Novo Livro: Destinos Invisíveis – Uma nova aventura pela África

Convido vocês a fazer parte de mais essa aventura. Neste livro conto a minha jornada por mais de 20 mil quilômetros em 18 países do continente africano.São destinos pouco explorados e existe uma grande carência de relatos da maior parte deles, principalmente em português.

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São quase 300 paginas, recheadas de fotos mapas e muitas histórias. Quem assina o prefácio é o Jornalista André Fran, Diretor e Apresetador dos programas Que Mundo é Esse e do consagrado Não Conta lá em Casa.

Segundo ele: “ não se trata aqui de um amigo comum, senhores. Nada disso. Mas aquele companheiro de viagem que estudou a fundo a história dos países que estão no roteiro, que está disposto a encarar a ocasional “roubada” para ter uma vivência mais realista dos locais visitados, e cuja curiosidade legítima faz a gente ansiar pela próxima aventura (e pela próxima página).”

Vamos juntos tornar estes cantinhos esquecidos cada vez mais conhecidos. Pode ser um guia de viagem com informações valiosíssimas, mas também é uma alternativa de conhecer lugares quase inacessíveis sem sair do conforto de suas casas.

A escolha é sua!

Zimbábue, a grande casa de pedra

Zim-Ba-Bwe : "A Grande Casa de Pedra"

Zim-Ba-Bwe : “A Grande Casa de Pedra”

A antiga Rodésia conquistou sua independência em 1980, quando passou a ser chamada de Zimbábue. O herói da independência, Robert Mugabe, poderia ter entrado para os livros de história como um “mocinho”, mas gostou tanto do poder que se mantem como líder do país até hoje.

Em 2009, quando eu viajava pela África, tinha grandes expectativas de visitar o país. Infelizmente, devido ao colapso econômico que aconteceu anos antes (o que resultou na dolarização da economia), a epidemia de cólera que se alastrava e a falta de combustível, acabei não indo para lá. Cheguei pertinho, do outro lado do Rio Zambezi, na Zâmbia. Muitos anos se passaram e eu estava empolgado em finalmente poder conhecer o Zimbábue. Interessante que minha impressão do país com certeza foi bem diferente do que eu teria naquela vez. Não são só os lugares que mudam, as pessoas e percepções também.

A Park Station em Joanesburgo (África do Sul) não é o lugar ideal para você ficar de bobeira, mas tive que gastar um tempo lá até a saída do meu ônibus rumo o Zimbábue. Não que seja algo muito assustador para um brasileiro, mas principalmente nos seus arredores, está cheio de malandros e potenciais assaltantes. Tive que dar um chega pra lá em um cara bastante agressivo, mas nada de mais.  Dentro, a estação é ampla e bem estruturada, tem até wi-fi gratuito. O Curioso é que não existem tomadas disponíveis, portanto se quiser carregar o celular precisa pagar em um restaurante ou usar umas maquinas de recarga.

Meu ônibus não era dos mais confortáveis, mas custou praticamente metade do que um de luxo da Greyhound. No final das contas acho que valeu a pena o custo beneficio. A imigração é feita na Beit Bridge, único posto de controle entre os dois países, portanto movimentadíssimo. O processo pode parecer simples, mas demorou algumas horas. No inicio estava aflito, pois tinha que preencher a papelada e esperar meu visto ficar pronto, antes do ônibus partir. Mal eu sabia que os oficiais ainda iriam revistar grande parte das bagagens e seguir uma grande burocracia sobre importação de mercadorias. O grande numero de caminhões também não ajuda na velocidade do tramite.

Estrada do interior

Estrada do interior

Já estava no meio da madrugada, eu deveria estar cansado, mas a excitação de chegar em um novo país não me deixava dormir. Os outros passageiros e até os vendedores indicavam que a experiência seria boa. Educados, comunicativos, sem serem invasivos.

Com o amanhecer, foi fácil de observar as diferenças de infraestrutura entre os dois países. Em outros lugares do Zimbábue até encontrei boas estradas, mas logo depois da fronteira é gritante a diferença com a África do Sul. Todo o sul da África tem sofrido bastante com a falta de chuva nos últimos anos. A paisagem tem se transformado bastante e a seca castiga a população local e os animais. Apesar da África do Sul também passar por esta dificuldade, é possível notar que o Zimbábue sofre mais com esta situação.

Cheguei a Masvingo ainda bem cedo. O ônibus não para numa rodoviária ou em um pátio de transporte, é em um (bom) posto de gasolina ao lado da estrada mesmo. Parada rápida onde os passageiros podem ir ao banheiro ou comprar comida. Para mim estava excelente, seguiria viagem dali. Ao me verem, alguns taxistas ofereceram para me levar até Great Zimbabwe. Era obvio que um estrangeiro iria para lá. Apesar de não ser longe, ficaria caro, pois eu estava sozinho. O jeito foi pegar um táxi coletivo para o centro da cidade e de lá pegar uma lotação (onde colocaram galinhas amarradas no meu colo!) para Great Zimbabwe . Você ainda precisa caminhar uns 800 metros, mas vale a pena, vai gastar um décimo do valor do táxi direto.

Os hotéis na região não são dos mais baratos, principalmente se você estiver sozinho. Optei por ficar na hospedagem dentro do parque. Teria a vantagem de estar a poucos metros da entrada das ruínas.

