De Motorhome pelas Highlands (com crianças)

Sempre que possível, meus pais gostam de reunir toda a família para viajar junto. O estilo das viagens varia bastante. Alguns anos atrás, fizemos a nossa primeira viagem de Motorhome, pelas montanhas do Canada. Foi aprovadíssima a experiência. Uma versão mais tranquila e estruturada dos acampamentos que fazíamos pela América do Sul nos anos oitenta.

Desde a viagem ao Canadá, a família aumentou. Nasceram meu filho Gabriel e meu sobrinho Alfredo. Acaba ficando ficado mais difícil de reunir toda a família, pois somando todos os núcleos familiares somos doze pessoas.

Todos estavam na expectativa sobre o novo destino de viagem. Chegamos a cogitar a Ilha de Galápagos, mas foi vetada devido à incompatibilidade da idade das crianças. A sugestão das Highlands Escocesa foi muito comemorada.

Viajar de motorhome nos daria uma flexibilidade extra para viajar com crianças pequenas, já que horários de dormir e comer seriam facilmente respeitados. Nos daria também liberdade para explorar a natureza e pequenos lugarejos, onde nem sempre teriam estrutura para receber tanta gente.

Cada núcleo familiar chegou em diferentes datas em Edimburgo, e teve seu tempo para conhecer a cidade e também de adaptação ao fuso horário. Ficamos hospedados em um Bed and Breakfast, pois motorhome definitivamente não combina com cidades maiores. Aproveitamos muito a bela cidade, mas depois de alguns dias todos já estavam contando os minutos para o inicio da grande aventura.

Já nos arredores de Edimburgo, em Kelty, buscamos os dois motorhomes que havíamos alugado, aprendemos rapidamente como tudo funcionava e pegamos a estrada. Inicialmente levamos um susto, pois eram bem menores que os motorhomes que havíamos alugado no Canada. O convívio em família seria intenso, brincávamos que era um verdadeiro Big Brother . Mas a ideia da viagem era uma convivência em família, não?!

A viagem começou devagar, até nos acostumarmos com a mão inglesa e treinarmos nossos reflexos. Ninguém era acostumado a dirigir um “ônibus”, muito menos do lado contrario da pista.

A Escócia tem fama de ter tempo bastante chuvoso. Quando falei que iria para lá, muitas pessoas me desejavam sorte quanto ao tempo. Na nossa primeira parada, Stirling, o clima estava tipicamente escocês. Nada do Sol que fizera em Edimburgo nos dias anteriores. Uma fina garoa cobria o Monumento dedicado ao herói escocês Willian Wallace, assim como a histórica ponte de pedra e o Castelo.

Seguimos viagem até o camping que havíamos reservado, na beira do Loch Lomond, 65 quilômetros adiante. Mesmo tendo cozinha, banheiro e camas no Motorhome, sempre buscávamos campings para estacionar. Muito mais aconchegantes, banheiros amplos e toda a estrutura que precisávamos. Existem detalhes que muitas vezes não lembramos sobre o uso de motorhome. Sempre precisamos abastecer de agua, e tirar o esgoto em lugares determinados. Atividade necessária, mas não muito glamorosa. Acabava gerando muitas piadas e sorteios para ver quem seria o sortudo a executa-las.

Estes campings com estacionamentos para motorhome, muitas vezes tem casas para veraneio, e estão localizados em lugares belíssimos. Viajar no verão, com os dias longos, faz com que a viagem renda bastante. Depois de um longo dia, um belo jantar e tudo organizado, ainda é possível tomar uma cerveja vendo o por de sol as onze da noite.

As estradas são boas, mas bem de interior, portanto não se viaja muito rápido. Havíamos programado a maior parte das paradas, mas deixamos para fazer algumas reservas ao longo do caminho, dependendo de como a viagem ia se desenvolvendo.

Pouco antes de Glencoe que as montanhas começam a aparecer. Belas paisagens, mas infelizmente nem sempre é fácil de parar ao lado da estrada, pois muitas vezes não tem acostamento. Com frequência os estacionamentos das vistas panorâmicas estavam lotados de carros também. Para quebrar a viagem, nada como parar no Clachag Inn para almoçar, com visual incrível das montanhas. É uma região muito procurada para trekkings, com trilhas de diversos níveis de dificuldade.

Numa estrada muito cênica, seguimos até Fort Williams, onde dormimos na beira de um rio aos pés de Bem Nevis, a maior montanha da Grã Bretanha ao lado. A estas alturas, muitas placas já eram bilíngues. No interior da Escócia, além do inglês se fala o Gaélico, portanto para não ofender os locais, melhor se referia à montanha como Beinn Nibbheis.

