Sobre qual região deveria ser o próximo livro??

Meu primeiro livro foi De Cape Town a Muscat: Uma aventura pela África. Já estou com material bem adiantado para o próximo livro. Se tudo der certo, fica pronto nos próximos meses. Mesmo já sendo “carta marcada” fiquei curioso para saber qual região os leitores tem maior interesse, então resolvi criar a enquete. Se puder, comente sua opção! 🙂

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Vídeo Rota da Seda

Praticamente um ano após o nosso retorno, finalmente terminamos o vídeo da Rota da Seda. Uma viagem da Turquia para o Curdistão e Norte do Iraque, Irã, Turcomenistão, Uzbequistão e Republica Karakolpak, Cazaquistão, Quirguistão, China/Xinjiang, Paquistão e Índia e Caxemira.

A ideia era fazer um lançamento em um telão, ou fazer uma reunião para a primeira exibição. Alguns fatores inviabilizaram isto no momento, e de qualquer forma, acredito que os leitores do blog devem ser os primeiros a ver.  Quem nos acompanha com frequência merece!

Espero que gostem…

Comidas e viagens

Viagens e comidas tem tudo a ver. Eu particularmente adoro experimentar coisas novas durante as viagens.

Existem comidas diferentes e outras MUITO diferentes. A Lista é grande, insetos, cachorro, crocodilo, pombo, camelo, porquinho da índia, cérebro de bode e por ai vai…

O Beto Madalosso, Chef dos restaurantes Madalosso, Famiglia Fadanelli e Forneria Copacabana, também gosta muito de viagens.  Não o conheço pessoalmente, mas sei que já fez várias viagens legais, sendo algumas de bicicleta e até já foi para o Alaska de moto.

Ele está lançando uma revista chamada Tutano, e tem uma matéria  nossa na a primeira edição.

Revista Tutano

matéria sobre comidas de Kashgar

O lançamento oficial é semana que vem, mas como estarei viajando achei legal já dividir com vocês. A viagem foi cancelada, então vou no lançamento.

O fim da rota da seda

Pois é, chegamos em Delhi, e assim terminava a nossa rota da seda. Na verdade nunca existiu uma única rota da seda. A rota da seda eram diversas rotas comerciais utilizadas entre o ocidente e o oriente. Muitos desses caminhos são utilizados ha muito, mas muito tempo, e as próprias condições geográficas e climáticas foram moldando eles.

O período áureo destas rotas comerciais aconteceu na época do império mongol. O maior império de toda a historia, tinha controle sobre toda a região que passava a rota, tornando segura a viagem da Europa para China e/ou India, e vice-versa. Constantinopla era ligada a Xian (China) por uma destas rotas e a Delhi (Índia) pela outra. Não por acaso, depois de viajarem metade do mundo, Marco Polo ficou trabalhando na China, e Ibn Batuta na Índia.

Os europeus levavam ouro, marfim, joias, figos e buscavam porcelana, chá  laranja, pêssego  pólvora  especiarias (muito utilizadas para preservar os alimentos) e seda, e claro.

A rota da seda alem de produtos, passou a levar ideias, cultura e arte, em ambas as direções  O papel moeda foi inventado na China, por exemplo.

Ao contrario do que se imagina, os europeus não eram mais sofisticados que estes povos, muito pelo contrario. Os europeus sempre tiveram concorrentes a altura, que possuíam conhecimentos mais refinados de ciências  tecnologia, dentre outras coisas. Só após a revolução industrial é que os europeus passaram a avançar mais rapidamente.

O declínio da rota da seda aconteceu por diversas rasões  O colapso do império mongol, a chegada do islamismo na região  e principalmente, a descoberta da rota marítima ate a India pelos portugueses. A rota da seda não era mais importante comercialmente, mas sempre teriam os que prefeririam viajar pelas diversas culturas remanescentes em vez de ver mar por todos os lados (ou ar, no caso dos aviões agora). E nos eramos uns destes!

Na metade do mundo!

O Uzbequistão poderia ser considerado na metade do mundo. Pelo menos na metade da mais importante rota comercial entre Europa e Asia. Muita historia se passou por ali. Alexandre o Grande marchou sentido o oriente, Gengis Khan sentido o Ocidente. Desta mesma região surgiu o Timur, que conquistou todas as regiões ao redor, e uniu todas os povos turcos, formando o Turquistão, que ia da China ate a atual Turquia. Se por um lado ele não era nem um pouco “bonzinho”, por outro era uma pessoa de muito bom gosto, e que adorava arte. Pudemos conferir algumas das belas construções feitas naquela época.

Nossa primeira parada no Uzbequistão foi na antiga cidade de Bukara. Ficamos numa guest house bem legal, aqui existem diversas guest houses em casarões típicos, tornando o lugar ainda mais característico  Ficamos no bairro judeu, onde estão a maioria destes casarões  Estávamos a poucos metros de uma sinagoga, e era muito interessante ter judeu Uzbeks andando para cima e para baixo. O numero de judeus já foi bem maior, e e muito bacana ver eles tao integrados na sociedade, mesmo o pais sendo de maioria muçulmana. Alias, a não tanto tempo atras, eles usavam ate uma mesquita como sinagoga, acreditam? Os monumentos mais impressionantes não ficavam muito longe de onde estávamos  e nos dividíamos entre os passeios, que eram no inicio da manha e final da tarde já que o calor era absurdo, e muita sombra e comida ao lado do lago Lyabi Hauz, cercado por madrassas. Nos sentimos muito bem em Bukara, parecia que estávamos num pequeno bairro, já que quase tudo dava para ser feito a pé.

