Sabe aquele ditado “ o fruto não cai longe do pé ,” pois ‘e meus pais adoram viajar. Eu não tinha nem nascido e eles já tinham percorrido quase toda a Europa e boa parte da America. Moraram fora do Brasil e estavam sempre planejando uma viagem. Quando eu era pequeno a rotina não mudou. Acampávamos cada ano em um lugar diferente. Ctba-Bahia, Litoral do Rio, SP e SC, Goias, Pantanal, Argentina,Chile. Cada um tinha sua função no acampamento. Também fizemos outras viagens sem ser acampando, mas sempre bem fora do estilo “pacote”. Uma viagem para a Europa, por exemplo, teria piqueniques na beira da estrada com bastante frequência Eles já tinham passado dos 40 quando acamparam pelo interior da Franca. Com a “idade” (haha) o espirito aventureiro foi diminuindo, mas não tanto assim. Não pensaram duas vezes antes de nos encontrar na Tanzânia e Quênia e encarrar aquele ônibus de Arusha para Mombassa (não e para qualquer um!). Desta vez, pelas minhas descrições queriam nos encontrar no Uzbequistão mas devido ao trabalho e nosso roteiro, não foi possível Queria só saber o que os amigos deles falaram quando contaram que estavam de malas prontas para o Quirguistão!!
A viagem de Almaty para Bishkek (capital do Quirguistão foi tranquila. Estrada boa, e um táxi comunitário decente. Só tivemos que esperar um pouco para chegar outros passageiros, mas o tempo perdido foi recuperado na fronteira. Entramos numa fila, o oficial perguntou de longe de onde eramos, e saiu do seu guichê pegou nossos passaportes, levou para uma salinha, carimbou, e abriu a corrente ao lado da fila para passarmos. Simples assim, sem formulários sem nada. Estávamos no Quirguistão.
A chegada em Bishkek nos mostrou que o pais era bem mais pobre que seu vizinho com petróleo, mas também tinha montanhas como pano de fundo na sua principal cidade. Nos hospedamos nos apartamentos dentro de uma escola de Negocios e Gerenciamento. Prédio antigo, mas aparentemente o curso de MBA lá é bom para os padrões locais. Um dia tinha uns soldados com capus estilo terrorista dentro de um carro. Devia ter alguém importante lá. Nosso quarto/apartamento era bom. bem antigo, mas limpo, arejado e com um bom preço. Uma senhora russa que tomava conta do lugar era super atenciosa e nos adotou. Deu tempo de reconhecer a região, entender sobre os preços, logística e tudo que é necessário até o dia que a mãe e o Clau chegaram.
Matamos a saudades e conversamos um monte, ate a hora de sair para comer e rever a cidade, que é relativamente pequena. Prédios do governo, a larga avenida principal, praças e guardas na frente do museu, e os esquisitos prédios soviéticos. Acertamos alguns detalhes que estavam faltando para a volta deles e decidimos o nosso roteiro.
Dia seguinte estávamos pegando a estrada ate a cidade de Karakol, contornando a parte norte do lago Issyk-Kol. Paramos para comprar frutas, curtir o visual de montanha, mas não podíamos nos enrolar muito, pois era uma boa esticada.
Karakol e uma cidadezinha bacana, com casas tipicas, uma igreja ortodoxa interessante e uma Mesquita Dungan (etnia originaria a alguns seculos atras, de pais árabes e mães chinesas) bem autentica. Nos divertimos tentando nos comunicar na mesquita, para entender mais do lugar, e tambem ao ser levado para o restaurante errado ao pegar o táxi.
O Quirguistão não é um lugar para se ficar em cidades, e na manha seguinte já estávamos indo para o Canion Jetti-Orguz. Passamos por formações rochosas vermelhas, pela ultima vila, ate encarrar uma estrada bem mais precária Cruzamos pontes de madeira, passamos por diversos yurts ate chegar num vale, na beira de um rio, onde estavam nossos yurts.