Os fãs de Harry Potter ficaram um pouco decepcionados por não conseguir pegar o trem das histórias do personagem. Todos os bilhetes já estavam vendidos online e mesmo tentando alguma desistência em cima da hora não foi possível terem esta experiência.

O belo viaduto de Glenfinann não fica longe, e tem hora marcada para o trem passar. Todo mundo se programa para estar lá na hora certa, um teste para as habilidades já adquiridas de dirigir um motorhome.

Em Mallaing, acabamos perdendo o ferry que leva até a Ilha de Sky por poucos minutos. Por sorte conseguimos trocar os nossos bilhetes e embarcar no ferry seguinte. Passaríamos duas noites na pitoresca Portree, com suas casinhas coloridas na beira de uma enseada cheia de barcos ancorados.

Havia lido que a Ilha de Sky era um dos pontos altos da viagem, mas mesmo assim surpreendeu, e muito. Ponto alto da viagem com certeza. A caminhada pelas formações rochosas de Old man of Storr, a cachoeira que, mesmo com pouca agua, cai na praia. O visual das falésias Kilt Rock e para finalizar a incrível vista de Quirang.

Tudo isto com diversas paradas e circulando a ilha. O próprio caminho já é um excelente programa, passando por vilarejos de pescadores e belas paisagens.

Saímos da ilha pelo lado oposto de onde entramos, desta vez utilizando uma ponte. Dormiríamos em Loch Ness, mas antes nos dedicamos a conhecer o pitoresco Castelo Eilean Donan, estrategicamente construído na beira do lago.

As viagens nunca eram muito longas, então mesmo com as paradas acabava sobrando tempo livre. Tentamos nadar no Loch Ness,  lago que se popularizou com a historia do monstro que viveria ali, mas acabamos desistindo. Não por acreditarmos na lenda, mas pela temperatura da agua mesmo. Não era dos mais limpos também. Acabamos fazendo hambúrgueres em churrasqueiras descartáveis, muito utilizadas por ali.

Vínhamos tendo muita sorte com o tempo desde Stirling, mas nossa visita ao castelo Urquhart foi com garoa novamente. Mas isto não impediu que o Gabriel se divertisse muito colocando capacete e segurando espadas dos cavaleiros.

Iverness é considerada a capital das Highlands. Não chega a ser grande, mas muito maior que qualquer cidade que havíamos passado desde a saída de Edimburgo. Passeávamos pelo agradável centrinho, nas intermediações do castelo, quando uma grande manifestação se aproximou. Bandeiras azuis e bancas tremulavam por todos os lados, gritos eram entoados pedindo a Independência da Escócia. Demandavam novo plebiscito e separação do Reino Unido. O sentimento nacionalista e insatisfação com o governo central em Londres foram reacendidos com o Brexit.

A viagem já se aproximava do final, mas não antes de conhecer a Destilaria de Whisky  Dalwhinnie. Tour para conhecer os segredos da bebida local e degustação moderada, afinal precisávamos chegar à charmosa Pitlochry, onde passaríamos nossa ultima noite antes de voltar para Edimburgo.

Se por um lado a tristeza tomava conta pelo fato da viagem pelas Highlands escocesa estar terminando, a empolgação crescia com a proximidade do próximo voo. De Edimburgo iriamos para Reykjavik, capital da Islândia. Mas esta já é outra viagem…

Artigo originalmente escrito para a Revista Top Destino 149.

Viagem feita em 2018.

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Benelux com criança

Benelux é uma organização de livre comercio entre três países europeus, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. O tratado foi assinado no final da Segunda Guerra, mas entrou em vigor somente nos anos sessenta. Foi um embrião do que hoje se tornou a União Europeia.

Segunda vez que o Gabriel foi para a Europa e segunda vez utilizando a KLM. O tratamento com crianças é excepcional. Mesmo ele não cabendo mais no berço, nos forneceram os assentos confort da primeira fila. Mais espaço para nossos pés, para ele brincar, e até montaram uma caminha no chão.

Do aeroporto de Amsterdam fomos direto para Lisse, uma pequena cidade onde nos encontraríamos com meus pais, irmãs e respectivas famílias. Na verdade esta primeira etapa da viagem foi idealizada pelos meus pais, uma viagem de barco pelos canais dos Países Baixos (Holanda).

Eles já estavam viajando há uns dois dias, já entendendo bem sobre o funcionamento do barco. Um barco grande, com 4 suítes,  para três pessoas cada. Tinha que ser assim, estávamos em oito adultos, um adolescente, uma criança e dois bebes.

Barco atracado em um espaço publico.

