Entre templos e montanhas (2005)

Quando eu visitei o Nepal, em 2005, o país ainda era um reinado. Alias o único reino hindu do mundo. Mas a situação já estava ficando complicada. Muitos diziam que o rei tinha assassinado seus familiares para chegar ao poder, e a guerrilha maoista estava tomando grande parte do país. Lembro de ver os protestos na televisão e pensar se deveria mesmo ir para lá.

Foi um voo longo. Curitiba-São Paulo- Londres (onde deu tempo de ir até um pub)- Delhi (ainda no aeroporto velho, cheio de pessoas dormindo no chão) e finalmente estava sobrevoando Katmandu. Se a palavra Katmandu já soava “exótica”, lembrava a famosa trilha hippie, ao sobrevoar a cidade com o topo de seus templos em destaque, deu aquele friozinho gostoso na barriga. Respirei fundo, e peguei um transporte até o bairro mochileiro de Thamel.

Chegando no Thamel

Chegando no Thamel

Ruas estreitas, cheio de comercio e hotéis  Lojas de equipamentos para montanhistas, pessoas vendendo haxixe em todas as esquinas. Fui andando sem destino pelos labirintos. Encontrei um hotel bacana, com um patio/jardim gostoso na entrada. Nem parecia que tinha aquele caos logo na frente. Achei o preço de 4 dólares o quarto com banheiro bom. Me surpreendi que ao não negociar, acabaram baixando para 2,70 sem eu pedir. Não entendi se ficaram com medo que eu descobrisse o preço que os outros dois hospedes estavam pagando, os se queriam que eu recomendasse o lugar. O que era certo é que com os problemas com os guerrilheiros maoistas, o turismo tinha despencado, e os preços de tudo também.

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Durbar Square

Durbar Square


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A praça principal, a Durbar Square, estava a poucas quadras da onde eu estava. Fui algumas vezes lá. Um templo ao lado do outro, adorava subir as escadas e curtir o lugar como um todo. Sempre parava alguém para bater papo. Também não estava longe do ” Kumari Ghar” ( Hanumandhoka palace) de onde esta a ” Kumari”, uma deusa viva para o Hinduísmo e alguns ramos do budismo.

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Para identificar a Deusa, utilizam o “horoscopo”, que aponta 32 atributos a uma criança. Ela é colocada em um quarto escuro para confrontar seus medos em rituais aterrorizantes, e se encontra com divindades. A verdadeira Kumari devi não vai se assustar, e após uma cerimonia para receber o espírito divino, vai ser venerada por todos. Quando ela entra na puberdade, seus dias de Deusa estão contados. Ao menstruar pela primeira vez, ela estará se tornando humana novamente.  A relação com o sangue e humanidade é muito forte, portanto nada de se cortar. Um simples sangramento também acabaria com a divindade dela, e buscariam uma nova Kumari.

Era setembro, e tive a oportunidade de participar do festival Indra Jatra, onde existe uma procissão, e a Kumari abençoa a todos os milhares de participantes, inclusive o rei.

Festa

Festival

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Lembro de ter sentido bastante o Jetlag, acordado no meio da noite e ter bagunçado bastante o fuso horário  Acordei cedo na marra, e  de ir caminhar de manha antes do comércio ter aberto.

Swayambunath, também chamado de Monkey Temple, é um complexo com uma grande estupa no topo de uma colina.  Esta estupa tem pintada os olhos de Buda, é é muito sagrada (um dos mais antigos do Nepal). Existem macacos que são considerados sagrados por ali também, por isto o nome de Monkey temple.

O domo simboliza o mundo, e os olhos o “despertar”, sabedoria e compaixão. Os 13  degraus da “torre” no topo mostram os estágios da vida espiritual, até atingir a iluminação. Subi os 365 degraus até chegar no topo da colina, onde esta o domo, conversei com muitos monges e curti o lugar.

Monkey temple

Monkey temple

Monges

Monges

vista

vista

Stupas

Stupas

Ainda no vale de Katmandu, estão outras cidades históricas, como Patan. Linda arquitetura, templos e também muito famosa por seu artesanato.

Patan Durbar

Patan Durbar

O tempo Pashupatinath esta na beira do rio Bagmati e é o principal local de adoração do Deus Shiva. Pashupatinath é a encarnação de Shiva em um Servo, portanto atua como um protetor dos animais, como o São Francisco para os cristãos.

Na verdade parece um grande parque, com vários templos e Ghats. Estes Ghats, escadarias com acesso ao rio onde fazem os rituais de cremação. Existem as escadarias onde as mulheres frequentam, outras que só a realeza, e assim vão se dividindo. Muitos Sadhus, Homens-santos hindus que abandonaram o mundo perambulam por ali.

Shadu

Shadu

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É incrível ver o Budismo e Hinduísmo lado a lado. Os Hindus acreditam que Buda é uma manifestação de Vishnu, mas não é o que os budistas pensam no bairro Boudanath. Um dos lugares mais sagrados para os budistas. Outra grande estupa com os olhos de Buda, que podem ser vista de longe, e diversas gompas (monastérios) ao redor. Muitos refugiados tibetanos moram na região, e ao caminhar pela região, era convidado para entrar nas pequenas casas e bater papo.