Foi engraçado ver a mae e o Clau com suas malas de rodinha escolhendo o yurt que iriam ficar, mas eles estavam bem animados. A família que cuidava do lugar é bem simpática O Quirguistão fica embaixo de neve quase todo o ano. O pais é quase só montanha, e durante menos de 4 meses por ano a neve derrete, e vem uma pastagem bem verde. São os chamados Jailoos. Os Kirgs levam seus rebanhos para esta região fértil, e moram em yurts.
Curtimos a beira do rio, conversamos, caminhamos montanha acima para uma cachoeira. Eu tomei banho de rio gelado, vimos estrelas, e ficamos no yurt para se proteger do frio quando a noite caiu.
Haviam outros yurts próximos dali, onde alguns locais pareciam frequentar nos finais de semana, para aproveitar o lugar e tomar uma vodka.
Fomos a cavalo seguindo o vale. Não e um passeio tão curto, mas muito, muito bonito. Boa parte das montanhas é reflorestada, beiramos o rio, passando por yurts bem isolados, com uma vida bem tipica. Para coroar, cavalos pastando com uma montanha imensa ao fundo, com neve no topo.
O cavalo é o meio de transporte oficial. Vimos muita gente mega carregados andando tranquilamente a cavalo. Outro com o filho dormindo tranquilamente, sem se preocupar com o balanco do animal.
Apesar de isolado, este lugar tinha um chuveiro quente, aquecido a lenha, o que facilitou bastante as coisas. Tentamos ficar na fogueira depois que escureceu, mas o yurt ainda era o local mais quente a noite.
De Jetti-Orguz tivemos que voltar para Karakol, parada estratégica para pequenas compras e pegar nosso novo transporte, que mais parecia uma Kombi 4 x 4. As janelas não abriam e estava calor. Logo iniciou a subida e entendemos o porque de não abrir, pois levantou a maior poeira. A estrada foi piorando. Logo não dava mais para chamar de estrada, parecia o leito de um rio seco. Sempre subindo, beirando um penhasco com um pequeno rio la embaixo. Logo estávamos acima dos 3000 metros de altitude. Horas depois, parada estratégica para ir ao banheiro, e já podíamos avistar o Altyn-Arashan, nosso próximo destino. Mais um vale, com meia duzia de casas, muito verde e outra magnifica montanha nevada ao fundo.
Existe uma casa que ‘e abrigo para montanhistas e já foi estacão metereóloga, que funciona praticamente como um albergue. Para ter mais privacidade pegamos uma outra ali perto. Nada de banheiro, e banho só nas águas termais. Um lugar fantástico e eles tiveram a capacidade de fazer uma construção de madeira com uma piscina lajotada para canalizar as águas termais, da para entender? Nada de banho com visual mas pelo menos era um banho. O tempo fechou, e tivemos que nos recolher na cabana antes que o esperado. Eu e o Clau vimos um rato atravessar a sala, mas não falamos nada para não mudar o humor das mulheres.
O local e base para visita de glaciais, lagos e cachoeiras, mas são passeios bem longos. Depois das horas de caminhada em Jetti-Orguz, achamos que podia ser um pouco demais. Com a mudança de tempo optamos por caminhar no vale, e nos divertimos atravessando as estreitas pontes de tronco de arvore. Percebemos que a noitada na cabana principal tinha sido longa, pois varias garrafas vazias de vodka estavam a mostra. Uma turista Kirg relatou que ninguém estava lá, e nos mesmos tivemos que preparar o almoço. Esta Kirg já tomou conta da cozinha, e depois descobrimos que era uma cantora. Mostrou uma de suas musicas e nos surpreendemos com sua voz. Era uma pessoa bem bacana, que estava de lua de mel la, e não entendia o que estávamos fazendo ali. Alias, esta pergunta foi frequente na Asia Central. Viajar aqui? Mas porque?
Quando o tempo melhorou, lavei roupas no rio, com uma sinfonia de meeee’, de tantas ovelhas e cabras que tinham no lugar. Logo era hora de voltar para Karakol, para mais uma pausa no hotel. Mas antes disto tinha que encarar estrada abaixo, “com emoção”!