Nesta primeira cidade já está uma das grandes atrações do interior da Holanda, o Parque Keukenhof, também conhecido como “Parque das Tulipas” ou “Jardim da Europa”. Dizem ser o maior jardim de fores do mundo, com quase 8 milhões de flores plantadas todos os anos. Não sei se é verdade, mas que é belíssimo isto eu posso garantir. Diversas cores e estilos, tornam um passeio muito agradável. Não é nenhum segredo, e como só florescem numa estação do ano, pode ter certeza que terá muita gente.

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Ótima infraestrutura para (Europa Ocidental, né?!), no meio do parque tem até brinquedos e uma “fazendinha” para as crianças brincarem com os animais. O Gabriel que mora em chácara se sentiu em casa.

A viagem de barco é lenta, mas muito bonita. A velocidade media não passa de 10 km, então muitas vezes passávamos um período inteiro viajando ( manhã ou tarde). A vantagem é passar por pequenas cidades que numa viagem para as “Capitais” normalmente acharíamos muito longe, por não terem tantas “atrações”. Não adianta, sempre o interior dos países acaba surpreendendo.

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Gabriel no comando

Para dormir, as vezes parávamos numa “Marina”, outras em espaços públicos mesmo. A vantagem das marinas é que tinham banheiros (não que no barco não tivesse). Os chuveiros, sempre automáticos, funcionavam com 0,50 de Euro e já tinham a temperatura regulada. Nada de funcionários para limpeza, um pequeno rodo para quem usasse mantivesse seco. Estavam sempre impecáveis.

Foi uma delicia explorar Gouda à noite, procurando um lugar para comer e beber alguma coisa. A calmaria da noite não se repetiu no dia seguinte. Era quinta-feira, dia de feira na cidade. Barraquinhas vendendo o famoso queijo Gouda e encenações dos leilões de queijo que acontecem há centenas de anos. Tudo muito animado.  Os Stroopwafels, “bolachinhas” que ficam em cima do chá derretendo com o vapor é outra gostosura da cidade.

Gouda

Gabriel esperando o leilão de queijos Gouda

Antiga prefeitura, no estilo Gotico

Como nos outros dias, após uma noite e uma manhã, era hora de pegar a estrada, ou melhor, o canal. Além da velocidade baixa, diversas comportas e dezenas de pontes estão pelo caminho. Isto torna a viagem mais lenta, no entanto mais interessante. As comportas são miniaturas das do Canal do Panamá. Elevam ou baixam o barco na altura do canal adiante. Existem diversos tipos de pontes. As que abrem de lado, as levadiças que abrem ao meio, as que levantam inteiras, outras que simplesmente passamos por baixo sem ter que esperar. Algumas têm um botão para avisar quando alguém chega, outras têm horário marcado. Existem ainda as que têm um funcionário para abrir. Ele fica numa cabine e lança um tamanco holandês amarrado numa cordinha para colocarmos o pedágio dentro depois que ele libera a passagem.

Tropa reunida

Viagem em família

Algumas vezes chegamos antes do horário marcado para abrir. Sem problemas, da para encostar  à beira do canal e sair para conhecer as cidadezinhas, a pé ou de bicicleta. Boa hora para se abastecer para as refeições seguintes ou torar um sorvete e/ou cerveja também. A área externa do barco é uma delicia, mas acabamos usando pouco, pois a primavera holandesa estava muito fria.

Tentando aproveitar a área externa

Chegamos já no final de tarde em Oudewater, onde resolvemos passar a noite. Mesmo tendo jantado no barco, encaramos o frio da noite para caminhar pelas ruazinhas da pequena cidade. Gostamos bastante dali. Diz a lenda que está cheia de bruxas. Existe até hoje um museu na casa onde pesavam mulheres para saber se eram bruxas. Pela noite até que procuramos, mas não vimos nenhuma.

Chegando em Oudewater

Simpática Oudewater

Uma das poucas cidades grandes que passaríamos era Utrecht. Calculando melhor o tempo achamos melhor não ir. Atrapalharia um pouco a logística. Deixar o barco, pegar táxis para o centro, tudo isto para ficar pouco tempo, achamos não valer a pena. Acabamos aproveitando uma parada ali perto, em Maarssen, onde caminhamos e encontramos um delicioso restaurante.

Maarssen

Os canais logo se tornariam bem mais largos, verdadeiros rios onde passam embarcações que mais parecem navios. Correnteza torna as manobras mais difíceis e é preciso tomar cuidado, pois os barcos grandes não têm como te ver.

Ultima noite já na marina, para entregar o barco pela manhã cedo. Em uma semana foram 225 quilômetros viajando pelos canais, passando por 13 comportas e 76 pontes

Clichê holandês: Canais, Barcos, Bicicletas e Moinho

Ainda teríamos um dia em Amsterdã com a “Big Family”. Eu tinha conhecido na cidade quase duas décadas antes, mas era a primeira vez da Bibi. Não deu para fazer muita coisa, nem era o objetivo. Passeamos rapidamente pela cidade e ainda de tempo de ir no museu da Annie Frank.