Boudanath

Boudanath

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Rodas de orações/Vendedores na rua

A grande altitude das montanhas formam rápidas corredeiras por todo o país, e eu decidi fazer rafting. Peguei um ônibus que ia parando na entrada e saída de cada cidade para ser revistado pelo exercito, até chegar no ponto de saída. Foi um dia inteiro encarando as corredeiras, água gelada e verdadeiras ondas que se formavam quando a corredeira batia nas pedras. Por sorte não virou nenhuma vez, foi muito divertido mas passamos um sufoco!

Rafting

Rafting

Mais um onibus pelas belas paisagens e até me acostumei com os controles do exercito. Todos deciam para apresentar os documentos muitas vezes eu só acenava para os soldados da janela. Acho que eu não tenho cara de maoista, pois muitas vezes não pediram para eu decer.

Estradas

Estradas

Cheguei em Pokhara já de noite, uma bonita cidade na beira do lago Phewa. Uma cidade relativamente estruturada para o turismo, mas novamente sem estrangeiros, o que fazia os preços despencarem. Ali é a saída para um dos trekings mais famosos do Nepal, até o acampamento base do Annapurna. Como eu pretendia ir até o Tibet, deixei para fazer um trekking em uma próxima visita ao Nepal.

Conversei com algumas pessoas, peguei uma canoa até a pequena ilha onde está o Templo Barahi. De lá consegui ir até outra margem do lago, onde segui trilhas ( e me perdi um pouco) até a Peace Pagoda, no topo da montanha.   Uma grande estupa branca, com estatua de Buda dourado, erguida para promover a paz mundial. A vista do lugar é muito bonita, pena que as nuvens cobriam as maiores montanhas ( 3 das 10 maiores montanhas do mundo estão na região).

Lago

Lago Phewa

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Templo

Peace Pagoda

Simpatia

Simpatia

Também não tive sorte quando fui até a vila de Sarankot para ver o sol nascer. Tudo estava nublado novamente. De qualquer forma não deixou de ser um passeio para conhecer melhor os arredores da cidade. Não muito longe dali está o campo refugiado de tibetanos Tashi Palkhiel, ótimo lugar para se desenvolver um sentimento anti-chines, devido ao absurdo que se vê lá. Anti-ocidente também, por se envolver em tantas gerras econômicas e se calar para outros absurdos que acontecem.

Tempo encoberto

Tempo encoberto

Curti bastante a região mas tinha que voltar para Katmandu. Novo ônibus  belas paisagens e controles do exercito e estava de volta. Consegui acertar minha viagem ao Tibet e ainda fui visitar Backtapur, uma das mais bela cidade do vale de Katmandu. A ” cidade dos devotos” é mais uma da região listada na lista da unesco, e é fácil de entender porque. Portais, templos, palácio e pagodas fazem do ambiente um lugar fantástico.

Backtapur

Backtapur

Potes

Potes

Muitos outros lugares interessantes como Changu Nayaram, os artesãos de potes em Thimi, e tantas outras coisas que acontecem entre todos estes lugares, aleatoriamente, fizeram eu adorar o país, seu povo e cultura. Mas era hora de me despedir, e já com o visto especial do Tibet no passaporte, seguia pelas estradas rumo ao norte.

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Deuses e (ou) Demônios (?)!

Segundo a lenda, Deuses e Demônios estavam brigando por um pote que continha o néctar da imortalidade. Vishnu conseguiu pegar o pote e quatro gotas caíram em diferentes lugares, que passaram a serem considerados sagrados: Allahabad, Ujain, Nasik e Haridwar. Sempre que o planeta Jupter entra em aquário  o sol em aries e a lua em Sagitário e celebrada a Kumbha Mela (festival do Pote). Milhões de peregrinos de todos os cantos vem para participar, discutir religião  meditar e sem banhar no Ganges para se livrar do Karma. A celebração acontece de 12 em 12 anos, com encontros menores a cada 4 anos. Menores não significa pequenos, pois e considerado a maior celebração religiosa do mundo. Já teve Kumbh Mela com mais de 60 milhões de pessoas!!! Não sei se a lenda e verdadeira, mas que tinham santos e demonicos por ali tenham…

Já estacamos em Rishikesh, bem instalados, mas o problema de locomoção era grande. Tentamos caminhar, mas não estávamos tão perto do centrinho. Acabei indo sozinho e a Bibi voltou para o hotel. Tínhamos combinado de encontrar nossa amiga holandesa Marlinda (Indonésia e Myanmar) e la fui eu pela muvuca. Tiveram ate que fazer sentido único para andar nas pontes, numa forma de tentar organizar a multidão  Encontrei com ela, ficamos um bom tempo num café gostoso na beira do Ganges. Dava ate para esquecer da multidão a poucos metros. Decidimos ir ate o hotel para ela encontrar com a Bibi, e a caminhada foi longa… As duas acabaram decidindo antecipar a ida para o Ashram, numa ultima tentativa de fugir de tanta bagunça  Tivemos que acordar super cedo para conseguir atravessar a ponte com as mochilas.

O pessoal que pedia para tirar foto com agente

Agora vcs entendem porque a Bibi achou melhor nao ir?

