Islândia (com crianças)

Quando fomos para a Islândia, em meados de 2018, o Gabriel tinha dois anos e meio e a Bibi estava gravida da Teresa. Meus pais, irmãs e respectivas famílias também viajaram junto.

Vinhamos de uma viagem de Motorhome pelas Highlands da Escócia, e acabamos optando por não viajar desta maneira pela Islândia. É muito comum o uso de campervans, mas com crianças pequenas achamos melhor ter mais espaço.

Inicialmente pensávamos em dar a volta em toda a ilha, pela famosa Ring Road. Mas novamente o bom senso falou mais alto, e apesar de termos tempo, fizemos uma viagem mais tranquila, sem correria, de carro pela porção sul do país.

Foi a decisão acertada, pois existem diversas atrações ao longo da estrada principal, e pudemos viajar no ritmo das crianças (meu sobrinho Alfredo tem a mesma idade que o Gabriel).

Não vou entrar em detalhes da viagem. Acho que não teria muito a acrescentar que já não esteja nos guias de viagem. É um país belíssimo, com natureza absurda! Caríssimo também, provavelmente o país mais caro que já visitei. Daqueles que não tem opções para economizar, pois até os mercados ou restaurantes de imigrantes são caros. Mas vale muito a pena!!! Cada “esquina” uma nova surpresa. Além das grandes atrações, diversas paisagens, cachoeiras e lugares secundários para serem descobertos.

Nos hospedamos em hotéis e Airbnb. Tentando ficar mais de uma noite em cada lugar. Entre zigue-zagues, fomos de Reykjavik até Jökulsárlón e usamos algumas cidades do caminho como base. Total de 10 dias de viagem.

Além da natureza exuberante, não poderia faltar alguma experiencia cultural. O prato tipico Hákarl, carne de tubarão putrificada, foi apreciada por todos, inclusive o Gabriel, que junto comigo foi quem mais comeu.

Um pouco do que vimos por lá:

  • Gulfoss
  • Haukadalur
  • Thingvellir
  • Kerio
  • Seljalandsfoss
  • Kvernufos
  • Vatnajökull NP
  • Jökulsárlón glacier lagoon
  • Skogafoss
  • Fjaorárgljúfur
  • Reynisfjara/Dyrhólaey
  • Arredores de Hvolsvollur
  • Stokkseyri / Eyrarbakki / Þorlákshöfn /
  • Reikjavic

Blue Lagoon

Estrada

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De Motorhome pelas Highlands (com crianças)

Sempre que possível, meus pais gostam de reunir toda a família para viajar junto. O estilo das viagens varia bastante. Alguns anos atrás, fizemos a nossa primeira viagem de Motorhome, pelas montanhas do Canada. Foi aprovadíssima a experiência. Uma versão mais tranquila e estruturada dos acampamentos que fazíamos pela América do Sul nos anos oitenta.

Desde a viagem ao Canadá, a família aumentou. Nasceram meu filho Gabriel e meu sobrinho Alfredo. Acaba ficando ficado mais difícil de reunir toda a família, pois somando todos os núcleos familiares somos doze pessoas.

Todos estavam na expectativa sobre o novo destino de viagem. Chegamos a cogitar a Ilha de Galápagos, mas foi vetada devido à incompatibilidade da idade das crianças. A sugestão das Highlands Escocesa foi muito comemorada.

Viajar de motorhome nos daria uma flexibilidade extra para viajar com crianças pequenas, já que horários de dormir e comer seriam facilmente respeitados. Nos daria também liberdade para explorar a natureza e pequenos lugarejos, onde nem sempre teriam estrutura para receber tanta gente.

Cada núcleo familiar chegou em diferentes datas em Edimburgo, e teve seu tempo para conhecer a cidade e também de adaptação ao fuso horário. Ficamos hospedados em um Bed and Breakfast, pois motorhome definitivamente não combina com cidades maiores. Aproveitamos muito a bela cidade, mas depois de alguns dias todos já estavam contando os minutos para o inicio da grande aventura.

