Sobre qual região deveria ser o próximo livro??

Meu primeiro livro foi De Cape Town a Muscat: Uma aventura pela África. Já estou com material bem adiantado para o próximo livro. Se tudo der certo, fica pronto nos próximos meses. Mesmo já sendo “carta marcada” fiquei curioso para saber qual região os leitores tem maior interesse, então resolvi criar a enquete. Se puder, comente sua opção! 🙂

Caminho das índias (2005)

Quando estava indo para o Nepal fiz escala no antigo aeroporto de Delhi (hoje bem moderno), onde tive meu primeiro contato com a Índia: dezenas de pessoas dormindo no chão, outras comendo… eu sabia que a experiencia seria intensa. Tinha tido um aperitivo de caos nos festivais do Nepal, mas tudo havia se tranquilizado bastante nas montanhas do Tibet.

Agora chegava na Índia em um dos lugares mais intensos, Varanasi. A cidade é um dos lugares mais sagrados da Índia, onde tudo acontece ao longo do rio Ganges. Uma confusão de sensações, cheiros de tempero se misturavam com o fedor de bosta. Muita gente, animais, autorickshas… Não foi um choque cultural porque eu amei desde o início, estava mais para um sonho. Olhava tudo aquilo e não conseguia esconder o sorriso do meu rosto. Com o lábio rachado dos ventos gelados do himalaias, muitas pessoas sabiam que eu vinha das montanhas, e o bate papo fluía nos gaths (escadarias) na beira do Ganges. Muitas pessoas se banhando, cerimonias, pessoas lavando até a boca na água onde passavam restos de corpos. A lenha é cara, e nem todas as famílias conseguem garantir uma cremação completa. Entrei timidamente no rio, me joguei água, mas não tive coragem de mergulhar. Talvez fosse demais para um primeiro dia.

Na beira do Ganges

Na beira do Ganges

Cores da India

Cores da India

Conheci a cidade, rodei aleatoriamente, visitei os crematórios, o bairro muçulmano e diversos templos hindus. Passeei de barco pelo Ganges para ver o sol nascer. Fui até Darnath, local onde Buda deu o seu primeiro sermão. Sentei embaixo da mesma arvore, mas num país com 1 bilhão de pessoas não tinha ninguém para conversar comigo. Bom, pois precisava de um tempo. Aproveitei para curtir o silencio, que foi muito bem vindo, já tinha até esquecido como que era. Crianças se aproximaram vendendo pequenas estatuetas de barro de Buda por poucos paise (centavos de Rupia). A miséria na Índia é algo chocante, e incomoda. Comprei uma estatueta, mas me peguei virando o rosto tantas vezes para não ver coisas que me “incomodavam” que passei a ter um conflito interno.

Crianças muçulmanas

Crianças muçulmanas

Darnath

Darnath

Horas mais tarde conheci um senhor, que me apresentou um templo jainista. Seu fundador, Mahavira, foi um contemporâneo de Buda. Dizem que Buda sempre o desafiou para embates filosóficos, mas ele sempre evitou o confronto. As figuras das estatuas até que são parecidas e existem outras semelhanças entre estas religiões. Praticantes da não violência  os mais “radicais” andam com uma vassoura para limpara o caminho, evitando pisar em algum inseto. Foi muito bacana e proveitoso o bate papo

Arrisquei comprar uma passagem de trem na última hora pois sempre sobram uns lugares. Vagão sleeper simples, facilitava a interação, e eu estava conhecendo um dos programas que mais gosto de fazer quando vou para a Índia, andar de trem! Viajei a noite toda e cheguei em Agra antes do sol nascer.

