Caminho das índias (2005)

Quando estava indo para o Nepal fiz escala no antigo aeroporto de Delhi (hoje bem moderno), onde tive meu primeiro contato com a Índia: dezenas de pessoas dormindo no chão, outras comendo… eu sabia que a experiencia seria intensa. Tinha tido um aperitivo de caos nos festivais do Nepal, mas tudo havia se tranquilizado bastante nas montanhas do Tibet.

Agora chegava na Índia em um dos lugares mais intensos, Varanasi. A cidade é um dos lugares mais sagrados da Índia, onde tudo acontece ao longo do rio Ganges. Uma confusão de sensações, cheiros de tempero se misturavam com o fedor de bosta. Muita gente, animais, autorickshas… Não foi um choque cultural porque eu amei desde o início, estava mais para um sonho. Olhava tudo aquilo e não conseguia esconder o sorriso do meu rosto. Com o lábio rachado dos ventos gelados do himalaias, muitas pessoas sabiam que eu vinha das montanhas, e o bate papo fluía nos gaths (escadarias) na beira do Ganges. Muitas pessoas se banhando, cerimonias, pessoas lavando até a boca na água onde passavam restos de corpos. A lenha é cara, e nem todas as famílias conseguem garantir uma cremação completa. Entrei timidamente no rio, me joguei água, mas não tive coragem de mergulhar. Talvez fosse demais para um primeiro dia.

Na beira do Ganges

Na beira do Ganges

Cores da India

Cores da India

Conheci a cidade, rodei aleatoriamente, visitei os crematórios, o bairro muçulmano e diversos templos hindus. Passeei de barco pelo Ganges para ver o sol nascer. Fui até Darnath, local onde Buda deu o seu primeiro sermão. Sentei embaixo da mesma arvore, mas num país com 1 bilhão de pessoas não tinha ninguém para conversar comigo. Bom, pois precisava de um tempo. Aproveitei para curtir o silencio, que foi muito bem vindo, já tinha até esquecido como que era. Crianças se aproximaram vendendo pequenas estatuetas de barro de Buda por poucos paise (centavos de Rupia). A miséria na Índia é algo chocante, e incomoda. Comprei uma estatueta, mas me peguei virando o rosto tantas vezes para não ver coisas que me “incomodavam” que passei a ter um conflito interno.

Crianças muçulmanas

Crianças muçulmanas

Darnath

Darnath

Horas mais tarde conheci um senhor, que me apresentou um templo jainista. Seu fundador, Mahavira, foi um contemporâneo de Buda. Dizem que Buda sempre o desafiou para embates filosóficos, mas ele sempre evitou o confronto. As figuras das estatuas até que são parecidas e existem outras semelhanças entre estas religiões. Praticantes da não violência  os mais “radicais” andam com uma vassoura para limpara o caminho, evitando pisar em algum inseto. Foi muito bacana e proveitoso o bate papo

Arrisquei comprar uma passagem de trem na última hora pois sempre sobram uns lugares. Vagão sleeper simples, facilitava a interação, e eu estava conhecendo um dos programas que mais gosto de fazer quando vou para a Índia, andar de trem! Viajei a noite toda e cheguei em Agra antes do sol nascer.

Rostos da India

Rostos da India

Esperando o Trem

Esperando o Trem

Agra não é uma cidade muito agradável. O fato de milhares de turistas visitarem o Taj Mahal faz com que ao caminhar por lá te olhem como um caixa eletrônico ambulante. Mas estava com muito bom humor, e levei tudo na brincadeira. Conheci um casal de ingleses e um australiano no trem, e decidimos só passar o dia por ali. Corremos para ver o dia nascer atrás do Taj Mahal, único lugar calmo que encontramos em Agra, com o visual do rio. Depois encaramos o empurra-empurra para comprar os bilhetes inflacionados, com grande diferença para indianos e turistas. Lembro que paguei cerca de 15 usd, bem mais do que vinha gastando por dia com todas as atividades, incluindo hotel, comida e transporte.