Já nos arredores de Edimburgo, em Kelty, buscamos os dois motorhomes que havíamos alugado, aprendemos rapidamente como tudo funcionava e pegamos a estrada. Inicialmente levamos um susto, pois eram bem menores que os motorhomes que havíamos alugado no Canada. O convívio em família seria intenso, brincávamos que era um verdadeiro Big Brother . Mas a ideia da viagem era uma convivência em família, não?!

A viagem começou devagar, até nos acostumarmos com a mão inglesa e treinarmos nossos reflexos. Ninguém era acostumado a dirigir um “ônibus”, muito menos do lado contrario da pista.

A Escócia tem fama de ter tempo bastante chuvoso. Quando falei que iria para lá, muitas pessoas me desejavam sorte quanto ao tempo. Na nossa primeira parada, Stirling, o clima estava tipicamente escocês. Nada do Sol que fizera em Edimburgo nos dias anteriores. Uma fina garoa cobria o Monumento dedicado ao herói escocês Willian Wallace, assim como a histórica ponte de pedra e o Castelo.

Seguimos viagem até o camping que havíamos reservado, na beira do Loch Lomond, 65 quilômetros adiante. Mesmo tendo cozinha, banheiro e camas no Motorhome, sempre buscávamos campings para estacionar. Muito mais aconchegantes, banheiros amplos e toda a estrutura que precisávamos. Existem detalhes que muitas vezes não lembramos sobre o uso de motorhome. Sempre precisamos abastecer de agua, e tirar o esgoto em lugares determinados. Atividade necessária, mas não muito glamorosa. Acabava gerando muitas piadas e sorteios para ver quem seria o sortudo a executa-las.

Estes campings com estacionamentos para motorhome, muitas vezes tem casas para veraneio, e estão localizados em lugares belíssimos. Viajar no verão, com os dias longos, faz com que a viagem renda bastante. Depois de um longo dia, um belo jantar e tudo organizado, ainda é possível tomar uma cerveja vendo o por de sol as onze da noite.

As estradas são boas, mas bem de interior, portanto não se viaja muito rápido. Havíamos programado a maior parte das paradas, mas deixamos para fazer algumas reservas ao longo do caminho, dependendo de como a viagem ia se desenvolvendo.

Pouco antes de Glencoe que as montanhas começam a aparecer. Belas paisagens, mas infelizmente nem sempre é fácil de parar ao lado da estrada, pois muitas vezes não tem acostamento. Com frequência os estacionamentos das vistas panorâmicas estavam lotados de carros também. Para quebrar a viagem, nada como parar no Clachag Inn para almoçar, com visual incrível das montanhas. É uma região muito procurada para trekkings, com trilhas de diversos níveis de dificuldade.

Numa estrada muito cênica, seguimos até Fort Williams, onde dormimos na beira de um rio aos pés de Bem Nevis, a maior montanha da Grã Bretanha ao lado. A estas alturas, muitas placas já eram bilíngues. No interior da Escócia, além do inglês se fala o Gaélico, portanto para não ofender os locais, melhor se referia à montanha como Beinn Nibbheis.

Os fãs de Harry Potter ficaram um pouco decepcionados por não conseguir pegar o trem das histórias do personagem. Todos os bilhetes já estavam vendidos online e mesmo tentando alguma desistência em cima da hora não foi possível terem esta experiência.

O belo viaduto de Glenfinann não fica longe, e tem hora marcada para o trem passar. Todo mundo se programa para estar lá na hora certa, um teste para as habilidades já adquiridas de dirigir um motorhome.

Em Mallaing, acabamos perdendo o ferry que leva até a Ilha de Sky por poucos minutos. Por sorte conseguimos trocar os nossos bilhetes e embarcar no ferry seguinte. Passaríamos duas noites na pitoresca Portree, com suas casinhas coloridas na beira de uma enseada cheia de barcos ancorados.

