Quem tem boca vai a Roma!

A Itália não e Itália a tanto tempo assim. Ate o final do seculo 19 eram diversos reinados, com línguas e costumes diferentes. A região do norte fazia parte do Império Austro-Húngaro, e nem todos deram muita bola quando falamos que tínhamos parentes naquela região. Era como se fosse outro pais. Assim como no Brasil, o norte e o sul são muito distintos, porem aqui e o contrario. Na Itália o sul que e menos desenvolvido, e onde o povo e bem mais simpático e comunicativo. Como esta no hemisfério norte, o sul da Itália e mais quente também. Tudo igual, só que invertido. Já tinha viajado pelo norte da Itália, mas a expectativa era como se fosse um novo pais. A Bibi também tem ascendência italiana, e estava sonhando com a comida. Difícil pensar em outra coisa quando se tem cidades com nomes que lembram Napolitana, Bolonhesa, Calabresa, Milanesa, Siciliana, Toscana, Pesto, Parmesão, e por ai vai…

Chegamos cedo em Bari, e teríamos que esperar algumas horas para pegar o trem, para fazer conexões ate Napoli e de la ate Sorrento. Parecia perda de tempo. Resolvemos ir ate a saída da imigração dos carros e esticar uma plaquinha que dizia: “Siamo due brasiliani che cherchamo una corsa per Napoli!” A maioria dos carros estavam lotados, com famílias inteiras, bicicletas, barco e cachorros. Os poucos carros vazios iam para outra direção. Nao deu nem tempo de pensar em um plano B e parou um carro com dois italianos que estavam indo para Pompei, ainda mais perto de Sorrento que Napoli. Fomos conversando e a viagem foi rápida, apesar de um pequeno problema com o carro. Em Pompei fomos conhecer os pais dele e não tivemos como escapar de um delicioso almoço. Ao nos referirmos da família como italiana logo fomos corrigidos, Napolitana, não italiana! Macarrão com frutos do mar, muzzarella de bufala, vinho, licor e expresso! Excelente recepção na Itália (ou melhor, na região de Napoli)! Nem todos falavam Inglês, então logo colocamos o Portulhano para funcionar, e deu certo!

Os bonus de pegar carona!

Já havia escutado muito sobre Pompeia, quando era pequeno, e a historia me impressionava. Para ser sincero não havia planejado esta etapa da viagem, e apesar de saber que Pompeia estava no sul da Itália, não estava nos planos. Ha 1900 anos atras o vulcão Vesúvio entrou em erupção (ele e ativo ate hoje) e suas cinzas com altíssimas temperaturas cobriram a cidade, matando todos os moradores, e petrificando as coisas. Desta maneira ate hoje o local esta bem conservado, sendo possível observar em detalhes como eram as cidades romanas da época. E muito bonita, grande, impressiona ate quem já viu dezenas de ruínas romanas, pois deve ser uma das principais delas. Mesmo Sorrento não estando longe, decidimos dormir num camping por ali mesmo, e pegar um trem urbano no dia seguinte.

Ruas de Pompeia

Pessoas petrificadas

A região de Sorrento e toda uma península, e seguimos a dica do nosso amigo napolitano e tentamos ficar um pouco mais afastados. Acabou sendo uma roubada. Caminhamos um monte, tava tudo cheio, e o custo beneficio do que estava disponível não era nem um pouco bom. Voltamos para o trem, e fomos para Sorrento mesmo, que apesar de mais turístico, tem bem mais opções. Não procuramos muito, e apesar do nosso hotel não ser uma pechincha, achamos um ótimo custo beneficio. Saímos para andar pela cidade e logo paramos para comer. De barriga cheia e com um vinhote, não deu para ir muito longe depois. hehe

Passear pela costa amalfitana de ônibus não da, ou melhor, não tem graça, então alugamos uma scooter. Fiquei meio decepcionado em ser uma Honda e nao uma Vespa, mas fazer o que. Andamos por toda a península, e depois pela Costa Amalfitana propriamente dita. E uma estrada cheia de curvas, na beira de penhascos, com o mar mediterrâneo la embaixo. Não conseguíamos nos conter e cantávamos “ Quel mazzolin di fiori” o caminho todo. Existem varias cidadezinhas, que dão todo o charme para o lugar. Nosso passeio virou uma rota gastronômica. Em cada lugar achava um restaurante ou cafe gostoso para comer. Num dia acertamos em cheio na comida, tava maravilhosa!! Alem do lugar super gostoso. Nem deu para reclamar que o preço tava salgado. Mas empolgados com o feito do dia anterior, erramos feio num outro dia. Tava bom, mas o preço não compensava, alem de ser pouca comida. Para balancear comemos um pizza grande de 3 euros no jantar!hehe

Já estávamos ate decorando as curvas, sabíamos onde tinha o melhor visual. Arriscamos um banho de mar, que para descansar e bom, mas mesmo a água sendo azul, não e o forte da região. O bom e passear, curtir a paisagem e comer. Complicado e ta de moto e lidar com o vinho. Logo decidi que não precisaria ficar com a moto tanto tempo assim…

