Vegas, Dubai, Ashgabat!!!

Quando falam em grandes desertos com construções modernas (e de mau gosto), normalmente pensamos em Las Vegas ou Dubai. Quando pensamos em uma ditadura duríssima,  um verdadeiro estado militar, uma das primeiras lembranças sera da Coreia do Norte. Não fomos para nenhum destes lugares, mas uma mistura deles, com um grande toque de Asia Central!

No Turcomenistão, jornalistas não são bem vindos, existe um controle quase que total da mídia.  Estrangeiros também não são bem vindos, acho que não querem suas opiniões.  Para se conseguir um visto, alem da carta convite, precisa de um guia te acompanhando o tempo todo, tornando tua viagem nem um pouco independente. Desta forma conseguem orientar o tipo de informação que você vai ter do lugar. A salvação são os vistos de transito. Tentamos o de três dias, e acabamos (depois de alguns problemas no consulado), ganhando 5 dias. Alteração rápida no roteiro, e poderíamos passar pela capital, Ashgabat.

O caminho de Mashhad até a fronteira não foi tão fácil  Nada de ônibus VIP, só tinha um caindo aos pedaços  sem ar condicionado num baita calor. Os últimos 100 km tivemos que percorrer de táxi  pois nada de transporte publico. Passamos por uma região montanhosa muito bonita, até chegar em mais uma fronteira lotada de caminhões  Procedimentos normais, uma pequena consulta medica (tinha um cartaz contra tatuagens muito legal) e logo estávamos na imigração do Turcomenistão.  Soldados sérios  fotos do presidente  e achávamos que sabíamos o que vinha pela frente. Aproveitamos que duas tiazinhas estavam indo na mesma direção  e fomos dividindo taxi nas conexões ate Ashgabat, não muito longe da fronteira.

Chegamos pela parte sul da cidade, e de repente, depois de uma paisagem de deserto, inicia-se um sequencia de prédios altos, novos, chafarizes  jardins com flores. Mulheres limpando com paninho o poste do sinaleiro. A primeira estatua dourada do ex-presidente Niyazov também não demorou para aparecer. Palácios de mármore  esculturas e praças.  Muitos soldados nas ruas, uns 2 de cada lado de uma quadra. O ponto de ônibus com loja de conveniência e ar condicionado chamou a atenção  A Bibi até elogiou, mas a reação da tiazinha mostrava que era só fachada mesmo.

Estatuas douradas- estilo eu me amo

Moradia para os amigos

O Niyazov tomou o poder com a queda da URSS, e se tornou um ditador com todo o sentido que a palavra pode trazer. Espalhou suas estatuas douradas por tudo, e reprimiu violentamente qualquer tipo de oposição  Destruiu apartamentos antigos onde pessoas moravam, sem pagar indenização  para construir estes novos. Quem trabalha para o governo tem regalias, como o subsidio de 50% do valor do apartamento chique que ele construiu em cima das antigas residencias, e financiamento em 30 anos. Ele era um louco, e em um momento da sua vida, escreveu um livro chamado “Livro da Alma”. Neste livro ele reescreveu a historia,costumes e espiritualidade do Turcomenistão. Questionários sobre o livro foram impostos para quem quisesse trabalhar num cargo publico ou ate fazer um exame de auto-escola. A “boa noticia” e que ele alegava era de quem lesse o livro 100 vezes iria para o Céu!!!

Com a morte do Niyazov, um dos seus ministros (e provável filho bastardo), assumiu o poder. Não existem estatuas de ouro dele, mas os posteres, outdoors e calendários dele sorridente estão por todos o lados.

Ao nos aproximarmos mais do centro, vimos que os ônibus do povão não eram nem um pouco sofisticados, e nada de ar-condicionado por qui. Nosso hotel era daqueles antigos blocos soviéticos  A recepção até que era reformada, mas os elevadores, corredores com tapetes se desfazendo e a mesinha da recepção do nosso andar (tem uma segunda recepção em cada andar!), nos assustavam um pouco. Tivemos uma grata surpresa ao ver que os quartos tinham sido totalmente reformados, pintados, alto padrão!

