. É claro que tem a parte “maligna”, é possível até comprar bonequinhos que estão em saquinhos para serem vendidos. Mas é uma “religião” que tem laços com o Candomblé e Umbanda (sou meio leigo), além da Santeria cubana. Os escravos trouxeram suas crenças do Benin e Togo, ao escutarem sobre o catolicismo e praticas indígenas, associaram com suas crenças e mesclaram tudo. Muitas entidades tem relação com santos católicos, outras são entidades negras e indígenas. Encontramos um “pai de santo” que nos mostrava orgulhoso suas fotos. Bandeiras utilizadas nos rituais, bonecos, velas e mais um monte de coisas estavam a venda. Dizem que no Haiti 2/3 da população é católica, 1/3 protestante e 100% pratica o voodoo. Além da questão religiosa, tem muito a ver com a identidade do povo, estando até diretamente relacionada com a independência do país, alias, o primeiro país independente das Américas.

Voodoo!

Voodoo!

voodoo

mercado

Na parte de comidas tinha tartarugas e pombos. Lembrei que já tinha experimentado os dois, em países diferentes. Mas fiquei meio assim de perguntar porque tantos gatos estavam amarrados com uma corda no pescoço. Preferi imaginar que era para caçar ratos…

Também fomos para a parte rica da cidade, Pettionville. Imaginava um bairro mais organizado, mais ainda era bem sujo. De qualquer maneira as SUVs nas ruas, até dois Porsches Cayenne mostravam que tinha algo diferente por ali. Uma ou outra loja cara, mas a parte rica mesmo fica nas montanhas, nas mansões atrás dos grandes muros.

Assim como escutei de muitos africanos, os haitianos odeiam os organizações internacionais. Difícil para alguém que se mata de trabalhar ver um jovem estrangeiro enriquecendo com altos salários, bônus, super casas e carrões. Mal eles sabem que o dinheiro por trás disto tudo ainda é bem maior, uma verdadeira indústria. Um belga que trabalhou como conselheiro da presidência do Haiti disse que apenas 2% das doações internacionais é aplicado no país. Uma “maquina” cara, não? Não precisa ser um expert para ver que tem algo de muito errado. O pior é que estes 2% são muito importantes para o país.

Quem acompanhou minhas viagens já leu o que meus amigos etíopes achavam disto tudo, e como a falta de conhecimento fez com que muitas vezes uma “ajuda” destruísse uma indústria local, por exemplo. Poderia citar alguns casos que escutamos, mas aqui o foco é outro. Quem se interessar pelo assunto, leia Dead Aid, um livro que aborda este tema. Para ser justo, gostaria de comentar que a organização brasileira Viva Rio foi elogiada, falaram que tem uma aproximação e um foco diferente. Ficamos muito felizes em escutar isto!

Algumas pessoas podem estranhar eu passar férias no Haiti. Acredito que a beleza da vida não está somente nos jardins floridos, mas também naquela planta que nasce nas adversidades do deserto ou no meio do asfalto rachado. A luta e orgulho dos haitianos é algo inspirador, e a capacidade de adaptação do ser humano inacreditável.

Mal eu sabia que, além do seu povo e cultura, o Haiti oferece grandes atrações para quem quer fazer turismo no país. Fomos até uma região de onde saem ônibus e vans lotados para o norte e seguimos viagem…

Carnaval em (El) Salvador!

Com a terrível guerra civil em El Salvador, muitos salvadorenhos emigraram para os EUA, principalmente para o estado da Califórnia.  Nos bairros de baixa renda, não foram tão bem recebidos, pois o grande número de pessoas chegando representava uma ameaça aos empregos de outros imigrantes. Marginalizados agruparam-se em uma gangue que foi crescendo e se organizando. Os Mara Salvatrucha, MS-13, passaram a ser respeitados e foram ampliando seu território, e dominando o tráfico de drogas em algumas regiões. Nisto acontece  uma dissidência e surge os Mara-18, que passam a ser rivais dos seus compatriotas. Ambas as gangues recebem também ex-guerrilheiros, e se tornam ainda mais violentas. Como última alternativa, os EUA passaram a deportar os chefes dessas organizações, mas o problema só aumentou. Em El Salvador as organizações cresceram rapidamente e com o dinheiro do tráfico nos EUA se profissionalizaram ainda mais.  Passaram a atuar como milícias, recebendo dinheiro em troca de proteção e exercendo poderes e influência politica cada vez maior.

