Pela (ex)Iugoslavia.

Lá na Bósnia! Quem já não usou esta expressão para se referir a algo que esta muito longe? Virou referencia para a faculdade que era longe, o trabalho ou o lugar que alguém morava. A gíria surgiu nos anos 90, quando teve a guerra na região.  Não tínhamos muita informação (ou não buscávamos , eram questões complicadas que poucos tentavam esclarecer ou entender. Pareciam ser coisas terríveis,  genocídio, campo de concentração (a poucos anos do seculo 21!), mas tudo parecia estar muito distante, lá na Bósnia…

Mapa da Ex-Iugoslavia

De Kotor fomos acompanhando a magnifica bahia e algum tempo depois estávamos na imigração.  O oficial da Bósnia-Herzegovina recolheu passaportes de todos e ao olhar o meu me pediu o visto. Eu falei que não precisava, e ele mandou eu o acompanhar. Já devia ser mais de meia noite, e só me faltava dar algum problema. Ele foi ate uma salinha, e me mandou esperar do lado de fora. Depois de um tempo voltou e me mandou para o ônibus.  Os passaportes foram distribuídos novamente quando chamaram o “brasila” para ajudar a identificar os dados no meu passaporte. Ufa, deu tudo certo!

Muitas curvas e dava para ver um pouco de mato no meio da escuridão da estrada. Tinham bancos sobrando e deu para se esticar para dormir. Chegamos quase de manha na rodoviária  que e longe do centro de Sarajevo. Não tivemos outra opção a não ser pegar um táxi. Uma discussão quando nos levaram num albergue onde estavam indo os noruegueses, e o lembrei de que o acordo era outro. Quando nos afastávamos do centro velho, resolvemos mudar de ideia – para desespero do motorista- e pedimos para nos deixar no centro que nos viraríamos  Muita gente deve achar loucura ir procurar lugar para ficar as seis da manha. Ok, concordo que os quinze minutos de caminhada foram perrengue, mas se vissem o quarto que achamos (sorte ou faro?) qualquer um ia querer trocar seu hotel ou albergue por ele!! Muito show, uma casa antiga 4 quadras do centrinho, quarto gigante, tudo limpo, muito bacana.

Ja na nossa chegada nos encantamos por Sarajevo. Que cidade bonita, que estilo (mistura de prédios Otomanos e Austro-Hungaros só podia sair algo único!). Difícil imaginar que 15 anos atrás estava em ruínas. A guerra foi feia por aqui, e a cidade ficou sob estado de sitio por quase 3 anos. Um gigantesco túnel foi cavado para que alimento e água pudesse chegar a cidade, pessoas saíssem e soldados se movimentarem. Muita coisa já foi reconstruída, mas os buracos de bala em muitos prédios mostram que as feridas dentro das pessoas ainda estão abertas, muito abertas.

Podem reconstruir, mas marcas vão ficar…

Sarajevo já foi chamada de Jerusalém da Europa, por ter as três religiões monoteístas bem representadas ali. Cristãos Ortodoxos e Católicos, Muçulmanos e Judeus. Os Judeus foram acolhidos quando esta região ainda fazia parte do Império Otomano, e haviam sido expulsos dos reinados cristãos de Portugal e Espanha. Viveram pacificamente com as outras crenças ate a segunda guerra mundial, quando fascistas croatas passaram a persegui-los, e com o domínio da Alemanha tudo se desandou, e vocês sabem a triste historia. Hoje existe uma pequena comunidade judaica, mas muito reduzida considerando o tamanho que já foi. Andamos pelo antigo bairro judeu, sinagogas, que ficam quase ao lado das Igrejas e Mesquitas. Alias as mesquitas são a maioria, e os minaretes dão todo um charme para o lugar. O centro velho e formado por calçadões, lotados de cafés, restaurantes e lojas. Em muitas paredes a foto do Tito, ex-líder da Iugoslávia, era exposta com orgulho e saudosismo, mostrando que assim como nos outros países da região, ele e muito querido. A continuação da Ferhadija, um dos principais calçadões, e a Tita, onde já iniciam as lojas e cafés mais moderninhos. Tava muito movimentado, cheio de turista (até demais), cidade muito viva. Mas algumas cenas nos chocavam. Num entardecer vimos algo refletir no topo das colinas verdes ao redor da cidade, e ao repararmos melhor, eram varias criptas! Tudo virou cemitério. Qualquer metro quadrado serviu para enterrar alguém. No centro, em uma praça publica, crianças jogavam bola entre as tumbas. Inacreditável!  Incompreensível!!

