País dourado!!

A Birmânia é um antigo inimigo da Tailândia.  O Burma vivia invadindo o Sião (antiga Tailândia) e a rivalidade existe ate hoje. Tipo um Brasil x Argentina, mas com a diferença de que o Myanmar e muito mais subdesenvolvido. Seria mais fácil imaginar um Tailândia x Vietnã  ou Tailândia  x Malásia.  Ninguém na Tailândia entendia porque iriamos para o Myanmar, até nos desencorajavam. Lembro que no início dos anos 90 via videos de desafios do Boxe tradicional da Birmânia contra o Boxe Tailandês em videos lá na academia Chute Boxe da rua Visconde do rio Branco. Por onde passava procurava um lugar para aprender esta forma antiga de combate, mas e muito difícil, pois não e comercializado, não virou um “esporte” como o Muay Thai.

Mandalay não e uma cidade muito atraente. Se já estava dando o adjetivo de empoeirada para outros lugares, aqui e o campeão. As atracões, algumas antigas capitais, ficam ao redor da cidade, e resolvemos fazer com calma, em vez de pegar um carro e ir em todas as cidadezinhas no mesmo dia. Os lugares preferidos foram Amarapura e Sagaing. Na primeira tem diversos monastérios, um lago com um longa ponte de Teca, onde vimos um super por de sol com um passeio de barco. Já Saigang tem uma colina com centenas de estupas, e e uma região famosa para meditação. Fomos sempre de transporte local, o que só em si já era uma aventura. Nos divertíamos com o pessoal. Em Mandalay tem um templo bacana também  daqueles que as mulheres não podem se aproximar do altar principal. Gostamos de visitar um monastério antigo todo feito de Teca, onde a Bibi aproveitou para tirar duvidas sobre Budismo e Meditação com um monge. Ficava numa região com muitos monastérios  então eram dezenas, se não centenas de monges para cima e para baixo. Ao pedir informações acabamos fazendo amizade com um deles que fez questão de nos levar no monastério dele para conhecermos e vermos a hora da meditação e mantras.

Monges e seus mantras

Final de tarde “da queles” em Amarapura

Vista de dentro dos transportes

Sempre cabe mais um!

Andamos bastante de Triciclos também  e desta forma fomos ate um café indicado, para comemorar o aniversario da Bibi. Lugar super descolado, decoração  câmeras de segurança  muito acima da expectativa. Como era um lugar com iluminação indireta, trouxeram um “abajur” para lermos o cardápio  Não e que era um abajur de camelo, em forma de gato, com etiqueta de preço e tudo!!!haha Quase não acreditamos. A Bibi falou que o banheiro não era la estas coisas, e não tinha toalha, só papel higiênico para enxugar as mãos. Mas a comida estava boa, e estão quase la. Haha

Depois de alguns cafés da manha juntos, trocas de informações de viagem, por coincidência estávamos pegando um ônibus junto com os alemães  Desta vez para Pagan, um dos maiores complexos de templos do mundo, com mais de 4000 estupas. Mordemos nossa língua  e acabamos ficando muito amigos do casal, tendo ate ido jantar algumas vezes juntos. Pagan teve seu ápice a quase 1000 anos atras, e sua beleza e unica. Já estávamos de saco cheio de visitar templos (isto que sou chegado num templo, estupa, igreja, mesquita…), e para nossa surpresa eles não eram tao interessante. Deixa eu explicar melhor. Poucos dos quase 4500 templos tem estatuas diferentes, pinturas, pedras entalhadas. Estes são muito interessantes, mas o legal mesmo e pegar uma bicicleta e andar pelo meio deles todos. Montamos dois roteiros para olhar os principais, e nos outros dias foi meio que sem destino. Parava onde dava vontade, repetia os mais legais, e subíamos terraços dos que tinham acesso. Muitos deles por corredores escuros, onde a lanterna foi muito útil.  Isto era a parte mais legal, descobrir um super templo, sem ninguém  para ver o visual e o por de sol. Sempre voltávamos já de noite, pois nos perdíamos no horário devido tamanha beleza. Um dia, na volta para o hotel, fomos surpreendidos por uma lua cheia gigante, amarelada, levantando por trás das estupas ponte agudas. Momento Mastercard!! A Bibi que andava meio triste com a crise dos 30, cantava sem parar, andando de bicicleta com os bracos para o lado e escutando musica…

Rodoviaria de Mandalay

Pagan!!

