Vales, Monasterios, Castelos e muita tradição!

O bacana de viajar no Oriente Médio e que foge daquela imagem inicial que temos da região. Claro que ha desertos, beduínos, calor, mas existem muitas outras opções. Vales verdes da Jordânia, montanhas de Israel, estacoes de esqui, montanhas do Líbano, castelos, monastérios cristãos. Alias, o presidente do Líbano e sempre cristão maronita, o primeiro ministro e um muçulmano sunita, o porta vós do parlamente um muçulmano xiita, o chefe das forcas armadas druze (muçulmano que acredita que houve um outro profeta depois de Maomé), cristãos gregos ortodoxos também tem posições fixas de destaque. Viva a diversidade religiosa!!

Escolhemos Becharre como o nosso destino de montanha no Líbano, e não nos arrependemos. Pela estrada já víamos as pequenas vilas na beira do cânion, e a beleza das montanhas. O único ponto baixo é que os cedros, arvore simbolo do pais, já não são mais tao abundantes. Ficamos numa guest house bem com cara de casa, só com dois ou três quartos para alugar. Nos integramos rápido com os donos e pessoal que tava por ali. A região e centro do cristianismo (principalmente da ordem Maronita) no Líbano, e existem capelas e santos por todos os lados. Aqui e também a cidade onde o poeta e pintor Kalil Gibran viveu. Visitamos sua casa e um museu bacana que expõem algumas de suas obras. Lugar calmo, com uma temperatura amena, e estaca-o de esqui no inverno. O Cânion Qadisha, patrimônio da Unesco, logo abaixo de onde estávamos e muito bonito. Pegamos carona ate uma ponta, caminhamos cânion abaixo e seguimos a trilha. Muito verde, barulho de água e pássaros, numa paz excepcional.

Vista de Bcharre

Vales verdes

Cidades na beira do canion

No caminho alguns monastérios antiquíssimos, onde os cristãos da antiguidade se refugiavam. Não íamos conseguir voltar até o hotel antes de escurecer então pegamos carona de volta. No outro dia percorremos o cânion no sentido contrario, para conhecer toda a região. Vimos jogo do Brasil num restaurante com telão e torcida local com bandeiras, buzina e camisas. Muito legal! De la ainda passamos por Tripoli antes de seguir para a fronteira com a Síria na parte norte. No Líbano existem belas ruínas romanas, mas depois de uma viagem longa, vendo muitas delas, passam a parecer muito iguais.
Já na Síria, passamos por Homs, mas resolvemos ficar mesmo em Hama. Cidade muito simpática, com dezenas de norias, rodas de água (que são funcionais) por toda a cidade. Passamos um final de tarde muito gostoso la, numa praça, onde os locais faziam piquenique, crianças andavam de camelos e jovens passeavam. Mulheres todas de cabeça coberta com scarfs, ainda mais que em Damasco. Sentamos num banco e não demorou para aparecer um jovem estudante que ficou conversando um tempão conosco.

Norias- Rodas d’gua em Hama

Esta região possuí muitos castelos da época das cruzadas, e mesmo já estando meio cansados deles, fomos conferir. O Crac des Chevaliers e muito bonito e imponente. Grande. Muito grande, provavelmente o maior e mais bem conservado de todos os que ainda existem. Labirintos, escadas, muitos corredores. Dentro estão vazios, mas de fora a vista e impressionante, assim como de cima, pois estão sempre no topo de montanhas. Visitamos também o monastério ortodoxo de São Jorge, que contem duas antigas igrejas e belas pinturas. Conhecemos um casal romeno e acabamos indo juntos ate Alepoo, segunda maior cidade da Síria. Na hora de pegar o ônibus, pediram meu passaporte, e de dentro caiu uma moeda de Israel, que deveria estar no porta documentos. Sorte não ter sido na fronteira, pois dai teríamos problemas.