Cristãos

Judeus

Muçulmanos

Que a nova geração seja mais tolerante!

Sarajevo sempre foi uma cidade pobre, estava tentando se erguer, inclusive com os jogos olímpicos de inverno de ’84, mas ai tudo se desandou de vez nos anos 90. Agora, finalmente parece ter achado seu caminho, mas as marcas continuam. Estávamos ali no primeiro dia de Ramadam. Fomos a uma mesquita no anoitecer, para ver o final do jejum diário, e acabamos ganhando doces também. ( A Bibi escreveu um artigo muito legal sobre o Islamismo.  http://tambemsai.wordpress.com/2010/07/10/compreendendo-o-islamismo/ )

Todos estes povos que lutaram na guerra civil, Bósnios-sérvios (cristãos ortodoxos); Bósnios-Croatas (cristãos católicos) e Bósnios-Muçulmanos são da mesma “raca”, os Eslavos. Portanto esta historia de limpeza étnica quando os sérvios mataram os muçulmanos e a maior balela! Foi uma guerra ou politica ou religiosa, com cristãos massacrando muçulmanos em plenos anos 90, inclusive com campos de concentração!  Se um louco muçulmano mata gente por algum motivo e por causa da religião,  mas se e um cristão, sempre tem que inventar outro motivo. Não estou defendendo que todas são guerras religiosas, muito pelo contrario, mas não se pode usar dois pesos e duas medidas. Porque todos lamentam só o 11 de setembro e não o que aconteceu na Bósnia?

A Bósnia respira conflitos, e foi ali que se iniciou a primeira guerra mundial, apos o assassinato do Franz Ferdinand (não a banda!) herdeiro do império Austro-Húngaro, a guerra foi declarada contra a Servia e a partir dai as alianças da WWI foram se formando. No exato local do disparo fizeram um pequeno museu a respeito da época Austro-Hungara de Sarajevo. Caminhamos bastante pela cidade, que e relativamente pequena. A rotina de sorvete e o prato tipico que parece um pão com linguiça e cebola estava incorporada ao nosso dia a dia.

Nosso próximo destino ficava na parte Herzegovina do pais. Fomos de trem, pelas belas e muito verdes montanhas. O trem e cedo, mas vale o esfôrço de sair da cama ao amanhecer. São curvas e tuneis intermináveis  numa super paisagem ate chegar em Mostar. A cidade ficou famosa por uma bonita ponte, que foi destruída nos conflitos, dividindo a cidade entre Bósnios-Croatas e Bósnios-Muçulmanos (eles lutaram lado a lado no inicio da guerra contra os Bósnios-Sérvios, mas depois acabaram guerreando entre si). Cada um para um lado da cidade. Se por acaso estivesse do lado errado, azar o teu, ficaria assim por anos, ate o conflito acabar. A cidade foi posta ao chão, mas assim como a ponte, foi reconstruída. O turismo (a proximidade com a Croácia facilita) tem trazido dinheiro para a região, mas o assunto da guerra ainda e um tabu. Novamente obtivemos poucas respostas para nossas perguntas.

Cidade e bem pequena, com um bairro antigo legal, mas muitas lojinhas e muita gente. O calor tava grande e fomos tomar banho de rio (que e gelado!) bem próximo a ponte histórica. Ha, não preciso nem falar que conseguimos uma casa super legal, né?! Caminhamos só mais pelo final de tarde, quando o sol já estava mais fraco. Apesar da altura, alguns locais pulam da ponte em troco de algumas moedas. Jantamos de frente para o rio, tentando entender muita coisa que aconteceu ali, mas como nos falaram, só quem estava ali para saber, pois por mais detalhes que se tenha, e impossível de imaginar.

