Pela (ex)Iugoslavia.

Lá na Bósnia! Quem já não usou esta expressão para se referir a algo que esta muito longe? Virou referencia para a faculdade que era longe, o trabalho ou o lugar que alguém morava. A gíria surgiu nos anos 90, quando teve a guerra na região.  Não tínhamos muita informação (ou não buscávamos , eram questões complicadas que poucos tentavam esclarecer ou entender. Pareciam ser coisas terríveis,  genocídio, campo de concentração (a poucos anos do seculo 21!), mas tudo parecia estar muito distante, lá na Bósnia…

Mapa da Ex-Iugoslavia

De Kotor fomos acompanhando a magnifica bahia e algum tempo depois estávamos na imigração.  O oficial da Bósnia-Herzegovina recolheu passaportes de todos e ao olhar o meu me pediu o visto. Eu falei que não precisava, e ele mandou eu o acompanhar. Já devia ser mais de meia noite, e só me faltava dar algum problema. Ele foi ate uma salinha, e me mandou esperar do lado de fora. Depois de um tempo voltou e me mandou para o ônibus.  Os passaportes foram distribuídos novamente quando chamaram o “brasila” para ajudar a identificar os dados no meu passaporte. Ufa, deu tudo certo!

Muitas curvas e dava para ver um pouco de mato no meio da escuridão da estrada. Tinham bancos sobrando e deu para se esticar para dormir. Chegamos quase de manha na rodoviária  que e longe do centro de Sarajevo. Não tivemos outra opção a não ser pegar um táxi. Uma discussão quando nos levaram num albergue onde estavam indo os noruegueses, e o lembrei de que o acordo era outro. Quando nos afastávamos do centro velho, resolvemos mudar de ideia – para desespero do motorista- e pedimos para nos deixar no centro que nos viraríamos  Muita gente deve achar loucura ir procurar lugar para ficar as seis da manha. Ok, concordo que os quinze minutos de caminhada foram perrengue, mas se vissem o quarto que achamos (sorte ou faro?) qualquer um ia querer trocar seu hotel ou albergue por ele!! Muito show, uma casa antiga 4 quadras do centrinho, quarto gigante, tudo limpo, muito bacana.

Ja na nossa chegada nos encantamos por Sarajevo. Que cidade bonita, que estilo (mistura de prédios Otomanos e Austro-Hungaros só podia sair algo único!). Difícil imaginar que 15 anos atrás estava em ruínas. A guerra foi feia por aqui, e a cidade ficou sob estado de sitio por quase 3 anos. Um gigantesco túnel foi cavado para que alimento e água pudesse chegar a cidade, pessoas saíssem e soldados se movimentarem. Muita coisa já foi reconstruída, mas os buracos de bala em muitos prédios mostram que as feridas dentro das pessoas ainda estão abertas, muito abertas.

Podem reconstruir, mas marcas vão ficar…

Sarajevo já foi chamada de Jerusalém da Europa, por ter as três religiões monoteístas bem representadas ali. Cristãos Ortodoxos e Católicos, Muçulmanos e Judeus. Os Judeus foram acolhidos quando esta região ainda fazia parte do Império Otomano, e haviam sido expulsos dos reinados cristãos de Portugal e Espanha. Viveram pacificamente com as outras crenças ate a segunda guerra mundial, quando fascistas croatas passaram a persegui-los, e com o domínio da Alemanha tudo se desandou, e vocês sabem a triste historia. Hoje existe uma pequena comunidade judaica, mas muito reduzida considerando o tamanho que já foi. Andamos pelo antigo bairro judeu, sinagogas, que ficam quase ao lado das Igrejas e Mesquitas. Alias as mesquitas são a maioria, e os minaretes dão todo um charme para o lugar. O centro velho e formado por calçadões, lotados de cafés, restaurantes e lojas. Em muitas paredes a foto do Tito, ex-líder da Iugoslávia, era exposta com orgulho e saudosismo, mostrando que assim como nos outros países da região, ele e muito querido. A continuação da Ferhadija, um dos principais calçadões, e a Tita, onde já iniciam as lojas e cafés mais moderninhos. Tava muito movimentado, cheio de turista (até demais), cidade muito viva. Mas algumas cenas nos chocavam. Num entardecer vimos algo refletir no topo das colinas verdes ao redor da cidade, e ao repararmos melhor, eram varias criptas! Tudo virou cemitério. Qualquer metro quadrado serviu para enterrar alguém. No centro, em uma praça publica, crianças jogavam bola entre as tumbas. Inacreditável!  Incompreensível!!