Dois dias antes e cinquenta quilometros de distancia…

Ainda em Rishikesh

Já do outro lado ficamos um bom tempo no café na beira do Ganges ate a hora de nos despedirmos. Elas foram para o Ashram, que e mais afastado de Rishikesh, e eu já com hotel, fui pegar o maior numero de informações possível sobre Kumbh Mela. O banho principal era no dia seguinte, e teria que achar uma forma de ir ate la. Sugeriram ate de eu passar a noite em Haridwar, para ver o sol nascer la, mas achei que seria um pouco demais, pois não conseguiria nem dormir no chão  de tanto indiano que tinha por la. Contratar um autorickshaw estava fora de cogitação  devido aos elevados preços  De ônibus pegaria aquele congestionamento já conhecido, e teria que andar quilômetros ate a região dos banhos. A solução foi pegar o primeiro trem mesmo. Antes do sol nascer eu já tava caminhando, para chegar do outro lado do rio, pegar um transporte até a ferroviária  lutar por um bilhete (somente 5 rupias) e esperar o trem. Engana-se quem pensa que depois foi tranquilo. O trem já estava lotado. Pessoas tentavam subir ao mesmo tempo que outras tentavam descer. Nada de fila (aqui não conhecem isto!!). Algumas pessoas criaram o jeitinho indiano. Todas as janelas tem grades, para que ninguém pule, menos a de emergência  Muitas pessoas passaram a utilizar as janelas de emergência como forma de acesso garantido. La fui eu garantir o meu lugar. Teoricamente o trem só para em um lugar, mas fez varias paradas, para subir mais gente, que vinha sei la de onde. Não existia a menor possibilidade de verificarem os bilhetes, e as leis da física estavam sendo desafiadas. A chegada atrasou por causa das demasiadas paradas, e sair da estacão de trem não foi fácil.

Chegada em Haridwar

Chegar na rua não melhoraria a situação  As ruas estavam funcionando em sentidos únicos  e o mar de gente ia levando todo mundo. Lutei para atravessar a rua, sendo arrastado quase uma quadra para baixo. Do outro lado a primeira barreira policial. “Daqui ninguém passa, alertava o oficial. Tem gente demais!” Rapidamente olhei o nome do hotel mais distante que conseguia ver e falei que tinha que voltar para meu hotel, que todas minhas coisas, meu dinheiro e passaporte tavam la. Ele me pediu o cartão do hotel me testando e eu falei que não tinha e iniciei a encheção de saco. Uns 15 minutos depois consegui passar. O empurra empurra diminuiu um pouco, mas não demorou tanto para surgir outra barreira. Só estava passando gente com credencial. Parecia que seria mais difícil  mas esta não demorou 5 minutos. Um grupo antipático italiano, quase não acreditou. Eles estavam esperando seu guia, com as credenciais de jornalistas, e mal me deram as informações que pedi. Só dei um tchauzinho quando estava la do outro lado. A terceira foi moleza. Alguns Sadus estavam passando em procissão bem quando cheguei. O soldado me fez esperar eles passarem, e me liberou logo depois. Ai eu já tinha livre acesso aos acampamentos dos Babas e dos Sadus. Logo encontrei os peladões  Primeiro alguns bem sérios  e logo outros que pareciam em desfile alegórico  Um colocava uma barra no pinto dele e torcia, torcia, ate colocar a barra por trás da perna. Doi só de ver. O vídeo ta garantido, e no final da viagem vou postar aqui.

A caminho do Ganges

Cena comum

Mais peladoes

Nos acampamentos dava para perceber alguns poucos que pareciam sérios  e muitos que queriam aparecer. Consegui conversar com algumas pessoas mais o dia foi mais de observar mesmo. Nem tinha como ser diferente. Algumas discussões  alguns atos religiosos, mas o que mais se via era o pessoal fumando. Nas ruas principais os peladões  cobertos de lama, iam passando para o banho no Ganges, para lavar seu karma. Alguns Babas também passavam, um ate em cima de um cavalo, com multidões acompanhando, com suas bandeiras.

Baba

Mais Babas

Mesmo que tenham Babas suspeitos, a maioria esmagadora das pessoas que estavam em Haridwar eram devotos, estes sim do bem (tirando os motoristas de autorickshaw!!!haha).

Acampamentos

Acampamento 2

Nao usa roupa, mas olhem olhem o relogio…

Ta mais para palhaco que para homem santo!!!

Corta a unha meu!!!

Circulei para cima e para baixo mas tinha que continuar, queria chegar ao Ghath principal. Mais uma barreira, esta jogo duro. Fiquei mais um bom tempo tentando convencer o soldado a me liberar, o tempo passava e nada. Um cara tentou passar a corda e levou varias pauladas. Na ultima tentativa o oficial encarregado me liberou. Não adiantou muito, pois pude caminhar poucos metros, ate uma barreira de onde ninguém mais passava. Estava perto, mas mal dava para ver. Sai desta área tentando contornar a quadra, mas não me deixaram subir. Voltei alegando ter esquecido a bateria da maquina carregando (os guardas já me conheciam), entrei num restaurante, tomei um refri e sai pela porta da cozinha, furando o ultimo bloqueio. Pra ser sincero não adiantou muito, pois mesmo dando a volta na quadra não deu certo. Não cheguei na escadaria principal, mas também nem precisava. A melhor parte foi entre os acampamentos mesmo. O dia tinha sido longo, tenso e cansativo. Decidi nem esperar para ver a Puja do final do dia. Já sabia como estaria a estacão de trem, e demoraria horas ate eu chegar la. Fui andando na outra direcao, tentando ma afastar da muvuca. Do outro lado do rio já estava mais tranquilo, e resolvi parar para dar um mergulho, e lavar o meu karma também  Na verdade não mergulhei, entrei ate a cintura e joguei água na minha cabeça  Não se preocupem, pois aqui a água não e poluída que nem em Varanasi. Se bem que com as 15 milhoes de pessoas que tinham lá neste dia, não sei para onde que o esgoto ia…

Banho no Ganges

Tambem fui para o banho

De alma lavada, caminhei por quilômetros  passando por acampamentos mais distantes, outras pontes, mais pessoas se banhando, enquanto lembrava da loucura que tinha sido este dia.