Havia lido que a Ilha de Sky era um dos pontos altos da viagem, mas mesmo assim surpreendeu, e muito. Ponto alto da viagem com certeza. A caminhada pelas formações rochosas de Old man of Storr, a cachoeira que, mesmo com pouca agua, cai na praia. O visual das falésias Kilt Rock e para finalizar a incrível vista de Quirang.

Tudo isto com diversas paradas e circulando a ilha. O próprio caminho já é um excelente programa, passando por vilarejos de pescadores e belas paisagens.

Saímos da ilha pelo lado oposto de onde entramos, desta vez utilizando uma ponte. Dormiríamos em Loch Ness, mas antes nos dedicamos a conhecer o pitoresco Castelo Eilean Donan, estrategicamente construído na beira do lago.

As viagens nunca eram muito longas, então mesmo com as paradas acabava sobrando tempo livre. Tentamos nadar no Loch Ness,  lago que se popularizou com a historia do monstro que viveria ali, mas acabamos desistindo. Não por acreditarmos na lenda, mas pela temperatura da agua mesmo. Não era dos mais limpos também. Acabamos fazendo hambúrgueres em churrasqueiras descartáveis, muito utilizadas por ali.

Vínhamos tendo muita sorte com o tempo desde Stirling, mas nossa visita ao castelo Urquhart foi com garoa novamente. Mas isto não impediu que o Gabriel se divertisse muito colocando capacete e segurando espadas dos cavaleiros.

Iverness é considerada a capital das Highlands. Não chega a ser grande, mas muito maior que qualquer cidade que havíamos passado desde a saída de Edimburgo. Passeávamos pelo agradável centrinho, nas intermediações do castelo, quando uma grande manifestação se aproximou. Bandeiras azuis e bancas tremulavam por todos os lados, gritos eram entoados pedindo a Independência da Escócia. Demandavam novo plebiscito e separação do Reino Unido. O sentimento nacionalista e insatisfação com o governo central em Londres foram reacendidos com o Brexit.

A viagem já se aproximava do final, mas não antes de conhecer a Destilaria de Whisky  Dalwhinnie. Tour para conhecer os segredos da bebida local e degustação moderada, afinal precisávamos chegar à charmosa Pitlochry, onde passaríamos nossa ultima noite antes de voltar para Edimburgo.

Se por um lado a tristeza tomava conta pelo fato da viagem pelas Highlands escocesa estar terminando, a empolgação crescia com a proximidade do próximo voo. De Edimburgo iriamos para Reykjavik, capital da Islândia. Mas esta já é outra viagem…

Artigo originalmente escrito para a Revista Top Destino 149.

Viagem feita em 2018.

Benelux com criança

Benelux é uma organização de livre comercio entre três países europeus, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. O tratado foi assinado no final da Segunda Guerra, mas entrou em vigor somente nos anos sessenta. Foi um embrião do que hoje se tornou a União Europeia.

Segunda vez que o Gabriel foi para a Europa e segunda vez utilizando a KLM. O tratamento com crianças é excepcional. Mesmo ele não cabendo mais no berço, nos forneceram os assentos confort da primeira fila. Mais espaço para nossos pés, para ele brincar, e até montaram uma caminha no chão.

Do aeroporto de Amsterdam fomos direto para Lisse, uma pequena cidade onde nos encontraríamos com meus pais, irmãs e respectivas famílias. Na verdade esta primeira etapa da viagem foi idealizada pelos meus pais, uma viagem de barco pelos canais dos Países Baixos (Holanda).

Eles já estavam viajando há uns dois dias, já entendendo bem sobre o funcionamento do barco. Um barco grande, com 4 suítes,  para três pessoas cada. Tinha que ser assim, estávamos em oito adultos, um adolescente, uma criança e dois bebes.

Barco atracado em um espaço publico.

Nesta primeira cidade já está uma das grandes atrações do interior da Holanda, o Parque Keukenhof, também conhecido como “Parque das Tulipas” ou “Jardim da Europa”. Dizem ser o maior jardim de fores do mundo, com quase 8 milhões de flores plantadas todos os anos. Não sei se é verdade, mas que é belíssimo isto eu posso garantir. Diversas cores e estilos, tornam um passeio muito agradável. Não é nenhum segredo, e como só florescem numa estação do ano, pode ter certeza que terá muita gente.