Cristãos

Judeus

Muçulmanos

Que a nova geração seja mais tolerante!

Sarajevo sempre foi uma cidade pobre, estava tentando se erguer, inclusive com os jogos olímpicos de inverno de ’84, mas ai tudo se desandou de vez nos anos 90. Agora, finalmente parece ter achado seu caminho, mas as marcas continuam. Estávamos ali no primeiro dia de Ramadam. Fomos a uma mesquita no anoitecer, para ver o final do jejum diário, e acabamos ganhando doces também. ( A Bibi escreveu um artigo muito legal sobre o Islamismo.  http://tambemsai.wordpress.com/2010/07/10/compreendendo-o-islamismo/ )

Todos estes povos que lutaram na guerra civil, Bósnios-sérvios (cristãos ortodoxos); Bósnios-Croatas (cristãos católicos) e Bósnios-Muçulmanos são da mesma “raca”, os Eslavos. Portanto esta historia de limpeza étnica quando os sérvios mataram os muçulmanos e a maior balela! Foi uma guerra ou politica ou religiosa, com cristãos massacrando muçulmanos em plenos anos 90, inclusive com campos de concentração!  Se um louco muçulmano mata gente por algum motivo e por causa da religião,  mas se e um cristão, sempre tem que inventar outro motivo. Não estou defendendo que todas são guerras religiosas, muito pelo contrario, mas não se pode usar dois pesos e duas medidas. Porque todos lamentam só o 11 de setembro e não o que aconteceu na Bósnia?

A Bósnia respira conflitos, e foi ali que se iniciou a primeira guerra mundial, apos o assassinato do Franz Ferdinand (não a banda!) herdeiro do império Austro-Húngaro, a guerra foi declarada contra a Servia e a partir dai as alianças da WWI foram se formando. No exato local do disparo fizeram um pequeno museu a respeito da época Austro-Hungara de Sarajevo. Caminhamos bastante pela cidade, que e relativamente pequena. A rotina de sorvete e o prato tipico que parece um pão com linguiça e cebola estava incorporada ao nosso dia a dia.

Nosso próximo destino ficava na parte Herzegovina do pais. Fomos de trem, pelas belas e muito verdes montanhas. O trem e cedo, mas vale o esfôrço de sair da cama ao amanhecer. São curvas e tuneis intermináveis  numa super paisagem ate chegar em Mostar. A cidade ficou famosa por uma bonita ponte, que foi destruída nos conflitos, dividindo a cidade entre Bósnios-Croatas e Bósnios-Muçulmanos (eles lutaram lado a lado no inicio da guerra contra os Bósnios-Sérvios, mas depois acabaram guerreando entre si). Cada um para um lado da cidade. Se por acaso estivesse do lado errado, azar o teu, ficaria assim por anos, ate o conflito acabar. A cidade foi posta ao chão, mas assim como a ponte, foi reconstruída. O turismo (a proximidade com a Croácia facilita) tem trazido dinheiro para a região, mas o assunto da guerra ainda e um tabu. Novamente obtivemos poucas respostas para nossas perguntas.

Cidade e bem pequena, com um bairro antigo legal, mas muitas lojinhas e muita gente. O calor tava grande e fomos tomar banho de rio (que e gelado!) bem próximo a ponte histórica. Ha, não preciso nem falar que conseguimos uma casa super legal, né?! Caminhamos só mais pelo final de tarde, quando o sol já estava mais fraco. Apesar da altura, alguns locais pulam da ponte em troco de algumas moedas. Jantamos de frente para o rio, tentando entender muita coisa que aconteceu ali, mas como nos falaram, só quem estava ali para saber, pois por mais detalhes que se tenha, e impossível de imaginar.