Um gostoso jantar de despedida, onde no dia seguinte cada um faria uma viagem diferente. Antes do sol nascer, Eu a Bibi e o Gabriel estávamos a caminho da estação central de trem. Um bom trem de Amsterdã para a Antuérpia (já na Bélgica) onde faríamos uma rápida conexão em um trem comum para Bruges. O Gabriel aprovou o novo meio de transporte e quando não estava dormindo ficava todo animado com a movimentação.

Ficamos muito bem localizados em Bruges, o que facilitou bastante para conhecer a cidade. Não da para dizer que as calçadas de pedra são as mais apropriadas para carrinhos pequenos de bebe, mas tudo correu bem.

Praça do mercado

Parlamento

Canais

A Bibi ficou encantada com a cidade, e realmente é muito charmosa e bem preservada. Canais, pontes, igrejas, construções antigas e o palácio. Onde quer que você olhe tem estilo.

Curtimos com calma, revezando entre cafés, cervejas, chocolates e restaurantes, tudo com calma. O ritmo numa viagem com filhos é outro, e a pressão interna para conhecer algum lugar é nula. Apenas vive-se.

Apesar de ensolarados, teve um dia que fez bastante frio. Acabou dando um febrão no Gabriel, mas nada de mais. Dia seguinte ele já estava bom. Uma comida simples, rápida e barata disponível em diversos cantos da cidade são os “Copos de macarrão”. Se escolhe a massa e molho, uma boa quantidade por cerca de 5 Euros. Salva qualquer fome que possa aparecer numa criança (ou adulto)  quando não tem um restaurante em vista.

Final do dia nas costas do pai

Canais

Tinha visto algumas possibilidades de cidadezinhas para visitar no interior da Bélgica, mas acabamos optando por viajar por menos cidades e passar mais tempo nelas.  Dinant, Veurne e Ghent ficariam para uma próxima, pois tínhamos um voo saindo de Luxemburgo.

Trem de Bruges para Bruxelas e outro até Luxemburgo. Um grupo escolar de crianças descontraiam o vagão, mas um senhor não gostou e pediu silencio. Não atenderam e foi ele que teve que se retirar. Paisagem bonita e aquela tranquilidade que é viajar de trem.

Ficamos num hotel bem próximo da estação de trem. Facilitou a chegada, mas no final do dia descobriríamos que não era das melhores regiões. Muitos bêbados, drogas e prostituição nos arredores, num ambiente nem um pouco familiar.

Luxemburgo é uma cidade pequena, capital do país homônimo, um dos menores da Europa. Conhecido por ter uma das maiores rendas per capita do mundo. Pelas fotos que tínhamos visto, criamos certa expectativa. Ainda mais nós que adoramos cidades pequenas. Mas sempre existe um grande perigo nas expectativas, e acabamos não gostando tanto assim de lá. Tentamos, ficamos duas noites, exploramos o centrinho da cidade mais de uma vez. É bonito, fotogênico com certeza, mas parado, não tem alma nem personalidade.

Luxemburgo

Luxemburgo

Luxemburgo

Refletindo chegamos à conclusão que está mais para uma fotografia do que para um filme. Enfim, aproveitamos o visual da corniche, as casemates, caminhamos da cidade alta (Ville Haute) até a baixa (Grund). Elevador público (e gratuito) leva de volta até cidade alta.

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O país é um Grão Ducado e o Gabriel adorou ver a marcha da troca da guarda no Palácio Ducal. Para nós nada de muito impressionante. Bem mais marcante o café ali na frente (Chocolate House Bonn), com colher de madeira e chocolate na ponta para fazer o capuchino, além de ver o Gabriel imitar os guardas batendo o pé, é claro.

Imitando os guardas

Pegamos um voo para Londres, já que as passagens estavam bem mais baratas que as de trem. Ficamos uns dias com minha irmã Gi, com o Dan e meu sobrinho Alfredo. Nada de turismo, a ideia era mesmo curtir eles. Mas isto já é outra historia, ou melhor, outra viagem.

De carro até o fim do mundo!

Quase 30 anos depois da minha primeira grande viagem pela América do Sul (Argentina, Chile e Uruguai acampando), chegava a hora de eu levar a minha família para uma longa Road Trip pelos mesmos países.

O Gabriel estava prestes há completar um ano e dois meses, então nunca soube ao certo qual seria o destino final. Dependeria  da adaptação dele com a viagem e do ritmo que seguiríamos.