Gente por todos os lados!!

Indicavam que teriam ônibus para Rishikesh mais para frente, mas nunca chegava. Ao perguntar para um soldado onde estavam parados os ônibus que iriam para Rishikesh pela estrada velha, ele apontou para frente, mas me mandou sentar ao lado numa sombra. Imaginei que o ônibus passaria por ali, mas não. Logo foi um carro que passou e foi parado. Me chamaram e ganhei uma carona de volta em um carro que tinha ate ar condicionado!!! Nem acreditei. Claro que sendo India tava bom de mais para ser verdade. O motorista resolveu me cobrar quando chegamos. O preço  trinta rupias, mesmo preço que uma passagem de onibus (1,5 Real). Inacreditável !! Cheguei em Rishkesh meio zonzo, de tanta coisa que tinha acontecido naquele dia. Sentei para tomar um suco e tentar digerir um pouco, mas levou mais um outro dia inteirinho para isto acontecer. Foi muito bom, mas eu tava muito cansado de tanto calor e principalmente de tanta gente, e resolvi ir logo para as montanhas.
As informações que eu recebia eram meio contraditórias  Teoricamente algumas estradas ao norte ainda estariam fechadas. Não quis nem saber, e peguei um transporte ate a rodoviária que atende a parte norte do estado. Falavam que esta outra rodoviária era longe, que não poderia me levar. Não sabia se era verdade e quando um motorista com um autorickshaw lotado falou que so me levaria por 50 rupias, resolvi encarar, pois os ônibus saem cedo e não podia me atrasar. Acontece que um tempo depois desce um passageiro e paga 5 rupias. Nem 500 metros depois ele aponta para onde eu deveria pegar o ônibus  Paguei 10 rupias (preço para a outra rodoviária , bem mais que o outro passageiro, e o motorista ficou gritando para eu pagar 50. Eu apontava para todos os deuses pendurados no painel e falava para ele: “Eles tao vendo…”, “ Você vai ter um Karma ruim por isto, ladrão ..” e no calor da discussão ate: “ Você vai reencarnar uma planta, porque nem inseto coce vai conseguir…”!!! Ele ameaçou chamar a policia e eu concordei. Todos os passageiros estavam do meu lado, e insistiam para ele ir. No final deu certo, e peguei um ônibus de 5 horas ate uma cidade onde troquei de ônibus e encarei mais 4 horas ate Josinath. Arrumei um hotel baratinho e sai pesquisar sobre as estradas. Realmente elas estavam fechadas, não pelo um metro de neve que me falavam, mas pelo exercito mesmo. São regiões já muito próximas do Tibet, e as cidades ao norte são habitadas somente nos 6 meses de verão  No outro período são esvaziadas e fechadas. Com isto a visita a Badrinath ou ao vale das flores estava descartada. Tomando um chai num restaurante pé sujo, fiquei sabendo de uma vila chamada Lata, onde a estrada estaria aberta. Dia seguinte cedo eu já tava pegando um ônibus para la. Foi quase uma hora de viagem para percorrer 17 km. Muitas curvas, daquelas beirando precipícios, afinal, já estava na cordilheira do Himalaia.

Hymalaia Express

O motorista para o ônibus num lugar com não mais que 15-20 casas e fala que eu teria que descer ali. Me informei e Lata ficava a 1.5 km morro acima. Fui seguindo a trilha em zigue-zague ate chegar num aglomerado de casas. Me disseram que vivem 100 famílias ali, mas duvido. Tava dando uma caminhada pela pequena vila e encontrei um cara que falava bem inglês  Ele falou que poderia ficar na casa dele, e aceitei, tendo em vista que não existe pousadas ali. Ele tirou os filhos de um dos quartos, e falou que era todo meu. Quarto simples mas com uma suuper vista.

Vista do meu quarto!

Tinha acabado de terminar um festival de três dias, onde pediam chuva para os deuses. Teve um almoço para os homens, e eu fui convidado. Conheci a região  e conversei com ele sobre quais possibilidades de passeios que poderia fazer dali. Combinamos que faríamos um treking para ver o Nanda Devi , segunda maior montanha da India, com quase 8000 metros de altitude. A mulher dele cozinhava numa fogueira, num comodo separado que era a cozinha/sala de jantar. Fogo no chão  e nos sentávamos ao redor. Algumas latas contendo arroz, lentinha e açúcar  alem de outras pequenas de temperos. O leite vinha da vaca que ficava embaixo da casa. Já tinha visto isto no Iemen e no Tibet, os animais ficam no primeiro nível  o que de certa forma esquenta a casa no inverno. O problema são as moscas… Falar em moscas, não tem água encanada, só um tanque (no meio da vila) de onde vem a água do desgelo. La todos vão se abastecer com seus baldes, escovar os dentes e tomar seu banho. Assim, na torneira, meio da ruela. Na verdade da só pra se dar uma lavada, de roupa mesmo.