O que eu não contava era com a qualidade do lugar. Eu não sou de reclamar, já dormi em lugares muito simples quando não tinha outra opção, mas aquele dormitório me pegou. Não sei se eu estava cansado da noite mal dormida no ônibus ou se os beliches com colchões rasgados me assustaram.  Fezes sabe lá do que espalhadas pelo quarto não me animavam muito. Eu cheguei a falar que ficaria lá. Deixei minha mochila e fiquei pensando como que faria, já que não forneciam lençol nem mosquiteiro, e desta vez eu não estava preparado. Fui tomar um banho para raciocinar melhor e decidi ir para um dos quartos privados, mesmo tendo que pagar o dobro.  Não foi o banho relaxante que me fez torar a decisão, mas babuínos sedentos que entraram no banheiro (sem portas), para tomar água. Assim como com os malandros da estação Park Station, tive que me impor, mas somente usando um jogo psicológico, sem dar um passo a mais para o conflito.

Depois de estar a salvo, bem alimentado e ter descansado bem, já podia conhecer as famosas ruínas. Uma pequena trilha levava até lá, da onde eu estava era como se fosse o quintal de casa. Foi incrível caminhar pela região, explorando cada cantinho deste que foi um importantíssimo centro politico e comercial do Sul da África.

O inicio da construção da capital deste reinado  é controverso, mas foi e entre os séculos 13 e 15 que teve o seu apogeu, quando comercializavam com chineses, persas, árabes e europeus.

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As ruínas estão divididas em 3 regiões, Complexo da colina (onde aconteciam os rituais) , Complexo do vale e a Grande área cercada. Só a parede do “Great Enclosure” tem 11 metros de altura e até 5 de espessura! Dizem ser a maior ruína da África subsaariana.  Merecidamente listada como patrimônio da Unesco desde 1986, era surpreendente eu ser o único visitante em todo aquele dia. É um misto de decepção pelas pessoas não visitaram um lugar tão impressionante com um egoísmo de se sentir “dono” do lugar por ter ele só para você.

Um pequeno museu com diversos artefatos e informações complementaram as informações do guia que eu havia contratado. Uma bela coleção de pássaros de pedra, que simbolizavam os diversos reis que passaram por ali e no passado ficavam exibidos no topo de colunas de pedra. Hoje o desenho de um deles faz parte da bandeira nacional do Zimbábue. Alias, o nome do país também foi em homenagem a esta civilização, e significa “A Grande Casa de Pedra”.

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A noite seria de lua cheia, uma daquelas “super luas” anunciadas. Já tinha me programado para percorrer novamente as ruínas somente com a luz do luar, mas uma forte neblina acabou com meus planos. Não pude reclamar de ter uma noite bem dormida.

Muitos estudiosos apontam a superpopulação e a falta de recursos naturais, aliados a questões ambientais ocasionaram o declínio deste grande império. O que se sabe com certeza é que com o declínio de Great Zimbabwe, floresceu outro reinado, o Khami, que seria a minha próxima parada.

Depois de uma caminhada e dificuldade de achar transporte de volta para Masvingo, peguei carona com uma pick-up mesmo. No centro não foi difícil encontrar um ônibus que iria até Bulawayo. Era um transporte lento, parecia um ônibus municipal, mas era o que tinha. Bananas e marmitas com batata e frango eram oferecidas em cada uma das dezenas de paradas, portanto o almoço estava garantido. Foram horas para percorrer os 300 quilômetros de estrada, mas ainda tive tempo de perambular pela agradável Bulawayo quando cheguei.

Em Bulawayo vi os primeiros brancos no Zimbábue. Um grupo bem eclético de turistas, daqueles que viajam nas empresas de “Overland tour”, ocupavam cafés e lojas de um centro comercial onde fui fazer compras num mercado. Pareciam mais a vontade com os muros e seguranças armados. No supermercado alguns brancos do Zimbábue mesmo, mostrando que nem todos abandonaram a Nação depois das politicas (desapropriação de terras) do Mugabe.

Hospedei-me numa pousada muito gostosa, um casarão num bairro bem tranquilo. Todos os quartos vazios, para desespero da proprietária, que no passado pagou todos os estudos dos filhos com a renda vinda do turismo.

livro de presente para as criançada da pousada

Livro de presente para as criançada da pousada

Nada de internet, falta de luz e água com certa frequência mostram que o Zimbábue continua com problemas. As moedas de dólar cunhadas pelo governo já não são aceitas em todos os lugares. Com a falta de troco os preços sobem e as notas de 1 USD estão por todos os lados. Muitas delas se desfazendo de tanto circularem. Existe falta de dinheiro (papel moeda mesmo) também. Poucos caixas eletrônicos estavam fornecendo dólares e todos com um valor bem restrito por saque. Eu tinha lido sobre isto e levei o suficiente para minha estadia (evitando pagar IOF também).  O governo aponta que logo deve entrar com nova moeda, o que para parte da população, causa temor de uma nova hiperinflação.