Moradia para quem nao e amigo

Caminhamos pela cidade, para olhar os monumentos bizarros, palácios e teatros de mármore e outras coisas bem peculiares daqui. A quantidade de policiais e soldados não deixa o clima nem um pouco agradável  Um deles nos pediu cigarro e ao falarmos que não tínhamos  pediu dinheiro na cara dura! Para tirar foto aquela tensão  pois se alguém não gostasse, com certeza teríamos que deixar uma grana para não levarem nossa maquina. Alem dos taxis comuns, quase qualquer carro funciona como um taxi não oficial. Aproveitamos para ir a lugares mais longe desta forma. Você esta andando na rua e é só olhar que eles param. Uma corrida na cidade não vai te custar mais que 35 centavos de dólar  Parece barato, mas se pensar que o litro de combustível custa menos de 25 centavos de dólar da pra ver que eles ganha dinheiro com isto.

No Turcomenistão tem tanto petróleo e gaz natural, que o gaz já foi gratuito. A população deixava o fogão aceso dia e noite, para não ter que gastar com fósforos, que não era gratuito, acreditam? Grandes contratos com a Russia fazem com que a eletricidade (trocada por petróleo), também seja muito barata. O que com certeza não é barato, mas é desperdiçada por todo o lado nas intermináveis fontes, é a água. Aqui está o maior canal artificial do mundo, e passamos por diversos outros menores desviados para a produção de algodão  Em épocas soviéticas, este foi um dos motivos de um dos maiores desastres naturais de todos os tempos, que resultou na quase destruição do mar Aral.

Nada de economia de agua

Rodamos bastante, exploramos o que pudemos nos poucos dias que tivemos. Vimos mesquitas ultra modernas e outras estilo Blue Mosque de Istambul. O povo daqui, os Turcomen, são “primos”dos Turcos, assim como muitos povos da Asia Central. Antes tudo aqui ara chamado Turquistão, e eles foram conquistando tudo até chegar na Turquia. Existe também muita influencia da Russia, como a língua russa (como segunda língua  e o gosto pela Vodka. Eu acabei ficando só na cervejinha, num biergardem bem tipico, lotado de bêbados!

Monumentos

Blue Mosque

Fomos no Tolkuchka Bazar, no subúrbio da cidade. Um conjunto interminável de barracões novos, brancos, com tudo o que e tipo de coisas para vender. Comida, roupas, chales, coisas para casa, pecas de carro e ate camelos. O mais legal foi poder ver mais do povo, mulheres com seus vestidos coloridos e dentes (muitas vezes a dentadura completa!) de ouro.

Fotos do novo presidente

Tolkuchka Bazar

Pegamos um taxi coletivo para Mary, já a caminho do Uzbequistão  Nosso motorista não era muito simpático  corria mais que o necessário  e não deixava baixar o vidro, mesmo estando mais de 40 graus. Nossos companheiros de transporte também não ajudavam, e fumavam na cara dura, com tudo fechado. A viagem foi um inferno, e ao chegarmos num hotel, a Bibi não parava de rir da péssima qualidade do quarto. Tudo que é informação que tínhamos do país não servia mais. Hotéis fecharam, ruas mudaram de nome, até a disposição das cidades era outra. Acabamos achando um hotel bom, só um pouco mais caro que o caindo aos pedaços (literalmente, tinha até buraco no chão do banheiro!).

Mary tem algumas atracões  monumentos, parques e ate uma Igreja Ortodoxa bonita, mas ela serve mesmo de base para as ruínas de Merv, uma das mais importantes cidades da Rota da Seda. Nesta região Alexandre o Grande estabeleceu uma cidade, para facilitar sua conquista do Oriente.

Nosso visto estava vencendo, e tínhamos que ir para a fronteira. Precisávamos ir ate o ponto dos taxis comunitários  e paramos o primeiro carro que apareceu, um “camaro”. Coloquei as mochilas no banco de trás e dei espaço para a Bibi entrar. Nisto, o motorista sai arrancando enlouquecidamente, tocando o carro em cima de mim com a porta aberta, e foge com as mochilas. Tentei correr atras, mas não deu nem para ver a placa. Atravessei a rua ate o canteiro, para ver se ele vinha na outra direção  mas nada… Deu aquele pensamento “fudeu”! Mas logo depois eu já pensava, pelo menos estamos com o passaporte, dinheiro e coisas de valor.