Um dos mais de 4000 templos

Precisa falar alguma coisa?

!!!

Íamos para outros lugares no Myanmar, mas gostamos tanto que resolvemos ficar mais tempo em Pagam. Pessoas chegavam, iam e nos lá. Tem um boa seleção de restaurantes, e a Bibi podia comer comida italiana, já que não se adaptou a culinária local. Num destes dias, por acaso, encontramos a Marlinda, nossa amiga e companheira de viagem da Indonésia !! Como o mundo e pequeno!! Fizemos vários passeios juntos e jantamos alguns dias também  Legal que ela e psicologa, faz Yoga, se dando super bem com a Bibi, alem de ser largadona, fazer treking, viajar sozinha de mochila, se dando muito bem comigo. Há, alem de pegar no pé da Bibi!!haha Estas coincidências me fez lembrar que em 2001 conheci um americano e um brasileiro em Amsterdam. Semanas depois, por acaso, encontrei o americano na rua em Barcelona. Já o brasileiro, encontrei 8 meses depois, numa festa, em San Diego. O mundo e mesmo pequeno! Fizemos planos de quem sabe encontrar a Marlinda novamente na Índia  alem dos alemães  já que e destino de todos nos, só com chegadas em datas diferentes. Os alemães já passaram 5 meses e meio lá, e estão voltando para mais 2 meses.

Nos com a Marlinda no terraço de um dos templos

Estas estradas de terra nos renderam 2 pneus de bicicleta furados

Nossas “magrelas” ali em baixo

Aqui, antes da chegada do Budismo, todos acreditavam em “Nats”, que são espíritos em formas humanas, mas que podem aparecer em animais, plantas e outras formas. E uma religião  ou crença  muito interessante, mas infelizmente pudemos aprender pouco, devido a falta de informação em inglês  e da fraca comunicação dos devotos. Fomos ate o Mt Popa, montanha com um monastério pendurado no topo. Muito bonito de baixo, mas a vista de cima não e tao bonita, pois a terra e totalmente plana. Este templo e budista, mas assim como na maioria dos lugares, a devoção se mistura com os Nats, tendo imagens de todos. Este e inclusive um dos lugares mais sagrados do Nat. As longas escadarias estavam enfestadas de macacos, e suas respectivas fezes. Vimos algumas engraçadas cenas de macacos roubando comida de turistas desavisados.

Mt Popa

Tava bom, mas tínhamos que voltar. Pegamos as péssimas estradas, e observamos mulheres e jovens  trabalhando pesado ao produzir e carregar cascalho para as novas estradas. No ônibus todo o corredor estava lotado de passageiros, sentados em banquetinhas de plastico. Em Yangon já tínhamos endereço, pois adoramos a hospitalidade do primeiro hotel. O bom daqui, e vários outros lugares que passamos, que se chegar as 4 da manha por exemplo, vai pagar a diária so do dia seguinte. E sempre erly check in.

Corredor do ônibus top de linha.