As ruínas de Khami (também Patrimônio da Unesco) não são longe de Bulawayo, estão a uns 25 km de distância. Depois da grandiosidade de Great Zimbabwe, temia que Khami não me impressionasse muito. No final das contas foi bom eu não ter grandes expectativas, pois fiquei encantado com as ruínas da capital do antigos Reino de Butua. Tanto a arquitetura como a forma de construção é diferente de Great Zimbabwe. Gostei bastante da composição arquitetônica dos “tijolos”, dando um estilo para a decoração, além da disposição da cidade ao longo do rio.

Corredores

Corredores

Ruinas de Khami

Ruinas de Khami

Estilo arquitetonico

Estilo arquitetonico

Construção

Cidade perdida

Outro lugar muito legal perto de Bulawayo é o Parque Nacional Matobo, popularmente chamado de Matopos Hills. Deixei os animais de lado desta vez e me foquei nas formações rochosas, cavernas e pinturas rupestres. O povo San deixou mais de 3000 pinturas na região. Como são nômades era a forma de registrar a sua passagem deixando informações para quando voltassem ou para outro grupo que viesse depois deles. As pinturas (algumas com 2000 anos) são muito bonitas, de diferentes estilos, e é uma delicia ficar subindo e descendo as colinas e entrando nas cavernas em busca delas.

Pinturas rupestres

Pinturas rupestres

Cavernas em Matobo

Cavernas em Matobo

Matopos Hills

Matopos Hills

Rochas

Rochas

Do topo das colinas existem vistas incríveis e os blocos de granito se equilibrando um nos outros é algo impressionante! Foi outro ótimo programa que me surpreendeu bastante. As colinas de Matobo também estão listadas no patrimônio da Unesco, mas não parece atrair tantos turistas assim. Alias, no Zimbábue acho que atualmente eles estão se concentrando nas Cataratas Victória mesmo, uma pena.

Tentei pegar o trem de Bulawayo para Harare, capital do país, mas não deu muito certo. O trem faz o trajeto três vezes por semana, mas quebrou e não tinha nem uma estimativa de hora (ou data!) para chegar. Acabei pegando um ônibus mesmo. A estrada era boa e o ônibus era excelente, então foi uma viagem bem tranquila. Tinha a esperança de na chegada conseguir achar um transporte para o Lago Kariba, no noroeste do país, divisa com a Zâmbia. Infelizmente toda a minha correria para atravessar Harare de uma rodoviária para outra foi em vão. Não havia nenhum transporte direto para Kariba, e passar a noite em outra cidade no meio do caminho não daria certo para mim, pois o meu retorno para o Brasil se aproximava.

Faltou tempo para o Lake Kariba e sobrou para Harare. Uma cidade grande, mas bem pouco agressiva. Peguei lotações para cima e para baixo e me pareceu bastante segura, contrariando o imaginário de um país com tantos problemas. Não existem grandes atrações, mas sempre da para inventar alguma coisa.

Na parada “Copacabana”, é só atravessar o Township de Mabare e subir até o topo da colina de Kopje. Antigamente o chefe Zezuru observava as manadas de búfalos lá de cima. Hoje só é possível avistar a selva de pedras que Harare se transformou.

Harare

Vista de Kopje – Selva de pedras

Fui ao Mukuvisi Woodlands, um parque urbano onde se pode ver diversos animais “selvagens”, caminhei por todos os cantos da cidade, presenciei um culto de uma igreja africana numa praça e pude variar um pouco a comida, já que vinha comendo Sadza quase todas as refeições (uma espécie de “polenta”, chamada de Ugali no Leste da África).

culto local

culto local

chega de

Chega de Sadza

Gostei de viajar pelo Zimbábue. Viagem tranquila, sem muitos desafios, atrações bastante interessantes e pessoas prestativas. Tinha tudo para estar lotado de turistas (como já foi no passado), mas a situação politica e econômica não ajudam muito. Uma pena.

Suazilândia, a última monarquia absolutista da África.

Nas regiões rurais do continente africano ainda existem centenas, talvez milhares de pequenos reinados. Apesar da população local se submeter às decisões dos monarcas, as leis oficiais dos países são regidas por governos centrais. A “realeza” em muitos destes lugares é somente um titulo. Não que não exista um status financeiro e político gigantesco comparado com a população em geral, mas não existe abundancia como em um reinado imaginário.

São poucos os reinados absolutistas no mundo todo, mas existe uma pequena nação no sul da África que funciona desta maneira. A Suazilândia, um dos menores países da África, está espremida entre a África do Sul e o Moçambique. Lá o Rei Mswati III é literalmente “Rei”, tendo o direito de escolher o primeiro ministro, mudar leis e fazer o que bem entender do seu reinado. Não que estas ações não sejam feitas por ditaduras em outros países, mas neste caso isto é oficial, a forma de governo escolhida.

Todos os anos, no Festival Umhlanga (que dura 8 dias), também chamado de Swazi Reed Dance, o rei pode escolher uma nova noiva. O rei tira seu terno e se veste com roupas tradicionais para ver milhares de mulheres virgens dançando de top-less. Para muitas meninas é a forma de mudar completamente o seu futuro. Assim ele escolhe uma nova esposa para fazer parte do seu harém. Ele só se casa depois que elas engravidam, provando a sua fertilidade.  Hoje são quinze esposas e pelo menos trinta filhos. Após a cerimonia ele pendura as roupas tradicionais e vai para casa brincar com sua coleção de carros de luxo e cuidar da sua fortuna de mais de 200 milhões de dólares (segundo a Forbes).

