Vegas, Dubai, Ashgabat!!!

Quando falam em grandes desertos com construções modernas (e de mau gosto), normalmente pensamos em Las Vegas ou Dubai. Quando pensamos em uma ditadura duríssima,  um verdadeiro estado militar, uma das primeiras lembranças sera da Coreia do Norte. Não fomos para nenhum destes lugares, mas uma mistura deles, com um grande toque de Asia Central!

No Turcomenistão, jornalistas não são bem vindos, existe um controle quase que total da mídia.  Estrangeiros também não são bem vindos, acho que não querem suas opiniões.  Para se conseguir um visto, alem da carta convite, precisa de um guia te acompanhando o tempo todo, tornando tua viagem nem um pouco independente. Desta forma conseguem orientar o tipo de informação que você vai ter do lugar. A salvação são os vistos de transito. Tentamos o de três dias, e acabamos (depois de alguns problemas no consulado), ganhando 5 dias. Alteração rápida no roteiro, e poderíamos passar pela capital, Ashgabat.

O caminho de Mashhad até a fronteira não foi tão fácil  Nada de ônibus VIP, só tinha um caindo aos pedaços  sem ar condicionado num baita calor. Os últimos 100 km tivemos que percorrer de táxi  pois nada de transporte publico. Passamos por uma região montanhosa muito bonita, até chegar em mais uma fronteira lotada de caminhões  Procedimentos normais, uma pequena consulta medica (tinha um cartaz contra tatuagens muito legal) e logo estávamos na imigração do Turcomenistão.  Soldados sérios  fotos do presidente  e achávamos que sabíamos o que vinha pela frente. Aproveitamos que duas tiazinhas estavam indo na mesma direção  e fomos dividindo taxi nas conexões ate Ashgabat, não muito longe da fronteira.

Chegamos pela parte sul da cidade, e de repente, depois de uma paisagem de deserto, inicia-se um sequencia de prédios altos, novos, chafarizes  jardins com flores. Mulheres limpando com paninho o poste do sinaleiro. A primeira estatua dourada do ex-presidente Niyazov também não demorou para aparecer. Palácios de mármore  esculturas e praças.  Muitos soldados nas ruas, uns 2 de cada lado de uma quadra. O ponto de ônibus com loja de conveniência e ar condicionado chamou a atenção  A Bibi até elogiou, mas a reação da tiazinha mostrava que era só fachada mesmo.

Estatuas douradas- estilo eu me amo

Moradia para os amigos

O Niyazov tomou o poder com a queda da URSS, e se tornou um ditador com todo o sentido que a palavra pode trazer. Espalhou suas estatuas douradas por tudo, e reprimiu violentamente qualquer tipo de oposição  Destruiu apartamentos antigos onde pessoas moravam, sem pagar indenização  para construir estes novos. Quem trabalha para o governo tem regalias, como o subsidio de 50% do valor do apartamento chique que ele construiu em cima das antigas residencias, e financiamento em 30 anos. Ele era um louco, e em um momento da sua vida, escreveu um livro chamado “Livro da Alma”. Neste livro ele reescreveu a historia,costumes e espiritualidade do Turcomenistão. Questionários sobre o livro foram impostos para quem quisesse trabalhar num cargo publico ou ate fazer um exame de auto-escola. A “boa noticia” e que ele alegava era de quem lesse o livro 100 vezes iria para o Céu!!!

Com a morte do Niyazov, um dos seus ministros (e provável filho bastardo), assumiu o poder. Não existem estatuas de ouro dele, mas os posteres, outdoors e calendários dele sorridente estão por todos o lados.

Ao nos aproximarmos mais do centro, vimos que os ônibus do povão não eram nem um pouco sofisticados, e nada de ar-condicionado por qui. Nosso hotel era daqueles antigos blocos soviéticos  A recepção até que era reformada, mas os elevadores, corredores com tapetes se desfazendo e a mesinha da recepção do nosso andar (tem uma segunda recepção em cada andar!), nos assustavam um pouco. Tivemos uma grata surpresa ao ver que os quartos tinham sido totalmente reformados, pintados, alto padrão!

Moradia para quem nao e amigo

Caminhamos pela cidade, para olhar os monumentos bizarros, palácios e teatros de mármore e outras coisas bem peculiares daqui. A quantidade de policiais e soldados não deixa o clima nem um pouco agradável  Um deles nos pediu cigarro e ao falarmos que não tínhamos  pediu dinheiro na cara dura! Para tirar foto aquela tensão  pois se alguém não gostasse, com certeza teríamos que deixar uma grana para não levarem nossa maquina. Alem dos taxis comuns, quase qualquer carro funciona como um taxi não oficial. Aproveitamos para ir a lugares mais longe desta forma. Você esta andando na rua e é só olhar que eles param. Uma corrida na cidade não vai te custar mais que 35 centavos de dólar  Parece barato, mas se pensar que o litro de combustível custa menos de 25 centavos de dólar da pra ver que eles ganha dinheiro com isto.

