O Quirguistão é um pais montanhoso, muito montanhoso. Algumas destas montanhas atravessam boa parte da Asia Central. Uma das maiores cadeias de montanhas ‘e a Tian Shan, que significa “Montanhas Celestiais”. O Quirguistão divide outras coisas com seus vizinhos, a origem do povo e da língua são praticamente os mesmos. A independência de todos estes países também aconteceu na mesma época, com o colapso da URSS. Mas entrando na politica as coisas ficam diferentes. O Uzbequistão tem o mesmo ditador, odiado por todos, desde a independência O mesmo acontece com o Cazaquistão se bem que o ditador la ‘e adorado por muitos (o que não faz o petróleo . No Quirguistão um ditador não se mantem por tanto tempo. Em 2005 houve a revolução das tulipas, e depois de muito quebra-quebra e mortes, o ditador teve que fugir do pais. Novo presidente, sistema e problemas antigos, muita corrupção nepotismo e descontentamento fizeram com que a população fosse as ruas novamente ano passado. Novo quebra-quebra e violência Carros incendiados e a policia/exercito abrindo fogo contra a população Centenas de mortos e milhares de feridos. O novo presidente não aguentou a nova revolução e também teve que fugir. O pais ainda sente esta revolução recente. Existem os otimistas, mas outros falam que so os marionetes foram trocados. Hoje o Quirguistão assim como o Brasil, tem uma Presidenta. Vamos ver como ‘e que elas se saem…
Depois da despedida da mãe e Clau, tiramos um dia para descansar, lavar roupas e programar os próximos dias. Nosso próximo destino era Kol Ukok, bem perto de Kochkor, montanha acima. Havia uma pequena possibilidade de chuva, mas quando acordamos de manha, resolvemos cancelar, pois as montanhas estavam encobertas com nuvens escuras. Não foi a primeira vez que as montanhas fizeram isto comigo. Prorrogamos para o dia seguinte. Depois de ter chovido, parecia que daria certo, mas só no tempo de tomar cafe da manha, o vento bateu e as nuvens voltaram. Cancelamos novamente, mas arriscamos uma saída pela vila. Próximo do horário de almoço o tempo limpou, e decidimos aproveitar a oportunidade. O inicio da subida ficava a poucos km da nossa pousada. Tivemos que esperar um pouco ate nossos cavalos chegarem. Nesse meio tempo já iniciou nova movimentação de nuvens. Mas todos falavam que só na primavera que chovia forte, que no verão seria uma chuva fraca e curta. Resolvemos arriscar. A subida por um vale, sempre montanha acima, com uma super vista de Kochkor e suas montanhas atras. Os cavalos passavam por pedras, rios, ladeiras, com a maior tranquilidade. A medida que fomos subindo, fomos nos aproximando dos restos de neve, e também das nuvens, que ja estavam quase ao nosso lado. Ameaçava chover, mas por um momento parecia que tudo tinha ficado para trás Foi quando já bem no alto da montanha, iniciou um vento forte.
Trovoadas não muito longe, no cume das montanhas ao nosso lado. Veio uma chuva fina e já tínhamos colocado a roupa adequada. Ficou frio, bem frio. De repente minha jaqueta preta foi ficando branca. Falei para a Bibi se cuidar que estava chovendo granizo, mas logo percebemos que não tinha problema, na verdade estava nevando! Sim, neve em pleno verão do Quirguistão Olha, só não foi melhor, porque passamos um frio desgraçado Nossas mãos congelavam, e não queríamos parar para pegar mais roupas na mochila. Nao muito tempo depois, atingimos o ponto mais alto, e o tempo abriu totalmente. Parecia combinado para podermos ver a paisagem do lago azul com as montanhas nevadas ao fundo. Ainda tínhamos que contornar o lago, para chegar mais perto das montanhas, e ver em qual dos sete yurts que ficaríamos O lugar era fantástico perfeito para mim, com certeza um dos lugares que mais gostei nesta segunda etapa da viagem! Eu ficaria uma semana la só subindo as montanhas ao lado, glaciais e outros lagos. O problema para a Bibi ‘e que era zero estrutura. Nada de banho, na verdade não tinha nem banheiro. Bem autentico.
A família que ficamos era bem gente fina, e passamos um bom tempo dentro do yurt nos aquecendo com chá quente. Mesmo de dia ligaram o aquecimento, queimando bosta, e claro. Tinha um japonês acampando ali ao lado. Conversamos bastante e tomamos leite de égua, aquele fermentado. O vento estava de cortar, mesmo com o tempo bom. Eu parecia uma criança andando para cima e para baixo. Com o entardecer a temperatura despencou ainda mais, e o céu parecia um planetário. Nosso yurt tinha uns furos, mas pelo menos as cobertas eram grossas. Durante a noite cheguei a pensar que um lobo atacava uma ovelha de tanto que ela berrava, mas estava só dando cria haha. Segunda vez que isto acontece, outro dia foi uma jumenta. Eu tinha falado que iria entrar no lago, mas não tive coragem. Alem de encarar a água quase congelada, teria que sair num vento gelado. Ficou para a próxima.