De Karakol para Kochkor seria outra esticada, desta vez beirando a parte sul do Issyk-Kol. Nesta margem nada de cidades com mini resorts para russos bêbados era tudo bem mais tranquilo. Em um lugar ou outro, ainda tinha um hotel, mas bem mais pacato. Passamos perto de uma mina de ouro. Quase 20% do PIB do Quirguistão vem do ouro e outros minérios explorados. Nos divertimos ao parar para comprar algo para comer no meio do nada e encontrar uma Kirg que falava alemão.
Chegamos na pequena cidade de Kochkor e ainda deu tempo de dar uma caminhada. A mãe e o Clau se surpreenderam que uma refeição para quatro pessoas, com cerveja, custou menos de 15 reais. Para quem já comeu por menos de um dólar cada não era surpresa, mas pelo nível do restaurante o preço estava muito bom (e a comida também!).
Fomos no escritório do CBT (comunity based tourism) para arranjar um home stay, e nosso programa para os próximos dias. São varias famílias cadastradas, com classificação das casas de uma a três edeweiss. Quartos amplos, com tapetes pendurados na parede e bonitas cortinas. O lugar foi aprovado por todos.
Passamos num movimentado e bacana mercado de animais antes de encarar mais algumas horas de carro, novamente montanha acima, agora a mais de 3500 metros. O caminho ja era um passeio em si. Logo apos o passe, ja acima da linha do gelo, deu para ver o lago Song-Kol, com um vasto jailoo de um lado e montanhas nevadas do outro.
Uma serie de yurts, muitos deles com cobertas esticadas ao sol. Muitas ovelhas, cavalos, mas nem uma unica arvore. O lugar estava movimentado, bem mais que esperávamos Logo entendemos que era final de semana. Desta vez teríamos que dividir o yurt. No escritório do CBT in Kochkor, ficamos com pena de uma americana do Peace corp, que não podia ir para o lago pois teria que pagar o transporte sozinha. Acabamos oferecendo de ela ir com a gente. No final das contas queriam que ela ficasse no mesmo yurt conosco, mas batemos o pé e acabaram arranjando outro lugar para ela.
Caminhamos pela beira do lago, no pasto onde edelweiss era que nem praga. Como o banheiro era bem meia sola, e nao tinha nenhuma arvore, era hora das mulheres colocarem as cangas para funcionarem e procurar um barranco ou pequeno leito de rio seco para se proteger.
O por de sol foi longo. Com as montanhas altas, depois que ele se escondeu, ate ficar escuro demorou muito tempo, e as cores variavam de vermelho a alaranjado, com os yurts já com suas chaminés funcionando. Um super clima! Quando parecia que ficaria escuro, do outro lado surge uma lua cheia gigante. Ate esquecemos que sem o sol a temperatura tinha caído muito, e ficávamos olhando bobos o evento que parecia ter sido programado.
Nosso yurt era aquecido. Tinha um pequeno forno onde queimava bosta seca, combustível muito popular por aqui.
Um dia alugamos cavalos, e seguimos em direção a yurts mais afastados, perto das montanhas. Estava longe e ao fazer a volta, viramos em direção ao lago onde fomos ate a beira. Um super visual, do lago a nossa frente, com as montanhas nevadas ao fundo, tudo calmo, só com barulho de alguns cavalos galopando.
Com tanto cavalo, claro que tomamos leite de égua. Desta vez tirado na hora, não o fermentado. Bem melhor o gosto, aprovado por todos, menos a mãe que não experimentou. Tava tudo mais calmo por ter passado o final de semana. Conversamos bastante com a família dona do yurt, muito simpáticos. Durante o inverno eles moravam numa vila perto de Karakol, e acompanhavam novelas brasileiras na televisão (depois de futebol e carnaval, a novela e muito associada ao Brasil).
Comemos um delicioso peixe frito, e foi uma das poucas vezes que a mãe e a Bibi não ficavam separando a gordura da sopa.