Para chegar na Suazilândia eu pequei uma “Kombi” em Durban. Impressionante como o transporte publico é subestimado na África do Sul. Estrangeiros pagam fortunas por serviços como o Baz buz, micro-onibus que te levam de hostel em hostel em dias marcados, quando existem lotações muito mais baratas. As vezes parece difícil para as pessoas saírem da bolha…

A estação YMCA em Durban não é muito movimentada, e tem até uma ou outra barraquinha vendendo sanduíches de ovo enquanto você aguarda a van sair. A que ia para a Suazilândia era uma Sprinter novinha, bastante confortável. As estradas nesta parte da África do Sul são perfeitas, pistas largas nos dois sentidos, com asfalto de qualidade. Infraestrutura muito melhor do que no Brasil.

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No controle de passaporte da saída da África do Sul tive um problema com meu passaporte. Eu tinha carimbado a entrada do país, mas o oficial não havia lançado no sistema. Acabou demorando um pouco, mas nada demais. Isto chamou a atenção de outro estrangeiro que estava na van e começamos a conversar.  Inicialmente em inglês mas depois rimos quando descobrimos que os dois éramos brasileiros. O Jaime mora nos EUA faz muito tempo, e estava iniciando sua viagem de dois meses pela região sul da África. Inicialmente iria somente atravessar a Suazilândia a caminho do Moçambique, mas resolveu seguir comigo para conhecer um pouco do país.

S

Vales da Suazilândia

A Suazilândia fica perto do Kruger, safari mais famoso da África do Sul. Isto faz com que o país receba uma quantidade razoável de turistas, pelo menos os que tem uns dias a mais. Desde a época do Apartheid, quando o turismo na África do Sul era boicotado, a Suazilândia já vinha se desenvolvendo nesta área. Estava meio sem saber para onde ir quando cheguei na pequena Manzini, cidade que é o centro econômico da Suazilândia. O Vale Ezulwini pode ter boas caminhadas, mas sabia que me irritaria demais com todos os casinos e spas que tem na região. Acabamos indo para o Vale Malkerns, onde nos hospedamos no Sondzela Backpackers. Um casarão colonial,antigo dentro da reserva particular Mlilwane Wildlife Sanctuary.

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Mlilwane wildlife Sanctuary

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Faltou o calor, mas tinha até uma piscina

Café da manhâ

Café da manhã

Existem algumas trilhas para caminhadas tranquilas na companhia de antílopes, zebras, gnus e javalis, tudo isto com jacarandás floridas e belas colinas ao fundo. Os macacos ficam ali perto da casa mesmo, nos arredores da piscina, talvez buscando algum resto do jantar que é servido ao redor da fogueira. Por falar em jantar, os próprios animais da reserva são abatidos e antílope foi o prato da primeira noite.

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Zebras

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África

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Jacarandá

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Visual

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Wild Beast

Existiam outros hospedes, dentre eles o Thomas e sua família. Ele é belga, mas se criou na França. Trabalha para o Medico sem Fronteiras e morou em diversos países, como Afeganistão, Burkina Faso e Haiti. Ficou fascinado pelas minhas viagens e pelo meu ultimo livro, “Uma Viagem pelos Países que não existem”.  Sua esposa é taiwanesa, e pedia para que ele traduzisse o que estava escrito. Ele lê português, então deixei um livro de presente. Segundo eles, seus filhos estão bem adaptados à vida na Suazilândia. A sogra veio de Taiwan para ajudar com o recém-nascido, que tem 3 meses.  Ao jogar pingue-pongue com eles falaram que eu segurava a raquete como os chineses. Não sei bem o que isto quis dizer.

Pose para a foto com os livros

Pose para a foto com os livros

Na Suazilândia existem diversas “Vilas Tradicionais”, locais montados para os turistas irem tirar fotos com swazis com suas roupas típicas e quem sabe tentar dançar musica folclórica. Já fui a lugares parecidos com estes em outros países, mas agora normalmente passo este tipo de “experiência”.

Numa noite, após o jantar, me avisaram que uma van nos aguardava para levar a um Lodge que fica dentro do mesmo parque. Teria uma apresentação de musica e dança típica. Eu e o Jaime nos juntamos à família belga-taiwanesa e outros turistas (sul-africanos e europeus) que vinham de uma excursão da África do Sul. O motorista colocou uma musica eletrônica, psy-trance a todo o volume. No caminho deu carona para sua irmã e outros dois rapazes, que caminhavam pelas ruas de terra que davam acesso ao Lodge. Eles eram os dançarinos que se apresentariam naquela noite. Vestidos com roupas comuns, levavam as “Roupas tradicionais” numa mochila da Adidas, provavelmente fabricada na China. Viva a globalização.

Sentamos nos troncos ao redor da fogueira e esperávamos os hospedes do Lodge terminarem seus jantares a luz de vela para a apresentação começar. Iniciou uma ventania forte e o tempo mudou completamente. Nuvens chegaram rápido e cobriram as estrelas e a lua que estava quase cheia. Acabou a luz. Torcemos para a van chegar antes da chuva, e foi o que aconteceu. Voltamos para nosso dormitório e a musica mais tradicional que escutamos foi a do (provável) Dj israelense, que fez a trilha sonora daquela noite, combinando com os raios e trovoadas.