A situação estava se tornando insustentável, quando no ano passado os líderes do MS 13 e Mara 18, sentaram para conversar dentro do presídio de segurança máxima em San Salvador. O governo deu algumas regalias para esses presos, e com o novo acordo, a violência despencou. Homicídios caíram 32% e sequestros 50%. Escutamos que jovens deixaram de ser recrutados, ou pelo menos criaram uma mínima idade para isto.

Exite um documentário chamado La Vida Loca  muito interessante sobre este assunto.

Ainda na Nicarágua  quando voltei da Costa do Mosquito para encontrar a Bibi em Santo Tomas, pedi a um senhor numa loja ligar para o mesmo taxista que tinha levado ela até o monastério. Seguimos pelas bonitas estradas rurais, e demorou uns 40 minutos até chegar lá. É um mosteiro trapista feminino, aquela ordem do filme “Sobre homens e deuses”. Tinha um padre italiano muito gente boa e outras hospedes, freiras franciscanas missionárias muito divertidas. Fiquei um dia com a Bibi e gostei muito do lugar. Antes de pegarmos a estrada para Leon, antiga capital e reduto dos Liberais no passado (Granada era onde prevaleciam os Conservadores).

Bibi com as missionárias e o padre

Bibi com as missionárias e o padre

Apesar de bonita, a arquitetura de Leon não chega a ser uma Granada, mas é muito mais “viva”. Cheio de estudantes nas ruas, pessoas praticando esportes nas quadras, movimentada. Os painéis pintados nas paredes e muros fazem a revolução parecer ainda mais viva.

America_centra_2013l 584_resize

Painéis revulucionários pela cidadew

Painéis revulucionários pela cidadew

No nosso planejamento inicial, não iriamos para El Salvador. Ao longo da viagem fomos amadurecendo esaa ideia  Em Leon descobrimos que o ônibus que vai direto até lá não tem horário fixo, pois vem desde a Costa Rica. Resolvemos pegar os “chiken buses”, afinal em quilômetros não era tão longe. Mas isto quase custou a minha vida, não pelo perigo, mas porque a Bibi queria me esganar!!rsrs

Uma lotação de Leon até Chinandega, outra que já estava saindo até a fronteira em Casaule. Paga uma taxa de 3 USD para sair da Nicarágua e outra de 2 usd para entrar em Honduras (onde foram muito atenciosos). A Bibi quis comer e sem querer acabamos perdendo o ônibus que estava para sair (aí eu que quase a matei!rs). Foram horas pelas estradas abandonadas do sul de Honduras, onde crianças tapavam buracos em troca de moedas jogadas pelo motoristas, e lagartos eram oferecidos como uma nutritiva refeição de proteínas.

Lotação em Honduras

Lotação em Honduras

Chegamos em Somotilo/Guasaule onde fizemos nova imigração agora para El Salvador. Estranhamente não carimbam o passaporte, tem só um controle eletronico. Pegamos um ônibus até San Miguel onde conseguimos pegar outro até San Salvador, capital do país. Ônibus animado, com vendedores de tudo que é tipo de comida. Os saquinhos com bebidas também fazem sucesso por aqui. Saquinhos de água gelada são infinitamente mais baratos que água mineral. Os de água-de-coco gelado, com pedaços de coco dentro, são artesanais (com um nó na ponta), e são uma deliciosa pedida. Al[em dos vendedores ambulantes de tudo, há os cantantes que animavam o belo trajeto.