Crac des Chevaliers

Alepoo e uma cidade grande, mas e muito tradicional. Possui souqs gigantescos, que parecem labirintos. Grandes mesquitas e um bairro cristão. Aqui também já foi área de grande presença de judeus, e algumas sinagogas estão preservadas. Nesta região que grande parte dos armênios massacrados pelos turcos viviam, num dos maiores genocídios da historia. Escutamos historias horríveis, de mulheres estupradas antes de serem mortas, crianças enterradas vivas, dentre outras crueldades. Um povo que ajudou bastante os armênios foram os Kurdos, estes que também são tratados como minorias nestes países da região. Os curdos vivem no leste da Turquia, Síria, Irã, Iraque, e são mais de 60 milhões, mas não tiveram direito a terra na época da divisão da região. Já sonharam muito e lutaram pela independência do que seria chamado Curdistão.
Existe uma bela citadela no topo de uma montanha, de onde pode se ver toda a cidade. Existem cafés gostosos ali e conversamos com um casal de noivos, que estavam acompanhados pela mãe do noivo, irma e futura cunhada. As vezes elas saiam para dar uma volta para deixar os dois sozinhos. Uma praça estava especialmente cheia na sexta-feira, feriado muçulmano (o domingo deles). Caminhávamos por ali, e viramos atracão. Dezenas de pessoas, crianças passavam para falar com a gente, apertar nossa mão ou tirar fotos. Crianças com bandeiras da Síria e Brasil pintadas nos seus rostos nos faziam se sentir em casa. Uma hora ate um policial pediu para não darmos tanta atenção para o pessoal pois tava virando tumulto. Um final de tarde magico.

Torcida pelo Brasil!!

Citatela de Alepoo

Um dia a Bibi foi experimentar o banho sírio, e eu aproveitei para explorar mais os souqs. Conversei com bastante gente, e eles adoravam quando eu falava que não estava em nenhum grupo, pois assim podiam falar comigo. Conheci um pessoal na frente do lugar que a Bibi tava e fiquei tomando chá com eles. A Bibi se juntou a nos, assim como muitos amigos e familiares deles. Não deva para sair, nos levantávamos mas eles insistiam e acabamos ficando por horas. Discutimos diversos assuntos, e chegou ate um amigo deles que e “orador” na mesquita e “leu” (e praticamente um canto) alguns trechos do Al Corão para nos. Pedi alguns trechos que conheço alem de outros que citam Jesus. Pessoal muito gente boa e o pai de um deles muito interessado no Brasil. Falaram que a popularidade do presidente Assad (o filho), e ainda melhor que a do Lula no Brasil, chegando a 90% !!! (estranho, não?!Ainda mais com tantas fotos dele espalhadas, típicos de uma ditadura )

Vista panorâmica

Intermináveis Souqs

O bairro cristão tem uma aparência um pouco diferente, e para entender bem e preciso entrar nas construções. De fora parece só uma rua estreita com paredes altas, mas dentro se escondem casarões antigos. Muitos estão se transformando em restaurantes e hotéis. Escolhemos um deles para sentar, fugir do sol e ficar batendo papo curtindo o lugar. Começamos a conversar com um senhor que cuidava de uma Igreja Ortodoxa, e aproveitamos para tirar varias duvidas da religião e historia do local. A conversa se prorrogou e ele acabou nos mostrando algumas áreas da Igreja que não são de livre acesso, alem de nos presentear com incenso, velas e cartões postais. Nos mostrou uma Bíblia super antiga, escrita em árabe  é claro.