A vantagem de viajar de carro foi de poder levar o bercinho dele, o baldinho para o banho, brinquedos e tantas outras coisas as quais (imaginávamos)  fariam ele se adaptar mais facilmente no dia a dia da estrada.

Acho que não estamos esquecendo nada!

De Curitiba fomos para Chapecó, onde nos encontraríamos com meus sogros, Silvio e Mara, meu cunhado Jony (que já foi umas 8 vezes para a Patagônia de carro), meu outro cunhado Marco (que junto com o Jony fez parte da Rota da Seda comigo e com a Bibi) e a namorada dele, Manu.

Viajaríamos em dois carros, e numa viagem com tantas pessoas os “imprevistos” tendem a acontecer com mais frequência. Não demorou muito. Na saída para Uruguaiana, nossa  ultima parada no Brasil, dois membros da “equipe” descobriram que não sabiam onde estavam as carteiras de identidade deles. Inocentemente acharam que a carteira de motorista seria aceita. Eu sabia que as únicas possibilidades eram passaporte ou CI, mas não quis contrariar quando disseram que seguiriam para a fronteira mesmo assim. Fizeram um Boletim de Ocorrência na policia e seguimos viagem.

No hotel em Uruguaiana encontramos o despachante que nos entregou a “Carta Verde”, seguro obrigatório para dirigir na Argentina. Pelas nossas pesquisas estava mais barato tirar lá do que com as seguradoras que pesquisamos.

Claro que os “sem carteira de identidade” foram barrados na tentativa de entrar na Argentina. Já havíamos pensado nas melhores soluções, e acabamos nos dividindo. A Mara e o Jony vieram com a gente enquanto Marco, Silvio e Manu iriam tentar emitir um passaporte de emergência ou uma segunda via da identidade.

A estrada do lado argentino era infinitamente melhor que as que eu viajamos pelo lado brasileiro. Pistas largas, bom asfalto e com pouco movimento. Nem a chuva fazia o ritmo da viagem diminuir. Parecia que agora a viagem fluiria sem problemas, mas não foi bem assim. Fomos parados num posto policial em Entre Rios. Depois de verificarem a documentação, pediram para ver alguns itens de segurança, mas acabaram implicando mesmo com o fato do carro ter um engate. Me deixaram mais de quarenta minutos esperando numa fila para me falar que pela lei argentina o engate precisa ser removível, blablabla. Mostraram a cartilha, os preços das multas, mas estava na cara que era “esquema”. Sem muito poder de negociação, com o Gabriel ficando impaciente, acabei pagando para ter sossego.   Depois fui descobrir que no Brasil também não pode, mas que é uma daquelas leis que “não pegou” por aqui. Na Argentina não deve ser diferente, mas resolveram tirar proveito, pois foi o único locar que me incomodaram sobre isto.

Foi o dia que mais rodamos em toda a viagem, pouco mais de mil quilômetros. O Gabriel já demonstrava como seriam os próximos dias. Um santo, cantava e brincava, mesmo depois de tento tempo no carro se divertia explorando o quarto do hotel. Por outro lado fechou a boca, não quis comer muito, e permaneceu assim basicamente por toda a viagem.

Trenque Lauquen era somente uma cidade onde passaríamos a noite, mas sabe que achamos bem gostosa e charmosa, com suas ruas arborizadas e arquitetura.

Primeiras cidades paradas só para dormir

De Trenque Lauque até Neuquen foram uns 700 km. Um pequeno trecho de estrada bem esburacada perto do parque nacional Lihue Calel. Nada muito assustador, a velocidade mais lenta permitia que observássemos empolgados os primeiros guanacos que encontramos. Perto da Casa de Piedra uma bela represa e pausa na defesa sanitária para controle fitossanitário. Pelo menos nos deixaram comer todo o estoque de frutas que tínhamos no isopor.

beira da estrada

Neuquen é uma cidade um pouco maior, mais movimentada. Minha maior recordação de lá poderia ser o delicioso Bife de Chorizo e a Quilmes gelada, mas o Gabriel correndo atrás dos pombos na praça, gritando enlouquecidamente, com certeza vai estar em primeiro lugar.

Criança se diverte em qualquer ligar I

Na pequena Junín de los Andes, chegou a vez do Gabriel apurar seu paladar. Experimentou carne de caça pela primeira vez, Cerdo. Não comeu muito. Nada contra a comida, este foi o ritmo (para desespero do pai) adotado por ele durante a viagem. Comer pouco nas refeições, frutas na estrada e mamadeira a noite e pela manhã. A Bibi estava tranquila, mas eu confesso que em dias que ele comeu pouco eu acordava de madrugada para dar um “mama extra” enquanto ele dormia. Coisas de pai.