O retorno foi com tempo bom, mas longo e sem paradas. As centenas de marmotas continuavam correndo, atravessando a trilha, e dando sinal para as outras. Depois de umas cinco horas resolvemos descer dos cavalos, e seguir a pé pois já não dava mais para aguentar de dor. Ficamos na casa da mesma família, e tomamos um merecido banho quente. Nosso próximo destino era Naryn, algumas horas dali. Chegando la decidimos nem ficar na cidade, e continuar a viagem ainda mais ao sul, bem perto da fronteira com a China. No caminho muita poeira, e muitos caminhões e chineses trabalhando na nova estrada. Saímos em uma estrada secundaria, passando entre um cânion ate chegar em Sary Tash. Ficamos em Yurts no vale, com vista para o antigo e diferente caravançarai Mal tínhamos chegado, vieram umas pessoas se apresentar para nos. Um deles se dizia o Consul do Brasil no Quirguistão. Dei risada, pois ele mal falava inglês. Ele tinha um boné com o Cruzeiro do Sul e escrito em Kyrgs.
Demorou um bom tempo ate entender que era um titulo honorário e que ele era um homem de negócios Fomos convidados para um banquete com eles, tiraram muitas fotos e demos muita risada. Fomos forcados a tomar umas vodkas. Quando alguém oferece um brinde, todos escutam atentamente esta pessoa falar sobre cada um da mesa, e depois viram o copo. Nos fizemos de bobo e fomos tomando devagar. Tinha uma jornalista que falava bem inglês e ela serviu como interprete. E-mails trocados, mais fotos, prometemos ir ate o seu cafe restaurante “Pele”, para conversarmos mais. Ele contou que tinham 11 brasileiros em Bishkek, sendo que 3 eram jogadores de futebol, e nos prometeu colocar em contato com eles. Neste lugar não tinha chuveiro, mas tinha uma daquelas saunas de pedra, onde aquecem a água com fogo, e mistura água fria para tomar banho. Melhor do que nada, mas depois de limpo fica aquela sensação de suado.
Noite fria, mas um bom yurte fez com que nem sentíssemos Tivemos uma surpresa que no dia seguinte não encontraram os nossos cavalos. Eles amarram as patas dianteiras do cavalo como se fosse uma algema, mas mesmo assim eles desapareceram. Foram pulando sei la para onde. Ficaram procurando ate tarde, e so nos avisaram quando já não dava mais tempo de subir os mais de 4000 mts ate o passe que daria para enxergar mais um lago entre as montanhas. Decidimos caminhar pelo vale, sem pretensão de ir muito alto. Depois de algumas horas, quando vimos uma movimentação de nuvens, decidimos voltar, pois nova tempestade estava vindo. Inacreditavelmente conseguimos chegar nos Yurts sem nos molharmos.
Ainda visitamos o caravançarai por dentro, antes de retornar para Narin. La chegando achamos um apto bem barato, mas como queríamos interação, buscamos uma casa de família Ficamos num daqueles blocos soviéticos caindo aos pedaços mas que dentro era bem reformado. Alias Narin e cheia destes blocos, uma cidade bem espalhada, decadente, com um rio cortando ao meio.
Caminhamos pela cidade e ficamos amigos de umas pessoas de Bishkek que estavam no quarto ao lado. Trabalhavam para a Unicef, e acabamos jantando juntos. Novamente nos incluíram nos rounds de vodka, e ficamos escutando como os tempos soviéticos eram bons, muito melhores que agora. Um deles brincava: “antes não tínhamos dinheiro, mas tínhamos tudo! Agora podemos ter dinheiro, mas não temos nada…”. Quando ele disse que se tivesse uma nova URSS ele sairia correndo para la sugeri dele ir para Cuba, mas acho que ele não entendeu minha ironia, ou talvez tivesse bebido demais para isto.
Adoramos nossa estadia, nossas anfitriãs e vizinhos, mas tínhamos que voltar para Bishkek. Pegamos uma mashtruka (microonibus) e encaramos a estrada. Nosso hotel tava lotado, e ao buscar um lugar para ficarmos acabamos encontrando nossos amigos israelenses de Bukhara. Saímos para jantar, bater papo e contar as aventuras do ultimo mês Deu tempo de acertar mais um ou outro detalhe, nos mudarmos para o nosso hotel favorito, pois teríamos nova companhia. Agora os irmãos da Bibi que viriam para viajar conosco.