Chegando em El Salvador, já estava escurecendo. Muitas pessoas se ofereceram para nos ajudar a chegar aonde queríamos ir. Acabamos pegando um táxi até uma estação de onde saem micro-ônibus direto para a praia. A Bibi tava meio tensa com a história dos “Mara”, mas o pessoal falava que o maior problema era a violência entre eles, além da extorsão (o famoso pagar por proteção). Esperando o micro-ônibus na estação particular, vigiada com câmeras e seguranças fortemente armados, torcíamos para que o pagamento para os Maras tivesse em dia, pois se não estivesse seria uma guerra…rs

Mais quarenta minutos de viagem, agora num confortável ônibus com filme e musica, e nos deixaram na entrada da praia de El Tunco, logo após o porto de La Liberdad. Treze horas de viagem para percorrer menos de 500 km. El Tunco é uma praia famosa pelo surf, cheia de pousadas, portanto não foi difícil achar um lugar bom e barato para ficar. Centro pequeno, com meia duzia de restaurantes e outra meia dúzia de lojinhas. Como é voltado para o turista, os preços eram um pouco acima do que estávamos pagando na viagem, mas nada exorbitante. Apesar de ser considerado um destino onde rolam algumas noitadas, até que não estava muito movimentado fora do final de semana. Mas no sábado a balada era pesada, com muito ragaton e pessoal se esfregando estilo funk. Apesar de ser carnaval, não entramos no embalo. Estávamos em outro ritmo então relaxamos por uns dias, curtindo o final da viagem. Acordava cedo todo dia, para surfar quando o mar ainda não estava lotado. Encontramos o Igor, brasileiro que também estava viajando pela America Central, pela oitava vez, apesar de ter feito um trajeto totalmente diferente do nosso. Ele estava com outra brasileira, Ana, que conheceu em Honduras. Curtimos um clima de praia, comida e cervejinha. Férias da viagem, antes de irmos para San Salvador.

America_centra_2013l 593_resize America_centra_2013l 592_resize America_centra_2013l 599_resize

America_centra_2013l 628_resize America_centra_2013l 614_resize

El Tunco

El Tunco

Segundo aquela ironia, mais uma capital com uma catedral, palácio do governo, teatro, mercado de rua… e nada de mais. Mas queríamos conhecer a catedral para visitar o túmulo do Monseñor Romero, padre conservador, amigo da elite do país, mas que se comoveu com a causa camponesa, e acabou lutando e morrendo por eles e foi assassinado. A guerra civil foi brutal, e enquanto os camponeses estavam lutando, o governo (ditadura) contrarrevolucionário invadia as vilas e matava todas as mulheres e crianças, para abalar os guerrilheiros. Assim como tantos outros lugares que passamos, vimos que a guerra-fria não tinha nada de fria. Se EUA e Russia não tinham coragem de se enfrentar, patrocinavam pessoas para fazer isso por eles, testando seus equipamentos e lucrando com isto. Conseguimos comprar um livro a seu respeito e conversar com algumas pessoas que dizem ter sido curadas por milagres dele. O Padre Oscar Romero foi indicado para o premio Nobel da Paz em 1979, mas perdeu para Madre Tereza de Calcutá  Há quem diga que ele só foi não foi o vencedor por interferência direta dos EUA e da própria Igreja Católica. Nunca vamos saber. Gosto muito de uma frase dele, “o verdadeiro pecado é a injustiça”.

