Capital Persa, a cidade no deserto e a mais sagrada

Mais estrada, mais deserto, algumas montanhas onde ate hoje vivem nômades  e chegamos a Shiraz, talvez o destino mais visitado do Ira. A fama não vem da cidade em si, mas dos seus arredores, onde estão as ruínas de Persepolis, importante cidade do Império Persa, e que foi destruída por Alexandre o Grande, a mais de 2000 anos atrás. Tumbas, esculturas nas pedras, além de outras cidades ainda mais antigas completam o circuito histórico da região.

Na cidade, mesquitas, igrejas, restaurantes  jardins e bazares. Mas dois dos grandes poetas persas eram de Shiraz, e estão enterrados ali. Existe praticamente uma peregrinação nestes lugares. Pessoas os tratam como santos, e com seus livros ficam rezando ao lado da sepultura. Outros preferem ler seus poemas silenciosamente nos bonitos jardins que tem por ali.

Encontramos viajantes que tínhamos conhecido em outros lugares e alguns outros  de bicicleta (sera que virou moda viajar de bicicleta?). Então sempre tínhamos boas companhias.

Caravansarai

coleta de esmolas

Ficamos na duvida se íamos para as montanhas ou para o deserto, como já tínhamos passado um tempo nas montanhas no Curdistão Iraniano, optamos pelo deserto.

Foi uma boa esticada ate Yazd, uma cidade rodeada por desertos, bem no meio do Irã. Calor infernal, e não dava para fazer muita coisa, a não ser bem cedo ou mais no final de tarde. Ficamos num hotel estilo Caravansarai. Os caravansarais eram as hospedagens dos viajantes a centenas de anos atras. Visitamos alguns reformados, outros nem tanto. Era o que tinha quando se pensava em viajar pela rota da seda. Ótimo lugar para ficar largado, com bom restaurante, e ate uma internet decente. Encontramos nossos amigos csers de Abyaneh, além de outras pessoas bacanas.

Yazd e uma das mais antigas cidades do Irã. É o centro do Zoroastrismo, primeira religião monoteísta do mundo, e de origem persa. Visitamos um templo onde tem uma chama que esta queimando a mais de mil e quinhentos anos. Encontramos com devotos que reclamaram um pouco da situação no Irã, pelo fato de fazerem parte dessa minoria religiosa, e contaram um pouco mais de suas praticas. Alem do Irã, existem bastantes Zoroastras na Índia.  Fomos numa Torre do Silencio, local onde os corpos eram levados para serem devorados por abutres, pois conforme a doutrina, não podiam ser enterrados. Escalamos até o topo, mas hoje esta inativa.

Templo da chama zoroasra

apreciamos uma deliciosa carne de camelo

A cidade tem todo um tom marrom, e a parte velha é toda de barro. Construções bacanas, arquitetura continua fantástica  O que chama a atenção são torres para captar o vento e refrescar os ambientes. Visitamos um interessante ginásio local, onde as pessoas fazem exercício ao som de tambores e declamação de poemas persas. Encaramos uma ida ate Karanaq, antiga cidade, toda de barro, com um caravanserai ao lado. Paisagens lindas de deserto, mas o calor era tanto que a Bibi decidiu vetar a nossa ida para o Oasis, que estava planejada para os próximos dias. Se não teria a parada no oásis no meio do caminho, teríamos que ir direto ate Mashhad, nossa ultima cidade no Irã.

torres para refrescar 

ginasio local

deserto

Karanaq

Mashhad e a cidade mais sagrada do Ira, pois ali esta enterrado o Imam Reza. Existe um complexo gigantesco, com patios, museus, mesquitas e ate hospital. Mulheres tem que estar todas cobertas para entrar Teoricamente estrangeiros devem se apresentar para o departamento de assuntos internacionais, para seguir com um guia, mas nos enfiamos no meio da muvuca e fomos sozinhos mesmos. Muita devoção, choro e um lugar ainda mais bonito que esperávamos  Para ter acesso a sala onde esta sepultado o Imam Reza, homens e mulheres tem que entrar separados. Eu combinei de encontrar com a Bibi dentro de alguns minutos ali na frente, mas quando voltei ela não estava. Procurei por tudo, mas sempre voltando ao lugar combinado. Pensei que ela podia ter feito alguma amizade la dentro ou algo do tipo. Mas era estranho, pois já estava cansada, e sabia que eu não demoraria. Achava que dificilmente ela voltaria para o hotel, primeiro porque não sei se saberia o caminho, segundo porque eu estava com seus sapatos. Depois de uma hora e meia de procura e espera resolvi voltar para o hotel, já pensando em ir na policia se ela não tivesse la. Por sorte encontrei ela no meio do caminho, voltando com o pessoal para me procurar. Ela tinha se perdido la dentro e não sabia onde eu estava. Pelo menos achou o hotel!!haha

