Vídeo Rota da Seda

Praticamente um ano após o nosso retorno, finalmente terminamos o vídeo da Rota da Seda. Uma viagem da Turquia para o Curdistão e Norte do Iraque, Irã, Turcomenistão, Uzbequistão e Republica Karakolpak, Cazaquistão, Quirguistão, China/Xinjiang, Paquistão e Índia e Caxemira.

A ideia era fazer um lançamento em um telão, ou fazer uma reunião para a primeira exibição. Alguns fatores inviabilizaram isto no momento, e de qualquer forma, acredito que os leitores do blog devem ser os primeiros a ver.  Quem nos acompanha com frequência merece!

Espero que gostem…

Capital Persa, a cidade no deserto e a mais sagrada

Mais estrada, mais deserto, algumas montanhas onde ate hoje vivem nômades  e chegamos a Shiraz, talvez o destino mais visitado do Ira. A fama não vem da cidade em si, mas dos seus arredores, onde estão as ruínas de Persepolis, importante cidade do Império Persa, e que foi destruída por Alexandre o Grande, a mais de 2000 anos atrás. Tumbas, esculturas nas pedras, além de outras cidades ainda mais antigas completam o circuito histórico da região.

Na cidade, mesquitas, igrejas, restaurantes  jardins e bazares. Mas dois dos grandes poetas persas eram de Shiraz, e estão enterrados ali. Existe praticamente uma peregrinação nestes lugares. Pessoas os tratam como santos, e com seus livros ficam rezando ao lado da sepultura. Outros preferem ler seus poemas silenciosamente nos bonitos jardins que tem por ali.

Encontramos viajantes que tínhamos conhecido em outros lugares e alguns outros  de bicicleta (sera que virou moda viajar de bicicleta?). Então sempre tínhamos boas companhias.

Caravansarai

coleta de esmolas

Ficamos na duvida se íamos para as montanhas ou para o deserto, como já tínhamos passado um tempo nas montanhas no Curdistão Iraniano, optamos pelo deserto.

Foi uma boa esticada ate Yazd, uma cidade rodeada por desertos, bem no meio do Irã. Calor infernal, e não dava para fazer muita coisa, a não ser bem cedo ou mais no final de tarde. Ficamos num hotel estilo Caravansarai. Os caravansarais eram as hospedagens dos viajantes a centenas de anos atras. Visitamos alguns reformados, outros nem tanto. Era o que tinha quando se pensava em viajar pela rota da seda. Ótimo lugar para ficar largado, com bom restaurante, e ate uma internet decente. Encontramos nossos amigos csers de Abyaneh, além de outras pessoas bacanas.

Yazd e uma das mais antigas cidades do Irã. É o centro do Zoroastrismo, primeira religião monoteísta do mundo, e de origem persa. Visitamos um templo onde tem uma chama que esta queimando a mais de mil e quinhentos anos. Encontramos com devotos que reclamaram um pouco da situação no Irã, pelo fato de fazerem parte dessa minoria religiosa, e contaram um pouco mais de suas praticas. Alem do Irã, existem bastantes Zoroastras na Índia.  Fomos numa Torre do Silencio, local onde os corpos eram levados para serem devorados por abutres, pois conforme a doutrina, não podiam ser enterrados. Escalamos até o topo, mas hoje esta inativa.

Templo da chama zoroasra

apreciamos uma deliciosa carne de camelo

A cidade tem todo um tom marrom, e a parte velha é toda de barro. Construções bacanas, arquitetura continua fantástica  O que chama a atenção são torres para captar o vento e refrescar os ambientes. Visitamos um interessante ginásio local, onde as pessoas fazem exercício ao som de tambores e declamação de poemas persas. Encaramos uma ida ate Karanaq, antiga cidade, toda de barro, com um caravanserai ao lado. Paisagens lindas de deserto, mas o calor era tanto que a Bibi decidiu vetar a nossa ida para o Oasis, que estava planejada para os próximos dias. Se não teria a parada no oásis no meio do caminho, teríamos que ir direto ate Mashhad, nossa ultima cidade no Irã.