A travessia para o Chile é feita bem no meio do Parque Nacional Lanín. Uma fronteira tranquila, pouco movimentada e burocrática, principalmente para os padrões chilenos. Diversos lagos, bosques e o belo vulcão Lanín, com 3747 metros de altitude, com o cume nevado e flores na base.

Vulcão Lanin

Passamos por Pucon e fomos direto para a casa que havíamos alugado pelo Airb&b nos arredores de Villarica. Uma casa rustica, feita de toras, com uma linda vista para o Vulcão Villarica. Na dificuldade de se comunicar com o caseiro, ele soltou: Ninguém de vocês fala “chileno”. Rimos muito pois era um espanhol que nunca tínhamos escutado antes, bem “chileno” mesmo.

Vista da nossa casa

Parte da “equipe” que tinha ficado para trás nos encontrou lá, onde passamos o ano novo, curtimos a região e andamos bastante pelas ruas de Pucon.

siga as placas

Inicio da competição: Parrilla chilena, argentina ou uruguaia é melhor?

Quando chegou a hora de pegar a estrada novamente, voltamos para Junin e depois até San Martin de los Andes, onde fizemos um piquenique na frente do lago. Dali até Bariloche é uma estrada belíssima, um verdadeiro passeio contornando lagos com um super visual.  A pequena Vila de la Angostura merece um destaque também.

Saímos por aí

Criança se diverte em qualquer lugar IV

Bariloche foi outro lugar que passamos uns dias, também com uma (boa) casa alugada pelo Airb&b. Apesar do verão pegamos muito frio, em torno de 5 graus. A temperatura só foi subir quando já estávamos de saída.

Mas tiveram suas vantagens e pudemos aproveitar bons cafés no centrinho e até pegar neve na nossa visita no Cerro Catedral! As visitas ao Cerro Otto e Campanário também valeram muito (apesar do forte vento). São ângulos diferentes, então vale a pena visitar os dois. Nós achamos o Campanário o mais bonito, mas isto é uma opinião bem pessoal.

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Passeio de carro pelo sul de Bariloche, onde tem o famoso Circuito Chico. A Colonia Suiza também fica por ali. É bem turística, mas pode ser uma boa parada para comer alguma coisa (Sanduíche de truta defumada!)e comprar uma lembrança.

Foi em Bariloche, lugar muito bem estruturado, que furou o pneu a primeira vez (foram 4 vezes em toda a viagem). Nem dava para reclamar, fácil de achar uma “Gomeria” (borracharia).

O estilo e paisagem da viagem mudaria bastante quando partimos para o sul. Uma esticada até Los Antiguos (via Esquel, onde tem um belo Parque Nacional), para atravessar a fronteira com com Chile novamente e dormir na pequena Chile Chico. Cidadezinha na beira do Lago Gral Carreira onde usaríamos de base para ir até Puerto Rio Tranquilo, visitar as famosas “Catedrais de Mármore”. Uma viagem para a Patagônia depende muito da sorte com o tempo, que muda muito rápido. Como as distancia são longas, não tem como esperar alguns dias para o tempo melhorar.  Saímos de Chile Chico pela encantadora estrada de rípio (cascalho) mas na metade do caminho o tempo virou. Apareceu até um arco íris, mas tivemos que voltar devido à chuva. O passeio de barco pelas cavernas das catedrais de mármore terão que ficar para uma próxima viagem.

A caminho de Puerto Rio Tranquilo

Um dos trajetos mais bonitos de toda a viagem

Devido as longas distancias e poucas opções de paradas, sempre que o tanque estava pela metade, parávamos para abastecer. Em Tamel Aike a fila do mosto de gasolina já tomava algumas quadras. Nem paramos para pegar informação. Tínhamos gasolina para chegar até a próxima cidade, pouco mais de 200 quilômetros adiante. O que não contava era com um longo trecho de estrada de cascalho (80 km) o que diminui bastante o rendimento. No final das contas chegamos em Tres lagos no final da reserva, com o painel indicando poucos quilômetros de autonomia. Ao chegar no único posto de gasolina, nova fila de carros. Descobrimos que estava tendo falta de combustível por toda a Patagônia. Além da alta temporada, parece que estavam esperando um aumento no preço para distribuir. A falta era só de gasolina e não de Diesel. Ai tivemos a sorte de estarmos em dois carros. O Gabriel e a Bibi seguiram com todos na caminhonete e eu e o Jony ficamos esperando algumas horas até chegar o caminhão de combustível. Tomamos alguns litros de chimarrão e batemos papo com o pessoal. Depois de algumas horas já estavam todos amigos.

Gabriel esticando as pernas

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Fila para “Nafta”. (Gasolina)

Todos os postos de gasolina tem maquinas de água quente para chimarrão, o que ajuda bastante para preparar uma mamadeira quentinha.