Taj

Taj

O local é fantástico, e fui apresentado para a arquitetura Mughal que passei a admirar tanto. Não se tem paz lá dendro, lotado de turistas estrangeiros e e indianos. O calor também estava pegando, mas deu para passear e sentar em uma sombra para admirar a grandeza do Taj e das mesquitas ao lado. Ainda passamos no Agra Fort, outro magnífico monumento da lista da Unesco, antes de pegar outro trem noturno, desta vez para Jairpur no Rajastão.

Dividi um quarto de hotel com o casal de ingleses e me assustei com a dor de barriga que ele teve de noite. Se retorcia e teve que ir até o hospital. Eu tinha tido desarranjo no Tibet, e parecia que meu corpo já estava “vacinado”. Acabaram indo para Delhi, e voltei a ficar sozinho.

Desafiando a teoria de que indianos eram dinheiristas, peguei muitas caronas e circulei por varias atrações só na “amizade”. Claro que surgiram aquelas armadilhas para turistas. Um dia fui no cinema, parecia um teatro, com cortinas abrindo e intervalo. Na saída dois jovens se aproximaram e pediram para praticar o inglês. Eu que adoro uma interação fiquei batendo papo. Perguntaram onde estava indo e falei de lugares que queria conhecer. Se ofereceram para me levar, e como já tinha conseguido algumas caronas fui na boa. No meio do caminho falou de um tio que tinha lojas de pedras, que poderia ser um bom presente, ou até negócio. Eu educadamente disse que não queria, mas insistiram. Eu neguei mais firme e depois de uma insistência, pararam o carro, esconderam o sorriso e cordialidade, e me mandaram sair na hora. Eu sai me fazendo de bobo e segui conhecendo a bonita cidade rosa. O palácio da cidade, o palácio dos ventos, o Amber Fort e o incrível observatório astrológico/astronômico Jantar Mantar. Legal andar nas ruas e ver encantadores de cobras, mesmo que seja para ganhar uns trocados dos turistas. Muitos macacos e charretes de camelos carregando tijolos faziam parte das cenas do dia a dia nas partes menos turísticas da cidade. Não pretendia fazer muitas compras, mais os mercados também são bem bacana de se passear.

Mais cores

Mais cores

Pelas ruas

Pelas ruas

Filme com intervalo e cortinas

Filme com intervalo e cortinas

A viagem se aproximava do final e peguei outro trem, desta vez para a capital, Delhi. Fiquei num quarto escuro no camelódromo Pahaganj, em frente a estação de trem. Como tinha poucos dias comecei pelas atrações mais manjadas, antes de me “perder” pela cidade. O magnífico Red Fort, ofereceu sombra nos seus jardins. O caos do Chandni Chowk me apresentou para tantas novas comidas de rua. A imponente mesquita Jama Masjid me apresentou para o islamismo, religião que passei a admirar muito. Conversei por horas com curiosos fiéis. Também fui ao templo Bahai, conhecer mais uma religião (além do Budismo, Jainismo, Hinduísmo, Islamismo…).  Existem alguns lugares para “ver” como o Qtab Minar, minarete que representa a chegada do islamismo na Índia e o Gandhi Smriti, onde o Gandhi foi assassinado. Gostei muito de passear pelo Humayun Tomb, com arquitetura fantástica, belos e silenciosos jardins. Troquei uns livros e passeei por Connaught Place na minha última noite.

Templo Bahai

Templo Bahai

Minarete Q

Minarete Qtab

Tomb

Humayum Tomb

Me despedi da Índia sabendo que iria voltar. O país mais diverso que eu já havia conhecido até ali. De quebra, qual o país que é possível se hospedar na capital por 3 usd?

Quato de 150 Rupia em Delhi

Quarto de 150 Rupia em Delhi

PS-  Voltaria para a Índia mais duas vezes, onde passaria mais de 4 meses.

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Deuses e (ou) Demônios (?)!