Aproveitamos um pouco mais a cidade e também fomos para a ilha de Capri. Dizer que toda esta região e muito turística é pouco, é extremamente turística. Nos irritamos profundamente ao descer do barco e ter que enfrentar filas para comprar passagens de ônibus, e lutar por um pequeno espaço com tanta gente. Nossa visita a ilha acabou se resumindo a um banho de mar. Chegamos a pensar em não ir, mas todo mundo falava, “veio até Sorrento e não vai para Capri? Tem que ir…” Tem que ir nada!! Se arrependimento matasse…

Pegamos o trem para Napoli, deixamos as bagagens num guarda volumes para passarmos so um dia la. Ate pensamos em ficar mais tempo (e valeria a pena), mas Roma seria nosso ultimo destino e queríamos ir com calma. Caminhamos pela cidade, e logo de inicio ja associávamos bastante com o Brasil. Se falávamos que os italianos do sul eram simpático, conhecemos algumas outras especies, os grossos. Tem bastante por aqui. Não por maldade, pelo jeito de ser mesmo. Napoli e bonita (apesar de muito suja), com um centro histórico bacana. Andamos um monte por casarões, praças, monumentos e igrejas. Estávamos em contato com o Augusto, que havia nos dado carona dias antes, ele viria de Pompeia para almoçar com agente. Acabou demorando um monte e fomos ate uma tratoria recomendada. Nos empenhamos um monte para achar e chegar la, e na porta tinha um bilhete, “finalmente de ferias!!”. Iria reabrir somente dois dias depois. A saída foi achar uma pizzaria que também tinham nos indicada, e comer uma pizza napolitana, mesmo que o sabor fosse outro. O Augusto não chegou para o almoço, mas nos encontramos depois e ele mostrou mais a cidade. Algumas regiões legais, todas bem explicadas, já que os Napolitanos são extremamente orgulhosos, e não entendem como a cidade não e mais visitada. Unica coisa que não gostamos foi que ele insistiu em irmos num castelo, que não estávamos nem um pouco a fim. Final das contas quase nos atrasamos para pegar o trem. Descemos correndo do ônibus, fomos retirar a bagagem, e entramos no vagão três minutos antes de sair. Existem trens metropolitanos que são relativamente baratos, cinco vezes menos que os trens nacionais (mas não se pode comprar estas passagens na internet).

Napoli

A viagem e um pouco mais lenta, mas o trem e confortável. A Thaisa, ex flatmate da Bibi em Floripa mora em Roma, e foi nos buscar com o namorado (Rafaelli), que e de Roma. O apartamento deles e bem gostoso, na parte norte da cidade. Ja era tarde, e ficamos conversando madrugada a dentro, coisa que se repetiu todos os dias que ficamos la.

Com Rafaeli e Thaisa

Já no primeiro dia, pegando um ônibus para o centro, nos surpreendemos com a cidade, que parece um museu a céu aberto. Se por um lado nos encantávamos com a arquitetura, monumentos, piazzas, por outro questionávamos o nosso final de viagem. E esta sensação se repetiu por todos os dias. Adoramos Roma, mas é um destino de ferias, não um lugar para se terminar uma jornada como a nossa. Estávamos toda hora ocupados, vendo coisas, fazendo planos. Claro que parávamos para tomar aquele cafe, comer uma torta ou um sorvete, mas não tínhamos o tempo necessário para nos mesmos. Teatro Marcelo, Gueto, Pantheon, Victtorio, Coliseu, Foro, Palatino, Campidoglio,Villa Borgghese, Basilicas, parques, Banhos, praças, vias, fontes, (…) só para ver o “básico” de Roma se gasta um tempo (imagine se ainda for em museus!). Tiramos um dia para visitar o Vaticano, que e o menor pais do mundo. Alem da imponente Basílica de São Pedro (a praça eu achava que seria maior), gastamos um bom tempo no museu, que possui obras muito bonitas. São intermináveis corredores, mas não adianta, a Capela Sistina e com certeza o ponto alto. Pena que tava lotada e o pessoal sem noção fazia muito barulho. As pinturas parecem que tem terceira dimensão, as vezes tem que esfregar o olho para ter certeza que não e uma escultura, tamanha e a sensação de profundidade. O tal Michelangelo mandou bem mesmo. Alias, tem obras dele em tudo que e canto de Roma, sejam praças, fontes, esculturas…

Roma!

Uma noite fomos jantar no Trastevere bairro boêmio da cidade. E ali que fica uma das igrejas mais antigas de Roma, e estavam cantando e tocando órgão quando chegamos, muito bonito.

Vaticano

Fomos muito bem recebidos, e fora os altos papos que eles tiveram com a gente, ainda nos levaram para passear pela cidade em lugares que não tínhamos ido durante os dias. Nos sentimos acolhidos, e com tantas programações os dias passaram voando. A Bibi achou uma injustiça, mas devido ao preço da passagem, teríamos que voltar para o Brasil por outros destinos, portanto viajaríamos separados. Ela ficaria um dia a mais com a Thaisa, e eu iria encontrar minha irmã em Londres, e finalmente conhecer meu cunhado (o ultimo da família a conhecer). Assim nos despedimos, e depois de tanto tempo 24 horas grudados, nos separaríamos, para se encontrar novamente só no Brasil.