A dona do posto não aguentava mais responder se tinha novidades ou se o combustível chegaria naquele dia. Já estávamos nos preparando para dormir no carro quando chegou o caminhão. Uma gritaria e todos buzinando para comemorar. Um bom tempo para esvaziar o caminhão e ainda demorou uns 20 minutos até a nossa hora de abastecer. Depois de umas cinco horas de espera, finalmente  com o tanque cheio, dirigimos 180 quilômetros até El Calafate, onde finalmente pudemos descansar.

El Calafate é uma cidade estruturada, bem turística. Uma amigo sempre me diz para não confiar em cidades que tem “Bar de Gelo”.  Lá tem dois! Dependendo do estilo do viajante pode ser um oásis, para outros somente uma base para conhecer a grandiosa Geleira de Perito Moreno e o Lago Argentino (Além do excelente museu “Glaciarium”). Na programação inicial a “Equipe” havia decidido ficar uns dias por ali, até mesmo para dar uma descansada da estrada. Influenciado por amigos argentinos que (preconceituosamente) diziam que o lugar era para “Turistas preguiçosos” acabei reservando só uma noite lá. Justamente a ultima noite de hotel reservado, dali para frente seria negociação na chegada ou a caminho do hotel, o que nos deu uma flexibilidade muito maior e uma grande economia.

El Calafate – Só faltou o sol

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Separamo-nos neste ponto da viagem, agora seria só eu a Bibi e o Gabriel. Primeira parada seria El-Chalten, pertinho dali, cerca de 200 km ao norte.  Foi ali que tudo começou a dar errado, ou certo? Justamente o primeiro lugar que não tínhamos reserva era minúsculo, e na altíssima temporada estava lotado. A solução foi pegar um hotel com categoria bem superior à que estávamos utilizando, mas conseguimos um excelente desconto.

Já no primeiro dia tive um problema com o carro. Na verdade vários. Os dois pneus furados seriam fáceis de arrumar, mas o problema no motor de arranque não foi bem assim. O carro foi quebrar justamente numa cidade que não tem nenhum mecânico. Por outro lado foi o lugar que mais gostamos de toda a viagem. Se é para quebrar e ficarmos empacados, que seja num lugar especial.

El Chalten

Em Chaltén, um cara que tem vários carros para alugar para turistas e utilizar como “taxi”, quebra um galho como “mecânico”. Como arruma os seus carros, porque não poderia arrumar os dos outros?

Sem opção, a única saída seria confiar na capacidade dele. Dois ônibus por dia vem de El Calafate, então sabíamos se as peças estavam chegando ou não. Novos problemas iam surgindo, mas pelo menos os emblemáticos Fitz Roy e Cerro Torres haviam saído detrás das nuvens e pareciam abraçar a pequena cidade. Aproveitamos para fazer caminhadas e curtir o visual fantástico. No centrinho diversos restaurantes, todos bem caprichados, voltados para o publico europeu. Turístico, mas com estilo bacana. Alguns restaurantes produzem a própria massa, outros tentam se diferenciar de outra maneira. Comida boa, mas como toda a Patagônia, cara, e sem opções de coisas baratas. Alias, nem cozinhando quando ficamos em AirB&B conseguimos baixar o nosso orçamento. Ta certo que comíamos bem, mas a Patagônia é um destino muito caro, tanto para alimentação quanto para hospedagem.

Cidadezinha no meio das montanhas

Fazenda norueguesa em plena Argentina

Criança se diverte em qualquer lugar V

Nas viagens sempre aparecem anjos, e desta vez olha a coincidência, eles eram de Curitiba. Uma família que estava no mesmo hotel que nós até nos emprestou o carro quando o nosso estragou, o que facilitou bastante até definir o que faríamos com nosso carro, já que estávamos num hotel fazenda um pouco mais afastado.

Gabriel dormiu quase toda a caminhada

Carrinho sempre ajuda

Rápida passagem por El Calafate novamente, e seguimos para Puerto Natales (Chile), nossa base para explorar o Parque Torres Del Paine. A imigração para o Chile que já vinha se mostrando lenta, estava caótica devido à uma greve. Mesmo com o Gabriel pequeno, não nos pouparam de longas filas e revista no carro e malas.

Escolhemos Puerto Natales, porque lá a hospedagem é muito mais barata do que no parque. Não fica tão perto assim, mas a estrada é boa e sem movimento.

Puerto Natales

Primeiro albergue a gente nunca esquece!
Gabriel fez sucesso no Hostel

Com o Gabriel pequeno, decidimos fazer somente trilhas curtas e acabamos rodando todo o parque de carro. Não tenho duvida que os melhores visuais são nos trekkings, mas da para aproveitar bastante o parque desta forma também.