A destruição da ponte na foi só física, mas simbólica. Que a reconstrução também seja!

Mostar

Nosso ônibus era de Mostar para Split-Croácia, mas parou uma hora em Medugorje, um pouco mais ao sul. Cidade de grande peregrinação cristã, pois supostamente Nossa Senhora apareceu para algumas crianças ali nos anos 80. Assim como nas cidades de Lourdes e Fátima, a Igreja Católica ainda não confirma a aparição. Os fieis só aumentaram com a guerra, pois mesmo estando na área de conflito, a região foi surpreendentemente muito pouco afetada.

Na fronteira com a Croácia foi rapidinho e logo estávamos passando por lagos no meio de montanhas ate chegar no famoso litoral croata. A estrada ia beirando o mar, num relevo todo recortado ate chegarmos a Split. Rodoviária, estação de trem e porto são todos juntos. Desistimos de passar a noite ali ao ver o calor, a muvuca e os preços não muito amigáveis. Tinha alguns nomes de ilhas, mas o planejamento final ainda estava para ser feito.

A Croácia e a sensação do verão europeu. Escutamos de varias pessoas que a Grécia e coisa do seculo passado, que já faz 10 anos que todo mundo só quer vir para a Croácia (imaginem com a crise e os protestos atuais da Grécia). Deu para perceber, tava tudo lotado, ferry cheios (principalmente italianos), cartazes de festas. O barco que passa em diversas ilhas durante uma semana estava descartado. Queríamos achar um lugar sossegado, então foi fácil descobrir as ilhas que não iriamos – as das festas e Djs. Algumas horas navegando entre as ilha croatas, já anoitecia quando chegamos a Korcula. Tínhamos ouvido falar bem da ilha, mas ainda não tinha a paz que buscávamos. Tinham me recomendado duas ilhas mais afastadas, bem para dentro do Mar Adriático. O mesmo barco estava indo para uma delas, Lastovo (a outra era Bisevo), e ao confirmarmos as informações sobre a ilha com um jovem casal italiano, seguimos viagem. O tempo passou rápido pois fomos conversando com o casal, que ate tentou arranjar uma casa com a pessoa que tinha alugado para eles. Não deu certo, mas na frente do porto tinha um centro de informação, que com um telefonema arranjou um apartamento de frente para o mar, e com um precinho especial! Trocamos contatos com os italianos e depois de jantar, fomos dormir sem colocar despertador para o dia seguinte!

Nos surpreendemos ainda mais no dia seguinte, quando pudemos desfrutar da vista do lugar! Fantástico! Na frente da onde estávamos não tinha praia, só uma “lage” com as pedras e aquele mar azul. Aproveitamos bastante ali, e não tínhamos horário para nada. Um dia fui caminhar para uma vila ali perto, onde já tinha um movimento um pouco maior, mas que mesmo assim se restringia a umas casas, um hotel e uma duzia de barcos. Um final de tarde incrível, e com o sol se pondo na frente da nossa janela. Caminhamos também para o outro lado, onde tem uma enseada calma, no final de uma pequena trilha. Encontramos com os italianos para um happy hour com o sol se pondo e combinamos de passear um dia. Fomos no ponto mais alto da ilha, com vista para toda a região e ilhas. Passamos por enseadas tao fechadas que ate pareciam lagos. Todas elas tem pelo menos um barco a velas. Íamos parando e mergulhando, gastando mais tempo nas que gostávamos mais. A noite resolvemos fazer um peixe na grelha e camarão com macarrão e a festa foi ate tarde. Estávamos de ferias, e nossa maior preocupação do dia a dia era ir ate o mercado para comprar alguma coisa para comer. O tempo ia passando devagar, cada dia íamos para uma praia diferente, mergulhávamos das pedras, caminhávamos e o tempo foi passando. Nos despedimos dos nossos amigos italianos, e nos incomodávamos com o fato de que a viagem estava no final. Algumas vezes quando caminhava vinha o filme da viagem na cabeça, e pensava, “porque voltar”?! Conversamos um pouco sobre o assunto também. Por mais que tentássemos curtir o presente, a proximidade da data nos atrapalhava.