Segundo a lenda, Deuses e Demônios estavam brigando por um pote que continha o néctar da imortalidade. Vishnu conseguiu pegar o pote e quatro gotas caíram em diferentes lugares, que passaram a serem considerados sagrados: Allahabad, Ujain, Nasik e Haridwar. Sempre que o planeta Jupter entra em aquário  o sol em aries e a lua em Sagitário e celebrada a Kumbha Mela (festival do Pote). Milhões de peregrinos de todos os cantos vem para participar, discutir religião  meditar e sem banhar no Ganges para se livrar do Karma. A celebração acontece de 12 em 12 anos, com encontros menores a cada 4 anos. Menores não significa pequenos, pois e considerado a maior celebração religiosa do mundo. Já teve Kumbh Mela com mais de 60 milhões de pessoas!!! Não sei se a lenda e verdadeira, mas que tinham santos e demonicos por ali tenham…

Já estacamos em Rishikesh, bem instalados, mas o problema de locomoção era grande. Tentamos caminhar, mas não estávamos tão perto do centrinho. Acabei indo sozinho e a Bibi voltou para o hotel. Tínhamos combinado de encontrar nossa amiga holandesa Marlinda (Indonésia e Myanmar) e la fui eu pela muvuca. Tiveram ate que fazer sentido único para andar nas pontes, numa forma de tentar organizar a multidão  Encontrei com ela, ficamos um bom tempo num café gostoso na beira do Ganges. Dava ate para esquecer da multidão a poucos metros. Decidimos ir ate o hotel para ela encontrar com a Bibi, e a caminhada foi longa… As duas acabaram decidindo antecipar a ida para o Ashram, numa ultima tentativa de fugir de tanta bagunça  Tivemos que acordar super cedo para conseguir atravessar a ponte com as mochilas.

O pessoal que pedia para tirar foto com agente

Agora vcs entendem porque a Bibi achou melhor nao ir?

Dois dias antes e cinquenta quilometros de distancia…

Ainda em Rishikesh

Já do outro lado ficamos um bom tempo no café na beira do Ganges ate a hora de nos despedirmos. Elas foram para o Ashram, que e mais afastado de Rishikesh, e eu já com hotel, fui pegar o maior numero de informações possível sobre Kumbh Mela. O banho principal era no dia seguinte, e teria que achar uma forma de ir ate la. Sugeriram ate de eu passar a noite em Haridwar, para ver o sol nascer la, mas achei que seria um pouco demais, pois não conseguiria nem dormir no chão  de tanto indiano que tinha por la. Contratar um autorickshaw estava fora de cogitação  devido aos elevados preços  De ônibus pegaria aquele congestionamento já conhecido, e teria que andar quilômetros ate a região dos banhos. A solução foi pegar o primeiro trem mesmo. Antes do sol nascer eu já tava caminhando, para chegar do outro lado do rio, pegar um transporte até a ferroviária  lutar por um bilhete (somente 5 rupias) e esperar o trem. Engana-se quem pensa que depois foi tranquilo. O trem já estava lotado. Pessoas tentavam subir ao mesmo tempo que outras tentavam descer. Nada de fila (aqui não conhecem isto!!). Algumas pessoas criaram o jeitinho indiano. Todas as janelas tem grades, para que ninguém pule, menos a de emergência  Muitas pessoas passaram a utilizar as janelas de emergência como forma de acesso garantido. La fui eu garantir o meu lugar. Teoricamente o trem só para em um lugar, mas fez varias paradas, para subir mais gente, que vinha sei la de onde. Não existia a menor possibilidade de verificarem os bilhetes, e as leis da física estavam sendo desafiadas. A chegada atrasou por causa das demasiadas paradas, e sair da estacão de trem não foi fácil.