No domingo, antes do Jaime seguir para o Moçambique e eu para o Zimbábue (via Joanesburgo), decidimos passar na igreja. Segundo o Thomas, nada mais típico na Suazilândia que um domingo na igreja. Já no transporte publico podíamos observar mulheres com seus melhores vestidos e pastores (os de pessoas, não de animais) com seus cajados. Queríamos ir a uma missa da Igreja de Zion, mas acabamos em uma Igreja Anglicana mesmo. Igreja lotada e o coral muito bonito. Os hinos africanos em geral são muito bonitos. Foi uma boa despedida da Suazilândia. Pegar transporte foi fácil, o pátio parecia que tinham mais “Kombis” que pessoas.

Igreja

Igreja

trans

Patio dos transportes

Na ultima parada antes da imigração fui num quiosque gastar meus últimos Emalangeni. Ele tem o valor equiparado ao Rand (que também é aceito na Suazilândia), mas não é aceito fora do país. Comprei dois bolinhos e a moça me deu um terceiro, o ultimo (que já estava meio quebrado). O seu irmão apareceu nesta hora. “Você não vai tomar café?” Expliquei que só estava gastando o restante de dinheiro antes de entrar na África do Sul. Eu te pago, disse ele antes de me servir. Ele tinha acabado de voltar de uma temporada de trabalhos no Canada. Juntou dinheiro e voltou para a Suazilândia para empreender. Me conte, como é viajar com a mochila nas costas, insistia. A conversa não se prorrogou muito, pois o meu transporte estava para sair. Trocamos os contatos de facebook e parti.

Lesoto, o reino das montanhas.

A antiga Basutolândia foi uma colônia africana do Reino Unido, após a independência passou a se chamar Lesoto. Olhando no mapa é difícil de acreditar que não foi incorporado à África do Sul, pois está dentro deste país. Um fato interessante é que praticamente toda a população é Basoto, diferente dos outros países africanos, que são constituídos por diversos grupos etno-linguísticos.

Eu estive muito próximo de visitar o Lesoto em 2009, quando iniciava minha viagem pela África. Faria sentido visitar o país, já que estava explorando as fantásticas montanhas de Drakensberg, bem próximo da fronteira do Lesoto. Mas existia um problema, o Lesoto exige visto para turistas brasileiros e não pode ser feito na fronteira. É preciso ir até uma embaixada (Durban) e aguardar alguns dias. Na época eu fiquei muito bravo, tinha conseguido carona para ir para a Namíbia e tinha que encontrar com eles em Joanesburgo em poucos dias, portanto não daria tempo. Cheguei a ironizar o Lesoto no meu livro “De cape Town a Muscat: Uma aventura pela África”, onde chamei o país de “Poderoso reino do Lesoto”.  Peço desculpas publicamente. Não era para eu ter ido. A maioria dos turistas parte da África do Sul e vão até o Sani Pass, o belo passe nas montanhas que divide os dois países. No máximo fazem uma caminhada ou tomam uma cerveja no “Bar mais alto da África”. Teria sido pouco, hoje eu reconheço. O mais justo seria eu ter mencionado o país como “O belo reino do Lesoto”!

Quase oito anos se passaram e eu estava aterrissando em Maseru, a pequena capital do Lesoto. O aeroporto fica um pouco afastado, região rural eu diria, e não tem movimento algum. Algumas vans privadas faziam o transfer até o centro da cidade, mas a preços exorbitantes (pelo menos para um mochileiro). Nada de táxi ali na frente ou ônibus. O jeito foi caminhar até a rodovia e esperar algum transporte. Achei que conseguiria uma carona, mas acabei saltando na primeira van que apareceu. Era um táxi coletivo e eu era o primeiro cliente. Passaram por diversos vilarejos, dando voltas e buzinando para recolher passageiros, até chegar a hora de seguir para Maseru. Tudo isto após uma viagem de avião Curitiba-São Paulo- Joanesburgo-Maseru, com as devidas conexões e esperas nos aeroportos. Confesso que a buzina incomodou, mas não me impediu de metralhar o cobrador com perguntas sobre o país e dia a dia dele. Estava cansado, mas feliz por estar de volta à estrada.

Maseru é pequena e com poucas atrações, fácil de caminhar pela região central, mas não queria perder tempo, pois ainda tinha uma etapa da viagem para cumprir. Fui até o estacionamento das lotações e não demorei muito para achar um “táxi” que iria até Semonkong. Interessante que no Lesoto chamam tanto táxi como lotações de “táxi”, o que gera certo problema de comunicação, pois as vezes acham que você quer um carro só para você.

A lotação estava quase cheia, então não demorou para sair. Uma estrada simples, de asfalto novo, sem nenhum buraco na pista. Já nos arredores de Maseru um visual de chapadas, com montanhas em forma de mesa, mas logo foram ficando mais altas e em outros formatos. Passamos por Roma, onde está a universidade do país e por alguns passes de montanha. A velocidade não era alta, devido às curvas, subidas, pedras que rolaram para a pista e algumas ovelhas que insistiam em atravessar a estrada, para desespero dos pastores. Até poucos anos o final do trajeto era em estrada de terra, mas agora todos os 120 km são asfaltados.