torres para refrescar 

ginasio local

deserto

Karanaq

Mashhad e a cidade mais sagrada do Ira, pois ali esta enterrado o Imam Reza. Existe um complexo gigantesco, com patios, museus, mesquitas e ate hospital. Mulheres tem que estar todas cobertas para entrar Teoricamente estrangeiros devem se apresentar para o departamento de assuntos internacionais, para seguir com um guia, mas nos enfiamos no meio da muvuca e fomos sozinhos mesmos. Muita devoção, choro e um lugar ainda mais bonito que esperávamos  Para ter acesso a sala onde esta sepultado o Imam Reza, homens e mulheres tem que entrar separados. Eu combinei de encontrar com a Bibi dentro de alguns minutos ali na frente, mas quando voltei ela não estava. Procurei por tudo, mas sempre voltando ao lugar combinado. Pensei que ela podia ter feito alguma amizade la dentro ou algo do tipo. Mas era estranho, pois já estava cansada, e sabia que eu não demoraria. Achava que dificilmente ela voltaria para o hotel, primeiro porque não sei se saberia o caminho, segundo porque eu estava com seus sapatos. Depois de uma hora e meia de procura e espera resolvi voltar para o hotel, já pensando em ir na policia se ela não tivesse la. Por sorte encontrei ela no meio do caminho, voltando com o pessoal para me procurar. Ela tinha se perdido la dentro e não sabia onde eu estava. Pelo menos achou o hotel!!haha

Tínhamos que pegar o visto do Turcomenistão, e deu tempo de passar no complexo outras vezes, inclusive presenciar um final de tarde muito gostoso, com a chamada das mesquitas e torres se iluminando a medida que escurecia. Encontramos com nosso cser de Kashan, pois sua família e daqui, e conversamos um monte sobre o dia a dia e costumes do Irã. Saímos para jantar (duas vezes) com o Reza, um cara que conhecemos na rua, quando ele nos ajudou a achar o endereço do nosso Cser de lá, e nos levou ate um hotel, pois acabou não dando certo. Saímos juntos duas vezes, uma delas fomos ate mais um tumulo de outro poeta famoso do Iãa, o Ferdosi, e fizemos churrasco junto com sua família ate depois da meia noite.  Na outra vez, fomos no bairro moderninho, com lojas de grife, e até porche nas rua e pessoas descoladas, a poucos quilômetros da região ultra tradicional, com mulheres todas cobertas com chador pretos. Mais uma pessoa fantástica que conhecemos.

Dentro do hotel, para saber onde fica Meca

Mais um poeta – Ferdosi

Quando chegou a hora de nos despedirmos do Irã, a Bibi começou a chorar e não parava mais. Ao ligarmos para nos despedirmos de alguns dos nossos amigos a situação piorou ainda mais. Acho que voltaremos para o Irã logo, como certeza esta entre os países que mais queremos voltar, até porque um mês é muito pouco para conhecer o país, principalmente por ter pessoas tão especiais!!!

O Irã Turístico

O Ira tem desertos, muitos desertos, mas também tem montanha. Tem neve, e estacoes de esqui. Tem praias no golfo pérsico e no Mar Cáspio  Tem cidades antigas, muito antigas, tradição  religião  Tem cidades modernas, selvas de concreto como Terha. Tem poesia, musica, festa, seja tradicional ou moderna, com muita bebida. E para completar, tem diversos povos, Persas, Curdos, Loris, Árabes  Arzebajans (…), todos da mais alta qualidade!!!

Pegar estrada no Ira e fácil e barato. Devido suas imensas reservas de petróleo, o combustível e quase de graça, e as estradas boas. Um ônibus VIP, que tem ate serviço de bordo vai te custar um dólar por hora de viagem. Se pegar um ônibus velho, sem ar condicionado e frescuras, o preço vai cair pela metade. Grande parte do centro e leste do Ira são imensos desertos, portanto as estradas são uma reta sem fim, mas com uma paisagem incrível.