Tínhamos que ir no mercado e fomos num que ficava em um shopping. Muito diferente a parte “moderna” deles. A Bibi ficou estudando no hotel e eu fui no YMCA, onde anunciavam aulas de Kick Boxing. Tinha a esperança de que fosse o Burmise traditional boxing. Cheguei la na hora do treino e não tinha ninguém  Aparentemente não teria treino por algum motivo. Peguei o endereço de outro local onde este treinador dava aulas, mas não me pareceu muito profissional. Na saída conheci o Aungpyi, que adorou a historia de eu me interessar pela tradição deles. Me levou na casa dele e me apresentou para a mãe dele. Me presenteou com dvds de diversas lutas profissionais e conseguiu o carro da mãe dele emprestado. Aparentemente representante da classe media daqui, esta terminando o curso de medicina, que segundo ele e muito fraco, mas ele quer ajudar as pessoas. Rodamos para fora da cidade e quando ele contava calorosamente do seu fim de namoro acabou batendo o carro, arrancando o espelho retrovisor do meu lado. Que susto! Me levou sem eu saber no principal campo de treinamento de Burmese traditional boxing. Um galpão aberto, com quatro sacos de pancada, alguns pneus e umas espumas em colunas. Inacreditável que dois dos campeões nacionais saíram desta estrutura. Logo eles chegaram e pude fazer um treino com eles. O treinador super atencioso arranhava um inglês  e discutimos bastante sobre as diferenças para o Boxe Tailandês  alem de me mostrar vários detalhes. Me explicaram que existem poucos centros de treinamento, que a maioria dos campeões vem da região rural, e treinam em família  ou pequenas vilas. Voltei para casa feliz da vida e fomos num bar que vimos por acaso num mapa turístico.  O proprietário e neo zelamdêz, e o bar e impecável.  Difícil entender como que o lugar se paga, pois apesar de caro para os padrões locais, só tínhamos nós (com direito a escutar Bossa Nova!). Uma coisa que e difícil para o povo brasileiro entender e como as cidades grandes ao redor do mundo são seguras. Com todo o tamanho e pobreza de Yangon, nem pensamos em não levar o computador na mochila. Andamos pelas ruas escuras do centro (aqui sempre acaba a energia, daí só fica iluminado os lugares com geradores, o resto só na vela!), para comer a deliciosa pizza. Claro que o WiFi não funcionou…

Burmise traditiona boxing!

Ultimo dia de Yangon tentamos ir num suposto museu na antiga casa de Aun San, mas tava fechado e abandonado. Fomos até um parque onde ficamos sentados conversando no gramado, de gente para o lago com o Palácio flutuante. De la caminhamos ate a Swedagon pagoda, que tínhamos gostado tanto. Fiz amizade com um cara enquanto a Bibi meditava e fiquei tirando duvidas dos Nats e Budismo. Deixamos para trás os trocentos Budas deitados existentes por aqui. Enquanto a Tailândia se orgulha do Buda de Wat Pho, com seus 46 metros de comprimento, aqui eles tem de 40, 60, 90, cento e poucos metros. Mas depois de um tempo chega de Buda…

Palacio flutuante

Acordamos cedo para o nosso voo que era no inicio da manha. Claro que levantaram para preparar o café, mesmo fora do horário tradicional. Um dos funcionários ainda dormia em quatro cadeiras alinhadas, com uma lista telefônica como travesseiro, antes de acordar com um sorriso gigantesco no rosto para nos servir. O povo do Myanmar com certeza entrou para a minha lista dos Top 5 mais simpáticos do mundo, junto com Malawi, Tanzânia, Somalilândia  e Iêmen (menções honrosas para Zâmbia e Uganda). Estes dias o Pedro (meu sobrinho) falou para a Pati que queria estar do Myanmar, e eu, não queria sair sair do Myanmar…

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Montanhas, Lagos e Vulcões!!!