Rostos da India

Rostos da India

Esperando o Trem

Esperando o Trem

Agra não é uma cidade muito agradável. O fato de milhares de turistas visitarem o Taj Mahal faz com que ao caminhar por lá te olhem como um caixa eletrônico ambulante. Mas estava com muito bom humor, e levei tudo na brincadeira. Conheci um casal de ingleses e um australiano no trem, e decidimos só passar o dia por ali. Corremos para ver o dia nascer atrás do Taj Mahal, único lugar calmo que encontramos em Agra, com o visual do rio. Depois encaramos o empurra-empurra para comprar os bilhetes inflacionados, com grande diferença para indianos e turistas. Lembro que paguei cerca de 15 usd, bem mais do que vinha gastando por dia com todas as atividades, incluindo hotel, comida e transporte.

Taj

Taj

O local é fantástico, e fui apresentado para a arquitetura Mughal que passei a admirar tanto. Não se tem paz lá dendro, lotado de turistas estrangeiros e e indianos. O calor também estava pegando, mas deu para passear e sentar em uma sombra para admirar a grandeza do Taj e das mesquitas ao lado. Ainda passamos no Agra Fort, outro magnífico monumento da lista da Unesco, antes de pegar outro trem noturno, desta vez para Jairpur no Rajastão.

Dividi um quarto de hotel com o casal de ingleses e me assustei com a dor de barriga que ele teve de noite. Se retorcia e teve que ir até o hospital. Eu tinha tido desarranjo no Tibet, e parecia que meu corpo já estava “vacinado”. Acabaram indo para Delhi, e voltei a ficar sozinho.

Desafiando a teoria de que indianos eram dinheiristas, peguei muitas caronas e circulei por varias atrações só na “amizade”. Claro que surgiram aquelas armadilhas para turistas. Um dia fui no cinema, parecia um teatro, com cortinas abrindo e intervalo. Na saída dois jovens se aproximaram e pediram para praticar o inglês. Eu que adoro uma interação fiquei batendo papo. Perguntaram onde estava indo e falei de lugares que queria conhecer. Se ofereceram para me levar, e como já tinha conseguido algumas caronas fui na boa. No meio do caminho falou de um tio que tinha lojas de pedras, que poderia ser um bom presente, ou até negócio. Eu educadamente disse que não queria, mas insistiram. Eu neguei mais firme e depois de uma insistência, pararam o carro, esconderam o sorriso e cordialidade, e me mandaram sair na hora. Eu sai me fazendo de bobo e segui conhecendo a bonita cidade rosa. O palácio da cidade, o palácio dos ventos, o Amber Fort e o incrível observatório astrológico/astronômico Jantar Mantar. Legal andar nas ruas e ver encantadores de cobras, mesmo que seja para ganhar uns trocados dos turistas. Muitos macacos e charretes de camelos carregando tijolos faziam parte das cenas do dia a dia nas partes menos turísticas da cidade. Não pretendia fazer muitas compras, mais os mercados também são bem bacana de se passear.

Mais cores

Mais cores

Pelas ruas

Pelas ruas

Filme com intervalo e cortinas

Filme com intervalo e cortinas

A viagem se aproximava do final e peguei outro trem, desta vez para a capital, Delhi. Fiquei num quarto escuro no camelódromo Pahaganj, em frente a estação de trem. Como tinha poucos dias comecei pelas atrações mais manjadas, antes de me “perder” pela cidade. O magnífico Red Fort, ofereceu sombra nos seus jardins. O caos do Chandni Chowk me apresentou para tantas novas comidas de rua. A imponente mesquita Jama Masjid me apresentou para o islamismo, religião que passei a admirar muito. Conversei por horas com curiosos fiéis. Também fui ao templo Bahai, conhecer mais uma religião (além do Budismo, Jainismo, Hinduísmo, Islamismo…).  Existem alguns lugares para “ver” como o Qtab Minar, minarete que representa a chegada do islamismo na Índia e o Gandhi Smriti, onde o Gandhi foi assassinado. Gostei muito de passear pelo Humayun Tomb, com arquitetura fantástica, belos e silenciosos jardins. Troquei uns livros e passeei por Connaught Place na minha última noite.