A Bibi tava indignada, inconformada. Voltamos para o hotel para contar do ocorrido, chamar a policia? Sera que adiantaria? Não sabíamos nem a placa do carro… Eu já pensava em pegar o primeiro taxi e sair dali, ir direto para o Uzbequistão  quando de repente o motorista voltou!! E nos chamou, acreditam?!!. Não entendi o porque, e nem quis entender. Não sei se ele se arrependeu, ficou com medo, ou se queria roubar nossas coisas de valor, que estavam com a gente. Também não fiquei la para descobrir. Peguei as mochilas, e mandei ele a merda. O pessoal do hotel tentou amenizar, dizendo que talvez ele não fosse ladrão  só  louco”. Mas não importa, só sei que o susto foi grande.

Queríamos ter saído bem cedo, mas isto acabou nos atrasando. Atravessamos o restante do deserto, e chegamos na fronteira pouco depois do meio dia. Fronteira fechada para o almoço  e a solução foi tentar se proteger nos 40 centímetros de sombra que fazia de um trailer. A temperatura no Turcomenistão passa dos 50 graus no verão, mas para nossa sorte tava “só” uns 45!

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Capital Persa, a cidade no deserto e a mais sagrada

Mais estrada, mais deserto, algumas montanhas onde ate hoje vivem nômades  e chegamos a Shiraz, talvez o destino mais visitado do Ira. A fama não vem da cidade em si, mas dos seus arredores, onde estão as ruínas de Persepolis, importante cidade do Império Persa, e que foi destruída por Alexandre o Grande, a mais de 2000 anos atrás. Tumbas, esculturas nas pedras, além de outras cidades ainda mais antigas completam o circuito histórico da região.

Na cidade, mesquitas, igrejas, restaurantes  jardins e bazares. Mas dois dos grandes poetas persas eram de Shiraz, e estão enterrados ali. Existe praticamente uma peregrinação nestes lugares. Pessoas os tratam como santos, e com seus livros ficam rezando ao lado da sepultura. Outros preferem ler seus poemas silenciosamente nos bonitos jardins que tem por ali.

Encontramos viajantes que tínhamos conhecido em outros lugares e alguns outros  de bicicleta (sera que virou moda viajar de bicicleta?). Então sempre tínhamos boas companhias.

Caravansarai

coleta de esmolas

Ficamos na duvida se íamos para as montanhas ou para o deserto, como já tínhamos passado um tempo nas montanhas no Curdistão Iraniano, optamos pelo deserto.

Foi uma boa esticada ate Yazd, uma cidade rodeada por desertos, bem no meio do Irã. Calor infernal, e não dava para fazer muita coisa, a não ser bem cedo ou mais no final de tarde. Ficamos num hotel estilo Caravansarai. Os caravansarais eram as hospedagens dos viajantes a centenas de anos atras. Visitamos alguns reformados, outros nem tanto. Era o que tinha quando se pensava em viajar pela rota da seda. Ótimo lugar para ficar largado, com bom restaurante, e ate uma internet decente. Encontramos nossos amigos csers de Abyaneh, além de outras pessoas bacanas.

Yazd e uma das mais antigas cidades do Irã. É o centro do Zoroastrismo, primeira religião monoteísta do mundo, e de origem persa. Visitamos um templo onde tem uma chama que esta queimando a mais de mil e quinhentos anos. Encontramos com devotos que reclamaram um pouco da situação no Irã, pelo fato de fazerem parte dessa minoria religiosa, e contaram um pouco mais de suas praticas. Alem do Irã, existem bastantes Zoroastras na Índia.  Fomos numa Torre do Silencio, local onde os corpos eram levados para serem devorados por abutres, pois conforme a doutrina, não podiam ser enterrados. Escalamos até o topo, mas hoje esta inativa.