Vista do quarto, da varanda ainda tinha outra!

Ok, acho que deu para ter uma ideia da “nossa” ilha..!

Bibi com barquinho que alugamos!! hehe

Ficamos muito contentes com a nossa ilha. Era bem o que buscávamos. Alugamos uma scooter e percorremos as poucas estradas que existem lá. Bahias e lagoas azuis, muitas delas desertas. O que é a paisagem da Croácia…

Nossa ida para Dubrovnik não foi tao simples como imaginávamos, pois não tinha ferry direto para la. Tivemos que ir para Vela Luka, esperar os poucos ônibus e muitas curvas ate Korcula, atravessar de ferry até Orebic e seguir pela península, e bonita costa toda recortada ate Dubrovnik. Mesmo a viagem não sendo curta, o corredor do ônibus estava lotado de pessoas viajando a pé. Na rodoviária tinham varias pessoas oferecendo quartos, mas logo vimos que muitos deles eram bem afastados. Conseguimos um num casarão antigo, muito gostoso e com o quarto todo reformado. Estrategicamente entre a cidade velha e o ferry que pegaríamos para ir para a Itália. Temos visto muitas cidades velhas, mas Dubrovnik e muito linda! Murada, na beira do mar, realmente impressionante. Ainda tivemos a sorte de ser lua cheia na segunda noite que fomos la. Andamos pelas ruazinhas meio que sem direção, tomamos sorvetes para aliviar o calor e curtimos uma musica ao vivo. O lugar tava cheio de gente, mas lotado mesmo. Tava tendo um festival de verão, com atrações, musica e programações diferentes. Fomos numa exposição fotográfica chamada War Photo Limited  (  http://www.warphotoltd.com/ ), que achávamos ser sobre a guerra dos Balcãs. Na verdade também era, tinha uma cobertura super boa sobre os tristes eventos da região (Servia X Bósnia e Croácia, MacedôniaXAlbania…), mas era ainda mais completa. Tinham bonitas e horríveis fotos sobre Paquistão, Afeganistão, Iraque, Líbano X Israel, Palestina X Israel, Sudão, Serra Leoa, Uganda (e outros lugares com crianças soldados), Maoistas da Índia, tudo com as informações dos pontos de vista dos fotojornalistas que acompanharam estes eventos. Muito impressionante e chocante.

Lua cheia em Dubrovnik

Mais alguns cafés, cervejas e restaurantes e estávamos nos despedindo de Dubrovnik. Embarcamos no ferry para Bari, na Itália, e a oficial da imigração fez até piada com o passaporte da Bibi, que já ta com todas as folhas lotadas (eu fiz um novo na Malásia), e tem que procurar lugar para estampar. Ficamos no deck, alem de mais barato, as cabines já estavam lotadas mesmo. A Bibi capotou no chão, entre um banco e uma mesa, só com um cobertor e lençol, e eu tive que acorda-la na hora que chegamos. O que um bom tempo de viagem não faz!!!haha. Eu acordei um pouco antes, com o nascer do sol, e fiquei tomando um cafe e olhando nossa lenta aproximação até a Itália!!

Confortável!