Templo Bahai

Templo Bahai

Minarete Q

Minarete Qtab

Tomb

Humayum Tomb

Me despedi da Índia sabendo que iria voltar. O país mais diverso que eu já havia conhecido até ali. De quebra, qual o país que é possível se hospedar na capital por 3 usd?

Quato de 150 Rupia em Delhi

Quarto de 150 Rupia em Delhi

PS-  Voltaria para a Índia mais duas vezes, onde passaria mais de 4 meses.

Novo passaporte brasileiro

Esta cada vez melhor viajar com o passaporte brasileiro. Um recente acordo com a Russia surpreendeu a todos. Desde o final de 2011 brasileiros nao precisam mais de vistos para viajar para a Ucrânia. Um acordo ja foi firmado com a Servia, e logo sera possível viajar por toda a Europa sem vistos. Moldavia ou Bielorrusia, qual sera a ultima a liberar o visto?). O Obama anunciou na Florida que vai acelerar o processo de visto para brasileiros, e dispensar a entrevista para muitos. Antes deste anuncio, 95% dos vistos americanos eram entregues para brasileiros. E um visto com validade de 10 anos nao ‘e ruim. A ultima novidade ‘e que a Índia est’a estudando de emitir os vistos nos aeroportos. Algumas poucas nacionalidades ja tem esta regalia, mas todas as outras tem que esperar os famosos 5 dias uteis para conseguir o seu visto. Um indiano amigo meu passou uma lista das possíveis novas nacionalidades que terão est’a facilidade, e o Brasil esta entre elas!

Havíamos acabado de chegar do nordeste (Sergipe/Maceió) e tivemos uma curta passagem por Curitiba, antes de seguir para a Santa Bela Catarina. Motivo? Fazer meu novo passaporte, que ja estava agendado ha alguns meses.

Mesmo com horário marcado, teve uma pequena espera, mas isto ja havia acontecido (e bem pior) comigo semanas antes na Receita Federal. Estava com todos os documentos em maos quando fui chamado. Quando solicitaram o meu passaporte antigo e buscavam em vao o numero na sistema da Policia Federal, imaginei que poderia ter problemas. O meu ultimo passaporte foi feito na embaixada brasileira da Malasia ( clique aqui), mas de qualquer maneira eu tinha entrado no Brasil com ele. Como prevencao, levei o meu passaporte anterior, e aceitaram este, que estava descrito no sistema. Para cancelar meu ultimo passaporte, foi so um carimbo na pagina da assinatura, ja que todas as outras estavam completamente preenchidas.

O passaporte “verdinho”, sem chip, mas que tanto insistiam em passar nas maquinas de leitura, com aquela foto 5×7 tosca que obviamente gerava desconfiança de falsificação, foi aposentado. Agora vou de “azulzinho”, e ja tenho duas viagens marcadas!!! Eba!

Portanto tirando a duvida que poderia surgir: O blog continua!

O fim da rota da seda

Pois é, chegamos em Delhi, e assim terminava a nossa rota da seda. Na verdade nunca existiu uma única rota da seda. A rota da seda eram diversas rotas comerciais utilizadas entre o ocidente e o oriente. Muitos desses caminhos são utilizados ha muito, mas muito tempo, e as próprias condições geográficas e climáticas foram moldando eles.

O período áureo destas rotas comerciais aconteceu na época do império mongol. O maior império de toda a historia, tinha controle sobre toda a região que passava a rota, tornando segura a viagem da Europa para China e/ou India, e vice-versa. Constantinopla era ligada a Xian (China) por uma destas rotas e a Delhi (Índia) pela outra. Não por acaso, depois de viajarem metade do mundo, Marco Polo ficou trabalhando na China, e Ibn Batuta na Índia.

Os europeus levavam ouro, marfim, joias, figos e buscavam porcelana, chá  laranja, pêssego  pólvora  especiarias (muito utilizadas para preservar os alimentos) e seda, e claro.