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Ótima infraestrutura para (Europa Ocidental, né?!), no meio do parque tem até brinquedos e uma “fazendinha” para as crianças brincarem com os animais. O Gabriel que mora em chácara se sentiu em casa.

A viagem de barco é lenta, mas muito bonita. A velocidade media não passa de 10 km, então muitas vezes passávamos um período inteiro viajando ( manhã ou tarde). A vantagem é passar por pequenas cidades que numa viagem para as “Capitais” normalmente acharíamos muito longe, por não terem tantas “atrações”. Não adianta, sempre o interior dos países acaba surpreendendo.

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Gabriel no comando

Para dormir, as vezes parávamos numa “Marina”, outras em espaços públicos mesmo. A vantagem das marinas é que tinham banheiros (não que no barco não tivesse). Os chuveiros, sempre automáticos, funcionavam com 0,50 de Euro e já tinham a temperatura regulada. Nada de funcionários para limpeza, um pequeno rodo para quem usasse mantivesse seco. Estavam sempre impecáveis.

Foi uma delicia explorar Gouda à noite, procurando um lugar para comer e beber alguma coisa. A calmaria da noite não se repetiu no dia seguinte. Era quinta-feira, dia de feira na cidade. Barraquinhas vendendo o famoso queijo Gouda e encenações dos leilões de queijo que acontecem há centenas de anos. Tudo muito animado.  Os Stroopwafels, “bolachinhas” que ficam em cima do chá derretendo com o vapor é outra gostosura da cidade.

Gouda

Gabriel esperando o leilão de queijos Gouda

Antiga prefeitura, no estilo Gotico

Como nos outros dias, após uma noite e uma manhã, era hora de pegar a estrada, ou melhor, o canal. Além da velocidade baixa, diversas comportas e dezenas de pontes estão pelo caminho. Isto torna a viagem mais lenta, no entanto mais interessante. As comportas são miniaturas das do Canal do Panamá. Elevam ou baixam o barco na altura do canal adiante. Existem diversos tipos de pontes. As que abrem de lado, as levadiças que abrem ao meio, as que levantam inteiras, outras que simplesmente passamos por baixo sem ter que esperar. Algumas têm um botão para avisar quando alguém chega, outras têm horário marcado. Existem ainda as que têm um funcionário para abrir. Ele fica numa cabine e lança um tamanco holandês amarrado numa cordinha para colocarmos o pedágio dentro depois que ele libera a passagem.

Tropa reunida

Viagem em família

Algumas vezes chegamos antes do horário marcado para abrir. Sem problemas, da para encostar  à beira do canal e sair para conhecer as cidadezinhas, a pé ou de bicicleta. Boa hora para se abastecer para as refeições seguintes ou torar um sorvete e/ou cerveja também. A área externa do barco é uma delicia, mas acabamos usando pouco, pois a primavera holandesa estava muito fria.

Tentando aproveitar a área externa

Chegamos já no final de tarde em Oudewater, onde resolvemos passar a noite. Mesmo tendo jantado no barco, encaramos o frio da noite para caminhar pelas ruazinhas da pequena cidade. Gostamos bastante dali. Diz a lenda que está cheia de bruxas. Existe até hoje um museu na casa onde pesavam mulheres para saber se eram bruxas. Pela noite até que procuramos, mas não vimos nenhuma.

Chegando em Oudewater

Simpática Oudewater

Uma das poucas cidades grandes que passaríamos era Utrecht. Calculando melhor o tempo achamos melhor não ir. Atrapalharia um pouco a logística. Deixar o barco, pegar táxis para o centro, tudo isto para ficar pouco tempo, achamos não valer a pena. Acabamos aproveitando uma parada ali perto, em Maarssen, onde caminhamos e encontramos um delicioso restaurante.