Templo da chama zoroasra

apreciamos uma deliciosa carne de camelo

A cidade tem todo um tom marrom, e a parte velha é toda de barro. Construções bacanas, arquitetura continua fantástica  O que chama a atenção são torres para captar o vento e refrescar os ambientes. Visitamos um interessante ginásio local, onde as pessoas fazem exercício ao som de tambores e declamação de poemas persas. Encaramos uma ida ate Karanaq, antiga cidade, toda de barro, com um caravanserai ao lado. Paisagens lindas de deserto, mas o calor era tanto que a Bibi decidiu vetar a nossa ida para o Oasis, que estava planejada para os próximos dias. Se não teria a parada no oásis no meio do caminho, teríamos que ir direto ate Mashhad, nossa ultima cidade no Irã.

torres para refrescar 

ginasio local

deserto

Karanaq

Mashhad e a cidade mais sagrada do Ira, pois ali esta enterrado o Imam Reza. Existe um complexo gigantesco, com patios, museus, mesquitas e ate hospital. Mulheres tem que estar todas cobertas para entrar Teoricamente estrangeiros devem se apresentar para o departamento de assuntos internacionais, para seguir com um guia, mas nos enfiamos no meio da muvuca e fomos sozinhos mesmos. Muita devoção, choro e um lugar ainda mais bonito que esperávamos  Para ter acesso a sala onde esta sepultado o Imam Reza, homens e mulheres tem que entrar separados. Eu combinei de encontrar com a Bibi dentro de alguns minutos ali na frente, mas quando voltei ela não estava. Procurei por tudo, mas sempre voltando ao lugar combinado. Pensei que ela podia ter feito alguma amizade la dentro ou algo do tipo. Mas era estranho, pois já estava cansada, e sabia que eu não demoraria. Achava que dificilmente ela voltaria para o hotel, primeiro porque não sei se saberia o caminho, segundo porque eu estava com seus sapatos. Depois de uma hora e meia de procura e espera resolvi voltar para o hotel, já pensando em ir na policia se ela não tivesse la. Por sorte encontrei ela no meio do caminho, voltando com o pessoal para me procurar. Ela tinha se perdido la dentro e não sabia onde eu estava. Pelo menos achou o hotel!!haha

Tínhamos que pegar o visto do Turcomenistão, e deu tempo de passar no complexo outras vezes, inclusive presenciar um final de tarde muito gostoso, com a chamada das mesquitas e torres se iluminando a medida que escurecia. Encontramos com nosso cser de Kashan, pois sua família e daqui, e conversamos um monte sobre o dia a dia e costumes do Irã. Saímos para jantar (duas vezes) com o Reza, um cara que conhecemos na rua, quando ele nos ajudou a achar o endereço do nosso Cser de lá, e nos levou ate um hotel, pois acabou não dando certo. Saímos juntos duas vezes, uma delas fomos ate mais um tumulo de outro poeta famoso do Iãa, o Ferdosi, e fizemos churrasco junto com sua família ate depois da meia noite.  Na outra vez, fomos no bairro moderninho, com lojas de grife, e até porche nas rua e pessoas descoladas, a poucos quilômetros da região ultra tradicional, com mulheres todas cobertas com chador pretos. Mais uma pessoa fantástica que conhecemos.

Dentro do hotel, para saber onde fica Meca

Mais um poeta – Ferdosi

Quando chegou a hora de nos despedirmos do Irã, a Bibi começou a chorar e não parava mais. Ao ligarmos para nos despedirmos de alguns dos nossos amigos a situação piorou ainda mais. Acho que voltaremos para o Irã logo, como certeza esta entre os países que mais queremos voltar, até porque um mês é muito pouco para conhecer o país, principalmente por ter pessoas tão especiais!!!