Mais algumas horas de viagem de volta, com novas paradas para fotos, mesmo já tendo passado pelo caminho. Voltamos para a casa da mesma família, e enquanto a mãe e Clau arrumavam a mala, nos aproveita vamos para mandar coisas que não íamos mais usar e pequenas compras que fizemos.
Dia seguinte cedo já nos despedimos. Eles pegavam transporte para Bishkek, de onde iam para o Uzbequistão e nos continuávamos peles montanhas.
Companhia perfeita! Deu aquela tristeza na despedida, uma saudades antecipada, mas a certeza de que outras fantásticas viagens juntos iriam acontecer em algum canto do mundo.
Como diz o meu amigo Vidal: lá se vão os DUCKTALES da vida real em mais uma aventura!
E idade chegando? Olha, eles nos deram uma canseira na Itália – não paravam nunca! 😀
Saudades!
haha, Ducktales e otima…
Queridos!!! Que fantástico!!! Viajei junto!! bj
Oi Ivani!! Legal ne?!
Estamos no paquistao e apaixonados pelo pais!!!!
E o ivanews? nao recebi mais…
beijao
Guilherme,
Obrigado pelas respostas aos meus questionamentos. Já está tudo resolvido, vou fazer um cadastro no site da embaixada de Ruanda, e pegar o visto na fronteira mesmo. Claro que aceitie sua sugestão, e vou dar uma passada na embaixada em Kampala.
Infelizmente só tenho 5 semanas, e por isso na Etiópia conto em voar de Addis para Lalibela e Axum, e depois faço por transporte público mesmo. A única preocupação é que agora é época de chuvas lá, e chove todos os dias. Lalibela vai estar bem enlameada.
E voltando pra Addis, consegui uma passagem barata de avião de volta pra Nairobi. Portanto esses maiores perrengues eu não devo passar, não por falta de disposição, mas por falta de tempo.
Prometo dar notícias da viagem, e continuarei acompanhando seu blog, pois a viagem de vocês é simplesmente fascinante. É o caso de vocês ganharem dinheiro com isso na volta. Pensem no assunto.
Abraços, Marcelo
Marcelo,
Ufa, tava achando loucura, mas nao queria falara nada, pois vc ja foi para a Africa. Nao sabia deste cadastro no site da Emb ruanda, fomos direto para a fronteira.
Vc deve estar ai na Africa agora, que legal!! Meu continente favorito!
Legal encontar pessoas que gostem do mesmo tipo de viagem que agente! Temos que marcar um encontro qualquer hora! Nossos amigos de ctba nao se interessam muito…
Abracao
É isso Gui em pé de abacate nao nasce uva…que lindo post, e que fotos… Monica e Claudio pareciam em casa…
saudades
bjs
Pois e Mara, agora e a vez do marco e o Joao!
tao ate acordando cedo!!!!
Guilherme,
Sou uma das amigas do Claudio e da Monica que pensaram (aliás, eu cheguei a dizer para ele) “Quir-guis-tão???!!!”
Mas é porque até ali não conhecia teu blog, não tinha noção do espírito aventureiro que habita essa família. Agora tudo faz sentido, e a tua mãe ganhou alguns pontos no meu conceito de mulheres corajosas – principalmente no momento “rato passando na sala”…
Sou mãe do Leonardo, amigo da Giovanna e quem recebeu teus pais em Roma.
Estou adorando acompanhar a viagem de vocês!
Jô
Oi Jo, a historia do rato na sala foi engracada mesmo….haha
Lembro bem do Leonardo la em casa, era muito amigo da Gi. Que legal que eles ficaram na casa dele em Roma!!
Eles gostaram bastante!
Bj
Eu já tinha visto as fotos deles, pelo jeito foi tudo muito legal, eles curtiram muito. Que bom!
Achei muito legal ver o yutz desmontado.
Que bom que vocês deram notícias hoje, tomara que amanhã a gente se fale melhor.
beijos e se cuidem