De Terha fomos para o sul, passando pela religiosa e conservadora Qom, e depois para Kashan, onde já tínhamos combinado com um couchsurfer. Ele estava com jornada dupla de trabalho na fabrica de carro onde era engenheiro, portanto tínhamos a casa só para nos, e ele aparecia só de manha. Kashan foi uma grata surpresa. Sabíamos das tais casas tradicionais, mas acabamos nos surpreendendo quando visitamos! Muito bonito, interessante, sem mencionar o restante da cidade, que também e bem unica. Fomos com o nosso anfitrião numa vila próxima, onde produzem água de rosa, que e bem famosa aqui, mas bem ruim. Imaginávamos um oasis com roseiras e camponeses colhendo, mas este sim e meio propaganda enganosa. De qualquer forma valeu pelo visual e para poder ter mais contato com o nosso anfitrião. Chegaram outros csers na casa dele, bem legais, e acabamos indo juntos para Abyaneh. Uma vila num vale a uns 100 km dali, um pouco depois da usina nuclear. Casas de barro, com uma população praticamente de velhinhos. Eles falam um farsi antigo, e tem uma tradição toda peculiar. O lugar não esta nas melhores condições de conservação  mas e muito intocado. As portas tem duas formas de bater, para saber se ‘e homem ou mulher que está chegando. A vista do outro lado do vale, que e verde mesmo no meio do deserto, ‘e uma coisa espetacular. Não pensem que não conhecemos mais pessoas, que não fomos jantar, e não reencontramos depois, só não da para mencionar todas as vezes…

Casas tradicionais

Detalhes

nova geracao de Abyaneh

porta com macaneta para homens e mulheres

Esfahan era o nosso próximo destino, e com o super visual de deserto para fora da janela, nem percebiamos o tempo passar. Uma cidade super agradável, talvez a cidade grande mais gostosa do Ira. Em plena regiao arida, com suas ruas arborizadas devido ao sistema de irrigação  onde pequenos canais percorrem as laterais das ruas. Curtimos um pouco sozinhos, so conversando com os estudantes que queriam praticar inglês  e depois com nossos amigos de Teran, que foram la só para nos ver. A cidade tem pontes, palácios  Madrassas (escolas islâmicas), parques, mesquitas, igrejas, mas o centro de tudo e a praça Imam Hussein. Uma grande praca, com magnificas construções islâmicas ao seu redor. O palácio Ali Qapu, a antiga mesquita das mulheres, e a impressionante Imam Mosque. Tudo com seus mosaicos e pinturas em miniatura. Como nosso amigo era professor de arte, pudemos aproveitar ainda mais os detalhes. Os mercados estao em toda a volta da praça  e seguem por quilômetros ao norte, ate a Jameh mosque, já numa região bem menos turística.

No islamismo, alem da conduta espiritual, eles enfocam bastante na parte moral e civil, como agir na sociedade. Na sexta-feira, que e o domingo deles, acontece o Jameh, que e toda uma instrução civil, alem de rezarem e claro. Eu queria ir na mesquita neste dia, mas não ‘e autorizado para não muçulmanos  Bem, la fui eu sentar na frente da mesquita, puxar papo com pessoas do lado, e um tempo depois , na maior cara de pau, falar: “vamos?”. Estava entrando e a pessoa que organiza a entrada me barrou. Meus novos amigos advogaram a meu favor (como eu esperava), e depois de alguma argumentação so pediram para eu deixar a maquina fotografica num guarda volumes. Depois de lavar os pés e seguir o ritual de purificação  la estava eu passeando por uma das mesquitas mais bonitas do mundo, lotada de gente. Meus amigos não falavam quase nada de inglês  então era impossível traduzir o que estavam falando no “ sermão”. Mas fizeram questão de me mostrar os movimentos para quando chegasse a hora de rezar. A mesquita tem um sistema acústico impressionante, e quando todos repetem “Deus e grande, Deus e misericordioso” e algo impressionante. Os senhores mais velhos queriam me dar os seus “terços” e quando eu falava que era cristão  todos falavam: “Issa (Jesus), o profeta da paz!! Very good, very good”. Para os muçulmanos xiitas, o decimo segundo Imam, Merdim, lutar’a contra o mal na batalha do apocalipse  com  Jesus ao seu lado. Após a vitoria, Jesus reinara por um bom tempo…

sexta-feira – dia de ir pra mesquita

Ate convencemos nossos amigos de Teran em ficar um pouco mais, mas eles tinham que voltar para o seu dia a dia. Nos despedimos em mais um longo jantar, com muito bate papo.

Os melhores anfitriões do mundo!!!

Não gosto de ficar comparando países e lugares, mas uma coisa que nunca escapa de comparações e a receptividade que temos nos lugares. Isto e comum, e muitos viajantes acabam fazendo suas lista, pois esta diretamente ligado com a sensação que você vai ter do lugar. Posso afirmar que a maioria dos países  nestas listas são os mesmos.