Chegada em Haridwar

Chegar na rua não melhoraria a situação  As ruas estavam funcionando em sentidos únicos  e o mar de gente ia levando todo mundo. Lutei para atravessar a rua, sendo arrastado quase uma quadra para baixo. Do outro lado a primeira barreira policial. “Daqui ninguém passa, alertava o oficial. Tem gente demais!” Rapidamente olhei o nome do hotel mais distante que conseguia ver e falei que tinha que voltar para meu hotel, que todas minhas coisas, meu dinheiro e passaporte tavam la. Ele me pediu o cartão do hotel me testando e eu falei que não tinha e iniciei a encheção de saco. Uns 15 minutos depois consegui passar. O empurra empurra diminuiu um pouco, mas não demorou tanto para surgir outra barreira. Só estava passando gente com credencial. Parecia que seria mais difícil  mas esta não demorou 5 minutos. Um grupo antipático italiano, quase não acreditou. Eles estavam esperando seu guia, com as credenciais de jornalistas, e mal me deram as informações que pedi. Só dei um tchauzinho quando estava la do outro lado. A terceira foi moleza. Alguns Sadus estavam passando em procissão bem quando cheguei. O soldado me fez esperar eles passarem, e me liberou logo depois. Ai eu já tinha livre acesso aos acampamentos dos Babas e dos Sadus. Logo encontrei os peladões  Primeiro alguns bem sérios  e logo outros que pareciam em desfile alegórico  Um colocava uma barra no pinto dele e torcia, torcia, ate colocar a barra por trás da perna. Doi só de ver. O vídeo ta garantido, e no final da viagem vou postar aqui.

A caminho do Ganges

Cena comum

Mais peladoes

Nos acampamentos dava para perceber alguns poucos que pareciam sérios  e muitos que queriam aparecer. Consegui conversar com algumas pessoas mais o dia foi mais de observar mesmo. Nem tinha como ser diferente. Algumas discussões  alguns atos religiosos, mas o que mais se via era o pessoal fumando. Nas ruas principais os peladões  cobertos de lama, iam passando para o banho no Ganges, para lavar seu karma. Alguns Babas também passavam, um ate em cima de um cavalo, com multidões acompanhando, com suas bandeiras.

Baba

Mais Babas

Mesmo que tenham Babas suspeitos, a maioria esmagadora das pessoas que estavam em Haridwar eram devotos, estes sim do bem (tirando os motoristas de autorickshaw!!!haha).

Acampamentos

Acampamento 2

Nao usa roupa, mas olhem olhem o relogio…

Ta mais para palhaco que para homem santo!!!

Corta a unha meu!!!

Circulei para cima e para baixo mas tinha que continuar, queria chegar ao Ghath principal. Mais uma barreira, esta jogo duro. Fiquei mais um bom tempo tentando convencer o soldado a me liberar, o tempo passava e nada. Um cara tentou passar a corda e levou varias pauladas. Na ultima tentativa o oficial encarregado me liberou. Não adiantou muito, pois pude caminhar poucos metros, ate uma barreira de onde ninguém mais passava. Estava perto, mas mal dava para ver. Sai desta área tentando contornar a quadra, mas não me deixaram subir. Voltei alegando ter esquecido a bateria da maquina carregando (os guardas já me conheciam), entrei num restaurante, tomei um refri e sai pela porta da cozinha, furando o ultimo bloqueio. Pra ser sincero não adiantou muito, pois mesmo dando a volta na quadra não deu certo. Não cheguei na escadaria principal, mas também nem precisava. A melhor parte foi entre os acampamentos mesmo. O dia tinha sido longo, tenso e cansativo. Decidi nem esperar para ver a Puja do final do dia. Já sabia como estaria a estacão de trem, e demoraria horas ate eu chegar la. Fui andando na outra direcao, tentando ma afastar da muvuca. Do outro lado do rio já estava mais tranquilo, e resolvi parar para dar um mergulho, e lavar o meu karma também  Na verdade não mergulhei, entrei ate a cintura e joguei água na minha cabeça  Não se preocupem, pois aqui a água não e poluída que nem em Varanasi. Se bem que com as 15 milhoes de pessoas que tinham lá neste dia, não sei para onde que o esgoto ia…

Banho no Ganges

Tambem fui para o banho

De alma lavada, caminhei por quilômetros  passando por acampamentos mais distantes, outras pontes, mais pessoas se banhando, enquanto lembrava da loucura que tinha sido este dia.

Gente por todos os lados!!