Tínhamos que pegar o visto do Turcomenistão, e deu tempo de passar no complexo outras vezes, inclusive presenciar um final de tarde muito gostoso, com a chamada das mesquitas e torres se iluminando a medida que escurecia. Encontramos com nosso cser de Kashan, pois sua família e daqui, e conversamos um monte sobre o dia a dia e costumes do Irã. Saímos para jantar (duas vezes) com o Reza, um cara que conhecemos na rua, quando ele nos ajudou a achar o endereço do nosso Cser de lá, e nos levou ate um hotel, pois acabou não dando certo. Saímos juntos duas vezes, uma delas fomos ate mais um tumulo de outro poeta famoso do Iãa, o Ferdosi, e fizemos churrasco junto com sua família ate depois da meia noite.  Na outra vez, fomos no bairro moderninho, com lojas de grife, e até porche nas rua e pessoas descoladas, a poucos quilômetros da região ultra tradicional, com mulheres todas cobertas com chador pretos. Mais uma pessoa fantástica que conhecemos.

Dentro do hotel, para saber onde fica Meca

Mais um poeta – Ferdosi

Quando chegou a hora de nos despedirmos do Irã, a Bibi começou a chorar e não parava mais. Ao ligarmos para nos despedirmos de alguns dos nossos amigos a situação piorou ainda mais. Acho que voltaremos para o Irã logo, como certeza esta entre os países que mais queremos voltar, até porque um mês é muito pouco para conhecer o país, principalmente por ter pessoas tão especiais!!!

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O Irã moderno e a revolução

Olhamos novas revoluções acontecendo no Oriente médio  e logo se fala em democracia. Aparentemente o ocidente apoia a democracia, mas sera que e bem assim? Para quem realmente e interessante a democracia  A ditadura do Egito era apoiada pelos países ocidentais. O que os fez mudar de lado e apoiar uma “democracia”? Será que a população de muitos destes países estão lutando por democracia ou só protestando por difíceis condições de vida. Mas o mais importante e pensar, o que o povo local quer, ou  que outros países pensam que eles precisam? Nem sempre algo que for bom para um país, vai ser bom para o outro.

Pouco após a primeira guerra, o Irã se aproximou do ocidente, que estava bastante interessado nas gigantescas reservas de petróleo  O governo que foi se formar, buscava rapidamente a modernização, e era ultra repressivo.

Mohammad, um excelente advogado, foi eleito democraticamente primeiro ministro no Irã. Teoricamente isto e bom, mas não para a Inglaterra, que controlava a binacional que explorava petróleo na região  Com medo de uma renegociação de contratos, a CIA fez uma operação de dentro da embaixada americana em Teran,  depôs o primeiro ministro iraniano, e com isto os EUA passaram a poder explorar o petróleo também. Moral da historia, a democracia só e importante se for possível ter ganhos com ela. As ditaduras parecem ser interessantes pelos mesmos motivos.. Mas detalhes sobre a operação estão em  www.payk.net .

Anos passaram, novos problemas com petróleo surgiram, e o Sha (rei, mas que assumiu o poder a forca) não parecia mais ser tão importante para os Estados Unidos. Protestos surgiram, tanto do lado dos conservadores como dos que queriam reformas mais rápidas  Ayatolla Kumeinni, que estava no exílio voltou ao pais, e foi recebido  como um herói  O EUA ainda tentou mudar de lado, mas membros da embaixada foram presos e deportados, e logo se formou a republica Islâmica do Irã. A família do Sha fugiu, assim como muitas pessoas que apoiavam seu regime, mas a maioria esmagadora apoiava a teocracia que estava se formando.

O problema de uma revolução  e saber o que vai vir depois dela. O ocidente esta apoiando a revolução na Libia, mas o governo que vai se formar, pode gerar ainda mais problemas. A revolução Islâmica foi apoiada no Irã pois o povo é profundamente religioso, mas as regras e sistema de governo e muito rígidos e duro. Uma coisa e seguir algo porque você acredita que e certo, outra por imposição.

Chegamos a pensar em nem ir para Teerã  O Irã parecia grande demais, com tantas coisas interessantes para gastar tempo lá. Mas como tínhamos novos amigos lá, e tínhamos que dar entrada no visto do Turcomenistão, decidimos passar por lá. Apesar de não ser nosso maior interesse, não deixa de ser interessante ver como uma grande metrópole reagiu com as regras de uma republica islâmica.