Maarssen

Os canais logo se tornariam bem mais largos, verdadeiros rios onde passam embarcações que mais parecem navios. Correnteza torna as manobras mais difíceis e é preciso tomar cuidado, pois os barcos grandes não têm como te ver.

Ultima noite já na marina, para entregar o barco pela manhã cedo. Em uma semana foram 225 quilômetros viajando pelos canais, passando por 13 comportas e 76 pontes

Clichê holandês: Canais, Barcos, Bicicletas e Moinho

Ainda teríamos um dia em Amsterdã com a “Big Family”. Eu tinha conhecido na cidade quase duas décadas antes, mas era a primeira vez da Bibi. Não deu para fazer muita coisa, nem era o objetivo. Passeamos rapidamente pela cidade e ainda de tempo de ir no museu da Annie Frank.

Um gostoso jantar de despedida, onde no dia seguinte cada um faria uma viagem diferente. Antes do sol nascer, Eu a Bibi e o Gabriel estávamos a caminho da estação central de trem. Um bom trem de Amsterdã para a Antuérpia (já na Bélgica) onde faríamos uma rápida conexão em um trem comum para Bruges. O Gabriel aprovou o novo meio de transporte e quando não estava dormindo ficava todo animado com a movimentação.

Ficamos muito bem localizados em Bruges, o que facilitou bastante para conhecer a cidade. Não da para dizer que as calçadas de pedra são as mais apropriadas para carrinhos pequenos de bebe, mas tudo correu bem.

Praça do mercado

Parlamento

Canais

A Bibi ficou encantada com a cidade, e realmente é muito charmosa e bem preservada. Canais, pontes, igrejas, construções antigas e o palácio. Onde quer que você olhe tem estilo.

Curtimos com calma, revezando entre cafés, cervejas, chocolates e restaurantes, tudo com calma. O ritmo numa viagem com filhos é outro, e a pressão interna para conhecer algum lugar é nula. Apenas vive-se.

Apesar de ensolarados, teve um dia que fez bastante frio. Acabou dando um febrão no Gabriel, mas nada de mais. Dia seguinte ele já estava bom. Uma comida simples, rápida e barata disponível em diversos cantos da cidade são os “Copos de macarrão”. Se escolhe a massa e molho, uma boa quantidade por cerca de 5 Euros. Salva qualquer fome que possa aparecer numa criança (ou adulto)  quando não tem um restaurante em vista.

Final do dia nas costas do pai

Canais

Tinha visto algumas possibilidades de cidadezinhas para visitar no interior da Bélgica, mas acabamos optando por viajar por menos cidades e passar mais tempo nelas.  Dinant, Veurne e Ghent ficariam para uma próxima, pois tínhamos um voo saindo de Luxemburgo.

Trem de Bruges para Bruxelas e outro até Luxemburgo. Um grupo escolar de crianças descontraiam o vagão, mas um senhor não gostou e pediu silencio. Não atenderam e foi ele que teve que se retirar. Paisagem bonita e aquela tranquilidade que é viajar de trem.

Ficamos num hotel bem próximo da estação de trem. Facilitou a chegada, mas no final do dia descobriríamos que não era das melhores regiões. Muitos bêbados, drogas e prostituição nos arredores, num ambiente nem um pouco familiar.

Luxemburgo é uma cidade pequena, capital do país homônimo, um dos menores da Europa. Conhecido por ter uma das maiores rendas per capita do mundo. Pelas fotos que tínhamos visto, criamos certa expectativa. Ainda mais nós que adoramos cidades pequenas. Mas sempre existe um grande perigo nas expectativas, e acabamos não gostando tanto assim de lá. Tentamos, ficamos duas noites, exploramos o centrinho da cidade mais de uma vez. É bonito, fotogênico com certeza, mas parado, não tem alma nem personalidade.

Luxemburgo

Luxemburgo

Luxemburgo

Refletindo chegamos à conclusão que está mais para uma fotografia do que para um filme. Enfim, aproveitamos o visual da corniche, as casemates, caminhamos da cidade alta (Ville Haute) até a baixa (Grund). Elevador público (e gratuito) leva de volta até cidade alta.