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Atras da cortina de ferro

A minha geração talvez tenha sido a ultima a aprender conceitos de primeiro mundo, comunismo e terceiro mundo no ginásio. Hoje os países são desenvolvidos ou em desenvolvimento. A maior parte dos países que passamos seriam considerados de “terceiro mundo” naquela época. Entrando pelo Leste Europeu, estaríamos experimentando algo diferente (ok passamos por países comunistas e ex-comunistas antes), mas seria o grande exemplo do “segundo mundo”. E, mas chegamos uns 20 anos mais tarde. A Bulgária já faz parte da União Europeia, mostrando que muitas mudanças já aconteceram por ali. Sim, muitas mudanças ocorreram, mas ainda e muito diferente da Europa Ocidental. A imigração e feita no trem, com oficiais com lap top, e nem precisa se preocupar com corrupção ou visto, mas sabe aquelas velhinhas que ficavam esperando o pessoal chegar na estacão de trem para oferecer um quarto baratinho? Pois e, elas ainda estão por ali, e por 5 euros se consegue uma cama num quarto particular. Foi assim nossa chegada em Plovdiv. Se a principio a arquitetura e a população em geral dava uma cara mais de Europa, com o tempo observamos que o desenvolvimento da Bulgária deixava um pouco a desejar, e questionei os critérios da UE, pois a Turquia parecia ser bem mais desenvolvida, pelo menos aparentemente. E um dos países com a maior quantidade de ciganos da Europa, e vivem como uma minoria. Plovdiv e uma cidade universitária, a segunda maior cidade da Bulgária. Possui uma bela cidade antiga no topo das colinas, e um calcadão com restaurantes e cafés onde e fácil se perder no tempo. A senhora que nos hospedou lavou algumas roupas, costurou, enquanto curtimos restaurantes, cafés, sorvetes a preços mais baratos que no Brasil.

Plovdiv

Já em Sofia resolvemos fazer couchsurfing. O Stefan foi nos buscar na rodoviária e nos levou na casa da Gerie, amiga dele onde ficaríamos. Ela esta reformando o apartamento para transformar num B&B, e esta quase pronto. Fica naqueles blocos de apartamento bem no estilo comunista. Para o centro da cidade são poucas estacoes no velho trem, que já tem um leitor digital de cartões, mas o furador antigo dos bilhetes de papel ainda funciona. No centro as largas avenidas arborizadas se transformaram. Hoje alem dos trens muita gente anda de bicicleta, a pé, e ainda tem espaço para cafés e restaurantes ate chegar na calcada. Mc Donalds, lojas e muito consumismo se misturam aos grandes e esquisitos prédios da era comunista. A cidade estava relativamente vazia, pois no verão muitos vão para as praias do Mar Negro. Cheio estavam os parques e praças, com o pessoal bebendo cerveja de dois litros e meio em garrafas plasticas, e foi assim que terminamos o nosso primeiro dia, depois de muitas andanças. Se em alguns lugares da Africa uma coca-cola era mais barata que água mineral, aqui a cerveja era mais barata que refrigerante! A Bulgária já foi um reino de grande importância. Na época que a Europa estava praticamente dividida entre Impérios Romano e Bizantino ela já estava la, firme e forte. Existem diversas igrejas ortodoxas, algumas muito impressionantes (são independentes, não ligada aos gregos ortodoxos). A cidade e relativamente pequena, aconchegante, e outras vezes nos vimos em praças e parques escutando musica ao vivo.

Em conversa com o nosso anfitrião, decidimos não ir no famoso monastério Rila pois, devido as férias, estaria muito cheio de gente. Optamos por ir de carro ate as montanhas dos Bálcãs, e conhecer vilas e estradas do interior, alem de monastérios menores. Paramos para tomar banho de rio, comer comidas tipicas, e no bonito monastério dos Sete Altares a Bibi já queria ficar para passar a noite. Mas acabamos indo até o monastério de São Jorge, que fica no topo de uma montanha, com uma vista muito legal. O monge que cuida de la e meio maluco, mas nos tratou bem, apesar de ter nos acordado no meio da noite com suas cantorias, depois de tanto vinho. O monastério e do seculo 13, muito bonito, com seus telhados de pedra. A vista do nosso quarto dava direto para as montanhas verdes. Alias, como vimos verde na Bulgária. Entrou uma frente fria durante a noite, mas não impediu que fosse fazer trilha ate uma caverna que não fica muito longe. O lugar e cheio de historias e lendas, e um túnel de alguns quilômetros liga o monastério ate a vila que fica lá em baixo nos pés da montanha. Quando voltamos para Sofia, não tínhamos nosso plano do próximo destino muito certo, mas sabíamos que teríamos que decidir isto num dos parques da cidade, comendo as mega fatias de pizza que eles tem.