America_centra_2013l 632_resize

San Salvador

San Salvador

Ainda tínhamos uma viagem até Tegucigalpa, capital de Honduras. Honduras é o país mais desigual das Amáricas (seguido de Guatemala e Brasil). Pegamos pela primeira vez o ônibus de alto padrão TICA bus, que circula por todas as capitais da América Central. Confortável,  mais rápido, mas sem graça. Uma viagem passa a ser somente um deslocamento, sem nenhum aspecto cultural. O turismo em Honduras se concentra no norte, basicamente nas ilhas Rotam e nas ruínas mayas Copan. Desta vez não teríamos tempo para visitar, mas numa próxima  viagem pelos países mais ao norte, com certeza estarão no nosso roteiro. De qualquer maneira, andando pelas estradas de Honduras,  nos deu vontade de viajar pelo interior do país, aleatoriamente descobrindo seus “segredos”. Tegucigalpa está no topo da lista das cidades mais violentas do mundo, onde grande parte dessa lista são cidades latino-americanas. Se alguém tem medo de ir para lá, vale lembrar que Maceió também está no topo de qualquer lista. Varias outras cidades brasileiras figuram as listas de mais perigosas do mundo, inclusive Curitiba.

A cidade não tem atrações em si. Se o Rio de Janeiro tem o Cristo redentor, Tegucigalpa tem o Cristo del Picacho. Se bem que este é bem menor e vistoso. O que não são menores são as favelas, que se espalham por toda a cidade, sendo difícil identificar onde termina um bairro e onde inicia uma favela. Talvez tudo seja uma mistura dos dois, sem contar com a pequena e milionária elite. Na frente do aeroporto um shopping moderno contrastava com o cenário. O pequeno aeroporto (maior aeroporto não fica na capital, e sim próximo as áreas turísticas) cobra uma taxa de saída caríssima, o que me deixou revoltado.

Colinas de Tegucigalpa

Colinas de Tegucigalpa

Tanto tempo de viagem pela América Central e agora um curto voo de volta para a Cidade do Panamá, onde dormiríamos uma noite antes de voltar para o Brasil.

A Costa do Mosquito

O filme “A Costa do Mosquito” estreou na metade dos anos oitenta. Tinha como elenco Harrison Ford, chegou a ter indicação para o Globo de Ouro, e mesmo assim caiu no esquecimento. Hoje não se encontra um DVD do filme. A história original do livro “A Costa do Mosquito” do Paul Teuroux (que escreveu “O safári da estrela negra”, dentre outros ótimos livros de viagens) pode ser encontrado facilmente. Na história, o personagem principal, Allie Fox, tenta fugir do consumo e sedentarismo dos EUA, se mudando para a Costa do Mosquito, onde pretende criar uma sociedade perfeita, auto sustentável e longe dos vícios. Mas no final, tudo se arruína, devido a diversos problemas. A Cosa do Mosquito tem este nome não por causa dos insetos, mas por causa dos seus habitantes, os índios Misquitos. Ela engloba todo o sul da costa atlântica de Honduras e quase toda a costa atlântica da Nicarágua. Não reconhece fronteiras. Seus diferentes povos, línguas e costumes tem mais a ver entre si do que com o resto dos respectivos países. Foi colônia britânica durante muito tempo, além das línguas indígenas, falam inglês (na verdade um creole) e não espanhol. Não é incomum que se refiram ao resto dos nicaraguenses como “espanhóis”. Se Allie Fox, personagem do livro/filme fracassou na sua busca, eu não poderia dizer o mesmo, tendo encontrado o lugar mais interessante da América Central, pelo menos até agora.

Devido a obras na estrada, ao sairmos de Ometepe/Rivas, tivemos que passar em Masaya antes de ir para Granada. Masaya é famosa pelo seu artesanato, vulcão (com mesmo nome da cidade), mas principalmente pela bela cratera de vulcão com um lago dentro, chamado Apoyo. Existem algumas pousadas na região, mas nosso destino era Granada, somente uns 15 Km dali.

Cidade gostosa, com diversas pousadas e restaurantes, arquitetura colonial por todos os lados, além de belas igrejas e museus interessantes. O calor estava fortíssimo, então procurávamos fugir do sol nos horários de pico e passear cedo e final de tarde. Se a comida da Nicarágua já vinha nos agradando, encontramos nesta estilosa cidade um excelente custo-benefício.