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O país é um Grão Ducado e o Gabriel adorou ver a marcha da troca da guarda no Palácio Ducal. Para nós nada de muito impressionante. Bem mais marcante o café ali na frente (Chocolate House Bonn), com colher de madeira e chocolate na ponta para fazer o capuchino, além de ver o Gabriel imitar os guardas batendo o pé, é claro.

Imitando os guardas

Pegamos um voo para Londres, já que as passagens estavam bem mais baratas que as de trem. Ficamos uns dias com minha irmã Gi, com o Dan e meu sobrinho Alfredo. Nada de turismo, a ideia era mesmo curtir eles. Mas isto já é outra historia, ou melhor, outra viagem.

Lituânia, a primeira Ex-república Soviética

A Lituânia foi a primeira das 15 republicas soviéticas a proclamar independência, ainda no início dos anos 90. Junto com Estônia e Letônia, é onde se encontra um dos maiores sentimento antissoviético até hoje.  Enquanto a maioria das antigas repúblicas soviéticas formou a CEI, Comunidade dos Estados Independentes, onde se apoiavam entre si, os países Bálticos acabaram fazendo parte da OTAN, Organização do Tratado Norte, ficando em lados opostos no tabuleiro do jogo geopolítico mundial.

Interessante que foi justamente um dos últimos países da antiga URSS que conheci, pois já havia passado pelo Turcomenistão, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão, Moldávia, Azerbaijão, Geórgia, Rússia, Armênia, Estônia e Letônia.

Nossa primeira parada no país não ficava muito longe da fronteira com a Letônia. Nos arredores de Siauliai, está localizada a “Colina das Cruzes” (Kryziu Kalnas) um dos maiores símbolos de resistência antissoviética do país. As cruzes começaram a ser colocadas lá ainda no inicio do século 19, após uma rebelião contra o Império Russo, mas foi nos tempos Soviéticos que o numero de cruzes passou a aumentar. Quanto mais os soldados retiravam, mais cruzes eram colocadas, justamente como uma forma de mostrar a sua identidade e religião. Interessante que originalmente os lituanos eram pagãos, inclusive sendo apontados como o ultimo local da Europa onde se converteram ao Cristianismo, mas o nacionalismo acabou sendo associado ao catolicismo. Hoje já são mais de 200 mil cruzes.

Mais de 200 mil cruzes

Mais de 200 mil cruzes

Colina das Cruzes

Colina das Cruzes

No estacionamento oposto à colina, lojas vendem crucifixos e suvenires, além de um restaurante bem equipado para atender os turistas. Carros e ônibus de excursões trazem peregrinos de diferentes nacionalidades. Muitos italianos, e foi justamente um deles que falou uma das frases mais marcantes da viagem. Indo até a colina com o Gabriel no carrinho, ele ia cantarolando e emitindo sons muito engraçados. Um senhor olhou para ele e falou: “ Que bambino contento!” Não existia outra frase para definir o Gabriel nesta viagem. Ele sorria para todos, adorava passear com o carrinho e estar 24 horas com os pais. Mesmo somente com seus sete meses, aproveitou muito a viagem, a sua maneira.

Gabriel também colocou uma

Gabriel também colocou uma

Estávamos em contatos com um casal de amigos lituanos que conhecemos no Laos, uns 6 anos antes. Tentamos nos encontrar, mas como era verão, tinham ido viajar. Ofereceram sua casa para ficarmos na capital do país, Vilnius. Agradecemos mas resolvemos conhecer outra cidade do interior antes, Trakai, que ficava algumas horas de viagem de onde estávamos, cortando o interior da Lituânia.

Trakai fica num cenário de filme. São dezenas de lagos, casinhas coloridas, e uma ilha com um castelo no meio.  Maravilho! Era de onde o Grand Duque comandava seu reinado no século 14, e hoje virou um disputado balneário de final de semana, devido à proximidade de Vilnius.