Monastério Ortodoxo

Carona ate a Macedônia, ônibus pela rota sul perto da Grécia, uma parada no monastério de Rila, as opções eram muitas. O Stefan gosta de viajar, já veio do Japão ate a Europa de carro (com uma maquina de lavar no porta malas!), e quando viu que o preço do ônibus daria para ele dirigir ate a Macedônia (o carro dele e a gás), se ofereceu para nos levar, e a Garie topou na hora em ir junto. Somente poucos metros antes da bifurcação da estrada e que decidimos qual o caminho que seguiríamos. Optamos por ir para Skopje, capital da Macedônia, para ir em alguns lugares no norte do pais, mesmo parte da estrada não sendo tao bonita quanto a outra. A principal estrada entre os dois países, de pista simples e sem acostamento, fez esquecer que estávamos na Europa. Entrando na Macedônia, com campos verdes, pastores de ovelhas com montanhas ao fundo (do outro lado, a 20km, fica Kosovo), e carros Yugo, foi possível imaginar como era a Iugoslávia. Mais para a frente veio uma “auto estrada” com pedágio, mas que não nos cobraram por não termos a moeda local. A Macedônia é um país novo. Por mais que queiram que associemos a Macedônia dos tempos Bíblicos, ou do Alexandre o Grande, ela não e bem esta. Aquela Macedônia podia englobar todas estas terras, mas politicamente era a Grécia, e por isto os Gregos não ficaram nem um pouco felizes com a criação da Macedônia após se separarem da Iugoslávia. Tínhamos ouvido falar mal de Skopje, e não sei se e porque a expectativa era baixa, mas acabamos gostando. O centro e estranho, com um calcadão de pedestres, prédios comunistas misturados com cafés e um prédio moderno coberto com neon azul. A frente a ponte de pedra que leva para o forte e o antigo mercado Otomano, onde hoje fica a minoria Albanesa da Macedônia. Alias, a Madre Teresa de Calcuta não e de Calcuta, mas de Skopje (na verdade e nascida em Kosovo). Não era tao tarde, mas as ruas estreitas estavam vazias e restaurantes e lojas fechadas. Acho que no verão o pessoal não gosta muito de cidade. Como nos também preferimos lugares menores, já cedo fomos para o Lago Mataka, que não fica muito longe dali. E um lago formado por uma pequena hidroelétrica. No inicio tem bastante concreto, mas passando a represa o rio e transparente, refletindo as montanhas e todo o verde que tem ao redor. A trilha e beirando a rocha cortada, e tem ate cordas em alguns pontos para ajudar. Caminhamos bastante e aproveitamos o lugar, conhecemos a antiga Igreja ortodoxa de St Andre, com pinturas muito bacanas em todas as paredes. Para o almoço fomos ate outro monastério, com bonitos jardins, aos pés das montanhas.

Yugo!