Bíblia em árabe

Atras dos muros altos tem casaroes, restaurantes, hoteis

Nosso hotel era super gostoso, quarto espaçoso com uma super sacada, e adoramos conversar com o “gerente” de la. Nossos cafés da manha sempre eram longos escutando suas piadas de beduínos (estilo nossas piadas de português) ou conversando com pessoas interessantes que encontrávamos. Ele adorava contar de como era difícil para ele, pobre, arranjar uma mulher. Falava empolgado, brincando, que ia nas sorveterias para ver as mulheres levantarem o véu para chupar o sorvete e ver o rosto delas.
Um dia pedimos informação sobre uma internet para um senhor. Ele apontou uma, mas depois nos levou ate uma outra, que era mais barata. Caminhou umas sete ou oito quadras para nos levar até lá, a troco de nada. Esta e só uma historia, que ajudou a formular a impressão que tivemos do povo da Síria. Lembro quando uma noite a Bibi me perguntou como faríamos com a lista dos 5 povos mais legais. Realmente é complicado, pois não cabe. Sugeri formularmos uma lista top 10!!!

Sírio-libanês!?

No Brasil usamos muito o termo sírio-libanês, como se fosse uma só coisa. Não e nenhum preconceito, nem desconhecimento, assim como kibe e esfirra eles estão sempre juntos, mas são diferentes. A verdade e que a imigração para o Brasil ocorreu ainda no seculo 19, quando ainda não existiam as nações independentes de Síria e Líbano.
Brasileiro não costuma vir muito para esta região (a não ser os que tem descendência sírio-libanesa). Já viajantes de outros países se assustam pelas (não) recomendações de seus governos, tratando a região como áreas de risco. Envolvimentos de Sírios no 11 de setembro; a invasão e guerra de Israel no Líbano em 2006, fizeram o turismo despencar. Uma pena para a economia local, mas uma tranquilidade para quem vem para cá. A cultura e tradição de Damasco, a modernidade de Beirute, mereceriam uma atenção maior das pessoas que planejam uma próxima viagem, e isto que estou falando só das capitais. Sem falar da simpatia do povo, e da deliciosa culinária, que vai muito alem de kibe e esfirra… Você vai escutar Habibi, Habibi toda hora, e não e a cadeia de restaurante e sim algo como “querido”, e “Pão Sírio” aqui se chama só “pão” (Gi, esta foi pra vc)!!
Da fronteira de Israel/Palestina fomos ate Amã, onde só fizemos uma conexão e seguimos para a Síria. As informações sobre vistos na fronteira novamente eram contraditórias. Na internet e guia, falava que tinha que tirar com antecedência, mas pessoas que encontrávamos falavam que dava para tirar na hora. Foi super rápido, e logo estávamos em território sírio. Pouco depois, olhando o visto que e todo em árabe, observei escrito 3 jours bem pequeno. Acho que porque falei que íamos para o Líbano e voltaríamos para a Síria, acharam que não ficaríamos muito em Damasco. A comunicação nunca e clara, então acontece estas coisas.
As opções de hotel baratos ficam muito próximas uma da outra, alem de perto da cidade velha, o que facilita muito. Ficamos num hotel que e um casarão antigo, com um patio interno super gostoso. Paredes com pinturas e decoração tipicas, poltronas e sofás com narguilés estrategicamente posicionados. Placas proibindo o consumo de álcool mostravam que a religião e levada a serio. As pequenas ruas ao redor faziam quase que uma barreira das avenidas, transito e poluição dos arredores. A região e cercada de cafés, sempre lotados de sírios. Com o inicio dos jogos da copa, o movimento que já era grande aumentou um monte. As centenas de bandeiras do Brasil espalhadas pela cidade tinham uma concorrência: bandeiras da Alemanha. Mesmo em menor numero, deu para ver que o apoio para eles não era pequeno.
Falam relativamente pouco inglês na Síria, então ao nos informarmos onde era a imigração para prolongarmos nosso visto acabamos indo em um lugar errado. Ate descobrir que não era la demorou um pouco, pulando de escritório em escritório, ate encontrar alguém que falava francês, pois inglês tava difícil. Descobrimos o lugar correto, e daí foi só encarar a burocracia. Paga uma pequena taxa, compra selo, tira fotocopias, leva papelada numa sala, volta para outra, fica em filas que se misturam para passar por 3 mesas numa pequena sala, carimba, vai em outra sala, pega assinatura, pula de mesa em mesa novamente (não em forma sequencial), muuita burocracia e tudo da certo no final. Era de rir.
Damasco e uma das mais antigas cidades constantemente habitadas do mundo. De 5 a 7 mil anos antes de Cristo já tinha gente vivendo por aqui. A cidade velha e muito legal. Murada, com seus mercados, ruas estreitas, mesquitas, ruínas romanas, igrejas, tudo muito vivo. Nada montado para os turistas, e sim para o dia a dia. Seguimos as filas para experimentar os deliciosos sorvetes locais, e andamos por tudo ao longo dos dias.
A mesquita Umayyad, fica não muito longe da entrada. Um antigo templo romano, que virou uma Basílica Bizantina, e depois da expulsão das cruzadas da região se transformou na mesquita. Muito bonita, com seu patio gigantesco, mosaicos e torres. As mulheres precisam colocar um roupão para se cobrirem e a Bibi teve que seguir as regras. Na sala de orações tem um lugar onde dizem estar a cabeça do São João Batista. Deve ser desde a época da Basílica Bizantina, se bem que ele é um profeta para o islamismo também. Em outra parte da mesquita estão os restos mortais de Husseim, importante muçulmano, neto do profeta Maomé. Um simpático iraniano matou nossa curiosidade. Por falar em heróis, existem tum ulos de alguns heróis das guerras contra as cruzadas por aqui, entre eles o Saladim.