Na Africa Oriental foi um choque. No Malawi pessoas convidando para ficarmos na casa delas, para fazer uma refeição ou pelo menos acampar no terreno. Na Tanzânia pessoas que não tinham o que jantar insistiam em dividir o almoço  Uganda, Zâmbia  a região e incrível neste sentido.

Uma coisa que ficou clara e que se um lugar e muito turístico  esta receptividade tende a ser diferente, pois muitas vezes te olham como um caixa eletrônico ambulante, enquanto em lugares muito mais pobres, vão te dar coisas, em vez de tentar te vender.

De uma forma geral, acho que poderia fazer uma tese, onde quanto mais humilde a região, melhores anfitriões eles são.

Indo mais para o norte, conhecemos outro tipo de hospitalidade, a hospitalidade árabe  Alguns apontam o passado nômade  onde todos precisavam se ajudar, como o motivo de ajudarem tanto os viajantes. Isto pode ser verdade, pois a receptividade e absurda na Somalilândia e deserto do Djibuti também.

Carros parando para te ajudar nas ruas do Emen  Comidas e caronas ao pedir informação na Jordânia  Na Síria acho que eram ainda mais legais, oferecendo ajuda mesmo quando não precisávamos.

No sudeste asiático  o Laos figura o topo da maioria das listas, mas como só fomos para lugares mais manjados e ficamos pouco tempo, para nos não alcançou esta posição  O campeão disparado foi o Mianmar, que brincávamos atingir padrões leste-africanos de hospitalidade

Voltando a tese dos Árabes,  outra grande explicação esta na religião  Os muçulmanos são ótimos anfitriões por um motivo bem simples: Deus! Esta escrito no Corão  e eles encaram uma visita como um presente de Deus (árabes cristãos são bons anfitriões  mas não chegam perto dos Árabes muçulmanos).

No topo da lista de muitos viajantes esta o Irã. Tínhamos ate um certo receio antes de vir para cá  pois nossas expectativas estavam muito altas. Mas toda uma tradição persa de conviver com diferentes culturas (Ciro fez a primeira proclamação dos direitos humanos a 2500 anos atrás), unida a religião Islâmica, pode ajudar a explicar uma nova forma de receptividade, talvez a mais incrível que já vimos.

Pessoas te convidam para a casa delas em poucos minutos de conversa, seja para almoçar  jantar ou passar a noite. O teu telefone ou e-mail vai ser questionado em segundos, e acreditem, eles vão ligar, seja para ver como vc esta, para bater um papo, mesmo que não falem nem inglês.

Se aceitar o convite, não ache que vai escapar tão fácil  Vão pedir para você ficar mais um dia, e outro. Não vão nem entender de você ir embora, te perguntando se você não tem sentimentos. Você não vai encostar na carteira, vão te pagar tudo, absolutamente tudo. Se você falar que gostou de algo, vão te dar na hora. Se não falar nada, vão te dar alguma coisa de qualquer forma. Não duvide se depois de algumas semanas de viagem pelo Irã tiver que mandar alguns kg de presentes para casa.

Tudo bem tratarem bem um hospede, mas te darem presentes de família  oferecer a melhor cama da casa, te tratarem como um rei, nos nunca tínhamos visto. Nem o barbeiro deixou eu pagar pela minha barba, para ter uma boa recordação do Irã.

Posso não querer comparar países e lugares, mas seria injusto não mencionar que o Irã redefine o termo hospitalidade, e isto não e *Taroof.

Taroof – Os iranianos são muito sofisticados, e isto também pode ser observado na educação deles. Para evitar que alguém fique numa situação constrangedora, existe um sistema chamado Taroof. Você tem que negar algumas vezes qualquer oferta, para no caso dela ser só gentileza, não comprometer a pessoa. E muito divertido, mas as vezes nos perdíamos quando era taroof ou não. Depois de negarmos uma centena de vezes perguntávamos na cara dura, e taroof ou não? haha E claro que, quando o motorista de táxi ou vendedor do mercado falavam que não precisava pagar, sabíamos que era só uma questão de insistir. Mas com tantos lugares no mundo que tentam te enganar/roubar nos preços, não deixa de ser um alivio.

O melhor lugar para ser curdo!!