Atras da cortina de ferro

A minha geração talvez tenha sido a ultima a aprender conceitos de primeiro mundo, comunismo e terceiro mundo no ginásio. Hoje os países são desenvolvidos ou em desenvolvimento. A maior parte dos países que passamos seriam considerados de “terceiro mundo” naquela época. Entrando pelo Leste Europeu, estaríamos experimentando algo diferente (ok passamos por países comunistas e ex-comunistas antes), mas seria o grande exemplo do “segundo mundo”. E, mas chegamos uns 20 anos mais tarde. A Bulgária já faz parte da União Europeia, mostrando que muitas mudanças já aconteceram por ali. Sim, muitas mudanças ocorreram, mas ainda e muito diferente da Europa Ocidental. A imigração e feita no trem, com oficiais com lap top, e nem precisa se preocupar com corrupção ou visto, mas sabe aquelas velhinhas que ficavam esperando o pessoal chegar na estacão de trem para oferecer um quarto baratinho? Pois e, elas ainda estão por ali, e por 5 euros se consegue uma cama num quarto particular. Foi assim nossa chegada em Plovdiv. Se a principio a arquitetura e a população em geral dava uma cara mais de Europa, com o tempo observamos que o desenvolvimento da Bulgária deixava um pouco a desejar, e questionei os critérios da UE, pois a Turquia parecia ser bem mais desenvolvida, pelo menos aparentemente. E um dos países com a maior quantidade de ciganos da Europa, e vivem como uma minoria. Plovdiv e uma cidade universitária, a segunda maior cidade da Bulgária. Possui uma bela cidade antiga no topo das colinas, e um calcadão com restaurantes e cafés onde e fácil se perder no tempo. A senhora que nos hospedou lavou algumas roupas, costurou, enquanto curtimos restaurantes, cafés, sorvetes a preços mais baratos que no Brasil.

Plovdiv

Já em Sofia resolvemos fazer couchsurfing. O Stefan foi nos buscar na rodoviária e nos levou na casa da Gerie, amiga dele onde ficaríamos. Ela esta reformando o apartamento para transformar num B&B, e esta quase pronto. Fica naqueles blocos de apartamento bem no estilo comunista. Para o centro da cidade são poucas estacoes no velho trem, que já tem um leitor digital de cartões, mas o furador antigo dos bilhetes de papel ainda funciona. No centro as largas avenidas arborizadas se transformaram. Hoje alem dos trens muita gente anda de bicicleta, a pé, e ainda tem espaço para cafés e restaurantes ate chegar na calcada. Mc Donalds, lojas e muito consumismo se misturam aos grandes e esquisitos prédios da era comunista. A cidade estava relativamente vazia, pois no verão muitos vão para as praias do Mar Negro. Cheio estavam os parques e praças, com o pessoal bebendo cerveja de dois litros e meio em garrafas plasticas, e foi assim que terminamos o nosso primeiro dia, depois de muitas andanças. Se em alguns lugares da Africa uma coca-cola era mais barata que água mineral, aqui a cerveja era mais barata que refrigerante! A Bulgária já foi um reino de grande importância. Na época que a Europa estava praticamente dividida entre Impérios Romano e Bizantino ela já estava la, firme e forte. Existem diversas igrejas ortodoxas, algumas muito impressionantes (são independentes, não ligada aos gregos ortodoxos). A cidade e relativamente pequena, aconchegante, e outras vezes nos vimos em praças e parques escutando musica ao vivo.

Em conversa com o nosso anfitrião, decidimos não ir no famoso monastério Rila pois, devido as férias, estaria muito cheio de gente. Optamos por ir de carro ate as montanhas dos Bálcãs, e conhecer vilas e estradas do interior, alem de monastérios menores. Paramos para tomar banho de rio, comer comidas tipicas, e no bonito monastério dos Sete Altares a Bibi já queria ficar para passar a noite. Mas acabamos indo até o monastério de São Jorge, que fica no topo de uma montanha, com uma vista muito legal. O monge que cuida de la e meio maluco, mas nos tratou bem, apesar de ter nos acordado no meio da noite com suas cantorias, depois de tanto vinho. O monastério e do seculo 13, muito bonito, com seus telhados de pedra. A vista do nosso quarto dava direto para as montanhas verdes. Alias, como vimos verde na Bulgária. Entrou uma frente fria durante a noite, mas não impediu que fosse fazer trilha ate uma caverna que não fica muito longe. O lugar e cheio de historias e lendas, e um túnel de alguns quilômetros liga o monastério ate a vila que fica lá em baixo nos pés da montanha. Quando voltamos para Sofia, não tínhamos nosso plano do próximo destino muito certo, mas sabíamos que teríamos que decidir isto num dos parques da cidade, comendo as mega fatias de pizza que eles tem.