Cidade velha de Damasco

Mesquita Umayyad

Aproveitei que a Bibi ficou estudando naquele lugar chato que descrevi do hotel, e sai para desvendar um pouco mais da cidade velha. Lojas de tempero com cascos de tartaruga, estrelas do mar e outras coisas esquisitas penduradas. Tentei perguntar o que era e já queriam empacotar para mim. Acabei parando no meio de uma mesquita Xiita, muito bonita, toda decorada e com grandes lustres. Tava tendo pregação em alguns pátios e fiquei observando. Um senhor se aproximou falando um inglês perfeito, e aproveitei para entender um pouco mais da diferença dos xiitas e sunitas (principais ramificações do Islamismo).

Patio do nosso hotel

Dentro de uma mesquita xiita

Macumba?!

Fui no bairro cristão, primeiro sozinho e depois com a Bibi. Andamos aleatoriamente pelos corredores, explorando a região. Existem algumas passagens da Bíblia que ocorreram por aqui e fomos conferir. Visitamos uma casa damasense do seculo 18, que foi transformada em museu. A Bibi também deu a olhadinha dela nas lojas, e a tranquilidade dos vendedores surpreende. Jogam o preço la em cima, esperando que você negocie, mas não são nada insistentes. Se falar que vai dar uma olhada em outros lugares eles ate te incentivam, agradecem e pedem para você voltar (e e claro que sempre tem coisa mais barata para frente). O povo e super simpático, e de varias maneiras achamos parecido com o povo brasileiro. A expectativa era grande, pois só ouvíamos falar maravilhas do lugar, e não nos decepcionamos. E daqueles lugares difíceis de ir embora. A cidade e grande, bagunçada, meio caótica, mas parece pura, tem personalidade. Conhecemos dois jornalistas brasileiros, Mauricio e Wilian, que estão viajando a quase um ano e mandando matérias para o Brasil. Aproveitamos para falar bastante em português, falando do Brasil, mundo e de nossas vidas e escolhas. Muito gente boa, fomos jantar juntos quase todos os dias.
A Bibi resolveu não encarar a ida ate Palmira, ruínas romanas que ficam no meio do deserto, já próximo ao Iraque. Na verdade já pertenceu a diversos povos antes dos romanos, e era estrategicamente muito importante para as caravanas que passavam por ali. São umas três horas de viagem, e escutei novamente o quanto o mundo foi injusto com o Iraque, assunto muito comum na Jordânia também. A cidade em si e pequena e empoeirada. Quente, muito quente. Com certeza a temperatura passava dos 40 graus. Andei sozinho pelas ruínas da cidade, um dos principais locais de visitação da Síria.