Depois de passarmos por regiões habitadas por curdos em diferentes países  finalmente encontramos um lugar onde os curdos tem uma vida tranquila. Como não poderia ser diferente, no Irã. Não poderia ser diferente devido a vários aspectos. Desde que Ciro – O Grande, uniu o império Persa, há mais de 2500 anos atrás, a tolerância em seus domínios sempre foi bem clara. Os povos eram conquistados, mas podiam seguir seus costumes dentro do comando persa. Quando os Judeus foram libertados dos Babilônicos (e até mesmo antes), passaram a viver onde hoje é o Irã. Ate mesmo a mulher do Ciro era judia. Poucos anos atras Israel tentou levar os judeus iranianos para Israel (muitos fugiram após a revolução islâmica), mas eles se negaram a sair, pois criaram uma identidade de Judeus Persas. Cristãos armênios (dentre outros) também vivem na região  e possuem certas regalias. Mesmo vivendo no Irã, podem consumir álcool (que é proibido para os muçulmanos . Ciro, chamado de Kouroush, tem origem Curda por parte da mãe  que era uma Mod, parte dos arianos que originaram os curdos, e o Curdistão foi uma província autônoma por muito tempo. Se (ainda) não é possível ter uma nação Curdistão, pelo menos que sua língua  tradição e costumes sejam respeitados (apesar de existir um preconceito contra eles, acharem que são “do mato, toscos”). Há quem diga que as minorias são tratadas como os persas pelo governo, ou seja, muito mal! Mas não deixa de ser melhor que nos países vizinhos.

Já estávamos maravilhados com as montanhas do Curdistão Iraquiano, e quanto mais nos aproximávamos da fronteira, mais a paisagem ficava bonita. Tivemos um pequeno problema quando nosso táxi  infelizmente, atropelou uma mulher, mas acho que não foi tao serio assim e que ela vai ficar bem. Nosso companheiro de táxi era um Iraniano tipico, mega simpático  e que não nos deixava encostar na carteira, seja para pagar os táxis  almoço ou qualquer coisa. A pequena fronteira era um lixo, cheia de caminhões e lama. Na imigração foi tudo certo, foi só a Bibi amarrar o lenço na cabeça (obrigado por lei) e entramos no Irã.

Marivan, nossa primeira parada, ficava a poucos km dali. Era o primeiro dia de final de semana deles (quinta) e os hotéis tavam todos lotados. Acabamos ficando num bem simples e sujinho, para desespero da Bibi. Para balancear comemos um carneiro muito gostoso, depois de passear pela praça  com velhinhos curdos jogando dama sentados no chão. Quando alguém falava inglês vinha direto perguntar se precisávamos de alguma coisa, nos davam boas vindas e por ai ia…

No outro dia cedo, fomos conferir a atracão da cidade, o lago Zarivar. Tava bem quente, e ainda com a conduta das roupas femininas para cumprir, já imaginávamos que não daria para tomar banho. Muitas pessoas passeando, fazendo piquenique, cantando. Vimos a primeira mulher sem véu,  mas com ele no pescoço  para colocar se alguma autoridade aparecesse. Na água só pedalinhos, e um ou outro tomando banho, todos homens. Curtimos o visual, mas tava muito quente. Resolvemos buscar uma sombra, nas arvores do outro lado do morro. De longe já dava para ver que tinha mais gente fazendo piquenique, desta vez curdos com suas roupas tipicas. As mulheres usam roupas coloridas, ora lembrando saris indianos ora ciganos. Fogueira, rede, musica e muita dança tipica. Sentamos e ficamos olhando de longe. Não demorou para uma família chegar e nos adotar. Conversamos, rimos, dançamos  A chuva chegou e nos amontoamos no carro deles ate a comida ficar pronta. Depois de um dia inteiro juntos, ainda fomos para casa deles, jantamos, tomamos chá e queriam que ficássemos lá.

Lago em Marivan

Piquenique

Marivam e muito agradável  mas queríamos um lugar ainda menor, como uma vila. Howraman não e tao longe em distancia, mas a barreira natural mostra porque a cultura curda conseguiu sobreviver tao bem através dos anos. A cidadezinha, pendurada na montanha, fica isolada do mundo durante o inverno, devido a tanta neve. Mal tínhamos botado as mochilas no chão e uma família já pediu para tirar fotos. Eles eram da capital do Discursista Iraniano, e estavam la aproveitando o feriado, data comemorativa da morte de Fátima  mulher do Imam Ali e filha do profeta Maomé  Não deu tempo de pensar, e já estávamos indo para mais um piquenique, com varias famílias  num lugar sagrado, de frente para a vila, e com vista para as montanhas. Total momento celebridade, ganhamos mais presentes, e queriam porque queriam a Nossa Senhora da Bibi. Como já comentei anteriormente, tem um capitulo só para Nossa Senhora no Corão  Foi muito legal, e a despedida comovente. Só faltavam chorar. Carros lotados com pessoas abanando para nos e buzinando. Um dia muito legal, e com muuuuita comida!!