Skopje

Lago Mataka

O Stefan e a Gerie tinham que votar para a Bulgária, mas resolveram nos levar ate Tetovo, lugar onde teoricamente só passaríamos o dia. Quando falei de uma mesquita pintada resolveram ir dar uma olhada rapidinho, adiando um pouco o retorno. A mesquita e pequena, arquitetonicamente nada de mais, mas num lugar bonito, ao lado de uma praça com um riacho e toda pintada. Por fora ela já chama atenção, mas por dentro que ela se diferencia mesmo das outras. Muuito bonita, toda enfeitada, nunca foi repintada, pois como não acendem velas, a pintura se preserva muito melhor. Na parte da frente uma grande estrela de Davi mostra que o simbolo não era de exclusividade Judaica antes (ate a bandeira do Marrocos tinha uma estrela de Davi, mas foi alterada depois da criação do estado de Israel). Estávamos para nos despedir deles mas com a informação que o Tekke, Monastério Sufista, não era longe dali, então foram juntos. O guardião nos explicava a historia do lugar e não batia muito com as informações que eu tinha. A Bibi já me cobrava por ser um lugar destruído por conflitos, em pedaços, quando achamos o casarão onde ficam os muçulmanos sufis da ordem dos Bektaishis. Conhecemos um pouco sobre eles e ficamos sabendo que o Baba, líder espiritual deles iria nos receber. Resumindo a historia, o papo se prolongou, fomos convidados para jantar e dormir la. O Stefan e Gerie não tiveram como recusar e só pegaram estrada no dia seguinte. A ordem dos Bektaishis surgiu no Irã, se desenvolveu na Turquia (também são Dervishes como os que vimos la, mas com outros princípios), e hoje tem seu centro mundial na Albânia. Tetova fica na Macedônia, mas a maioria esmagadora da população e albanesa. Aqui as fronteiras étnicas não obedecem as fronteiras politicas, e por isto existem tantas guerras nesta região. O Baba Mondi que nos acolheu, e o segundo da ordem na hierarquia mundial. No local também vive um Dervishe e um “candidato a Dervishe”, o qual era chamado de candidato. Pare se entrar na ordem tem que levar vários “nãos” antes. Eles aceitam qualquer religião, e mesmo sendo muçulmanos não seguem muitas regras digamos “tradicionais” dos seus companheiros de religião. Consideram uma taca de vinho como alimento, e as rezas no meio do dia são dispensadas, pois acreditam no trabalho duro. Ficamos chocados com a recepção que tivemos. Pensavam em tudo para nos agradar, e acabamos ficando mais uns dias por ali, já estando nos sentindo em casa. Não podíamos pensar em pagar nada, de transporte ate o lanchinho da noite que foram buscar quando a Bibi comentou que estava com fome. Mesmo sendo misticos, grande parte das conversas eram no plano pratico e direto, muito direto. Final dos dias estávamos exaustos de tanta informação. Chegamos ali meio que por acaso, e foi muito especial. Não vou me prolongar muito, mas o assunto daria para escrever um post especifico.

Mesquita toda pintada

Novos amigos, os Bektaishis

O Tekke

A Macedônia e um país bem pequeno, mas algumas viagens podem demorar (relativo as pequenas distancias) por causa das montanhas e condicoes das estradas. Os ônibus com horários infrequentes também atrasam um pouco, somado com o pouco inglês que se fala na região, se tem alguns desafios por ali. Pegamos um ônibus para Struga e depois um minibus para Ohrid, pois tínhamos perdido o ônibus direto. Ao chegar,depois de ter dado uma volta completa no centro o motorista só nos olhou com uma cara “vocês não vão descer?”. Foi a unica coisa que entendemos vindo do motorista. Pulamos do minibus e logo achamos um lugar barato para ficar. Ohrid fica na beira de um lago, com uma cidade velha tombada pela Unesco. Imaginávamos um lugar calmo (não sei porque) mas ao chegarmos la em alta temporada estava muito, mas muito movimentado. Festivais, Djs, muita coisa programada para os próximos dias. O lago cercado com montanhas e muito bonito, mas inicialmente ficamos um pouco decepcionados com o lugar, muita calcada, camelos e turistas. Pegamos uma praia, não menos movimentada, e com musica alta e muvuca. Nosso sentimento do lugar só começou a mudar quando fomos para a cidade velha. Suas pequenas ruas, igrejas que não acabam, e um forte no topo da montanha. Achamos uma pousada simpaticíssima mas não tinha lugar, então só tomamos um chá. Com aquela vista decidimos que teríamos que nos mudar para aquela região para aproveitar melhor. Acabamos num quarto quitinete na casa de um motorista de ambulância aposentado e de sua esposa. Tomamos um café com eles e conversamos longamente sobre os (bons segundo ele) tempos de Iugoslávia. Foram muito simpáticos. Depois de alguns dias em Ohrid já estávamos prontos para pegar a estrada novamente. A Albânia estava ali do lado, e não viajaríamos sozinhos!

Ainda bem que tem placa bilíngue!!