A cidade e gigantesca, cheia de auto pistas, anéis e engarrafamentos quilométricos. É uma São Paulo, ou Los Angeles. Como não poderia ser diferente, a maioria dos iranianos modernos moram aqui (na verdade os mais modernos fugiram do pais). Mulheres usam calcas capri e lenços coloridos, que só cobrem o rabo de cavalo. Todas na moda, cheio de estilo. Tivemos a oportunidade de conviver mais com a personalidade de dentro de casa destes iranianos. Nada de véu  e muita bebida alcoólica  Vocês acham que só porque e proibido eles não bebem? Bebem regularmente, algumas vezes por semana. A maior parte do tempo passamos dentro de casa, batendo papo sobre a historia e dia a dia no Irã. Nossos anfitriões eram diretor de cinema, professor de arte, com amigos empresários  Papo de qualidade, quase sempre se estendia ate quase de manhã.

amigos

Um dia fomos numa festa, na casa de final de semana, que ficava nas montanhas ao norte da cidade. Muitos amigos, musica, Dj, comidas e claro, muita vodka, wiskey…

As mulheres chegavam todas cobertas, iam para um quarto e voltavam de saia, regata como em qualquer lugar do mundo. Apesar de algumas musicas estrangeiras, a maioria era musica iraniana. O estilo das danças também variavam, e muitas vezes eram bem sensuais. Todos reclamavam do sistema, e uma jovem universitária afirmava que estava se preparando para experimentar álcool e homem. Haha achei engraçado o “experimentar homem”. Mas não sejam maliciosos, praticamente todas ainda casam virgens. O experimentar e ter um namorado.

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Já tínhamos visto muitos iranianos tocando instrumentos musicais nas ruas, e quando vimos, a festa deu uma reviravolta, e estavam todos tocando instrumentos típicos e cantando com empolgação.

Livros de poetas persas como Saadi, Hafes, Ferdosi, talvez sejam mais famosos que o próprio Corão no Ira. Não estranhamos tanto assim quando passaram a declamar os poemas cantando. A festa tava no seu auge, quando inicia um corre-corre. A policia tinha chegado no portão  e as mulheres voavam para trocar de roupa e colocar seus lenços.  Todos falavam tanto para não nos preocuparmos que percebemos que a coisa podia ser seria. Mas nada que eles não tivessem acostumados. Disseram que a policia sempre passa para pegar um dinheiro. Neste dia pegaram 100 dólares  e deram 15 minutos para terminar a festa. Voltando para casa, descobrimos que um dos amigos deles tinha sido preso com 7 garrafas de wiskey. Sua pena era de 6 meses de prisão e uma porcão de chibatadas. Pagou 3 mil dólares e foi liberado. Lugar perigoso para brincar com a lei, não?!

Jantares

Saímos também para ver museu, arquitetura, mas como outras regiões do pais são muito mais interessantes, nos concentramos no dia a dia mesmo. Comidas e sorvetes típicos, jantares, festas e muito bate papo. Acabamos ficando na cidade muito mais tempo que imaginávamos  e não nos deixavam ir embora.

Claro que a região norte da cidade, a mais rica e moderna, e totalmente contra o governo. Mas eles mesmos falavam que a oposição não e tão grande assim, provavelmente menos de 10% da população  Como o povo e muito religioso  eles conseguem fazer um controle e manipulação muito forte sobre as pessoas, dizendo o que e certo e errado. Tipo, não proteste pois você esta indo contra Deus. O Ayatolla e o representante dos Imams na terra, seria como o Papa para os Católicos.  Se lembrarmos um pouco da idade media da para imaginar o que acontece quando politica e religião se misturam.

No inicio do ano tiveram novos protestos, que a oposição tentou chamar de “movimento verde”. A verdade e que muito poucas pessoas apoiam a oposição,  que já esteve no poder antes e não era nada melhor. As pessoas que foram para as ruas estavam protestando contra o sistema, mas sem ter uma opção.  Podem trocar de presidente quantas vezes quiserem, pois vai ser só mais um marionete.

O poder econômico do Irã na região só aumentou após as invasões americanas do Afeganistão e Iraque. No dia em que os EUA anunciaram a data de retirada das tropas do Iraque, lá estava um ministro do Irã para fechar negócios com o seu antigo inimigo eterno. Se o mundo árabe balançou nos últimos meses, o persa parece estar ainda bem firme.