A destruição da ponte na foi só física, mas simbólica. Que a reconstrução também seja!

Mostar

Nosso ônibus era de Mostar para Split-Croácia, mas parou uma hora em Medugorje, um pouco mais ao sul. Cidade de grande peregrinação cristã, pois supostamente Nossa Senhora apareceu para algumas crianças ali nos anos 80. Assim como nas cidades de Lourdes e Fátima, a Igreja Católica ainda não confirma a aparição. Os fieis só aumentaram com a guerra, pois mesmo estando na área de conflito, a região foi surpreendentemente muito pouco afetada.

Na fronteira com a Croácia foi rapidinho e logo estávamos passando por lagos no meio de montanhas ate chegar no famoso litoral croata. A estrada ia beirando o mar, num relevo todo recortado ate chegarmos a Split. Rodoviária, estação de trem e porto são todos juntos. Desistimos de passar a noite ali ao ver o calor, a muvuca e os preços não muito amigáveis. Tinha alguns nomes de ilhas, mas o planejamento final ainda estava para ser feito.

A Croácia e a sensação do verão europeu. Escutamos de varias pessoas que a Grécia e coisa do seculo passado, que já faz 10 anos que todo mundo só quer vir para a Croácia (imaginem com a crise e os protestos atuais da Grécia). Deu para perceber, tava tudo lotado, ferry cheios (principalmente italianos), cartazes de festas. O barco que passa em diversas ilhas durante uma semana estava descartado. Queríamos achar um lugar sossegado, então foi fácil descobrir as ilhas que não iriamos – as das festas e Djs. Algumas horas navegando entre as ilha croatas, já anoitecia quando chegamos a Korcula. Tínhamos ouvido falar bem da ilha, mas ainda não tinha a paz que buscávamos. Tinham me recomendado duas ilhas mais afastadas, bem para dentro do Mar Adriático. O mesmo barco estava indo para uma delas, Lastovo (a outra era Bisevo), e ao confirmarmos as informações sobre a ilha com um jovem casal italiano, seguimos viagem. O tempo passou rápido pois fomos conversando com o casal, que ate tentou arranjar uma casa com a pessoa que tinha alugado para eles. Não deu certo, mas na frente do porto tinha um centro de informação, que com um telefonema arranjou um apartamento de frente para o mar, e com um precinho especial! Trocamos contatos com os italianos e depois de jantar, fomos dormir sem colocar despertador para o dia seguinte!

Nos surpreendemos ainda mais no dia seguinte, quando pudemos desfrutar da vista do lugar! Fantástico! Na frente da onde estávamos não tinha praia, só uma “lage” com as pedras e aquele mar azul. Aproveitamos bastante ali, e não tínhamos horário para nada. Um dia fui caminhar para uma vila ali perto, onde já tinha um movimento um pouco maior, mas que mesmo assim se restringia a umas casas, um hotel e uma duzia de barcos. Um final de tarde incrível, e com o sol se pondo na frente da nossa janela. Caminhamos também para o outro lado, onde tem uma enseada calma, no final de uma pequena trilha. Encontramos com os italianos para um happy hour com o sol se pondo e combinamos de passear um dia. Fomos no ponto mais alto da ilha, com vista para toda a região e ilhas. Passamos por enseadas tao fechadas que ate pareciam lagos. Todas elas tem pelo menos um barco a velas. Íamos parando e mergulhando, gastando mais tempo nas que gostávamos mais. A noite resolvemos fazer um peixe na grelha e camarão com macarrão e a festa foi ate tarde. Estávamos de ferias, e nossa maior preocupação do dia a dia era ir ate o mercado para comprar alguma coisa para comer. O tempo ia passando devagar, cada dia íamos para uma praia diferente, mergulhávamos das pedras, caminhávamos e o tempo foi passando. Nos despedimos dos nossos amigos italianos, e nos incomodávamos com o fato de que a viagem estava no final. Algumas vezes quando caminhava vinha o filme da viagem na cabeça, e pensava, “porque voltar”?! Conversamos um pouco sobre o assunto também. Por mais que tentássemos curtir o presente, a proximidade da data nos atrapalhava.