O ônibus para Kabale não era ruim para os padrões da África. Era alto, com três poltronas de um lado, duas do outro e sem banheiro (é claro!). Pouco antes de sairmos, um passageiro se levantou e pediu que todos orassem para que Deus iluminasse aquela viagem (a maioria do pais e crista). Nunca imaginamos o quanto aquele ato seria tao importante. Defenitivamente aquele passageiro ja tinha feito aquele trajeto. Entendemos também porque tantas pessoas recomendavam o lento ônibus do correio. O motorista seguiu a toda. No inicio a estrada estava ate boa, e nao dava para perceber tanto. Logo chegamos a partes onde estava em manutencao, e a poeira levantou. A Bibi que estava na janela sentiu bem mais. Eu dormi mas não demorei muito para acordar com o ônibus desviando de buracos e fazendo curvas em “alta” velocidade (para a condição da estrada era rápido, fisicamente falando não era). Pouco antes de amanhecer, muitas pessoas desceram, e ficamos com três poltronas para nos dois. A Bibi finalmente dormiu, e a paisagem desta região montanhosa foi ficando cada vez mais deslumbrante. A medida que íamos subindo as montanhas, o frio ia aumentando proporcionalmente a altitude. O sol foi chegando aos poucos, proporcionando uma vista magnifica. Não muito depois nos avisaram que havíamos chegado na pequena Kabale (o ônibus seguiria viagem). Descemos, a Bibi enrrolada no saco de dormir, e eu so de camiseta e cachecol, corri para abrir a mala que estava no bagageiro para me agasalhar. Tomamos um bom cafe da manha num hotel não muito longe dali. Na ida até o hotel já arranjamos transporte para o Lago Bunyonyi. No curto caminho montanhoso e empoeirado ate o lago a Bibi dormiu, e eu fiquei observando o dia começar nesta pequena região rural ao redor de Kabale. Senhoras quebravam pedras, sentadas no chão com pequenos martelos, perto de algumas pedreiras. Outras carregavam o cascalho sobre a cabeca, montanha acima e abaixo. Ao chegar no lago, optamos por pegar uma canoa, e não um barco a motor, para curtir ainda mais o clima.

Lake Bunyonyi

Lake Bunyonyi

A paisagem é algo sensacional, todas aquelas montanhas, com terraços cultivados, envolvendo o lago. Um lugar calmo, muito astral e magico. Fomos ate a ilha Buchara. Existem dois tipos de acomodação, chales e barracas. São aquelas barracas tipo exercito, já montadas, que tem cama e da para ficar em pé dentro. Achei que podia ser uma boa oportunidade para a Bibi aprender a “acampar”. De qualquer forma a qualquer momento poderíamos mudar para um chale, se necessário.

Acampando? Mais ou menos...

Acampando? Mais ou menos…

Foram dias bem relax, sem fazer muita coisa. A Bibi meditava com frequência, e eu saia para andar pela ilha, que era bem pequena. Em menos de 15 min dava a volta na ilha. As vezes dava uns mergulhos também.

OoOoooo...!!!

OoOoooo…!!!

Fomos no comentado mercado Kyevu (todos os sabados), que nao ficava muito tempo de barco a motor da Ilha Buchara. Este mercado foi de muita importância nos anos 70, época do Amin, pois e na divisa com a Ruanda, e muitas trocas de mercadorias eram realizadas. Tivemos azar que bem no dia que fomos tinha um velório ali perto, e não formaram muitas barracas por este motivo. Comemos a comida tipica deles que e uma mistura de Batata doce, um tipo de aipim, banana e feijão, tudo cozido junto, na mesma panela, e envolto de folhas de bananeira. Um porcento da população de Ruanda e de pigmeus, e alguns destes estavam lá. Parecem “hominhos”. Tentamos uma interação, mas o povo ali era “meio do mato”, e não teve muita conversa.

Comidinha caseira!

Comidinha caseira!

Kyevu market

Kyevu market

A ilha que estávamos era de propriedade da Igreja Anglicana. Alias, as igrejas cristãs são super atuantes em toda a Uganda. Na ilha tinham viajantes, mas também encontramos alguns missionários. A Bibi gostou da barraca e acabamos nem nos mudando para os chales. Todos os horários eram programados. Depois da janta se escolhia o café da manha e falava o horário que queria que fosse servido, depois do cafe, escolhíamos o almoço e o horário, e assim sucessivamente. Ha, o banho também tinha hora marcada, e vinham abastecer o recipiente do chuveiro com água (quente) com um balde.