Monastério Ortodoxo

Carona ate a Macedônia, ônibus pela rota sul perto da Grécia, uma parada no monastério de Rila, as opções eram muitas. O Stefan gosta de viajar, já veio do Japão ate a Europa de carro (com uma maquina de lavar no porta malas!), e quando viu que o preço do ônibus daria para ele dirigir ate a Macedônia (o carro dele e a gás), se ofereceu para nos levar, e a Garie topou na hora em ir junto. Somente poucos metros antes da bifurcação da estrada e que decidimos qual o caminho que seguiríamos. Optamos por ir para Skopje, capital da Macedônia, para ir em alguns lugares no norte do pais, mesmo parte da estrada não sendo tao bonita quanto a outra. A principal estrada entre os dois países, de pista simples e sem acostamento, fez esquecer que estávamos na Europa. Entrando na Macedônia, com campos verdes, pastores de ovelhas com montanhas ao fundo (do outro lado, a 20km, fica Kosovo), e carros Yugo, foi possível imaginar como era a Iugoslávia. Mais para a frente veio uma “auto estrada” com pedágio, mas que não nos cobraram por não termos a moeda local. A Macedônia é um país novo. Por mais que queiram que associemos a Macedônia dos tempos Bíblicos, ou do Alexandre o Grande, ela não e bem esta. Aquela Macedônia podia englobar todas estas terras, mas politicamente era a Grécia, e por isto os Gregos não ficaram nem um pouco felizes com a criação da Macedônia após se separarem da Iugoslávia. Tínhamos ouvido falar mal de Skopje, e não sei se e porque a expectativa era baixa, mas acabamos gostando. O centro e estranho, com um calcadão de pedestres, prédios comunistas misturados com cafés e um prédio moderno coberto com neon azul. A frente a ponte de pedra que leva para o forte e o antigo mercado Otomano, onde hoje fica a minoria Albanesa da Macedônia. Alias, a Madre Teresa de Calcuta não e de Calcuta, mas de Skopje (na verdade e nascida em Kosovo). Não era tao tarde, mas as ruas estreitas estavam vazias e restaurantes e lojas fechadas. Acho que no verão o pessoal não gosta muito de cidade. Como nos também preferimos lugares menores, já cedo fomos para o Lago Mataka, que não fica muito longe dali. E um lago formado por uma pequena hidroelétrica. No inicio tem bastante concreto, mas passando a represa o rio e transparente, refletindo as montanhas e todo o verde que tem ao redor. A trilha e beirando a rocha cortada, e tem ate cordas em alguns pontos para ajudar. Caminhamos bastante e aproveitamos o lugar, conhecemos a antiga Igreja ortodoxa de St Andre, com pinturas muito bacanas em todas as paredes. Para o almoço fomos ate outro monastério, com bonitos jardins, aos pés das montanhas.

Yugo!