Vista do quarto, da varanda ainda tinha outra!

Ok, acho que deu para ter uma ideia da “nossa” ilha..!

Bibi com barquinho que alugamos!! hehe

Ficamos muito contentes com a nossa ilha. Era bem o que buscávamos. Alugamos uma scooter e percorremos as poucas estradas que existem lá. Bahias e lagoas azuis, muitas delas desertas. O que é a paisagem da Croácia…

Nossa ida para Dubrovnik não foi tao simples como imaginávamos, pois não tinha ferry direto para la. Tivemos que ir para Vela Luka, esperar os poucos ônibus e muitas curvas ate Korcula, atravessar de ferry até Orebic e seguir pela península, e bonita costa toda recortada ate Dubrovnik. Mesmo a viagem não sendo curta, o corredor do ônibus estava lotado de pessoas viajando a pé. Na rodoviária tinham varias pessoas oferecendo quartos, mas logo vimos que muitos deles eram bem afastados. Conseguimos um num casarão antigo, muito gostoso e com o quarto todo reformado. Estrategicamente entre a cidade velha e o ferry que pegaríamos para ir para a Itália. Temos visto muitas cidades velhas, mas Dubrovnik e muito linda! Murada, na beira do mar, realmente impressionante. Ainda tivemos a sorte de ser lua cheia na segunda noite que fomos la. Andamos pelas ruazinhas meio que sem direção, tomamos sorvetes para aliviar o calor e curtimos uma musica ao vivo. O lugar tava cheio de gente, mas lotado mesmo. Tava tendo um festival de verão, com atrações, musica e programações diferentes. Fomos numa exposição fotográfica chamada War Photo Limited  (  http://www.warphotoltd.com/ ), que achávamos ser sobre a guerra dos Balcãs. Na verdade também era, tinha uma cobertura super boa sobre os tristes eventos da região (Servia X Bósnia e Croácia, MacedôniaXAlbania…), mas era ainda mais completa. Tinham bonitas e horríveis fotos sobre Paquistão, Afeganistão, Iraque, Líbano X Israel, Palestina X Israel, Sudão, Serra Leoa, Uganda (e outros lugares com crianças soldados), Maoistas da Índia, tudo com as informações dos pontos de vista dos fotojornalistas que acompanharam estes eventos. Muito impressionante e chocante.

Lua cheia em Dubrovnik

Mais alguns cafés, cervejas e restaurantes e estávamos nos despedindo de Dubrovnik. Embarcamos no ferry para Bari, na Itália, e a oficial da imigração fez até piada com o passaporte da Bibi, que já ta com todas as folhas lotadas (eu fiz um novo na Malásia), e tem que procurar lugar para estampar. Ficamos no deck, alem de mais barato, as cabines já estavam lotadas mesmo. A Bibi capotou no chão, entre um banco e uma mesa, só com um cobertor e lençol, e eu tive que acorda-la na hora que chegamos. O que um bom tempo de viagem não faz!!!haha. Eu acordei um pouco antes, com o nascer do sol, e fiquei tomando um cafe e olhando nossa lenta aproximação até a Itália!!

Confortável!

Vales, Monasterios, Castelos e muita tradição!

O bacana de viajar no Oriente Médio e que foge daquela imagem inicial que temos da região. Claro que ha desertos, beduínos, calor, mas existem muitas outras opções. Vales verdes da Jordânia, montanhas de Israel, estacoes de esqui, montanhas do Líbano, castelos, monastérios cristãos. Alias, o presidente do Líbano e sempre cristão maronita, o primeiro ministro e um muçulmano sunita, o porta vós do parlamente um muçulmano xiita, o chefe das forcas armadas druze (muçulmano que acredita que houve um outro profeta depois de Maomé), cristãos gregos ortodoxos também tem posições fixas de destaque. Viva a diversidade religiosa!!