Catedral de Granada

Catedral de Granada

Antiga ferroviária

Antiga ferroviária

Deuses de pedra dos antigos abitantes da região

Deuses de pedra dos antigos habitantes da região

De Granada uma rápida passada em Manágua, onde pegamos um ônibus para Santo Tomé, cidadezinha pouco depois de Juigalpa (para que possam encontrar no mapa), já a caminho da Costa do Mosquito. O estilo do ônibus  carregado até com camas no bagageiro, superlotado até mesmo nos corredores, davam todo um estilo para a viagem. Dezenas de vendedores subiam e desciam nas incontáveis paradas, vendiam remédio, escovas, música, chocolate além de diversos tipos de comidinhas. Uma espécie de queijo qualho, servido num saco plástico junto com um caldinho, era um dos mais populares e decidimos acompanhar o pessoal. Na hora da fome mesmo, sacolinhas com pedaços de frango, repolho e banana verde frita estavam a disposição. Sobremesa manga verde com sal e pimenta, dente outras diversas possibilidades.

ônibus parecido com o nosso

ônibus parecido com o nosso

Região meio velho oeste, bem estilo country. Pequenas lojas vendendo selas para cavalo feitas artesanalmente, e muitos chapéus. Minha parada foi relativamente rápida, somente para deixar a Bibi no monastério que ela ficaria nos próximos dias, numa pequena cidade nas montanhas, há uns quarenta minutos dali. Horas depois eu estaria em outro ônibus  interagindo com o pessoal, sentido El Rama, ponto final da estrada. Cheguei já de noite, e fui me informar sobre os horários dos barcos. Os lentos barcos de carga, saem somente algumas vezes por semana. O rapaz do “porto” disse que eu teria que pegar uma “panga”, uma canoa motorizada. Tinha visto diversas opções de pousadas, todas muito simples. Aproveitei para pedir uma indicação de lugar para ficar. Ele falou que o lugar que estava era barato e limpo, bem o que eu precisava. Pertinho do trapiche, me facilitaria na manha seguinte quando teria que madrugar. A rua era toda esburacada e com poças d’água. Ao lado corria um pequeno esgoto a céu aberto. Cheguei no hotel pensando que não ficaria, mas os quartos eram bem limpos, lençóis novíssimos, e o preço inferior a três dólares. Resolvi ficar, larguei a mochila e fui procurar um lugar para comer. Cidadezinha escura, meio decadente, mas com um certo charme. Barraquinhas de comida na rua principal, e quando eu me aproximei de uma delas para ver o que tinha para comer, um soldado com sua turma me cumprimenta e pergunta da onde sou. Na hora pensei, ferrou, já me preparei para uma longa negociação e corrupção. Mas eu havia me enganado, e acabamos conversando um bom tempo, quis até me pagar cerveja. Cachorros esqueléticos deitados no meio da rua, mal se levantavam para pegar os ossos que jogávamos nas suas direções, davam um clima de fim do mundo para aquela noite úmida. Logo inicia um vento forte e trovoadas, me despeço dos meus amigos e me recolho no pequeno quarto. Uma chuva fortíssima inicia. As telhas eram de metal e faziam um barulho ensurdecedor. Achei que não conseguiria dormir, mas depois das longas horas de viagem desconfortável e da cervejinha, capotei.

Rua escuras de El Rama

Rua escuras de El Rama

Hotel mais barato da viagem, menos de 3 USD

Hotel mais barato da viagem, menos de 3 USD

Acordei com o despertador, os galos ainda nem começavam a cantar. Tomei um banho frio e fui com minha lanterna procurar um lugar para tomar um café. Encontrei uma banca de nicaraguense/americano com quem fiquei conversando enquanto tomava e comia algo. Na hora de pegar a “panga” fiquei feliz ao ver que era um pequeno barco de alumínio  e não uma canoa motorizada, afinal seriam algumas horas, acompanhando as curvas do Rio Escondido, até chegar em Bluefilds.