Ainda dormimos uma noite em  Kabale e depois  seguimos pela montanhosa e empoeirada estrada para Kisoro. Como não tinha transporte local saindo regularmente, pegamos um táxi “comunitário”. O motorista coloca quantos passageiros couberem para que todos paguem menos. Sei que em certa etapa da viagem tinham 3 na frente e 4 atrás, na verdade 5, pois um passageiro estava com uma criança não muito pequena no colo. Dava para ver a cara de desespero da Bibi. Alem disto, muita poeira, buracos e paisagens exuberantes…

Kisoro e uma cidade muito empoeirada, sem muitas atrações. E ponto de partida para ver os Gorilas da Montanha do lado de Uganda. Existem diversos hotéis simples e muito baratos, do estilo que ficamos em Kabale, mas como a TPM da Bibi virou TM, tive que arranjar algo melhor. Depois de muito procurar, encontramos um lugar muito agradável, onde os proprietários nos trataram como filhos. Foi bom ficar num lugar mais estruturado, pois no dia seguinte fui subir um vulcão, e fiquei tranquilo de deixar a Bibi descansando.

Sensacao de estar em casa.

Sensação de estar em casa.

Tinha combinado com um Bodaboda de passar me pegar as 6 da manha, e este não apareceu. Sai para a cidade ainda escuro, em busca de outro transporte. Depois de um tempinho achei um motoboy que não falava uma palavra em inglês, mas aqui eles também falam Kiswahili. Negociei para ir ate o parque, e antes disto passamos no posto de gasolina, pois e claro que tava sem combustível. Fomos seguindo desviando todos aqueles buracos, e ainda a certa distancia da entrada do parque a moto quebrou. Segui a pé, andando rápido, pois se me atrasasse não deixariam eu subir o vulcão. Cheguei bem atrasado, mas viram que eu não teria problemas de completar o percurço antes de anoitecer, e liberaram minha subida. Subi eu, um guia e um guarda devidamente armado de um AK47. O parque nacional de Maharinga (Uganda) e a continuação do parc nacional des Virungas (Congo), e parc nacional des Volcans (Ruanda). São diversos vulcões que se estendem um ao lado do outro, cruzando fronteiras e se estendendo por um vasto territorio. Escolhi subir o Muhavura (4127 mts) o mais alto dos 3 vulcões deste parque da Uganda (O Pico da Neblina, mais alto do Brasil tem 2994 mts). Pra mim sempre os primeiros 30 min são os piores, depois parece que engrena. A subida e bem íngreme, e ia em zig-zag. Alguns metros para a esquerda, outros para a direita. So mais perto do cume que tivemos que circundar para chegar ao topo, e encontrar um pequeno lago na cratera. Infelizmente o tempo estava totalmente encoberto. Toda a vista dos outros vulcões e países não foi possível. Que pena!!! Fiquei com aquela sensação de quero mais, mas fazer o que. Como eu tinha subido rápido, tive mais tempo la em cima para esperar para ver se o tempo abria, mas não adiantou, não era meu dia. Iniciamos a descida com cuidado, pois escadas improvisadas tinham pregos enferrujados e estrutura suspeita. O bom e que na vinda era subida o tempo todo, e não volta só descida, sem oscilações. Chegando la embaixo olhei para cima, tamanha não foi minha surpresa ao notar que a montanha não estava mais encoberta! O parque fica numa região bem remota, e foi interessante passar por todos aqueles vilarejos. Alguns deles estavam com falta de água, e  pessoas formavam longas filas para abastecer galoes com água trazida da cidade.

No Topo!!

No Topo!!

Lago na cratera do vulcao

Lago na cratera do vulcão

Escadas

Escadas

O desafio visto de baixo

O desafio visto de baixo

Dia seguinte seguimos (novamente por uma estrada esburacada e empoeirada) até a fronteira de Ruanda.

A Pérola da África

Antes de cruzar a fronteira para a Uganda, atravessamos a linha do Equador. Percebi que já tinha viajado um bocado, pois iniciei bem abaixo do tropico de Capricórnio, além disto, minha viagem estava sendo para o Nordeste e não direto para o norte. Foi uma viagem bem tranquila. Pegamos um ônibus executivo, bem melhor que os da Tanzânia. Tinham so 3 poltronas por fileiras, tipo os nossos ônibus leito, mas as comparações param por aí. A viagem passou super rápido, e fomos apreciando a bonita paisagem.