Visual variado, diversos ângulos das montanhas, lagos e cachoeiras. O parque é incrível, uma das melhores partes da viagem com toda a certeza. Estradas de cascalho, cheias de guanacos e lebres para completar o astral.

Pequeno explorador

Torres del Paine

O tempo que estava aberto no inicio do dia, fechou após o almoço e chegou até a chover um pouquinho. Típico da região de montanhas. O vento também castigou em alguns momentos, nos fazendo até desistir na metade de uma trilha, mas deu para aproveitar bastante!

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Guanacos

Patagônia chilena

Estrada de rípio dentro do parque

Era para iniciarmos a volta dali, mas convenci a Bibi a dar uma passada em Punta Arenas, na beira do Estreito de Magalhães, para ver os milhares de pinguins na Isla Magdalena. Não alterou tanto a quilometragem (ok, só um pouco) e a estrada era boa e muito bonita entre Punta Arenas e Puna Delgada. Destaque para a cidade fantasma de San Gregório no meio do caminho.

Arte de rua em Punta Arenas

Cidade fantasma de San Gregorio

Naufrágio no Estreito de Magalhães

Dizem que quem viaja pelo extremo sul da América do Sul, quando o carro aponta para o norte, o pessoal vai meio que direto. Não foi muito diferente para nós. Paradas estratégicas em Rio Gallegos, Comodoro Rivadavia, Puerto Madryn, Bahia Blanca e Luján ( que já fica ao lado de Buenos Aires).

Gabriel descobrindo porque tantos argentinos vão para as praias de Santa Catarina… rs – (Comodoro Rivadavia)

Criança se diverte em qualquer lugar VI – Puerto Madryn

Com os dias longos, saindo cedo ainda dava para aproveitar uma parte da tarde/noite. Ainda tivemos alguma “emoção” com pastilhas de freio gastas e tudo fechado no domingo, bateria que não carregava mais e outros problemas menores no carro. Nada que não fosse superado ou que atrasasse a viagem. Depois eu listo todos.

A Ruta 3 que é esta do atlântico, é boa mas o vento é absurdamente forte. As vezes chega a atrapalhar para dirigir ou aumentar o consumo dependendo da direção do vento.

Comendo banana e dando aquela esticada nas pernas num posto de gasolina

Na verdade o maior problema que tivemos foi em Puerto Madryn, onde o Gabriel passou mal e chegou a vomitar. Acabamos até cancelando o passeio pela (bem recomendada) Península Valdez. Baleias, focas, leões e elefantes marinhos e pinguins ficariam para uma outra visita, pois o Gabriel nem conseguiria se divertir.

Não que estivesse muito abatido, mas não era aquela alegria em pessoa que não parava de cantar e fazer bagunça a viagem toda. Um médico que encontramos num posto de gasolina disse que nove em cada dez casos nos postos de saúde era esta virose. Aceleramos a volta de vez.

Catedral Gotica de Lujan

A caminho de casa ainda pararíamos para descansar na charmosa Colônia Del Sacramento (Uruguai) por uns dias. De lá fomos dormir na pequena Camaquã, já em terras tupiniquins. Ainda passamos uns dias em Itajaí-SC, onde teve aniversario de um ano do Alfredo, primo do Gabriel que mora em Londres. O primeiro dia na praia, com sombra em água fresca, já foi suficiente para o Gabriel recuperar o apetite e voltar a comer (muito!)bem.

Colonia del Sacramento – Uruguai

Batendo papo com o primo em Itajaí
(Foto:Daniel Lane)

Foi então que 36 dias depois, 130069 Km rodados, chegamos em casa. Nos primeiros dias o Gabriel ia até a garagem e ficava tentando entrar no carro falando “BrumBrum…”. Acho que ficou viciado, mas não vai ser um problema.

Missão cumprida!

 

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Apesar de estar com a revisão em dia, tivemos alguns problemas com o carro. Já soube de gente que foi sem furar um pneu, mas não tivemos tanta sorte. Faz parte. De qualquer maneira rodamos bastante e revisões teriam que ser feitas ao longo de um ano de uso do carro de qualquer maneira. Importante ter em mente que numa viagem longa, problemas podem acontecer, e algumas manutenções serão inevitáveis ( e terão um custo).

Nosso “mecânico” em El Chalten. Peças vinham de mais de 200 km de distância

Gastos com o carro:

– Multa em Entre Rios (por causa do engate)

– Quatro pneus furados

– Friso soltou

– Limpador de para brisas estragou

– Motor de arranque estragou (bem onde não tinha mecânico)

– Pastilhas de freio (bem no dia que estava tudo fechado)

– troca de óleo (faz parte em longas quilometragens)

–  Troca de bateria