Música, dança e palácios!

O folclore letoniano, também chamado de Dainas, foi uma das mais importantes formadas de manter a cultura e identidade do povo que viveu nesta região. São mais de 1,2 milhões de textos e 30 mil melodias, alguns com mais de mil anos.  Assim como na Estônia, muita mitologia envolvida, e é muito interessante como povos com identidades próprias, demoraram tanto tempo para constituir um país.

Entramos na Letônia atravessando uma pequena ponte de madeira, vindo do interior da Estônia. Estávamos bem perto da fronteira da Rússia, portanto teríamos que praticamente atravessar o país para chegar na capital, Riga. A chuva tinha voltado, e a estrada A2 não era tão boa quanto imaginávamos. Longe de ser “padrão União Europeia”. Muitos reflorestamentos ao longo da estrada e os caminhões carregados com toras tornavam o transito mais lento. Torcíamos para que o tempo melhorasse quando chegássemos a Singula, cidadezinha na beira do Parque Nacional Gauja. Infelizmente o tempo só piorou. Chovia forte, e só paramos mesmo para tomar uma café e comprar fraldas para o Gabriel, pois já estavam acabando nestas alturas. Até tentamos procurar alguns dos castelos, mas mal dava para enxergar. Achamos que as trilhas, cavernas  e visual ficaria para outro dia, mas acabou ficando para outra viagem.

Já que o tempo não ajudava, fomos para Riga, uns 50 quilômetros dali. Transito bastante congestionado, mas sobrevivemos e chegamos no AirB&B que havíamos alugado no centro antigo da cidade. Era um ático bem charmoso, todo reformado, por um bom preço. Só não tinha cortinas e blackout, o que atrapalha no meio do verão, onde anoitece depois das onze da noite. Improvisando penduramos cobertores e toalhas para escurecer o ambiente e garantir o sono do Gabriel. A anfitriã, muito simpática, nos deu muitas dicas e ficou conversando bastante quando nos recebeu.

Gabriel feliz no nosso quarto

Gabriel feliz no nosso quarto

Interessante como nos referimos aos “Bálticos” como se fossem países parecidos. Ali a língua era outra, e Riga completamente diferente de Tallinn (o mesmo aconteceria com Vilnius).

Old Riga

Old Riga

Aproveitei uma trégua da chuva, e os dias longos, para me localizar na cidade velha. Estávamos hospedados em um lugar super central, o que facilitou bastante conhecer tudo, e até voltar para casa quando achássemos necessário.

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Nos dias seguintes nos surpreendemos com a melhora do tempo. Pudemos aproveitar até dias de sol. Muito melhor, ainda mais com as feiras de rua, musica e danças típicas que estavam por todos os cantos. O Gabriel continuava adorando passear de carrinho. Quando ele dormia aproveitávamos para comer em algum restaurante ou aproveitar alguns dos muitos cafés.

Danças tipicas

Danças tipicas

Folclore

Folclore

Apesar de não ter a aparecia medieval de Tallinn, gostei muito do estilo de Riga. A arquitetura dos prédios, as belas igrejas e até mesmo o astral me pareceu um pouco mais autentico. Também estava cheio de turistas, mas as apresentações folclóricas, as musicas e danças davam um astral para o lugar. Experimentamos algumas comidas típicas num restaurante, e nos abastecemos nas feirinhas para os piqueniques que estavam por vir.

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Depois de dois dias na capital, fomos para o interior, conhecer alguns dos mais bonitos palácios do país. Primeiro foi o Mezotne Pils, um dos melhores representantes do classicismo letoniano.  O Gabriel continuou sendo um ótimo companheiro de viagem, mas aproveitou mesmo o passeio pelos jardins do palácio. Parte do palácio foi transformada em hotel, e o restante em museu para visitação.

Pils

Mezotne Pils

Pils

Jardins do Mezotne Pils

 

Paisagem rural e estradas de terra até chegar a Pilsrundale, onde está o palácio mais bonito do país.

Interior da Letônia

Interior da Letônia

Rundale impressiona já de fora, com seus imponentes portões.  Antes de entrar aproveitamos para fazer um piquenique gostoso com as guloseimas que havíamos comprado, e complementamos com morangos e cerejas locais. No palácio não pode circular com o carrinho de bebe, e as escadas também não ajudam. A Bibi foi conhecer alguns dos quase 150 cômodos, e eu fiquei com o Gabriel pelos jardins. Se no Mezotne Pils os jardins tinham aquele clima de fazenda, com arvores altas e muita sombra, no Rundale era todo florido, planejado, com chafarizes, tuneis e paisagismo caprichado.

Piquenique

Piquenique

Portões do Pilsrundale

Portões do Pilsrundale

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Esta região dos palácios fica no extremo sul da Letônia, já bem perto da fronteira com a Lituânia, então com uma curta viagem já estávamos no ultimo país que conheceríamos nesta viagem.

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Estônia, terra de pagãos!