Palmyra

Fui comer alguma coisa e me proteger do sol. Por sorte tava tendo jogo da Argélia, único time árabe da copa, portanto com a torcida de todos. Me diverti. Ainda encontrei os jornalistas brasileiros com quem passei um tempo. Fui num castelo em cima de uma montanha, local com uma vista impressionante de toda a região. Infelizmente tava meio nublado esta hora, e vi que o por do sol não teria nada demais. Resolvi encarar as 3 horas de viagem para ficar com a Bibi. Chegando na rodoviária taxistas me cercaram. Ao falar que queria pegar um ônibus, não se opuseram nem insistiram. Um deles me levou pela mão e andou ate o ponto me mostrando qual ônibus pegar, além de falar para o motorista onde eu iria descer. Da para acreditar? I love this place!
A Bibi conheceu um senhor que trabalhava na União Árabe e acabamos indo de carona com ele para o Líbano em alto estilo, de motorista e tudo. Tava engraçado ele de terno e gravata, indo para uma reunião, e nos com as mochilas, de bermuda e chinelo. O cara e muito gente boa e fomos conversando o tempo todo. Bom ver o ponto de vista de um egípcio muçulmano, que viaja todos os países árabes e morou nos EUA. Ainda tivemos um imprevisto na fronteira, por algo que escreveram no nosso passaporte quando prorrogaram o visto, mas o solicito e simpático oficial da imigração resolveu tudo da forma mais rápida possível. Infelizmente isto fez com que nosso amigo se atrasasse para a reunião, mas acho que o bate papo foi proveitoso para os dois lados, então ele não deve ter se importado taanto. Nos despedimos já em Beirute, quando ele foi trabalhar e nos procurarmos um hotel barato para ficar.
Achar um lugar barato para dormir em Beirute é fácil, pois praticamente só existem três ou quatro opções, então você sabe exatamente aonde ir. O próximo problema e que estão sempre lotados. Arrumamos um quarto ate que ajeitado numa pensão, mas o problema e que tinha gente caindo pelas janelas de tao lotada. Dormito rios, camas no terraço, até no corredor e sofás da sala!! Impossível se sentir em casa. Conhecemos um DJ gaúcho que esta morando por ali e deu umas boas dicas da região.
Beirute e moderna, descolada e a primeira vista muito rica. O centro da cidade foi todo reconstruído, pois depois de bombardeiros não sobrou nada. Fizeram uma arquitetura antiga, com jardins e lojas de marca. Muito bonito, glamouroso, mas meio artificial. Mulheres andam com roupas curtas e decotadas, e o numero de “moderninhos” e muito grande. Na corniche, calcadão beira mar, e um desfile de carros, os libaneses gostam de aparecer. Vimos diversas Ferraris, Porches e a quantidade de táxis da Mercedes é incontável! Mas não tem praia propriamente dita. São pedras onde o pessoal usa para mergulhar, pescar ou ate fumar narguilé. Os chiques e famosos usam alguns dos clubes ou marinas, todos estruturados, perfeito lugar para ver e ser visto. No topo de uma colina centenas de pessoas se reúnem para ver o por de sol, com os pingen rocks, pedras que saem do mar, dando todo um charme.