Semonkong é minúscula. O centrinho é basicamente formado pelo pátio de transporte, onde esporadicamente tem um ônibus, uma ou outra lotação, uma ou outra caminhonete e mais de uma dezena de cavalos. Fácil de ver que o transporte oficial da região são os cavalos e burricos.

Fui caminhando até o hotel que ficava  já nos arredores do vilarejo. Praticamente todos os homens estavam vestidos da mesma maneira. Enrolados em um cobertor (preso por um grampo), bota, e um gorro onde só fica o rosto (ou os olhos) aparente.

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Apesar de o verão estar se aproximando, na recepção do hotel me deram todas as instruções para ascender à lareira caso esfriasse muito a noite. Um quarto coletivo limpo, banheiro com água quente e tudo, num chalé estilo refugio de montanha.

Adorei caminhar pela região, observar o dia a dia dos pastores, não só no vilarejo, mas principalmente nos arredores, onde é possível ver também diversos pássaros, entre eles águias e Íbis carecas. Casas de pedra redondas se misturam com outras de telhado de zinco, completando a paisagem.

Mais próximo do hotel, uma ou outra pessoa pode se aproximar de você para se oferecer como guia ou para alugar um cavalo, mas muito longe de ser um assedio. Fácil de se localizar pela região, inclusive de encontrar o caminho para a Cachoeira Maletsuyane. A trilha é relativamente bem marcada, mas na duvida sempre existem pastores dispostos a apontar o caminho. Ao cruzar com os pastores o mais comum é escutar “Lumela…”, forma que se cumprimentam por lá. Muitas vezes entediados, ao serem abordados adoram conversar, ou pelo menos tentar, já que ao contrario das cidades, poucos falam inglês. Garantia de boas risadas.

Pastores com seus cobertores

Pastores com seus cobertores

Tinha acordado cedo para fazer a caminhada até a Cahoeira Maletsuyane, pensando que poderia fugir da chuva que muitas vezes vem no final de tarde, mas não tive sorte. O tempo ficou fechado quase todo o dia, chegou a cair uns pingos até, mas nada disto tirou a beleza da região.

Semongkong

204 metros de queda

Semongkong Semongkong

A cachoeira parece desenhada, com seus 204 metros de queda, onde o rio segue pelo cânion. Um silencio quase absoluto, somente quebrado pelo vento, passaros e pelas ovelhas. Poderia ter sido um passeio relativamente rápido, mas acabei me empolgando e seguindo pelo cânion, buscando as melhores vistas da região e gastando longos minutos sentado, somente contemplando.

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Cachoeira Maletsuyane

O Lesoto é todo montanhoso, não existem muitas estradas, portanto muitas vezes é necessário dar grandes voltas para chegar ao seu próximo destino. O transporte não é frequente e muitas vezes é melhor voltar até a capital, Maseru, do que ficar na beira da estrada, pois já passam lotados. Foi o que eu fiz. Não sabia muito bem qual caminho seguir, mas a falta de transporte ajudou. Peguei o que tinha, uma estrada secundária, atravessando o país pelo meio, num trajeto que diziam ser o mais bonito. Desta vez a lotação estava superlotada. Alem dos passageiros, malas e sacolas ocupavam qualquer espaço que pudesse estar vazio. O motorista parou para comprar um jogo de pneus, que foram devidamente acomodados dentro da van também. Caixas de pintinhos e sacos com mantimentos não poderiam faltar. Uma criança no braço de sua mãe não parava de me encarar. Tentei fazer caretas, mas a expressão dela não mudava. Um olhar fixo, que só desviava quando tentava mamar. Os seios murchos provavelmente não forneciam mais leite, mas acalmavam o bebe na longa viagem. Vez ou outra a mãe dava uma colherada de iogurte, rapidamente aceita, antes de grudar novamente no seio castigado.

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Vilarejos nas montanhas

Paisagem exuberante, muitas curvas e um sobe e desce sem parar. Passei pela represa em Mohale, onde estão construindo um grande complexo turístico. Segui em frente, atravessando o passe Mokhoabong até chegar em Thaba-Tseka. Nada de hotéis para turistas, mas sempre tem opções onde trabalhadores locais e do governo se hospedam. Para minha sorte, o café da manhã reforçado estava incluso(ovos, bacon, salsichas, batata, feijão). Mal eu sabia que passaria o dia inteiro na estrada. No mapa parecia fácil ir de Taba-Tseka até Mokhotlong, mas não é bem assim. As estradas pelas montanhas são traiçoeiras, ainda mais quando termina o asfalto. Acordei cedo e fui para o pátio de transporte. Somente uma caminhonete e um ônibus velho que iria de volta até a Capital, Maseru. Chegaram a me recomendar que eu viajasse todo o caminho de volta para pegar a estrada principal até Mokhotlong, o que duraria dois dias de viagem. Insisti se não havia nenhuma alternativa. Tentei carona na beira da estrada por uma hora, mas nem pensar em algum veículo indo naquela direção. Um senhor me confortou, dizendo que existia uma van que iria até Linakaneng, uns 50 quilômetros dali, e de lá eu poderia seguir viagem. Fiquei batendo papo e para minha surpresa chegou a tal lotação. Eu era o primeiro passageiro e temi ter que esperar horas para lotar. Mas não foi o caso. O preço da passagem é mais alto, mas saem antes de encher. Deram umas voltas pela região recolhendo pouco mais de meia dúzia de pessoas e eu pude “passear” por belas paisagens nos vilarejos entre as montanhas.