Skopje

Lago Mataka

O Stefan e a Gerie tinham que votar para a Bulgária, mas resolveram nos levar ate Tetovo, lugar onde teoricamente só passaríamos o dia. Quando falei de uma mesquita pintada resolveram ir dar uma olhada rapidinho, adiando um pouco o retorno. A mesquita e pequena, arquitetonicamente nada de mais, mas num lugar bonito, ao lado de uma praça com um riacho e toda pintada. Por fora ela já chama atenção, mas por dentro que ela se diferencia mesmo das outras. Muuito bonita, toda enfeitada, nunca foi repintada, pois como não acendem velas, a pintura se preserva muito melhor. Na parte da frente uma grande estrela de Davi mostra que o simbolo não era de exclusividade Judaica antes (ate a bandeira do Marrocos tinha uma estrela de Davi, mas foi alterada depois da criação do estado de Israel). Estávamos para nos despedir deles mas com a informação que o Tekke, Monastério Sufista, não era longe dali, então foram juntos. O guardião nos explicava a historia do lugar e não batia muito com as informações que eu tinha. A Bibi já me cobrava por ser um lugar destruído por conflitos, em pedaços, quando achamos o casarão onde ficam os muçulmanos sufis da ordem dos Bektaishis. Conhecemos um pouco sobre eles e ficamos sabendo que o Baba, líder espiritual deles iria nos receber. Resumindo a historia, o papo se prolongou, fomos convidados para jantar e dormir la. O Stefan e Gerie não tiveram como recusar e só pegaram estrada no dia seguinte. A ordem dos Bektaishis surgiu no Irã, se desenvolveu na Turquia (também são Dervishes como os que vimos la, mas com outros princípios), e hoje tem seu centro mundial na Albânia. Tetova fica na Macedônia, mas a maioria esmagadora da população e albanesa. Aqui as fronteiras étnicas não obedecem as fronteiras politicas, e por isto existem tantas guerras nesta região. O Baba Mondi que nos acolheu, e o segundo da ordem na hierarquia mundial. No local também vive um Dervishe e um “candidato a Dervishe”, o qual era chamado de candidato. Pare se entrar na ordem tem que levar vários “nãos” antes. Eles aceitam qualquer religião, e mesmo sendo muçulmanos não seguem muitas regras digamos “tradicionais” dos seus companheiros de religião. Consideram uma taca de vinho como alimento, e as rezas no meio do dia são dispensadas, pois acreditam no trabalho duro. Ficamos chocados com a recepção que tivemos. Pensavam em tudo para nos agradar, e acabamos ficando mais uns dias por ali, já estando nos sentindo em casa. Não podíamos pensar em pagar nada, de transporte ate o lanchinho da noite que foram buscar quando a Bibi comentou que estava com fome. Mesmo sendo misticos, grande parte das conversas eram no plano pratico e direto, muito direto. Final dos dias estávamos exaustos de tanta informação. Chegamos ali meio que por acaso, e foi muito especial. Não vou me prolongar muito, mas o assunto daria para escrever um post especifico.

Mesquita toda pintada

Novos amigos, os Bektaishis

O Tekke

A Macedônia e um país bem pequeno, mas algumas viagens podem demorar (relativo as pequenas distancias) por causa das montanhas e condicoes das estradas. Os ônibus com horários infrequentes também atrasam um pouco, somado com o pouco inglês que se fala na região, se tem alguns desafios por ali. Pegamos um ônibus para Struga e depois um minibus para Ohrid, pois tínhamos perdido o ônibus direto. Ao chegar,depois de ter dado uma volta completa no centro o motorista só nos olhou com uma cara “vocês não vão descer?”. Foi a unica coisa que entendemos vindo do motorista. Pulamos do minibus e logo achamos um lugar barato para ficar. Ohrid fica na beira de um lago, com uma cidade velha tombada pela Unesco. Imaginávamos um lugar calmo (não sei porque) mas ao chegarmos la em alta temporada estava muito, mas muito movimentado. Festivais, Djs, muita coisa programada para os próximos dias. O lago cercado com montanhas e muito bonito, mas inicialmente ficamos um pouco decepcionados com o lugar, muita calcada, camelos e turistas. Pegamos uma praia, não menos movimentada, e com musica alta e muvuca. Nosso sentimento do lugar só começou a mudar quando fomos para a cidade velha. Suas pequenas ruas, igrejas que não acabam, e um forte no topo da montanha. Achamos uma pousada simpaticíssima mas não tinha lugar, então só tomamos um chá. Com aquela vista decidimos que teríamos que nos mudar para aquela região para aproveitar melhor. Acabamos num quarto quitinete na casa de um motorista de ambulância aposentado e de sua esposa. Tomamos um café com eles e conversamos longamente sobre os (bons segundo ele) tempos de Iugoslávia. Foram muito simpáticos. Depois de alguns dias em Ohrid já estávamos prontos para pegar a estrada novamente. A Albânia estava ali do lado, e não viajaríamos sozinhos!

Ainda bem que tem placa bilíngue!!