Indicavam que teriam ônibus para Rishikesh mais para frente, mas nunca chegava. Ao perguntar para um soldado onde estavam parados os ônibus que iriam para Rishikesh pela estrada velha, ele apontou para frente, mas me mandou sentar ao lado numa sombra. Imaginei que o ônibus passaria por ali, mas não. Logo foi um carro que passou e foi parado. Me chamaram e ganhei uma carona de volta em um carro que tinha ate ar condicionado!!! Nem acreditei. Claro que sendo India tava bom de mais para ser verdade. O motorista resolveu me cobrar quando chegamos. O preço  trinta rupias, mesmo preço que uma passagem de onibus (1,5 Real). Inacreditável !! Cheguei em Rishkesh meio zonzo, de tanta coisa que tinha acontecido naquele dia. Sentei para tomar um suco e tentar digerir um pouco, mas levou mais um outro dia inteirinho para isto acontecer. Foi muito bom, mas eu tava muito cansado de tanto calor e principalmente de tanta gente, e resolvi ir logo para as montanhas.
As informações que eu recebia eram meio contraditórias  Teoricamente algumas estradas ao norte ainda estariam fechadas. Não quis nem saber, e peguei um transporte ate a rodoviária que atende a parte norte do estado. Falavam que esta outra rodoviária era longe, que não poderia me levar. Não sabia se era verdade e quando um motorista com um autorickshaw lotado falou que so me levaria por 50 rupias, resolvi encarar, pois os ônibus saem cedo e não podia me atrasar. Acontece que um tempo depois desce um passageiro e paga 5 rupias. Nem 500 metros depois ele aponta para onde eu deveria pegar o ônibus  Paguei 10 rupias (preço para a outra rodoviária , bem mais que o outro passageiro, e o motorista ficou gritando para eu pagar 50. Eu apontava para todos os deuses pendurados no painel e falava para ele: “Eles tao vendo…”, “ Você vai ter um Karma ruim por isto, ladrão ..” e no calor da discussão ate: “ Você vai reencarnar uma planta, porque nem inseto coce vai conseguir…”!!! Ele ameaçou chamar a policia e eu concordei. Todos os passageiros estavam do meu lado, e insistiam para ele ir. No final deu certo, e peguei um ônibus de 5 horas ate uma cidade onde troquei de ônibus e encarei mais 4 horas ate Josinath. Arrumei um hotel baratinho e sai pesquisar sobre as estradas. Realmente elas estavam fechadas, não pelo um metro de neve que me falavam, mas pelo exercito mesmo. São regiões já muito próximas do Tibet, e as cidades ao norte são habitadas somente nos 6 meses de verão  No outro período são esvaziadas e fechadas. Com isto a visita a Badrinath ou ao vale das flores estava descartada. Tomando um chai num restaurante pé sujo, fiquei sabendo de uma vila chamada Lata, onde a estrada estaria aberta. Dia seguinte cedo eu já tava pegando um ônibus para la. Foi quase uma hora de viagem para percorrer 17 km. Muitas curvas, daquelas beirando precipícios, afinal, já estava na cordilheira do Himalaia.

Hymalaia Express

O motorista para o ônibus num lugar com não mais que 15-20 casas e fala que eu teria que descer ali. Me informei e Lata ficava a 1.5 km morro acima. Fui seguindo a trilha em zigue-zague ate chegar num aglomerado de casas. Me disseram que vivem 100 famílias ali, mas duvido. Tava dando uma caminhada pela pequena vila e encontrei um cara que falava bem inglês  Ele falou que poderia ficar na casa dele, e aceitei, tendo em vista que não existe pousadas ali. Ele tirou os filhos de um dos quartos, e falou que era todo meu. Quarto simples mas com uma suuper vista.

Vista do meu quarto!

Tinha acabado de terminar um festival de três dias, onde pediam chuva para os deuses. Teve um almoço para os homens, e eu fui convidado. Conheci a região  e conversei com ele sobre quais possibilidades de passeios que poderia fazer dali. Combinamos que faríamos um treking para ver o Nanda Devi , segunda maior montanha da India, com quase 8000 metros de altitude. A mulher dele cozinhava numa fogueira, num comodo separado que era a cozinha/sala de jantar. Fogo no chão  e nos sentávamos ao redor. Algumas latas contendo arroz, lentinha e açúcar  alem de outras pequenas de temperos. O leite vinha da vaca que ficava embaixo da casa. Já tinha visto isto no Iemen e no Tibet, os animais ficam no primeiro nível  o que de certa forma esquenta a casa no inverno. O problema são as moscas… Falar em moscas, não tem água encanada, só um tanque (no meio da vila) de onde vem a água do desgelo. La todos vão se abastecer com seus baldes, escovar os dentes e tomar seu banho. Assim, na torneira, meio da ruela. Na verdade da só pra se dar uma lavada, de roupa mesmo.