centro reconstruído

visual do cafe no por de sol

beira mar

Existem bons cafés nesta região, onde novamente os libaneses exibem seus brinquedinhos estacionados na frente. O pessoal aqui gosta de comer bem, beber e festar. Alias, festar como se não houvesse amanha, o que ali pode não ser só uma expressão. Ouvimos seguidamente historias de que poderia estourar outra guerra neste verão. Nos avisaram para ficar de olho no porto, se esvaziasse era para nos preocuparmos. Para alguns e só tática dos israelenses para espantar o turismo, que representa grande parte da receita do Líbano. Aproveitamos o embalo e fomos conferir uma das noitadas. Resolvemos encarar a famosa BO18, clube da moda por aqui. Convidamos um americano e uma americana para irem juntos com a gente. Foi engrado, pois ao descer do táxi no estacionamento, andamos meio sem saber onde era, ate apontarem para nos a entrada, que era uma escada no meio do estacionamento. O lugar e embaixo da terra, um bunker. O segurança tentou conferir a lista de convidados, pois não se compra entrada, só entra “a galerinha”. Pior que não tinha roupa de sair, então tava beem largado. Mas pra estrangeiro sempre e diferente, e sendo casal foi mais fácil também. Noitada pegando, muito divertido. O teto se abria de vez em quando, e só dava para ver o céu e alguns seguranças la em cima. Dizem que mais tarde chega muita gente de festas particulares e ficam no estacionamento também. Libaneses e Israelenses podem ter varias diferenças entre si, mas os dois gostam de uma festa e tem mulheres muito bonitas.
Beirute ta toda enfeitada para a Copa, e vimos a estreia do Brasil numa das ruas dos barzinhos. Depois do jogo teve buzinasso e tudo! Aqui também a seleção tem um grade apoio, seguida pela Alemanha. Ao contrario de Damasco, que era uma unanimidade entre os viajantes, encontramos muitas pessoas que não gostaram muito de Beirute. E uma cidade movimentada, moderna e cara, mas nos aproveitamos bastante.
Claro que nem tudo são flores. E um lugar de grande desigualdade social. E fomos conferir essa parte também. Fomos ate o antigo assentamento palestino de Chatila/Sabra, hoje praticamente uma favela, onde ocorreu um massacre um 82. O exercito israelense, ao isolar Beirute e afastar a resistência, isolou este bairro palestino e deixou uma “milicia crista” entrar e matar mais de 2000 civis palestinos. Agora bato na tecla do meu outro post: “Milicia Crista”? Um cristão de verdade faria isto? A mesma coisa dos “atentados muçulmanos”. Isto e religião ou politica?
No ônibus para Chatila conversávamos com uns palestinos quando um viu minha tatuagem e mostrou a sua. Estava escrito “Ali”. Eu comentei com ele que deveria ser xiita, pois Ali era o primo e genro do profeta Maomé, que casou com sua filha Fátima. Ganhei a confiança do cara na hora, valeu a pena ter feito o dever de casa na mesquita! Logo na primeira rua que descemos, ao pedir informações vimos o abismo social que existe no Líbano. O cara nos informava qual parte era de domínio do Hezbollah, Fatah, Hamas e outros grupos. Fomos andando e nas primeiras quadras não nos sentimos muito bem. Eu fiquei meio assim por ter trazido a Bibi, se tivesse sozinho seria diferente. Alem de mal encarados, o pessoal ali eram todos torcedores da Alemanha! Mas não demorou muito para tudo mudar. Entre as bandeiras de Hamas, Fatah, fotos do Arafat e do Templo da Rocha, gigantescas bandeiras do Brasil passaram a aparecer.

Terroristas?