Escolhemos Becharre como o nosso destino de montanha no Líbano, e não nos arrependemos. Pela estrada já víamos as pequenas vilas na beira do cânion, e a beleza das montanhas. O único ponto baixo é que os cedros, arvore simbolo do pais, já não são mais tao abundantes. Ficamos numa guest house bem com cara de casa, só com dois ou três quartos para alugar. Nos integramos rápido com os donos e pessoal que tava por ali. A região e centro do cristianismo (principalmente da ordem Maronita) no Líbano, e existem capelas e santos por todos os lados. Aqui e também a cidade onde o poeta e pintor Kalil Gibran viveu. Visitamos sua casa e um museu bacana que expõem algumas de suas obras. Lugar calmo, com uma temperatura amena, e estaca-o de esqui no inverno. O Cânion Qadisha, patrimônio da Unesco, logo abaixo de onde estávamos e muito bonito. Pegamos carona ate uma ponta, caminhamos cânion abaixo e seguimos a trilha. Muito verde, barulho de água e pássaros, numa paz excepcional.

Vista de Bcharre

Vales verdes

Cidades na beira do canion

No caminho alguns monastérios antiquíssimos, onde os cristãos da antiguidade se refugiavam. Não íamos conseguir voltar até o hotel antes de escurecer então pegamos carona de volta. No outro dia percorremos o cânion no sentido contrario, para conhecer toda a região. Vimos jogo do Brasil num restaurante com telão e torcida local com bandeiras, buzina e camisas. Muito legal! De la ainda passamos por Tripoli antes de seguir para a fronteira com a Síria na parte norte. No Líbano existem belas ruínas romanas, mas depois de uma viagem longa, vendo muitas delas, passam a parecer muito iguais.
Já na Síria, passamos por Homs, mas resolvemos ficar mesmo em Hama. Cidade muito simpática, com dezenas de norias, rodas de água (que são funcionais) por toda a cidade. Passamos um final de tarde muito gostoso la, numa praça, onde os locais faziam piquenique, crianças andavam de camelos e jovens passeavam. Mulheres todas de cabeça coberta com scarfs, ainda mais que em Damasco. Sentamos num banco e não demorou para aparecer um jovem estudante que ficou conversando um tempão conosco.

Norias- Rodas d’gua em Hama

Esta região possuí muitos castelos da época das cruzadas, e mesmo já estando meio cansados deles, fomos conferir. O Crac des Chevaliers e muito bonito e imponente. Grande. Muito grande, provavelmente o maior e mais bem conservado de todos os que ainda existem. Labirintos, escadas, muitos corredores. Dentro estão vazios, mas de fora a vista e impressionante, assim como de cima, pois estão sempre no topo de montanhas. Visitamos também o monastério ortodoxo de São Jorge, que contem duas antigas igrejas e belas pinturas. Conhecemos um casal romeno e acabamos indo juntos ate Alepoo, segunda maior cidade da Síria. Na hora de pegar o ônibus, pediram meu passaporte, e de dentro caiu uma moeda de Israel, que deveria estar no porta documentos. Sorte não ter sido na fronteira, pois dai teríamos problemas.