Vila de Lata

Anfitrioes

Acordamos cedo para a caminhada, e ele me alertou sobre algumas nuvens. Falou que iria se eu quisesse, mas que não tava gostando daquele vento. Como eu tinha tempo, achei melhor não arriscar, e esperar pelo próximo dia. Fiquei de bobeira pela vila, brincando com as crianças, tomando chai com os adultos. Desci ate o rio, e no meio da tarde o vento gelado aumentou.

Curtindo a regiao

Nuvens escuras foram tomando conta do topo das montanhas e sai correndo para a Vila. Estava quase chegando quando começou a chover. Meu quarto tinha frestas, e o vento gelado entrava.

Neve nas montanhas

Me agasalhei, dobrei o cobertor em dois para tentar me esquentar, mas a solução foi ir para o lado da fogueira. Quando a tempestade passou, os cumes das montanhas estavam brancos. Havia nevado! Nossa, escapamos de uma! Ainda bem que não fomos!! Nem sinal de melhora nos outros dias, e resolvi ficar curtindo a tranquilidade do lugar. De noite, quando estava jantando, escutei uns tambores, seguidos de gritos repetitivos. Como tinha sido a primeira chuva da temporada, estava acontecendo um festival. Durou cerca de 3 horas, e toda a vila foi participar. Dois senhores e uma senhora de mais idade lideravam. Eles dançavam em volta da fogueira, no ritmo do tambor. Ela ia derramando a água recolhida da chuva a medida que dançava  Eles dançavam no ritmo frenético dos tambores, quase em transe e na parada da musica jogavam a água sobre suas cabeças  Não vi eles tomarem nada, nem fumar, mas pareciam completamente fora de si. O resto das pessoas entrou na dança, que durou bastante tempo. Eu fiquei encolhido, tentando me proteger do frio, e agradecendo esta sincronicidade que aconteceu para eu poder estar ali, neste momento tão importante. Como são agricultores (durante 6 meses, no inverno não fazem nada), a chuva e essencial para a sobrevivência  e a felicidade tava estampada na cara deles, e refletida na minha…
Foram dias muito gostosos, mas com aquele tempo não adiantava eu ficar por ali.

Tempo fechado

Voltei para Josimath, e meu amigo veio junto. Dei um dinheirinho para eles pela casa e comida, e ele já estava indo para a cidade para comprar material escolar para os filhos!! Fomos num jipe comunitário  que sai bem sedo dali de perto. Antes de sair o motorista verificou cuidadosamente a buzina, freios, luz e os piscas. Todos funcionando pudemos seguir viagem pelas curvas e penhascos.

De volta a Rishikesh, acabei encontrando nossos amigos alemães  que conhecemos no Myanmar. Acabei ficando alguns dias ali, jantando com eles todos os dias, em vez de ir para o ashram.

Melhor que fazer novos amigos e reencontra-los!!

Foi bom para a Bibi poder curtir um pouco mais sozinha. Fui para la e foi bem bacana. Nada de seguir o programa, se bem que fazia yoga com a Bibi de manha. O lugar e na beira do Ganges, com varias trilhas, lugar muito bonito. Passamos alguns dias ali, caminhando, curtindo o lugar. A Bibi falava que parecia ate um spa. Teve um dia que ficamos sem se falar, mesmo fazendo atividades juntos. Comida boa, e no final do dia uma pequena cerimonia antes do jantar.
O tempo passou, e se aproximava do dia que havíamos comprado uma passagem para sair da India (votação encerrada!!rs). Fomos para Rishikesh, para mais uns dias de cafés e compras, mandamos algumas coisas pelo correio e estávamos prontos para sair da Índia  Será?!





A Índia é foda!!

A Índia é foda! Poderia iniciar o meu primeiro post na Índia de diversas maneiras diferentes. Poderia falar sobra a rica cultura do Hinduísmo, sobre o sistema de castas, a chegada dos portugueses, o domínio linha dura dos ingleses, sobre Gandi, independência e divisão do subcontinente indiano em Paquistão, Índia e Bangladesh. Poderia falar da “nova Índia” (a Índia rica e descolada), de Bollywood ou da fantástica culinária. Ao invés disto inicio com um “A Índia é foda!”. Foda no bom sentido. Existe um (já batido) ditado que diz que ou você ama a Índia ou odeia. Eu não concordo. Conheço muita gente que amou e depois odiou, odiou e depois amou e tem os que amam e odeiam ao mesmo tempo. O sentimento sobre a Índia e algo muito forte. Eu tive uma rápida passagem pela parte norte do país em 2005, numa viagem combinada com Nepal e Tibet. Amei! Uma vez um grande amigo meu me perguntou para qual pais que eu tinha ido e mais gostaria de voltar. A resposta foi muito rápida e precisa: Índia! Pode-se viajar dois, três, seis meses, ou ate um ano pela Índia e ainda terá muita coisa interessante e diferente para conhecer e vivenciar. Em algum momento você pode ate cansar, mas se não for só ódio, com certeza vai voltar.