No Turcomenistão tem tanto petróleo e gaz natural, que o gaz já foi gratuito. A população deixava o fogão aceso dia e noite, para não ter que gastar com fósforos, que não era gratuito, acreditam? Grandes contratos com a Russia fazem com que a eletricidade (trocada por petróleo), também seja muito barata. O que com certeza não é barato, mas é desperdiçada por todo o lado nas intermináveis fontes, é a água. Aqui está o maior canal artificial do mundo, e passamos por diversos outros menores desviados para a produção de algodão  Em épocas soviéticas, este foi um dos motivos de um dos maiores desastres naturais de todos os tempos, que resultou na quase destruição do mar Aral.

Nada de economia de agua

Rodamos bastante, exploramos o que pudemos nos poucos dias que tivemos. Vimos mesquitas ultra modernas e outras estilo Blue Mosque de Istambul. O povo daqui, os Turcomen, são “primos”dos Turcos, assim como muitos povos da Asia Central. Antes tudo aqui ara chamado Turquistão, e eles foram conquistando tudo até chegar na Turquia. Existe também muita influencia da Russia, como a língua russa (como segunda língua  e o gosto pela Vodka. Eu acabei ficando só na cervejinha, num biergardem bem tipico, lotado de bêbados!

Monumentos

Blue Mosque

Fomos no Tolkuchka Bazar, no subúrbio da cidade. Um conjunto interminável de barracões novos, brancos, com tudo o que e tipo de coisas para vender. Comida, roupas, chales, coisas para casa, pecas de carro e ate camelos. O mais legal foi poder ver mais do povo, mulheres com seus vestidos coloridos e dentes (muitas vezes a dentadura completa!) de ouro.

Fotos do novo presidente

Tolkuchka Bazar

Pegamos um taxi coletivo para Mary, já a caminho do Uzbequistão  Nosso motorista não era muito simpático  corria mais que o necessário  e não deixava baixar o vidro, mesmo estando mais de 40 graus. Nossos companheiros de transporte também não ajudavam, e fumavam na cara dura, com tudo fechado. A viagem foi um inferno, e ao chegarmos num hotel, a Bibi não parava de rir da péssima qualidade do quarto. Tudo que é informação que tínhamos do país não servia mais. Hotéis fecharam, ruas mudaram de nome, até a disposição das cidades era outra. Acabamos achando um hotel bom, só um pouco mais caro que o caindo aos pedaços (literalmente, tinha até buraco no chão do banheiro!).

Mary tem algumas atracões  monumentos, parques e ate uma Igreja Ortodoxa bonita, mas ela serve mesmo de base para as ruínas de Merv, uma das mais importantes cidades da Rota da Seda. Nesta região Alexandre o Grande estabeleceu uma cidade, para facilitar sua conquista do Oriente.

Nosso visto estava vencendo, e tínhamos que ir para a fronteira. Precisávamos ir ate o ponto dos taxis comunitários  e paramos o primeiro carro que apareceu, um “camaro”. Coloquei as mochilas no banco de trás e dei espaço para a Bibi entrar. Nisto, o motorista sai arrancando enlouquecidamente, tocando o carro em cima de mim com a porta aberta, e foge com as mochilas. Tentei correr atras, mas não deu nem para ver a placa. Atravessei a rua ate o canteiro, para ver se ele vinha na outra direção  mas nada… Deu aquele pensamento “fudeu”! Mas logo depois eu já pensava, pelo menos estamos com o passaporte, dinheiro e coisas de valor.

A Bibi tava indignada, inconformada. Voltamos para o hotel para contar do ocorrido, chamar a policia? Sera que adiantaria? Não sabíamos nem a placa do carro… Eu já pensava em pegar o primeiro taxi e sair dali, ir direto para o Uzbequistão  quando de repente o motorista voltou!! E nos chamou, acreditam?!!. Não entendi o porque, e nem quis entender. Não sei se ele se arrependeu, ficou com medo, ou se queria roubar nossas coisas de valor, que estavam com a gente. Também não fiquei la para descobrir. Peguei as mochilas, e mandei ele a merda. O pessoal do hotel tentou amenizar, dizendo que talvez ele não fosse ladrão  só  louco”. Mas não importa, só sei que o susto foi grande.

Queríamos ter saído bem cedo, mas isto acabou nos atrasando. Atravessamos o restante do deserto, e chegamos na fronteira pouco depois do meio dia. Fronteira fechada para o almoço  e a solução foi tentar se proteger nos 40 centímetros de sombra que fazia de um trailer. A temperatura no Turcomenistão passa dos 50 graus no verão, mas para nossa sorte tava “só” uns 45!