O trajeto é muito bonito, mas não confortável. O rio vai se abrindo até se tornar uma lagoa, onde está Bluefilds. A cidade-porto é o centro da região, e pode ser avistada de longe, com uma igreja morava se destacando. Labirinto de ruelas perto do deck até chegar na rua principal. Além de muitos jamaicanos que migraram para cá, muitos escravos fugiram de países vizinhos no passado e encontraram  proteção nesta região isolada. O clima de reggae, alegria do povo, pessoas falando creole (um dialeto de inglês  falado muito rápido) dão um charme pra o lugar. Mas nem tudo são flores, muito pelo contrário. O fato de ser uma cidade portuária  muita prostituição, violência e trafego de drogas. Alias um dos grandes corredores de drogas para chegar no México/EUA.

Bluefilds

Bluefilds

Alguma pessoas vem até aqui para pegar um barco até Corn Island, ilhas paradisíacas da Nicarágua, mas a maioria prefere voar de Manágua  o que encurta a viagem em alguns dias. Apesar de ser um paraíso, minha intenção não era de ir para Corn Island, mesmo com o navio cargueiro saindo para lá no dia seguinte. Se a Bibi tivesse comigo este provavelmente seria nosso destino, bem casal, mas sozinho buscava algo mais cultural.

Peguei uma “panga” até uma pequena cidade, Lagoa das Perolas, uns 50 km ao norte dali. Viagem também muito bonita, por canais que se formam paralelos ao mar. Uma rápida parada numa vila até chegarmos num pequeno pier, onde pessoas esperavam encomendas. Uma cidadezinha astral, com duas ruas paralelas e meia duzia de hospedarias. Lugar gostoso, logo me acostumei com os “Gude-gude” ( good day, good day), “haia” (hey you) dentre as poucas coisas que conseguia identificar do creole. Curtir a região com calma, até juntar pessoas para dividir um barco para ir até Pearl keys, conjunto de ilhotas ao longo da costa norte dali.

Igreja morava

Igreja morava

Vista da Lagoa das Perolas

Vista da Lagoa das Perolas

Conheci um casal de espanhóis( na verdade catalães) que az trabalhos voluntários ali perto (na verdade umas 10 horas de barco ao sul), e fomos juntos até as vilas Misquitias de Ratipura e Awas, onde tomamos banho na lagoa, e curtimos o lugar.

Garoto creole em Awas

Garoto creole em Awas

Me surpreendeu que logo chegaram outros estrangeiros na pousada e assim pudemos alugar um barco. O dia amanheceu cinzento, não parecendo que o programa daria certo. Como a maioria tinha pouco tempo, encaramos mesmo assim. Fomos pela lagoa, passando por pequenos barcos a vela, até chegar no outro lado da lagoa, onde tem passagem para o mar. Um posto do exercito nos surprendeu, onde fizeram até controle de passaporte. Depois foi só lutar contra o vento e ondas, seguindo ao norte. No momento que nos afastamos do continente o tempo abriu e o mar acalmou. As primeira ilhotas começaram a aparecer. Algumas minusculas, outras habitadas por pequenas famílias, outras com construções abandonadas. minha ideia era de dormir nas ilhas, mas sem transporte regular, poderia ficar dias ali antes que um pescador passasse sentido Lagoa das Perolas, então achei melhor não ariscar.

Ilhas paradisíacas, algumas já tiveram estrutura para o turismo, mas existe uma grande disputa para saber quem são os donos das ilhas. As ilhas ao norte são todas habitadas por Misquitos, mas as ao sul dependem de “caseiros” para cuidar. Aproveitamos a praia, mergulhamos e tomamos água de coco, retiradas dos muitos coqueiros que tem por ali. Pique-nique no almoço e mais praia em outras ilhas. Aproveitei para conversar bastante com o Mr Taylor, nosso barqueiro, muito gente fina. Outras pessoas bastante bacanas no nosso grupo também. O tempo mudou bruscamente e uma tempestade iniciou. Nos protegemos na pequena barraca de lona e outros foram para o mar mesmo. Parecia que duraria para sempre, quando meia hora depois o céu limpou. Tempo imprevisível por aqui.