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Visual da estrada

A viagem iniciou e eu nunca iria imaginar que poderia demorar tanto. Com o final do asfalto, as diversas subidas e paradas para pegar passageiros no caminho (que lotaram a van) a viagem acabou demorando mais de três horas.  Nessas horas que vejo como a viagem depende muito da forma que sua mente esta preparada. Se você quer chegar, para fazer uma atividade ou ver algo, isto pode te irritar muito. Mas se esta tranquilo, curtindo a musica tradicional tocando no radio, batendo papo com o motorista e curtindo o visual incrível ao lado, a sensação do tempo é diferente.

Linakaneng é um amontoado de casas no meio da montanha. Destaque para a escola e o grande campo de futebol. Algumas “lojas” que vendem mantimentos e tudo que alguém pode precisar, de bota a corda. Uma van com duas pessoas dentro estava parada no patio. O motorista tinha feito contato com eles por telefone falando que eu gostaria de seguir viagem, parecia que estavam só me esperando. Deixei minha mochila para guardar lugar e pedi para esperarem para eu comprar algo para comer. O bolinho de banha, uma espécie de sonho sem recheio é a opção mais barata e fácil de encontrar. Pães caseiros também estão disponíveis, assim como salsichas.

Linakaneng

Linakaneng

Pastores em Linakaneng

Pastores em Linakaneng

Logo descobri que a lotação esperaria passageiros para sair. Incrível como em um vilarejo no meio das montanhas, o transporte só sai quando os passageiros decidem. Não tem um horário marcado, no estilo quem não estiver lá perde o único transporte do dia. Para valer a pena para o motorista, só com lotação máxima. Demorou algumas horas. Deu tempo de ver as crianças da escola cantando o hino, depois diversas musicas antes de correrem brincando para suas casas. Pastores atravessarem a cidade com seus rebanhos e cachorros. Amigos apostarem corrida a cavalo e outras cenas no dia a dia de um vilarejo de montanha. Tudo com um visual incrível atrás.

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Finalmente seguimos pela montanhas e a vantagem da van estar cheia é que não parava tanto para pegar passageiros. As curvas e subidas não deixavam a viagem fluir, mas em certo momento chegamos no asfalto novamente.

Placas para cuidar com o gelo e o perigo da neve mostravam que o Lesoto esta longe da África do imaginário coletivo. Para completar a quebra dos estereótipos, diversas placas apontando para as estações de esqui da região. Como era verão, nada de neve, mas usam as pistas para atividades como mountain bike por exemplo.

No ultimo trajeto, excelente estrada até Mokhotlong. Nem tive como escolher o hotel, pois uma chuva torrencial iniciou e peguei o primeiro que apareceu. Região muito bonita onde o turismo tem se desenvolvido rapidamente. A proximidade da fronteira com a África do sul com certeza ajuda. Diversas opções de caminhada pelas montanhas mais altas do sul da África ( Thabana Ntlenyana tem 3482 metros).

Com a chuva e altitude a temperatura despencou a noite. O único transporte até o Sani Pass é o que segue para a África do sul. Devido ao mau tempo, desisti de ficar em Sani. Caminhadas com chuva e neblina não seriam tão proveitosas. A estrada que era perfeita até a fronteira, virou de terra quando entrei na África do Sul. Um zigue-zague, onde muitas vezes tínhamos que esperar caminhonetes que traziam turistas para passar o dia no Lesoto passar para podermos fazer a curva.

Sani Pass

Sani Pass

Imigração da África do Sul feita, o transporte não segue até Underberg, a primeira cidade. Ele para num quiosque onde se espera outra van (com preço alto para a pequena distancia). Com chuva e nada de interessante acontecendo, aproveitei uma oportunidade e peguei carona com um alemão que deixava um estrangeiro por ali. Uma carona até Underberg me ajudaria bastante, mas nem acreditei quando descobri que ele estava inda para Durbam, minha próxima parada. Me deixou na porta do Hostel, dei um livro de presente para ele e fui tomar uma cerveja.

 

Lituânia, a primeira Ex-república Soviética

A Lituânia foi a primeira das 15 republicas soviéticas a proclamar independência, ainda no início dos anos 90. Junto com Estônia e Letônia, é onde se encontra um dos maiores sentimento antissoviético até hoje.  Enquanto a maioria das antigas repúblicas soviéticas formou a CEI, Comunidade dos Estados Independentes, onde se apoiavam entre si, os países Bálticos acabaram fazendo parte da OTAN, Organização do Tratado Norte, ficando em lados opostos no tabuleiro do jogo geopolítico mundial.

Interessante que foi justamente um dos últimos países da antiga URSS que conheci, pois já havia passado pelo Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia, Azerbaijão, Geórgia, Rússia, Armênia, Estônia e Letônia.