Chegamos no novo aeroporto de Cochim, no sul da Índia. Escolhi a chegada pelo sul por uma questão logística, clima tica, mas também por um primeiro contato mais fácil para a Bibi. O sul do pais e bem mais tranquilo e o povo mais simpático e menos insistente. Ainda no aeroporto conhecemos um casal de Suíços com quem pegamos um ônibus ate Fort Cochin, a região histórica da cidade. Ao procurar um lugar para ficar, percebi que o povo do sul não era só um pouco mais tranquilo que o do norte, mas muuuito mais tranquilo. Ficamos numa pequena pousada de dois quartos, onde os Suíços nos acompanharam. Todo o estado de Kerala tem uma forte influencia portuguesa. Em Cochim esta a igreja de São Francisco, a primeira construção europeia na Índia, e também onde o Vasco da Gama ficou enterrado por uns anos, antes de ser levado a Portugal. Dentro da igreja tem ate uma flamula do time de futebol do Eurico Miranda. Tem muuita igreja por aqui, mais que templos Hindus e Mesquitas, pelo menos na região histórica. Existem ate alguns nomes de lojas e restaurantes em português. A maioria dos cristãos indianos estão no sul da índia. Existe também uma sinagoga no bairro judeu, onde eles se estabeleceram a centenas de anos. Muitas lojas e turistas por toda a região. Redes de pesca artesanal chinesas dão todo um clima para o lugar, que e dividido em algumas ilhas/penínsulas.

Igreja de São Francisco

Bairro Judeu

Redes de pesca chinesa

Um dia fomos surpreendidos por uma greve geral devido o aumento dos combustíveis. Tudo parou. Kerala foi o primeiro estado (devido a diversidade de línguas são muito autossuficientes) no mundo a eleger um governo comunista. Não preciso nem falar das heranças que este sistema trouxe, ne?! Educação e saúde de dar inveja a qualquer pais emergente, porem a falta de investimento privado trás muitos atrasos para a região. Nossos novos amigos passaram três meses viajando pelo norte da Índia, antes de irem para o sudeste asiático e voltarem para mais dois meses. Estavam descolados para cá, e isto me ajudou bastante. Eu contava para a Bibi que em 2005 comia até na frente da ferroviária e era bom, mas ela insistia que queria tomar mais cuidado, devido a todas as historias que ouvíamos de infecção intestinal. Aqui tem ate nome: “Delhi Belly”. Dizem que e impossível vir para cá e não ter nada. Sempre tem uma vez, fica imune e tudo em ordem. Parenteses: estou a 11 meses na estrada, comendo de tudo, em muitos lugares com as mãos, e ate agora não tive nenhum problema. A segunda refeição que fizemos aqui foi num restaurante estilo “pé sujo”. A Bibi ficou meio de cara, o lugar era quente e não muito agradável. Depois que terminamos a refeição ela já estava mudando. Foi só mais uma visita a um destes restaurantes para ela admitir que a comida era muito melhor que nos outros. A grande vantagem daqui e que tudo e preparado na hora. Havíamos decidido também que para vivenciar mais a cultura indiana nos tornaríamos vegetarianos e não consumiríamos alcool.

O calor estava grande e todos só falavam que iria aumentar nos próximos meses. Ainda bem que o ônibus que pegamos para Allepey, mais ao sul não tinha vidros nas janelas.

Ônibus preparado para o calor…

A cidade em si não e tao interessante, apesar de ter alguns canais cortando o centro, ainda tem cara de uma vila suja. As primeiras vacas começaram a aparecer nas ruas, alem de cores e muvuca. Esqueçam a arquitetura europeia de alguns casarões de Fort Cochi, ali estava com mais cara de Índia mesmo. Demos umas voltas e pesquisamos sobre os passeios de barco disponíveis para as famosas “Back Watters”. Barco a motor, canoa, ferry e barco casa. Difícil de escolher quando cada um fala das diversas vantagens do produto vende. O barco casa parecia mais interessante, apesar de não passar pelos canais menores e do preço mais elevado. Deixamos algumas opções na manga, e na manha que faríamos o passeio eu e o Inri saímos para fazer uma ultima negociação. No caminho encontramos um cara que ofereceu sua casa barco, cortando os intermediários ficaria muito mais barato. Subimos na moto dele e fomos dar uma olhada. Foi aprovada e logo estávamos lá com nossas bagagens navegando calmamente por Backwatter. Tinham 2 quartos para nos, uma sala com tv e dvd e um terraço. Na tripulação tínhamos nos 4, o capitão, o cozinheiro e um ajudante. Comidas maravilhosas (em grande quantidade, não para passarinho como em Halong Bay), frutas, chá. Aquela vida dura, passando por paisagens fantásticas, pequenas vilas, canais, lagos. O programa foi muito, mas muito acima da expectativa. E olha que era bem recomendado. A noite eu estava dormindo na nossa cabine quando acordo e vejo a Bibi sentada na janela. Me assustei e perguntei o que tinha acontecido. Ela respondeu, sem mudar sua expressão, que tinha um rato gigantesco no nosso banheiro, e que decidira fazer xixi pela janela! Hahaha. Conferi e realmente o dito cujo estava lá. Não dava para abrir a porta para ele não vir para o quarto. Rimos muito da situação no dia seguinte, e ele tinha misteriosamente desaparecido do banheiro. Uma das cenas mais hilarias da viagem com certeza foi acordar e ver a Bibi sentada na janela!!!