A rota da seda alem de produtos, passou a levar ideias, cultura e arte, em ambas as direções  O papel moeda foi inventado na China, por exemplo.

Ao contrario do que se imagina, os europeus não eram mais sofisticados que estes povos, muito pelo contrario. Os europeus sempre tiveram concorrentes a altura, que possuíam conhecimentos mais refinados de ciências  tecnologia, dentre outras coisas. Só após a revolução industrial é que os europeus passaram a avançar mais rapidamente.

O declínio da rota da seda aconteceu por diversas rasões  O colapso do império mongol, a chegada do islamismo na região  e principalmente, a descoberta da rota marítima ate a India pelos portugueses. A rota da seda não era mais importante comercialmente, mas sempre teriam os que prefeririam viajar pelas diversas culturas remanescentes em vez de ver mar por todos os lados (ou ar, no caso dos aviões agora). E nos eramos uns destes!

A diversidade da Índia!

A Índia não pode ser vista como um único pais, mas como vários países juntos. Cada estado e infinitamente diferente do outro. Nesta viagem mais do que nunca pudemos observar isto.

Era a terceira vez que viajava pela Índia, já tinha passado alguns meses no país, mas ao chegar na parte velha de Amritsar, me perguntei: Porque mesmo que eu gostava da Índia? E isto que o estado de Punjab era um dos que eu mais gostava, devido a deliciosa comida e hospitalidade do povo. Mas no primeiro momento o que sobressaia era um barulho ensurdecedor de buzinas, lugar cheio de gente e imundo. Não parecia ser a mesma Amristar que eu estive no ano passado. E não era, pois da outra vez, fiquei todo o tempo dentro do templo, inclusive hospedagem e refeiçoes  Passamos uma noite infernal com muito barulho, e no dia seguinte nos mudamos para um outro lugar mais calmo. Paz mesmo só conseguimos no Golden Temple. O Jony e Marco adoraram, foi um bom lugar para fechar a viagem deles. Era a primeira vez da Bibi ali também  e fomos todos comer no movimentado refeitório do templo. Bandeijão de qualidade, só o Jony que não encarou pois estava meio mal do estomago.

O Golden Temple e fantástico  não e um lugar para ser visitado, é para ser vivido. Sentar na beira da “piscina”, ver o entardecer e aprender mais sobre a cultura local com uma das pessoas que vai acabar parando para bater papo com você.

Nos despedimos dos “Idis”, que pegaram um trem para Agra, onde visitariam o Taj Mahal e voltariam para Delhi, para o voo de volta ao Brasil. No nosso dia de folga fomos tentar conhecer uma região da “Índia rica”, mas a rua tão falada, apesar de lojas internacionais, era imunda e cheia de vacas. Pelo menos a Bibi pode ir num bom salão.

Desde que saímos para viajar, alem da família (que veio), muitos amigos falavam que iriam nos visitar. Muitos gostariam, outros falavam por falar. Mas a Jami, grande amiga nossa, não se importou com uma recém transferência pela empresa para São Paulo, mudança de apartamento, e mesmo assim veio nos encontrar.

Ela nunca tinha feito uma viagem do nosso estilo, muito menos para algum lugar parecido com a Índia (se é que existe). Fizemos questão de busca-la de autorickshaw e foi muito legal ver a cara dela pelo caminho ate a cidade. Desde o inicio ela já quis conhecer as comidinhas, andar pelas ruas secundarias, e tive certeza que seria uma ótima companhia de viagem. Se emocionou no Golden Temple, fez amigos, foi com a Bibi na cerimonia da fronteira (desculpem mas eu sou Jula, Jula Pakistan!haha).