Caminho para Howraman

vilas

Mais piquenique

Howraman

O lugar e parado no tempo. Não cansávamos de andar pelas montanha, curtir a vista, ir ate a mesquita olhar os locais com seus trajes típicos se encontrarem no final de tarde. Lá embaixo da montanha passa um rio, com água de desgelo e muito verde ao redor.

Trajes

Conhecemos uns iranianos de Teerã  Uma delas e cineasta, e fez um filme na região  Nos ajudaram a traduzir o cardápio  e acabaram nos convidando para ir ate a casa que tinham alugado. Nem uma semana de Ira e vimos que para os iranianos modernos existem duas personalidades. Entrando na casa, roupas são mudadas, lenços tirados da cabeça e garrafas de wiskey e vodka aparecem do nada… Conversamos bastante, bebemos um pouco, e ficamos de entrar em contato quando fossemos para Teerã.

dupla personalidade

A Bibi estava apaixonada pelo lugar, queria morar la. Mas temos data fixa de entrada para os próximos países, então não poderíamos ficar mais de um mês no Ira. Pegamos a estrada de terra pelas montanhas para Pavet. Passamos por diversas vilas, vales, penhascos numa região incrível. Realmente não dava vontade de sair dali. Pavet já e uma “cidade grande”, com uns 20 mil habitantes. Se eu contar que em 5 minutos que chegamos la, já tinha uma família convidando para um piquenique, e que fomos para a casa deles depois, vcs acreditam?

caminho pelas montanhas

mais vilas

Pavet

Acabamos alternando os planos novamente, e em vez de irmos para Kermanshah, voltamos para Howraman, desta vez pela estrada de asfalto que beira a fronteira com o Iraque. Estrada que também e bonita, com calotas de gelo que ocupavam meia pista em alguns lugares. Ficamos na casa do Omid, que tinha ficado de arranjar um quarto para alugarmos, mas acabou nos convidando para ficar na casa dele mesmo. As casas simples da região não tem nenhum móvel  so tv e cozinha, se dorme no chão  que e todo coberto de tapetes. Sapato dentro de casa nem pensar. Tem chinelo para o banheiro, e outro para a casa se quiser.

gelo na estrada de volta

O Omid tem uma historia de vida que poderia ser filme. Durante a guerra Irã-Iraque a região ficou no meio do conflito, e ele se perdeu dos seus familiares quando fugiam pelas montanhas e acabou no Iraque, sozinho, com 8 anos. Trabalhou servindo chá  juntou dinheiro para ir para a Turquia, roubaram todas as suas economias, ficou perdido no meio do nada, foi para Baghdad, trabalhou mais, conseguiu ir para a Turquia, trabalhou mais, foi para a Grécia  depois de barco para a Itália  deportado, tentou de novo, entrou clandestino dentro de um caminhão contêiner, pegou trem para a Franca e em seguida para a Suécia.  Falaram que não estavam aceitando refugiados, foi para a Alemanha, onde não teria liberdade, foi para a Inglaterra, onde o aceitaram como refugiado. A estas alturas já tinha 18 anos.Viveu 12 anos la, achando que sua família tinha morrido. Conheceu uma brasileira de londrina-pr, e casaram. Tiveram um acidente de carro e ela morreu. Ele foi para o Brasil para seu enterro, descobriu que os pais estavam vivos, e 22 anos depois voltou para Howraman! Hoje ele tem uma marcenaria, esta casado e tem uma filha. Você tem coragem de reclamar da tua vida?

vencedor

Aproveitamos mais Howraman, e seguimos estrada para Sanandaj, Hamadan, sempre encontrando pessoas muito bacanas, até chegar em Tehran, onde os nossos novos amigos nos esperavam.

Ps- Tanta gente interessante, historias, mas tem que escolher o que contar. Acabei nem falando do dia que A Bibi esqueceu de colocar o lenço na cabeça, e das pessoas me criticarem por dar pouco ouro para ela, mas fica para uma próxima.