Crac des Chevaliers

Alepoo e uma cidade grande, mas e muito tradicional. Possui souqs gigantescos, que parecem labirintos. Grandes mesquitas e um bairro cristão. Aqui também já foi área de grande presença de judeus, e algumas sinagogas estão preservadas. Nesta região que grande parte dos armênios massacrados pelos turcos viviam, num dos maiores genocídios da historia. Escutamos historias horríveis, de mulheres estupradas antes de serem mortas, crianças enterradas vivas, dentre outras crueldades. Um povo que ajudou bastante os armênios foram os Kurdos, estes que também são tratados como minorias nestes países da região. Os curdos vivem no leste da Turquia, Síria, Irã, Iraque, e são mais de 60 milhões, mas não tiveram direito a terra na época da divisão da região. Já sonharam muito e lutaram pela independência do que seria chamado Curdistão.
Existe uma bela citadela no topo de uma montanha, de onde pode se ver toda a cidade. Existem cafés gostosos ali e conversamos com um casal de noivos, que estavam acompanhados pela mãe do noivo, irma e futura cunhada. As vezes elas saiam para dar uma volta para deixar os dois sozinhos. Uma praça estava especialmente cheia na sexta-feira, feriado muçulmano (o domingo deles). Caminhávamos por ali, e viramos atracão. Dezenas de pessoas, crianças passavam para falar com a gente, apertar nossa mão ou tirar fotos. Crianças com bandeiras da Síria e Brasil pintadas nos seus rostos nos faziam se sentir em casa. Uma hora ate um policial pediu para não darmos tanta atenção para o pessoal pois tava virando tumulto. Um final de tarde magico.

Torcida pelo Brasil!!

Citatela de Alepoo

Um dia a Bibi foi experimentar o banho sírio, e eu aproveitei para explorar mais os souqs. Conversei com bastante gente, e eles adoravam quando eu falava que não estava em nenhum grupo, pois assim podiam falar comigo. Conheci um pessoal na frente do lugar que a Bibi tava e fiquei tomando chá com eles. A Bibi se juntou a nos, assim como muitos amigos e familiares deles. Não deva para sair, nos levantávamos mas eles insistiam e acabamos ficando por horas. Discutimos diversos assuntos, e chegou ate um amigo deles que e “orador” na mesquita e “leu” (e praticamente um canto) alguns trechos do Al Corão para nos. Pedi alguns trechos que conheço alem de outros que citam Jesus. Pessoal muito gente boa e o pai de um deles muito interessado no Brasil. Falaram que a popularidade do presidente Assad (o filho), e ainda melhor que a do Lula no Brasil, chegando a 90% !!! (estranho, não?!Ainda mais com tantas fotos dele espalhadas, típicos de uma ditadura )

Vista panorâmica

Intermináveis Souqs

O bairro cristão tem uma aparência um pouco diferente, e para entender bem e preciso entrar nas construções. De fora parece só uma rua estreita com paredes altas, mas dentro se escondem casarões antigos. Muitos estão se transformando em restaurantes e hotéis. Escolhemos um deles para sentar, fugir do sol e ficar batendo papo curtindo o lugar. Começamos a conversar com um senhor que cuidava de uma Igreja Ortodoxa, e aproveitamos para tirar varias duvidas da religião e historia do local. A conversa se prorrogou e ele acabou nos mostrando algumas áreas da Igreja que não são de livre acesso, alem de nos presentear com incenso, velas e cartões postais. Nos mostrou uma Bíblia super antiga, escrita em árabe  é claro.

Bíblia em árabe

Atras dos muros altos tem casaroes, restaurantes, hoteis

Nosso hotel era super gostoso, quarto espaçoso com uma super sacada, e adoramos conversar com o “gerente” de la. Nossos cafés da manha sempre eram longos escutando suas piadas de beduínos (estilo nossas piadas de português) ou conversando com pessoas interessantes que encontrávamos. Ele adorava contar de como era difícil para ele, pobre, arranjar uma mulher. Falava empolgado, brincando, que ia nas sorveterias para ver as mulheres levantarem o véu para chupar o sorvete e ver o rosto delas.
Um dia pedimos informação sobre uma internet para um senhor. Ele apontou uma, mas depois nos levou ate uma outra, que era mais barata. Caminhou umas sete ou oito quadras para nos levar até lá, a troco de nada. Esta e só uma historia, que ajudou a formular a impressão que tivemos do povo da Síria. Lembro quando uma noite a Bibi me perguntou como faríamos com a lista dos 5 povos mais legais. Realmente é complicado, pois não cabe. Sugeri formularmos uma lista top 10!!!