Qualquer viagem pela Índia não esta completa sem uma experiencia com os trens. Pegamos um trem para Jamu, capital de verão do estado Jamu & Caxemira. E chamada de cidade dos templos. Se em Amritsar a religião predominante era dos Sikhs, em Jamu é o Hinduísmo  Na frente dos templos tinham grandes barricadas, com arame farpado e exercito. O clima não era muito amistoso, e recalculando os dias que a Jami ficaria na Índia, decidimos não ficar muito tempo ali. Uma forte tempestade a noite, queda de energia, e trovoes que acordaram a Bibi, achando que eram bombas haha. Demos umas voltas, comemos num gostoso restaurante, e estávamos preparados para encarar a estrada até Srinagar.

Estrada longa, cheia de curvas e temperatura caindo com o passar do tempo e com a subida. Muitos Gujards no caminho, povo pastor nômade, que ocupava parte da estrada com suas criações.

Depois de muitas horas de viagem, entramos num túnel estreito, escuro, com 2,5 km de comprimento. Logo na saída do túnel uma placa: “Bem vindos a Caxemira, o paraíso na terra.” Ao fundo uma vista para o magnifico vale, com arvores, plantações  flores e rios. Espetacular!

Passamos por pequenas vilas, e já observamos mulheres com véu cobrindo o rosto. Agora estávamos em região muçulmana.

Chegando em Srinagar, nosso plano era de ficar num hotel uma noite, para no outro dia bem cedo ir procurar e comparar os barcos-casas do lago Dal. Acontece que os caxemirianos são ótimos negociantes (para o lado deles) e acabamos cedendo de ir conhecer um barco-casa oferecido, e nos demos super bem!

Os barcos de luxo ficam bem perto da avenida, tem bastante barulho, alem de insistentes vendedores passando de shikara (canoa local) oferecendo coisas. O nosso era meio decadente, mas bem acolhedor. Ficamos mais afastados, num lugar tranquilo, para dentro do lago, cercado de flores de lótus.

Ao contrario dos barcos de Aleppey, que navegavam todo o tempo, os de Srinagar ficam ancorados. Para se conhecer o lago e todo o “waterworld” só de shikara. Pensamos em fazer um passeio curto, no máximo de duas horas, mas foi tao legal que nos empolgamos, e ficamos umas cinco horas explorando os canais, passando por mercados flutuantes, as vilas sobre palafitas com o dia a dia sobre as canoas. Um passeio fantástico,  belíssimo !! Existem shikaras simples, mas muitas delas são todas preparadas para passeio, com almofadas e encostos. Tem uma infinidade de shikaras por todo o lado e quase dois mil barcos-casa. A região já foi muito turística  mais devido ha algumas guerras e frequentes conflitos, as pessoas passaram a ter medo de viajar por lá. Este ano teve um boom de turismo, dos próprios indianos, e saiu reportagem ate no NY Times (clique aqui).

flores de lotus

Shikara

Barco casa

equipe!

A Caxemira é mais uma daquelas questões polemicas. Na divisão do subcontinente indiano, os ingleses previam só dois países  um hindu (Índia), outro muçulmano (Paquistão). Nisto Punjab (Sikh) ficou chupando dedo, e Caxemira também  A Caxemira era de maioria muçulmana  mas tinha um Marajá hindu, colocado pelos ingleses. Na época da divisão  ele ia optar pela Índia (talvez até tentaria uma impossível independência), e por isto foi invadido pelo Paquistão  No final da historia ficou 1/3 com o Paquistão e 2/3 com a Índia. No tratado de paz da ONU, teoricamente a população que deveria ser ouvida para definir quem teria direito sobre a Caxemira. Claro que a Índia nunca aceitou esta decisão.

Isto não quer dizer que todo mundo gostaria de ficar com o Paquistão,  muito pelo contrario. Conversando com um estudante universitário  que participa de protestos pacíficos  ele me disse que 70% dos caxemiris querem ser um país independente ( e acreditam que um dia vão conseguir), 25% querem ficar com o Paquistão (a maioria destes são de pequenas vilas) e apenas 5% querem ficar com a Índia (ricos comerciantes de olho na economia indiana).