Nossa primeira parada no país não ficava muito longe da fronteira com a Letônia. Nos arredores de Siauliai, está localizada a “Colina das Cruzes” (Kryziu Kalnas) um dos maiores símbolos de resistência antissoviética do país. As cruzes começaram a ser colocadas lá ainda no inicio do século 19, após uma rebelião contra o Império Russo, mas foi nos tempos Soviéticos que o numero de cruzes passou a aumentar. Quanto mais os soldados retiravam, mais cruzes eram colocadas, justamente como uma forma de mostrar a sua identidade e religião. Interessante que originalmente os lituanos eram pagãos, inclusive sendo apontados como o ultimo local da Europa onde se converteram ao Cristianismo, mas o nacionalismo acabou sendo associado ao catolicismo. Hoje já são mais de 200 mil cruzes.

Mais de 200 mil cruzes

Mais de 200 mil cruzes

Colina das Cruzes

Colina das Cruzes

No estacionamento oposto à colina, lojas vendem crucifixos e suvenires, além de um restaurante bem equipado para atender os turistas. Carros e ônibus de excursões trazem peregrinos de diferentes nacionalidades. Muitos italianos, e foi justamente um deles que falou uma das frases mais marcantes da viagem. Indo até a colina com o Gabriel no carrinho, ele ia cantarolando e emitindo sons muito engraçados. Um senhor olhou para ele e falou: “ Que bambino contento!” Não existia outra frase para definir o Gabriel nesta viagem. Ele sorria para todos, adorava passear com o carrinho e estar 24 horas com os pais. Mesmo somente com seus sete meses, aproveitou muito a viagem, a sua maneira.

Gabriel também colocou uma

Gabriel também colocou uma

Estávamos em contatos com um casal de amigos lituanos que conhecemos no Laos, uns 6 anos antes. Tentamos nos encontrar, mas como era verão, tinham ido viajar. Ofereceram sua casa para ficarmos na capital do país, Vilnius. Agradecemos mas resolvemos conhecer outra cidade do interior antes, Trakai, que ficava algumas horas de viagem de onde estávamos, cortando o interior da Lituânia.

Trakai fica num cenário de filme. São dezenas de lagos, casinhas coloridas, e uma ilha com um castelo no meio.  Maravilho! Era de onde o Grand Duque comandava seu reinado no século 14, e hoje virou um disputado balneário de final de semana, devido à proximidade de Vilnius.

Castelo de Trakai

Castelo de Trakai

Dezenas de lagos em Trakai

Dezenas de lagos em Trakai

Lá também está uma das ultimas comunidades Caraítas do mundo, um ramo do judaísmo que rejeita as tradições orais e autoridades, baseando-se basicamente na Torá.

Os preços da Lituânia nos surpreenderam bastante, sendo muito mais barato que os outros países da região. Aproveitando o tempo bom que estava fazendo (o final da viagem deve ter influenciado também), demos inicio a uma etapa da viagem onde não levamos mais o Gabriel para dormir cedo. Anoitecia tarde, e queríamos aproveitar um pouco mais.  Ele não teve dificuldades em dormir no carrinho, tanto de tarde como a “noite”.

Gabriel se preparando para dormir

Gabriel se preparando para dormir. Ainda bem que o carrinho deitava.

Vilnius foi outra agradável surpresa. Estava vazia, pudemos aproveitar com calma. Ficamos hospedados num ótimo AirB&B bem na cidade velha. Caminhamos pelas ruazinhas entre os belos prédios e diversas igrejas, muitas no estilo barroco. Sempre parando para um sorvete ou cerveja para refrescar o calor que tinha chegado. O Gabriel acompanhava no leite e frutas. Passamos a não cozinhar mais para ele, e arriscamos batatas amassadas, verduras e frango dos restaurantes. Ele aprovou.

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Eu também adorei experimentar os diversos pratos típicos da região, e não me intimidei nem para o ” Bulviniai Vêdarai”. Intestino de porco recheado com batatas!

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Existe um bairro chamado Uzupis, que significa “do outro lado do rio” (Vilna).  Popular entre artistas, proclamou sua independência no dia primeiro de abril de 1997, formando a República Uzupis. Confesso que achava que era algo mais sério, como tantos bairros anarquistas que travam batalhas judiciais com as prefeituras em diversas cidades europeias.  Mas não deixa de ser divertido.  Criaram uma constituição com 39 artigos, escritos em diversas línguas, exposto na rua principal. Galerias, cafés e bandeiras da República Uzupis dão um clima para o bairro, que tem até uma estatua do Frank Zappa.

República Uzupis

República Uzupis

Coração da "República"

Coração da “República”

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Dentre os artigos da constituição estão os curiosos, ” O Homem tem direito a ser feliz” e “O Homem tem direito a ser infeliz”.

Já na parte nova da cidade, está o Museu da KGB, no próprio prédio onde funciona a organização. Dezenas de fotos, documentos e filmes mostrando a ocupação Soviética, Nazista e a luta pela independência. Não deu para ler muito, o Gabriel queria movimento, mas muito interessante. Já as celas da prisão e câmaras de execução não eram o lugar mais recomendados para ele. Escuras e apertadas, e não dava para circular de carrinho por causa das escadas.  Fomos para as praças e parques, onde ele voltava a cantarolar, e ser o “Bambino contento” de toda a viagem. Era só atender às necessidades, e o sorriso a a musica vinham juntos…

Prédio da antiga KGB

Prédio da antiga KGB

A KLM ofereceu o bercinho gratuito nas viagens de ida e volta, o que ajudou muito!!

KLM berth

Com certeza a ultima vez que usou o bercinho do avião, foi na medida!