House Boat parecido com o nosso, mas este não tem terraço…:)

BackWater

Lago em BW

Não tínhamos muitos planos e ficamos na duvida se já íamos para o estado vizinho de Tamil Nadu ou se passávamos na praia de Varkala. Como continuava um calor de 38 graus, e teríamos que ir para outra cidade para pegar um trem de qualquer forma, decidimos pegar uma praia. Varkala fica um pouco mais para o sul ainda. E cercada de falésias vermelhas e tem um estilo alternativo. Cheia de restaurantes, cafés e lojinhas. Bem turística, com muitos mochileiros, mas como era final de semana tinham locais na praia também. No segundo dia observamos que no canto da praia indianos eram barrados por dois policiais, que ficavam apitando a toda hora. Ali só podiam ficar turistas. O primeiro sentimento e de revolta, mas logo vimos que os indianos ficam tirando fotos das gringas na cara dura, alem de ficar olhando fixamente, quase babando. Para preservar o turismo, e o dinheiro que vem com ele, acharam melhor fazer esta separação. Arranjamos um tiozinho de uma venda para cozinhar para a gente. Eu adoro frutos do mar, e tava pegando mais não comer aqueles camarões gigantes, lulas e peixes do que carne. Mas descobri porque e tao fácil de ser vegetariano aqui. As opções são intermináveis, e os temperos também. Sei que muitos não vão acreditar mas comemos um prato de couveflor (cheio de apetrechos) que estava melhor que muito camarão que eu já comi por ai! Acredite se quiser…

Falesias de Varkala

Devido ao trem lotado acabamos ficando um pouco mais que o planejado inicialmente, e deu para irmos num restaurante italiano para a Bibi matar a vontade dela. Os suíços mudaram os planos deles e resolveram pegar o trem com a gente para Mandurai- Tamil Nadu. Na estacão ferroviária fiquei brincando com uma menininha, e logo a mãe dela puxou papo com a Bibi e pintou a testa dela. Antes de virmos para cá já avisava para a Bibi que o melhor da Índia não esta nos templos, fortes, palácios e sim no dia a dia. A classe sleeper e simples, mas barata e permite esta interação. Dormimos e inacreditavelmente durante a noite esfriou, tivemos ate que nos cobrir. Chegamos bem cedo em Mandurai, cidade grande, suja e movimentada. Por sorte os hotéis ficam perto da estacão de trem, e o templo Sri Meenasshi também. Fizemos duas visitas ao templo, uma de dia quando estava muuuito quente e outra a noite, bem mais tranquila. Como tem que tirar os sapatos, tivemos que andar descalços pelas calcadas que pareciam brasas. Um falso professor, falando de um festival e tal, nos convenceu de irmos com ele e quando vimos estávamos dentro de uma loja. O “velho truque índio”!!!haha Pra quem não ta de calca, as lojas emprestam roupas para você entrar no templo, e depois tentam te vender alguma coisa. Tinham alguns turistas, mas muito mais devotos. Algumas regioes eram restritas a hindus. No fechamento do templo, um pequeno ritual com musica deu um extra para o lugar. Imaginava que o bonito portal estaria iluminado a noite, mas estava mais bonito de dia mesmo.

Mandurai

Aqui os elefantas também dão benção…

E cuidam das vacas melhor do que cuidamos de cachorros no Brasil

Ao contrario de tantos lugares que tivemos “early check in”, aqui você pode ficar no hotel 24 horas, independente da hora que chega. Descobrimos isto quando nos ligaram as 6 da manha para perguntar se ficaríamos mais um dia. Resolvemos partir e nos despedimos de nossos amigos que estavam indo para outra direção, rumo as montanhas. Pegamos um ônibus simples que foi ate Tanjore.

Chegamos naquele calor infernal, e os hotéis apesar de serem uma pechincha, eram de baixa qualidade. Rodamos um pouco ate achar um lugar decente. Nosso almoço foi servido em folhas de bananeira e não em pratos, e cada vez descobríamos mais opções gostosas de comida. O templo daqui Brihadishawara completa mil anos este ano. Não e colorido como o de Mandurai e sim só num tom. O silencio e menor numero de pessoas fez com que esquecêssemos o caos da cidade. No templo principal ficamos aguardando numa fila num corredor escuro. Dois músicos tocavam uma especie de corneta e tambor. Num certo momento paravam, um sino tocava e as cortinas la na frente se abriam, onde homens seguravam candelabros e abençoavam os fieis, que levavam suas mãos a cabeça fazendo sinal de saudação. Ritual muito bonito e interessante. Ficamos largados no gramado deste que e patrimônio da Unesco quando algumas famílias foram se aproximando. Quando vimos estávamos cercados de indianos curiosos. Tentávamos superar a barreira da língua, quando apareceu um cara que falava um bom inglês. O Hindi, língua oficial do pais, só e falado como primeira língua por 20% da população. Aqui neste estado são 70 milhões de pessoas que só falam Tamil.