O melhor lugar para ser curdo!!

Depois de passarmos por regiões habitadas por curdos em diferentes países  finalmente encontramos um lugar onde os curdos tem uma vida tranquila. Como não poderia ser diferente, no Irã. Não poderia ser diferente devido a vários aspectos. Desde que Ciro – O Grande, uniu o império Persa, há mais de 2500 anos atrás, a tolerância em seus domínios sempre foi bem clara. Os povos eram conquistados, mas podiam seguir seus costumes dentro do comando persa. Quando os Judeus foram libertados dos Babilônicos (e até mesmo antes), passaram a viver onde hoje é o Irã. Ate mesmo a mulher do Ciro era judia. Poucos anos atras Israel tentou levar os judeus iranianos para Israel (muitos fugiram após a revolução islâmica), mas eles se negaram a sair, pois criaram uma identidade de Judeus Persas. Cristãos armênios (dentre outros) também vivem na região  e possuem certas regalias. Mesmo vivendo no Irã, podem consumir álcool (que é proibido para os muçulmanos . Ciro, chamado de Kouroush, tem origem Curda por parte da mãe  que era uma Mod, parte dos arianos que originaram os curdos, e o Curdistão foi uma província autônoma por muito tempo. Se (ainda) não é possível ter uma nação Curdistão, pelo menos que sua língua  tradição e costumes sejam respeitados (apesar de existir um preconceito contra eles, acharem que são “do mato, toscos”). Há quem diga que as minorias são tratadas como os persas pelo governo, ou seja, muito mal! Mas não deixa de ser melhor que nos países vizinhos.

Já estávamos maravilhados com as montanhas do Curdistão Iraquiano, e quanto mais nos aproximávamos da fronteira, mais a paisagem ficava bonita. Tivemos um pequeno problema quando nosso táxi  infelizmente, atropelou uma mulher, mas acho que não foi tao serio assim e que ela vai ficar bem. Nosso companheiro de táxi era um Iraniano tipico, mega simpático  e que não nos deixava encostar na carteira, seja para pagar os táxis  almoço ou qualquer coisa. A pequena fronteira era um lixo, cheia de caminhões e lama. Na imigração foi tudo certo, foi só a Bibi amarrar o lenço na cabeça (obrigado por lei) e entramos no Irã.

Marivan, nossa primeira parada, ficava a poucos km dali. Era o primeiro dia de final de semana deles (quinta) e os hotéis tavam todos lotados. Acabamos ficando num bem simples e sujinho, para desespero da Bibi. Para balancear comemos um carneiro muito gostoso, depois de passear pela praça  com velhinhos curdos jogando dama sentados no chão. Quando alguém falava inglês vinha direto perguntar se precisávamos de alguma coisa, nos davam boas vindas e por ai ia…

No outro dia cedo, fomos conferir a atracão da cidade, o lago Zarivar. Tava bem quente, e ainda com a conduta das roupas femininas para cumprir, já imaginávamos que não daria para tomar banho. Muitas pessoas passeando, fazendo piquenique, cantando. Vimos a primeira mulher sem véu,  mas com ele no pescoço  para colocar se alguma autoridade aparecesse. Na água só pedalinhos, e um ou outro tomando banho, todos homens. Curtimos o visual, mas tava muito quente. Resolvemos buscar uma sombra, nas arvores do outro lado do morro. De longe já dava para ver que tinha mais gente fazendo piquenique, desta vez curdos com suas roupas tipicas. As mulheres usam roupas coloridas, ora lembrando saris indianos ora ciganos. Fogueira, rede, musica e muita dança tipica. Sentamos e ficamos olhando de longe. Não demorou para uma família chegar e nos adotar. Conversamos, rimos, dançamos  A chuva chegou e nos amontoamos no carro deles ate a comida ficar pronta. Depois de um dia inteiro juntos, ainda fomos para casa deles, jantamos, tomamos chá e queriam que ficássemos lá.

Lago em Marivan

Piquenique

Marivam e muito agradável  mas queríamos um lugar ainda menor, como uma vila. Howraman não e tao longe em distancia, mas a barreira natural mostra porque a cultura curda conseguiu sobreviver tao bem através dos anos. A cidadezinha, pendurada na montanha, fica isolada do mundo durante o inverno, devido a tanta neve. Mal tínhamos botado as mochilas no chão e uma família já pediu para tirar fotos. Eles eram da capital do Discursista Iraniano, e estavam la aproveitando o feriado, data comemorativa da morte de Fátima  mulher do Imam Ali e filha do profeta Maomé  Não deu tempo de pensar, e já estávamos indo para mais um piquenique, com varias famílias  num lugar sagrado, de frente para a vila, e com vista para as montanhas. Total momento celebridade, ganhamos mais presentes, e queriam porque queriam a Nossa Senhora da Bibi. Como já comentei anteriormente, tem um capitulo só para Nossa Senhora no Corão  Foi muito legal, e a despedida comovente. Só faltavam chorar. Carros lotados com pessoas abanando para nos e buzinando. Um dia muito legal, e com muuuuita comida!!