A Índia está apostando muito na ocupação da Caxemira, e é fácil de ver. Na estrada até lá é muito comum se ver comboios de caminhões com milhares de soldados. Muitos postos de controle e soldados por toda a cidade. Isto quebra um pouco o charme do lugar, mas existem algumas “ilhas” de tranquilidade.

A cidade velha de Srinagar é uma delas. Tranquilidade por causa da ausência do exercito, não pela falta de bagunça  O exercito não vai muito lá, pois os locais se reúnem e jogam pedras neles, e sempre da confusão  muitas vezes tomando grandes dimensões  As ruas são muito estreitas, e as casas possuem uma arquitetura única. Muitas delas com sacadas em madeira toda trabalhada. As mesquitas também tem um estilo próprio  sem minaretes, e com o telhado lembrando estupas budistas. Fomos diversos dias nos perder pelas ruas. As grandes atracões  não tem endereço certo, elas são as cenas do cotidiano. Lojas de especiarias, carneiros sendo pendurados e carneados no meio da rua e por ai vai. Em volta da mesquita principal aquela sensação de que o tempo parou. Diversas pontes cortam a cidade e dão uma vista fantástica para as construções.

Notamos um templo hindu todo cercado por arames, e ao olharmos curiosos por algum tempo, soldados nos convidaram para entrar. Fizeram uma base militar ali. Estrategicamente protegiam o antigo templo, e controlavam uma ponte bem em frente, que dava acesso para o miolo da cidade velha.

Outro grande refugio são os jardins Munghals. Uma dinastia descendente dos mongóis persas, que dominou boa parte do sul da Asia. Existem diversos jardins, todos floridos, muitos deles com vista para as montanhas ou para o lago Dal.

Jardins

Na noite anterior a nossa partida, mudamos os planos. Fomos convidados para um casamento e não poderíamos perder esta oportunidade. Na verdade tiveram três casamentos bem perto da nossa casa- barco. Os casamentos demoram dias, e fomos acompanhando os barcos chegando com as decorações  os mais de 30 carneiros mortos, e todos os vizinhos passando horas preparando a comida. Musica ja de dia, a noiva tendo sua mão pintada com henna, muita comida e festa ate de manha! Bem de madrugada distribuíram cobertores e todos ficaram largados no chão enquanto um homem vestido de mulher fazia um show de musica e dança  brincando e provocando os convidados estilo Nei Matogrosso. Nos divertimos muito quando ele tirou a Jami e a Bibi para dançar!!! Demais! Um grupo de músicos tocou a noite inteira e tinham narguilés por todos os cantos.

os preparativos

A noiva

A festa

Quando madrugamos para pegar transporte a musica ainda estava rolando, e ainda teria mais um dia de festa ate o noivo chegar para buscar a noiva. As festas são separadas.

Sabíamos que a viagem seria longa, mas foi ainda mais demorada que o esperado. No total acho que passou de 17 horas viajando pelos Himalaias, passando pelas milhares de curvas, no topo de altíssimos passes com vistas espetaculares. Paramos em Kargil, cidade bem próxima a linha de controle, onde os paquistaneses invadiram a pouco tempo, mostrando que os milhares e milhares de soldados indianos talvez não estejam tao preparados quanto pensam. Na estrada vários acampamentos do exercito, muitos deles fazendo treinamentos de escalada nas montanhas. Saindo da região da caxemira entramos em Ladak. A paisagem ia ficando mais desértica  pois estávamos cada vez mais altos. As bandeirinhas de orações budistas passaram a aparecer por tudo que ‘e lado, e as vilas estavam cheias de estupas e monges. Paramos em algumas delas, e gostaríamos de ter podido ficar mais tempo por ali. Chegamos já bem tarde em Leh, e por acaso acaso acabamos ficando numa pousada super bacana. Tinha um jardim todo florido com vista para as montanhas de um lado, e para monastérios e fortes do outro.