Castelo de Trakai

Castelo de Trakai

Dezenas de lagos em Trakai

Dezenas de lagos em Trakai

Lá também está uma das ultimas comunidades Caraítas do mundo, um ramo do judaísmo que rejeita as tradições orais e autoridades, baseando-se basicamente na Torá.

Os preços da Lituânia nos surpreenderam bastante, sendo muito mais barato que os outros países da região. Aproveitando o tempo bom que estava fazendo (o final da viagem deve ter influenciado também), demos inicio a uma etapa da viagem onde não levamos mais o Gabriel para dormir cedo. Anoitecia tarde, e queríamos aproveitar um pouco mais.  Ele não teve dificuldades em dormir no carrinho, tanto de tarde como a “noite”.

Gabriel se preparando para dormir

Gabriel se preparando para dormir. Ainda bem que o carrinho deitava.

Vilnius foi outra agradável surpresa. Estava vazia, pudemos aproveitar com calma. Ficamos hospedados num ótimo AirB&B bem na cidade velha. Caminhamos pelas ruazinhas entre os belos prédios e diversas igrejas, muitas no estilo barroco. Sempre parando para um sorvete ou cerveja para refrescar o calor que tinha chegado. O Gabriel acompanhava no leite e frutas. Passamos a não cozinhar mais para ele, e arriscamos batatas amassadas, verduras e frango dos restaurantes. Ele aprovou.

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Eu também adorei experimentar os diversos pratos típicos da região, e não me intimidei nem para o ” Bulviniai Vêdarai”. Intestino de porco recheado com batatas!

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Existe um bairro chamado Uzupis, que significa “do outro lado do rio” (Vilna).  Popular entre artistas, proclamou sua independência no dia primeiro de abril de 1997, formando a República Uzupis. Confesso que achava que era algo mais sério, como tantos bairros anarquistas que travam batalhas judiciais com as prefeituras em diversas cidades europeias.  Mas não deixa de ser divertido.  Criaram uma constituição com 39 artigos, escritos em diversas línguas, exposto na rua principal. Galerias, cafés e bandeiras da República Uzupis dão um clima para o bairro, que tem até uma estatua do Frank Zappa.

República Uzupis

República Uzupis

Coração da "República"

Coração da “República”

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Dentre os artigos da constituição estão os curiosos, ” O Homem tem direito a ser feliz” e “O Homem tem direito a ser infeliz”.

Já na parte nova da cidade, está o Museu da KGB, no próprio prédio onde funciona a organização. Dezenas de fotos, documentos e filmes mostrando a ocupação Soviética, Nazista e a luta pela independência. Não deu para ler muito, o Gabriel queria movimento, mas muito interessante. Já as celas da prisão e câmaras de execução não eram o lugar mais recomendados para ele. Escuras e apertadas, e não dava para circular de carrinho por causa das escadas.  Fomos para as praças e parques, onde ele voltava a cantarolar, e ser o “Bambino contento” de toda a viagem. Era só atender às necessidades, e o sorriso a a musica vinham juntos…

Prédio da antiga KGB

Prédio da antiga KGB

A KLM ofereceu o bercinho gratuito nas viagens de ida e volta, o que ajudou muito!!

KLM berth

Com certeza a ultima vez que usou o bercinho do avião, foi na medida!

Música, dança e palácios!

O folclore letoniano, também chamado de Dainas, foi uma das mais importantes formadas de manter a cultura e identidade do povo que viveu nesta região. São mais de 1,2 milhões de textos e 30 mil melodias, alguns com mais de mil anos.  Assim como na Estônia, muita mitologia envolvida, e é muito interessante como povos com identidades próprias, demoraram tanto tempo para constituir um país.