Caminho para Howraman

vilas

Mais piquenique

Howraman

O lugar e parado no tempo. Não cansávamos de andar pelas montanha, curtir a vista, ir ate a mesquita olhar os locais com seus trajes típicos se encontrarem no final de tarde. Lá embaixo da montanha passa um rio, com água de desgelo e muito verde ao redor.

Trajes

Conhecemos uns iranianos de Teerã  Uma delas e cineasta, e fez um filme na região  Nos ajudaram a traduzir o cardápio  e acabaram nos convidando para ir ate a casa que tinham alugado. Nem uma semana de Ira e vimos que para os iranianos modernos existem duas personalidades. Entrando na casa, roupas são mudadas, lenços tirados da cabeça e garrafas de wiskey e vodka aparecem do nada… Conversamos bastante, bebemos um pouco, e ficamos de entrar em contato quando fossemos para Teerã.

dupla personalidade

A Bibi estava apaixonada pelo lugar, queria morar la. Mas temos data fixa de entrada para os próximos países, então não poderíamos ficar mais de um mês no Ira. Pegamos a estrada de terra pelas montanhas para Pavet. Passamos por diversas vilas, vales, penhascos numa região incrível. Realmente não dava vontade de sair dali. Pavet já e uma “cidade grande”, com uns 20 mil habitantes. Se eu contar que em 5 minutos que chegamos la, já tinha uma família convidando para um piquenique, e que fomos para a casa deles depois, vcs acreditam?

caminho pelas montanhas

mais vilas

Pavet

Acabamos alternando os planos novamente, e em vez de irmos para Kermanshah, voltamos para Howraman, desta vez pela estrada de asfalto que beira a fronteira com o Iraque. Estrada que também e bonita, com calotas de gelo que ocupavam meia pista em alguns lugares. Ficamos na casa do Omid, que tinha ficado de arranjar um quarto para alugarmos, mas acabou nos convidando para ficar na casa dele mesmo. As casas simples da região não tem nenhum móvel  so tv e cozinha, se dorme no chão  que e todo coberto de tapetes. Sapato dentro de casa nem pensar. Tem chinelo para o banheiro, e outro para a casa se quiser.

gelo na estrada de volta

O Omid tem uma historia de vida que poderia ser filme. Durante a guerra Irã-Iraque a região ficou no meio do conflito, e ele se perdeu dos seus familiares quando fugiam pelas montanhas e acabou no Iraque, sozinho, com 8 anos. Trabalhou servindo chá  juntou dinheiro para ir para a Turquia, roubaram todas as suas economias, ficou perdido no meio do nada, foi para Baghdad, trabalhou mais, conseguiu ir para a Turquia, trabalhou mais, foi para a Grécia  depois de barco para a Itália  deportado, tentou de novo, entrou clandestino dentro de um caminhão contêiner, pegou trem para a Franca e em seguida para a Suécia.  Falaram que não estavam aceitando refugiados, foi para a Alemanha, onde não teria liberdade, foi para a Inglaterra, onde o aceitaram como refugiado. A estas alturas já tinha 18 anos.Viveu 12 anos la, achando que sua família tinha morrido. Conheceu uma brasileira de londrina-pr, e casaram. Tiveram um acidente de carro e ela morreu. Ele foi para o Brasil para seu enterro, descobriu que os pais estavam vivos, e 22 anos depois voltou para Howraman! Hoje ele tem uma marcenaria, esta casado e tem uma filha. Você tem coragem de reclamar da tua vida?

vencedor

Aproveitamos mais Howraman, e seguimos estrada para Sanandaj, Hamadan, sempre encontrando pessoas muito bacanas, até chegar em Tehran, onde os nossos novos amigos nos esperavam.

Ps- Tanta gente interessante, historias, mas tem que escolher o que contar. Acabei nem falando do dia que A Bibi esqueceu de colocar o lenço na cabeça, e das pessoas me criticarem por dar pouco ouro para ela, mas fica para uma próxima.