A caminho de Leh

Leh fica a mais de 3500 metros de altitude. Confesso que devido a dificuldade para chegar, esperava um lugar mais intocado. Sabia da fama do lugar entre os viajantes, mas não esperava tantas lojas uma perto da outra e restaurantes vendendo pizza e comida ocidental. No meio de tudo isto muitas internet cafés. Por outro lado, a energia elétrica faltou com muita frequência  mostrando que ainda existe um certo isolamento.

Chegamos para o ultimo dia do festival de Ladakh, onde teria musica, dança  alem das apresentações com mascaras. A partida de polo tinha sido ha dois dias, e perdemos novamente. O final do festival, mostra o termino da temporada. A partir de agora, pode nevar nos passes mais altos. Os viajantes overland saem as pressas sentido Manali (22 horas de estrada terrível , e era para Leh estar tranquila. Mesmo assim acho que vimos mais turistas do que monges.

Na cidade tem um bonito palácio real, um forte com uma super vista para o vale, alem de uma cidade velha e diversos monastérios  mas o mais interessante mesmo esta nos seus arredores.

Partimos para as montanhas, caminhando entre vales e bonitas formações rochosas, atravessando rios ate a vila de Rumbak. Uma vila de não mais que 12 casas e um monastério  Muitas plantações  yaques, e um grande espirito comunitário  Região muito bonita, um vale realmente especial. Passamos a noite numa das casas, fomos super bem recebidos. Aproveitamos um monte o lugar, mas na hora de seguir viagem fui voto vencido. Seriam mais 8 horas de caminhada, desta vez passando a 5 mil metros de caminhada. Acabamos voltando pelo mesmo caminho, e encontramos um casal de espanhóis viajando com seu filho de 3 anos. Iam fazer um treking de 25 dias!! Já era o oitavo pais que o moleque conhecia, e sempre ia caminhando, com seu óculos espelhado e todo animado. Pra quem acha que não da para viajar com criança ta ai:

Quem disse que não da para viajar com

criança

A tal da Delhi-belly acabou atrapalhando nossos planos. Não conseguimos explorar tanto a região como gostaríamos  mas fizemos o que pudemos. Se tínhamos chegado um dia depois da partida do nosso amigo Koich, por outro lado acabamos encontrando novamente os franceses la do Paquistão.

Depois de tantos meses viajando pela rota da seda (que também passava por aqui), pegamos o primeiro avião  Daria para seguir por terra, mas isto mostrava que o tempo estava acabando, e nossa viagem também  No pequeno aeroporto parecia uma operação de guerra, com centenas de soldados, burocracia e segurança. O voo foi rápido, com uma super vista de montanhas pela janela.

Em Delhi decidimos não ficar no Pahaganj, barulhento “ camelódromo” onde fiquei nas outras viagens. Ficamos no Manju ka tilla, bairro tibetano, um pouco mais afastado mas bem mais calmo.

Como era a primeira vez da Jami em Delhi, fomos em diversos lugares, muitos deles que eu só tinha ido na minha primeira viagem a Índia em 2005. Foi muito legal, ate porque hoje sou uma pessoa diferente, e vejo os mesmos lugares de forma diferente. Sem contar que e muito legal a cara de alguém que esta andando de rickshaw pela primeira vez pelas ruas de Old Delhi. Comemos no indicado restaurante Karim, fomos ver filme em hindi e não demorou ate nos despedirmos da Jami. Ela foi uma super companheira de viagem, pegou bem o espirito da coisa.

old Delhi

Já estava chegando nossa hora também  mas depois de tanto viajar, acho que merecíamos umas ferias da viagem, um pouco de “ descanso”. Se a rota da seda tinha chegado ao fim, tínhamos que pensar em alguma outra coisa…