Não eram só as facções politicas que dividiam o bairro, mas também as preferencias futebolísticas. Começamos a conversar com um senhor e logo foi aparecendo gente. Fomos andando e já tinha uma duzia de jovens conosco. Nos convidaram para sentar e tomar um chá, e trouxeram copos do Brasil. Todos estavam com camisetas e faixas da seleção. Ficamos conversando um tempão, falando sobre suas dificuldades por serem palestinos, falta de direitos, mas também de sonhos, desejos e dia a dia. Pessoas do bem, jovens cheios de vida e ideias. Com o tempo, ao se sentirem confortáveis, mostraram fotos deles uniformizados e armados. Era difícil de acreditar, mas fácil de entender. Assim como o soldado israelense que conhecemos la, o pessoal aqui ta cansado de tanto conflito, mas por causa de meia duzia de louco de cada lado, civis continuam morrendo. Nos levaram para caminhar mais, nos deram presentes e não nos deixaram pagar nada, nem o chá. Entramos num café e fizemos a maior bagunça cantando musica do Brasil, tocando bumbo e corneta, muito divertido. Até na hora da foto fiz chifrinho na piazada. Nos escoltaram de volta ate onde pegaríamos o ônibus. Comentaram que o inicio do bairro era meio barra pesada, pois era onde existia o trafico de drogas. Explicaram que os palestinos que se davam bem e iam morar em outros países e meio que esqueciam a “causa”. De certa forma lembravam da frase que o Arafat quando ainda jovem escreveu com seu próprio sangue para o exercito Egípcio: “Don’t forguet Palestine”. Eles já queriam combinar alguma coisa para fazermos no dia seguinte e saber quando voltaríamos lá. Trocamos emails e contatos e saímos com o coração apertado.
Seguindo o roteiro não tradicional, um dia fomos ao sul de Beirute, para Sidam (saida). Não, nossa principal intenção não era visitar esta cidade fenícia citada na Bíblia, com mais de seis mil anos de historia. Faríamos uma conexão la para ir no recém inaugurado museu do Hezbollah. Ao descer no ponto de ônibus a comunicação com os taxistas não era fácil, e não sabiam onde queríamos ir. Ao encontrar um senhor que falava Inglês, ele me perguntou: E acham que vão deixar vocês entrarem? Realmente o lugar era novo, e o pessoal não tinha informações. Ouvimos falar que tinha sido inaugurado a menos de duas semanas. Mas a areá era conhecida, e o motorista cristão ficou fazendo mistério, dizia para não falarmos inglês que era perigoso. Mostrou suas cicatrizes da guerra, mas logo vimos que ele era louco mesmo. De qualquer forma chegar nas montanhas, em área do Hezbollah, nos causou silencio. Bandeiras em todos os postes, alem de fotos dos mártires (homens bomba e heróis da resistência) davam o clima para o lugar. No meio de uma vista magnifica chegamos a um grande estacionamento, com dois ônibus e muitos carros. Na hora deu para ver que logo este lugar vai ser uma grande atracão turística, listada em todos os guias de viagem. Novinho em folha, algumas partes ainda não estão nem abertas ao publico, como a loja de lembranças. A estrutura e perfeita, iluminação, placas em inglês e árabe, água, ate salas para se rezar. Parece que quem construiu foi para a Disney para tirar ideias (hehe, desculpe, não me aguentei!).
Bem, e um museu em céu aberto, na região onde houveram os combates entre os Israelenses e o Hezbollah. Uma forte propaganda mostrando como eles eram a resistência libanesa, e com menos armas e tecnologia conseguiram lutar. Mesmo estilo dos locais que visitamos no Vietnã. Existem bunkers cavados nas pedras, com longos tuneis e material exposto. Armas, tanques e foguetes da resistência alem de material capturado e destruído de Israel. Duas partes chamam muito atenção. Uma especie de furacão, com arcos e muitos tanques e armas de Israel destruídas, junto com capacetes de soldados israelenses, como se fosse um “obra de arte”, e o memorial para os mártires. E uma escadaria bem íngreme, alta, que se sobe com esforço e ao olhar em frente só se vê o céu. Chegando la em cima tem um jardim super florido com a homenagem aos mortos, e tudo cercado pelas belas montanhas. O esforço, sacrifício, céu e paraíso estão evidentes, mesmo não estando escrito em nenhum lugar. Pena não termos conseguido ver o filme que passa algumas vezes ao dia. Uma sala só dedicada a Israel não tinha tradução em Inglês. Acredito que a propaganda devia ser forte. Muitas famílias e turistas árabes, mas acho que logo os estrangeiros vão descobrir. Com certeza valeu a pena.
Hezbollah!

Museu muito bem montado. Ispirado na Disney?rs

Turismo local

Estávamos felizes quando saímos de Beirute para as montanhas no norte do Líbano. Mesmo tendo gostado bastante da experiencia, precisávamos um pouco de paz, ficar longe do barulho e movimento da grande cidade.