Encontramos pessoas interessantes, conversamos bastante, e curtimos o lugar. Um dia fui obrigado a tomar umas doses de vodca já que o dono da pousada estava comemorando alguma coisa, que ate agora eu não sei o que era. Aqui os hospedes sempre tem que beber primeiro. Conversamos também com uns locais, fomos na feira, parques e mercados, mas parecia ter algo faltando. Os monumentos eram perfeitos demais. Lindos, maravilhosos com seus domos azuis e pinturas, mas faltava um pouco de vida.

Seguimos pela estrada de péssima qualidade ate Urgench, uns 500 km mais para o norte. Depois de muito deserto, buracos e nenhum estrutura chegamos em Khiva. Ficamos na parte velha da cidade, totalmente murada. Se achamos que Bukara estava perfeitinha demais, ali parecia que tinha sido construído ontem. A cidade ‘e impressionante, tem mesquitas, mausoléus  e mais de 40 madrassas (escolas islâmicas  só dentro da cidade murada. Mas praticamente nada está em atividade, e um grande museu. Muitos dos monumentos tem lojinhas dentro ou viraram pequenos museus. ‘E possível e bem legal, percorrer a pé parte da muralha, e a cidade ‘e mais interessante como um todo do que os monumentos individuais. Subimos por uma escada escura ate o topo de um dos minaretes, de onde tinha uma super vista. A noite caia e tudo ficava desértico  quieto, sem ninguém nas ruas. Tentei comprar uma passagem de trem sem sucesso algum. A comunicação tem sido uma grande barreira, se eu tivesse levado a serio minha ideia de ter estudado um russo básico, as coisas seriam mais fáceis.

A linguagem de sinais funciona bem, e consegui um motorista para nos levar em alguns castelos antigos mais para o norte, ate chegarmos na Republica Karakalpak. E mais um daqueles países que já existiram, mas não existem mais, apesar de ser uma região autônoma  No caminho já observávamos muitas carroças, burricos, e uma população bem simples. Tudo bem diferente dos lugares todos preparados para turistas que tínhamos passado no Uzbequistão  Algumas horas depois chegamos a Nukus, capital da Karakalpak. Uma cidade esquecida no tempo. Prédios soviéticos decadentes, um povo com língua  tradição e cultura própria  Era fácil de imaginar que estávamos em outro pais. Passamos na ferroviária e as filas (amontoado de pessoas) desanimavam. Eu não conseguia entender nada que estava escrito na placa, nem o nome das cidades. A mais bem intencionada das pessoas sabia só falar russo. Acabei dando os passaportes e dinheiro para um oficial que prometeu que tudo estaria pronto em 4 horas. Fomos ate um hotel, que não era muito agradável  e depois até o museu Savitsky. Este museu e o segundo maior acervo de obras da ex-URSS. São mais de 100 mil obras de arte, muitas delas proibidas por muito tempo. Claro que nem 2% das obras estão expostas, e depende muito de algumas exposições temporárias para mostrar mais coisas. Existe um andar do museu com uma exposição sobre a cultura de Karakalpak, onde muitos objetos, fotografias, roupas e outros itens foram recuperados, antes que a cultura toda se perdesse. Foi muito interessante, e conseguimos uma pessoa que falava bem inglês  assim podendo entender um pouco mais do lugar. Voltamos na estação de trem e ainda não estava pronto. Sera que demora tanto para emitir uma passagem? Fomos num mercado e interagimos bastante com o pessoal, que era bem simpático e curioso. A maior nota da moeda aqui vale uns 30 centavos de Dollar  então imaginem a pilha de dinheiro ao trocar 100 usd. Nos mercados algumas pessoas ficam com malas e sacolas de dinheiro. Se trocar no cambio oficial se perde bastante dinheiro, então sempre íamos nos mercados mesmos.

A passagem deu certo, e devolveram ate o troco. Nos estávamos morrendo de medo de corrupção  pois um casal de israelenses tinham nos assustado, mas tudo se mostrou ser mais simples do que parecia. Desisti de ir deserto a dentro ate o antigo Mar Aral. Eu queria ver aqueles navios encalhados na areia, sem nada de água, onde ocorreu uma das maiores catástrofes causadas pelo homem. Mas depois de ver tanta coisa perfeitinha, e descobrir que ate os navios eles alinharam e organizaram, desisti da ideia. Arranjei um restaurante bem gostoso, e a Bibi ficou surpresa. O problema e que não estávamos muito bem de estomago, e não podíamos comer de tudo (depois de quase dois anos de viagem, tive minha primeira diarreia).

milhonarios

O trem chegou no horário  e a cabine de segunda classe era para ser boa. E era, o problema ‘e que na maioria dos vagões o ar condicionado estava estragado, então a viagem não foi muito agradável  O senhor que cuidava do nosso vagão era bem legal, as nossas companheiras de cabine também se esforçavam oferecendo comida, mas era difícil não pensar na temperatura. Caminhávamos ate o vagão restaurante para ver se achávamos algum lugar mais fresco, mas não tinha muita solução  A janela abria só trés dedos, e a Bibi molhou uma toalha para conseguir dormir. Vinte e duas horas depois chegamos em Tashkent, a capital do Uzbequistão.