Entramos na Letônia atravessando uma pequena ponte de madeira, vindo do interior da Estônia. Estávamos bem perto da fronteira da Rússia, portanto teríamos que praticamente atravessar o país para chegar na capital, Riga. A chuva tinha voltado, e a estrada A2 não era tão boa quanto imaginávamos. Longe de ser “padrão União Europeia”. Muitos reflorestamentos ao longo da estrada e os caminhões carregados com toras tornavam o transito mais lento. Torcíamos para que o tempo melhorasse quando chegássemos a Singula, cidadezinha na beira do Parque Nacional Gauja. Infelizmente o tempo só piorou. Chovia forte, e só paramos mesmo para tomar uma café e comprar fraldas para o Gabriel, pois já estavam acabando nestas alturas. Até tentamos procurar alguns dos castelos, mas mal dava para enxergar. Achamos que as trilhas, cavernas  e visual ficaria para outro dia, mas acabou ficando para outra viagem.

Já que o tempo não ajudava, fomos para Riga, uns 50 quilômetros dali. Transito bastante congestionado, mas sobrevivemos e chegamos no AirB&B que havíamos alugado no centro antigo da cidade. Era um ático bem charmoso, todo reformado, por um bom preço. Só não tinha cortinas e blackout, o que atrapalha no meio do verão, onde anoitece depois das onze da noite. Improvisando penduramos cobertores e toalhas para escurecer o ambiente e garantir o sono do Gabriel. A anfitriã, muito simpática, nos deu muitas dicas e ficou conversando bastante quando nos recebeu.

Gabriel feliz no nosso quarto

Gabriel feliz no nosso quarto

Interessante como nos referimos aos “Bálticos” como se fossem países parecidos. Ali a língua era outra, e Riga completamente diferente de Tallinn (o mesmo aconteceria com Vilnius).

Old Riga

Old Riga

Aproveitei uma trégua da chuva, e os dias longos, para me localizar na cidade velha. Estávamos hospedados em um lugar super central, o que facilitou bastante conhecer tudo, e até voltar para casa quando achássemos necessário.

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Nos dias seguintes nos surpreendemos com a melhora do tempo. Pudemos aproveitar até dias de sol. Muito melhor, ainda mais com as feiras de rua, musica e danças típicas que estavam por todos os cantos. O Gabriel continuava adorando passear de carrinho. Quando ele dormia aproveitávamos para comer em algum restaurante ou aproveitar alguns dos muitos cafés.

Danças tipicas

Danças tipicas

Folclore

Folclore

Apesar de não ter a aparecia medieval de Tallinn, gostei muito do estilo de Riga. A arquitetura dos prédios, as belas igrejas e até mesmo o astral me pareceu um pouco mais autentico. Também estava cheio de turistas, mas as apresentações folclóricas, as musicas e danças davam um astral para o lugar. Experimentamos algumas comidas típicas num restaurante, e nos abastecemos nas feirinhas para os piqueniques que estavam por vir.

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Depois de dois dias na capital, fomos para o interior, conhecer alguns dos mais bonitos palácios do país. Primeiro foi o Mezotne Pils, um dos melhores representantes do classicismo letoniano.  O Gabriel continuou sendo um ótimo companheiro de viagem, mas aproveitou mesmo o passeio pelos jardins do palácio. Parte do palácio foi transformada em hotel, e o restante em museu para visitação.

Pils

Mezotne Pils

Pils

Jardins do Mezotne Pils

 

Paisagem rural e estradas de terra até chegar a Pilsrundale, onde está o palácio mais bonito do país.

Interior da Letônia

Interior da Letônia

Rundale impressiona já de fora, com seus imponentes portões.  Antes de entrar aproveitamos para fazer um piquenique gostoso com as guloseimas que havíamos comprado, e complementamos com morangos e cerejas locais. No palácio não pode circular com o carrinho de bebe, e as escadas também não ajudam. A Bibi foi conhecer alguns dos quase 150 cômodos, e eu fiquei com o Gabriel pelos jardins. Se no Mezotne Pils os jardins tinham aquele clima de fazenda, com arvores altas e muita sombra, no Rundale era todo florido, planejado, com chafarizes, tuneis e paisagismo caprichado.

Piquenique

Piquenique

Portões do Pilsrundale

Portões do Pilsrundale

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Esta região dos palácios fica no extremo sul da Letônia, já bem perto da fronteira com a Lituânia, então com uma curta viagem já estávamos no ultimo país que conheceríamos nesta viagem.