Pearl Keys

Pearl Keys

America_centra_2013l 513_resize

Precisa de legenda?

Precisa de legenda?

America_centra_2013l 535_resize

Banheiro

Banheiro

Depois da tempestade

Depois da tempestade

Tempo muda rápido

Tempo muda rápido

Na volta tivemos que improvisar velas para aproveitar o vento, pois a gasolina estava acabando. no final deu tudo certo, e chegamos a salvo na Lagoa das Perolas. Quase todos do grupo se foram, mas eu queria explorar mais a região. Um pouco mais ao sul está Haulover, vila de pescadores misquitos e creoles. Batendo papo com uma senhora ela me apontou para baixo de uma casa. De longe parecia que tinha vários sacos de cimento, mas quando me aproximei vi que eram tartarugas. São pescadores de tartarugas, tem até licença para isto. Apesar de pescarem para a subsistência, com barcos e técnicas rudimentares, da pena dos bichinhos. Para a carne não estragar, eles mantem os animais vivos, de casco para baixo, com a nadadeira amarradas, e vão matando de acordo com a necessidade.

Mais de 15 tartarugas gigantes

Mais de 15 tartarugas gigantes

A vila de Cacabila fica uns 50 km ao norte, onde existem misquitos bem mais tradicionais. Mesmo assim utilizam pequenos barcos, onde a vela é feita de lona plastica. Mais para cima está Orinoco, onde o povo é Garifuna. Cada um dos povos tem língua  musicas dentre outros aspectos culturais.

Habitação local das comunidades ribeirinhas

Habitação local das comunidades ribeirinhas

Embarcações utilizadas no local

Embarcações utilizadas no local

Detalhe para as velas de lona plastica

Detalhe para as velas de lona plastica

Depois de uns dias na Lagoa das Perolas já conhecia bastante gente. De dia alternava entre os poucos restaurantes, e acabei experimentando o prato tipico da região, tartaruga. Fazem caldo até com a carne que fica no casco, aproveitando tudo de suas pescas. De noite não tinham muitas opções para jantar, portanto fui todas as vezes no mesmo bar/restaurante, onde depois da janta tomava uma cerveja e escutava um reggae com os rastafaris. Alias, em terra de velhos rastafaris, os jovens revoltados são do hip-hop. Eles se reuniam na quadra de basquete, perto da igreja Moravia da cidade.

Preparando o prato típico da região

Preparando o prato típico da região

Aproveitando toda a carne

Aproveitando toda a carne

Chegava a hora de eu ir buscar a Bibi no monastério. Para evitar todas as conexões e longas horas de barco, resolvi encarar a pequena estrada que anteriormente eu nem sabia que existia. Um ônibus por dia parte antes do sol nascer, e viaja a manhã toda para percorrer uma distância não muito longa até El Rama. Não eram oito e meia da manhã quando paramos numa das pequenas vilas que cruzamos. Um “restaurante” servia arroz, feijão, frango… para o café da manhã. Como o dia seria longo, não pensei duas vezes antes de pedir um prato fundo para mim.

Parada para abastecer

Parada para abastecer

Meus três novos amigos pastores nicaraguenses-americanos e salvadorenho-americano tentaram me convencer  a me tornar missionários da igreja deles na África. No início levei na boa, mas depois encheram o saco. Acho que eles também não gostaram muito das minhas contestações diretas sobre coisas que falavam, muito menos de eu defender Judeus e Muçulmanos. Pelo menos a viagem passou rápido. Em El Rama, eles já desacostumados com transportes duros por morarem nos EUA, resolveram seguir de taxi. Eu me despedi da Costa do Mosquito, saltando no primeiro ônibus que vi. Paguei uns trocados (o ônibus custa menos de um dólar por hora de viagem)  e ao contrário de outras viagens, não conversei com ninguém. Mesmo assim a viagem foi tranquila. Horas mais tarde eu chegava em Santo Tomé, para buscar a Bibi. Trazia comigo um grande sorriso estampado no rosto.