Tanjore

Em Tanjore tem também um palácio, onde estão diversos museus. Na época áurea da região, foram daqui que saíram muitos dos navios que colonizaram parte da Malásia e Indonésia. Estavamos na duvida se seguíamos para outras cidades com templos, as grandes atraçõe do estado ou se íamos para um Ashram (que já tínhamos cancelado a reserva) ou ainda para o norte. Como a Bibi já esta um pouco cansada de viagens, achamos melhor passar no Ashram, que fica ao lado de uma montanha muito sagrada da Índia (Arunashala, onde o deus Shiva se transformou numa coluna de fogo). O trasporte na Índia é muito bom, vai para qualquer canto, mas o problema que as informações as vezes não são tao boas assim. Uns falavam que tinha ônibus direto, outros que tinha que fazer conexão. Nem qual das rodoviárias deveríamos ir souberam nos indicar. Acabou que pegamos horas de ônibus ate uma cidade onde deveria ter um ônibus até Tiruvanamalai, cidade do ashram, mas não tinha. Mais uma conexão ate outra cidade, onde chegamos só no final da tarde e resolvemos ficar. A paisagem era muito bonita, verde e rural, mas teve uma situação um pouco complicada. Vocês devem saber que as vacas são sagradas aqui, e estão por todos os lados. Eu correndo para pegar o ônibus, chutei uma bosta de vaca. Chutei, não pisei. Isto significa que tinha merda entre meus dedos e entre o chinelo e meu pé! So deu para jogar um pouco da nossa água mineral e limpar com um jornal onde estavam enroladas nossas comidinhas para viagens. Que situação! Na nossa parada, fizemos sucesso na cidade. Trocamos emails com um monte de gente e ficamos conversando um monte. Não devem parar muitos estrangeiros por aqui. Incrível como muitas pessoas não tem a menor ideia de onde e o Brasil. Não tem futebol (aqui o Cricket que e famoso), não lembram do Brasil. Sempre me perguntavam o que tinha de famoso no Brasil.

O campo e de futebol, mas o jogo e de cricket!!

O ultimo ônibus até Tiruvanamalai foi tranquilo. Alem de já estarmos perto engatamos numa conversa com dois irmãos muçulmanos e o tempo passou super rápido. Ela era super simples, não falava quase nada de inglês, mas era muito curiosa. Conversamos sobre muitas diferenças culturais, como casamentos arranjados, religião, o pagamento do dote por parte da família da noiva e por ai vai. Ela me perguntava assustada por que eu deixava minha mulher trabalhar fora. Se eu não queria que ela cozinhasse para mim todos os dias. Ao olhar o braco bronzeado da Bibi perguntou porque ela não adotada as roupas locais, pois aqui o sol era muito forte. O ocidente tem um preconceito muito grande com chadors, sem pensar na funcionalidade delas. Ela sugeriu que ate um Sari indiano ajudaria (não era uma sugestão religiosa, e sim pratica). Não conseguimos ficar no dormitório do ashram, mas arranjamos um lugar ali bem perto. Teoricamente funcionava com doações, mas quando falamos o quanto queríamos pagar, o cara não gostou muito. Aceitou, mas falou para não contarmos para ninguém e tal. Fizemos amizade com um casal Russo/americano que passou pela mesma historia, e estavam pagando menos que a gente. O ashram e do Ramana Maharish, um “santo” hindu que meditou por aqui durante muitos anos ate encontrar suas respostas. A Bibi vai escrever com mais detalhes sobre ele( www.tambemsai.wordpress.com ). Não tinha uma programação muito certa no ashram, como Yoga e meditação. Tinham as atividades diárias, e participava quem queria. Vários estrangeiros e tudo que e tipo de gente. Lugar bonito, nos pés do monte Arunashala, com pavoes e macacos espalhados por todos os lados. Ficamos mais amigos dos Russos de NYC, e passamos um tempo com eles. Muito gente boa eles. Fui ate fazer Ditxa, uma pratica de troca de energia “divina”. Novamente deixarei a Bibi explicar isto, pois poderá falar com muito mais propriedade. Subimos o Monte Arunashala, mas não ate o topo, pois o calor tem começado cedo. Fomos ate uma das cavernas onde o Ramana Maharish meditou. De la tinha uma bela vista da cidade, com um bonito lago de um lado e o grande templo aos pés da montanha. Durante minha estada ali, lembrava da minha avo em muitos momentos, já que e praticante de yoga a uns 45 anos e grande estudiosa de energias e afins (tanta coisa que não saberia nem explicar). Alias, foi em algum verão em Caioba, quando devia ter uns 4 anos que vi yoga pela primeira vez. Eu e a Pati acordávamos correndo quando ouvíamos minha vó fazer as respirações, esticávamos as esteiras e tentávamos imitar. Ao descobrir que teria um festival importante no grande templo da cidade lembrei na hora que ela chamaria de “milagre” (coincidências não ao acaso, não necessariamente um milagre religioso). Fomos no templo ainda de tarde, e não parava de chegar gente.

Devocao

Paineis feitos de sal colorido

Quase na hora

Filas iam se formando, devotos preparavam velas e mosaicos. Saris coloridos por todos os lados, musica, elefante dando benção. Um dos pontos altos foi quando lavavam o touro, transporte do Shiva, com leite. Os fieis iam a loucura. Novamente fizemos muito sucesso, praticamente não conseguíamos ficar sozinhos. Principalmente crianças vinham conversar e cada vez juntava mais gente. Uma super experiencia, mas na saída, com aquele empurra empurra para passar nos estreitos corredores deu aquele receio. Fácil de imaginar aquelas tragedias onde dezenas (ou centenas) de pessoas são pisoteadas. Mas estávamos celebrando o dia em que Shiva dançou no topo do monte Kailash, momento especial, de muita energia segundo eles, e os deuses estavam conosco…