A Estônia só se estabeleceu como país após a primeira Guerra Mundial, e mesmo assim logo foi ocupada. Antes disto eram povos,  sempre tentando uma  identidade como nação. Foram dominados por finlandeses, suecos, dinamarqueses, alemães e russos, cada um deixando suas marcas. O cristianismo foi imposto aos então pagãos que moravam lá. Primeiro os católicos, depois os luteranos e por fim os ortodoxos. As belas construções ficaram, mas a religião não. Menos de 15% dos estonianos se dizem religiosos, sendo apontando como o país menos religioso do mundo. Por outro lado, existem novas ondas de espiritualidade neo-pagãs.  A adoração da natureza remete ao inicio da identidade e ao folclore estoniano. Existe uma rica mitologia que tem sido resgatada como forma de identidade nacional e negação dos invasores do passado. Num país coberto por florestas não é difícil de “adorar” uma arvore. O feriado mais importante do país é o Jaanipaev, onde dançam e cantam ao redor de fogueiras, no dia que chamam de “metade do verão” (solstício-noite mais longa do ano). Dizem que teve origem na queda de um meteoro a mais de 4 mil anos atrás. Assim como o dia 25 de dezembro (solstício de inverno, noite mais curta) foi incorporado pelo cristianismo, o Jaanipaev também foi. Chamam de São João, e tem muita gente no Brasil comemorando a data mesmo sendo no inverno, cantando e dançando nas fogueiras de festa Junina, sem nem imaginar que estão praticando “paganismo estoniano”.

Chegamos à capital da Estônia, Talin, de ferry. O porto fica próximo do centro antigo, onde iriamos nos hospedar. Com uma bagagem a mais do que estamos acostumados, mais um bebe e um carrinho, achamos melhor aceitar a oferta dos donos do AirB&B em nos buscar. Cobrariam somente 5 Euros e nos levariam até o nosso apartamento.

Ficamos hospedados a uma quadra de um dos portões de entrada da cidade velha, numa rua secundária, bem calma. Uma localização excelente, mas uma pena que a rua que dava acesso até a praça central estava em reforma.

A cidade murada de Talin é linda. Num estilo medieval, faz jus a fama de ser uma das mais bem preservadas da Europa. Quem diz que parece que ela saiu de um conto de fadas também não está mentindo. As ruas de pedra, a arquitetura e as torres das igrejas (a igreja de São Olavo foi a construção mais alta do mundo na Idade Média)  encantam qualquer um. Patrimônio da Unesco, as construções de pedra sobreviveram ao tempo, e a cidade também contou com a sorte de não ter sido bombardeada na Segunda Gerra.

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Chegamos num domingo e tinha até uma feirinha na praça central. Estava tudo movimentado, bem movimentado. Verão na Europa tem destas coisas, tinha turistas para todos os lados. Talvez o fato da cidade ser pequena dê um aspecto de cheia mais facilmente.

Junto com os turistas vem as pessoas tentando vender algo ou te convencer a entrar nos restaurantes. Nada de muito insistente, mas com certeza quebrou um pouco o clima, assim como algumas pessoas posando para fotos com armaduras para ganhar uns trocados.

Ma isto foi mais a primeira impressão, nos outros dias nos acostumamos e acho que as coisas ficaram mais calmas também.  Colocamos à prova o carrinho guarda-chuva que compramos para a viagem. Foi o menor e mais barato que encontramos na internet, e compramos no site de um supermercado. Ele aguentou bem as ruas de pedras da cidade. Trepidava bastante, e o Gabriel achando que era embalo acabava dormindo.

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Mesmo anoitecendo muito tarde, respeitamos o horário de dormir do Gabriel. Também comprávamos coisas no supermercado e fazíamos comida para ele. Podia comer em casa ou a marmita que levávamos e esquentávamos nos restaurantes. Não foi desta vez que ele experimentou a comida estoniana. Eu também fiquei adiando para comer a sopa de rena e acabei esquecendo. Fica para uma próxima.

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Quando íamos em lugares mais longe, ou que precisaria subir escadas, eu levava o Gabriel no “Canguru”. Quando queria chegar rápido em um lugar também, sempre com o carrinho dobrado na mão.

Adoramos caminhar pela cidade, esperar os grupos de turistas passarem para curtir um pouco os lugares sozinhos. O ritmo da viagem foi mais lento, sentávamos para comer, tomar uma cerveja ou café e ver a vida passar com ainda mais frequência que em outras viagens. O Gabriel adorava tudo. Estava super animado e sorridente todas as horas. Já se mostrava um grande companheiro de viagem, só tínhamos que respeitar seu ritmo e suas necessidades.

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Inicialmente o nosso plano era de viajar pela costa da Estônia até a Letônia, beirando o Mar Báltico. De ultima hora decidimos fugir do fluxo de turistas e explorar um pouco o interior. Sabíamos que não tinham grandes atrações, mas quem sabe encontraríamos belas paisagens e vilarejos na região rural.

Não foi uma decisão acertada. Tivemos azar com o tempo e pegamos muita chuva. O país inteiro é plano (ponto mais alto tem 300 metros!), então a paisagem muda pouco. A estrada até Tartu é praticamente uma reta. Pouco pudemos conhecer da cidade, que é a mais antiga do país. Uma cidade universitária, com um belo centro antigo, mas vamos mesmo é lembrar da chuva torrencial que caía. No trecho até Voru melhorou um pouco, saiu um sol e céu azul, dando até para curtir um pouco mais a viagem.

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É uma região com cultura e línguas próprias, com casarões de madeira antigos e prédios soviéticos.  Ali perto está Rouge, a cidadezinha que estávamos buscando. Muitas colinas com uma serie de  lagos, com vendedores de morangos na beira da estrada. A região mais bonita que encontramos no interior da Estônia. Depois disto foi uma aventura, por estradas de terra que nem pareciam estar dentro da União Europeia. Uma pequena ponte de madeira e uma placa indicavam que estávamos entrando na Latvia (Letônia) onde pegaríamos um pouco mais de chuva, pelo menos no primeiro dia.