Vila de Lata

Anfitrioes

Acordamos cedo para a caminhada, e ele me alertou sobre algumas nuvens. Falou que iria se eu quisesse, mas que não tava gostando daquele vento. Como eu tinha tempo, achei melhor não arriscar, e esperar pelo próximo dia. Fiquei de bobeira pela vila, brincando com as crianças, tomando chai com os adultos. Desci ate o rio, e no meio da tarde o vento gelado aumentou.

Curtindo a regiao

Nuvens escuras foram tomando conta do topo das montanhas e sai correndo para a Vila. Estava quase chegando quando começou a chover. Meu quarto tinha frestas, e o vento gelado entrava.

Neve nas montanhas

Me agasalhei, dobrei o cobertor em dois para tentar me esquentar, mas a solução foi ir para o lado da fogueira. Quando a tempestade passou, os cumes das montanhas estavam brancos. Havia nevado! Nossa, escapamos de uma! Ainda bem que não fomos!! Nem sinal de melhora nos outros dias, e resolvi ficar curtindo a tranquilidade do lugar. De noite, quando estava jantando, escutei uns tambores, seguidos de gritos repetitivos. Como tinha sido a primeira chuva da temporada, estava acontecendo um festival. Durou cerca de 3 horas, e toda a vila foi participar. Dois senhores e uma senhora de mais idade lideravam. Eles dançavam em volta da fogueira, no ritmo do tambor. Ela ia derramando a água recolhida da chuva a medida que dançava  Eles dançavam no ritmo frenético dos tambores, quase em transe e na parada da musica jogavam a água sobre suas cabeças  Não vi eles tomarem nada, nem fumar, mas pareciam completamente fora de si. O resto das pessoas entrou na dança, que durou bastante tempo. Eu fiquei encolhido, tentando me proteger do frio, e agradecendo esta sincronicidade que aconteceu para eu poder estar ali, neste momento tão importante. Como são agricultores (durante 6 meses, no inverno não fazem nada), a chuva e essencial para a sobrevivência  e a felicidade tava estampada na cara deles, e refletida na minha…
Foram dias muito gostosos, mas com aquele tempo não adiantava eu ficar por ali.

Tempo fechado

Voltei para Josimath, e meu amigo veio junto. Dei um dinheirinho para eles pela casa e comida, e ele já estava indo para a cidade para comprar material escolar para os filhos!! Fomos num jipe comunitário  que sai bem sedo dali de perto. Antes de sair o motorista verificou cuidadosamente a buzina, freios, luz e os piscas. Todos funcionando pudemos seguir viagem pelas curvas e penhascos.

De volta a Rishikesh, acabei encontrando nossos amigos alemães  que conhecemos no Myanmar. Acabei ficando alguns dias ali, jantando com eles todos os dias, em vez de ir para o ashram.

Melhor que fazer novos amigos e reencontra-los!!

Foi bom para a Bibi poder curtir um pouco mais sozinha. Fui para la e foi bem bacana. Nada de seguir o programa, se bem que fazia yoga com a Bibi de manha. O lugar e na beira do Ganges, com varias trilhas, lugar muito bonito. Passamos alguns dias ali, caminhando, curtindo o lugar. A Bibi falava que parecia ate um spa. Teve um dia que ficamos sem se falar, mesmo fazendo atividades juntos. Comida boa, e no final do dia uma pequena cerimonia antes do jantar.
O tempo passou, e se aproximava do dia que havíamos comprado uma passagem para sair da India (votação encerrada!!rs). Fomos para Rishikesh, para mais uns dias de cafés e compras, mandamos algumas coisas pelo correio e estávamos prontos para sair da Índia  Será?!