A Uganda é chamada de Pérola da África, além de diversos outros apelidos. Local onde o turismo tem crescido consideravelmente, mas deve aumentar ainda mais. A estabilidade tem aumentado, mas ainda existem alguns graves problemas na fronteira com o Sudão. Difícil não associarmos a Uganda ao louco do Idi Amim. Para quem não lembra dele, vale ver o filme ” O ultimo rei da Escócia”, o qual fala da historia dele e da Uganda na época. Para se entender um pouco mais, a situação do pais não era melhor antes, e nem ficou melhor nos anos seguintes a esta ditadura. Só perto dos anos 90 que veio a “estabilidade” econômica, mas mesmo assim, o presidente que assumiu, e esta no poder ate hoje, e muito criticado.

Da fronteira seguimos sem paradas para a simpática Jinja. Mais uma daquelas cidades que tentam lançar como meca dos esportes radicais, mas e meio forcado, puro marketing turístico. Uma cidade relativamente pequena, mas com uma boa estrutura. Muitos visitam esta cidade só para fazer Rafting (nivel 5) na  nascente do rio Nilo. Sim uma das nascentes do Nilo, o rio mais longo do mundo, e aqui. O ônibus nos deixou na estrada, pois seguia para a capital, Kampala. Pegamos 2 Boda-Bodas, que nada mais e que uma motocicleta com pequenas adaptações para levar passageiros e bagagem (ta bom, motoboy, hehe), e fomos para um hotel indicado. Não sabíamos que no final de semana em questão estaria acontecendo a maior feira agropecuária do pais, portanto tudo tava lotado. A Bibi ficou cuidando das mochilas enquanto eu dei uma volta para achar algum lugar para ficarmos. Acabei negociando numa mansão, adaptada a hotel, um super quarto. A Bibi ficou bem feliz, e de sobra, a noite teria um casamento muçulmano no jardim, o qual participamos discretamente.

Hotel

Hotel

Casamento

Casamento

No outro dia fomos na tal fonte do rio Nilo, que aparentemente não tem nada de especial, mas tudo mudou, quando sentamos numa pedra, ficamos conversando por horas tomando uma cerveja com o nome de ” Nile Special” ! Íamos passar na feira agropecuária depois, mas já era o ultimo dia e estavam desmontando tudo, alem do mais, como a Bibi e de Chapecó, já ta cansada destas feiras…hehe (não podia perder a piada..!!)

Nile Special!!!!!!! haha

Nile Special!!!!!!! haha

Com o centro compacto, e um ótimo lugar para passear, e existem alguns bons e baratos restaurantes. Ficamos um bom tempo no hotel também, onde fizemos alguns amigos que trabalhavam la. Deu vontade de ficar mais tempo, só por causa das pessoas. Ha, ia esquecendo, quando Gandi morreu, seu corpo foi cremado, e suas cinzas espalhadas por alguns lugares. Parte destas cinzas estão no templo Indu daqui. Alias, alem de templos, tem muito restaurante Indiano (comemos num bem gostoso), e Indianos também. No inicio da década de 70, o Amin tava tao incomodado com os asiáticos, que os expulsou do pais, só com as roupas do corpo. Ele “nacionalizou” o comercio, que grande parte era de Indianos e Chineses.

Pegamos um ônibus para Kampala. Viagem tranquila, nem conversamos muito, ficamos só curtindo o visual. O motorista não nos avisou para descer no local que tínhamos pedido, e acabamos no centrão. Um caos nunca visto antes, impressionante mesmo. E para piorar, não estavam aceitando minha nota, pois tava com um selo raspado. Perdemos um tempinho nesta, mas logo pegamos um daladala para o Hotel que tinham nos recomendado. A Bibi foi indo na frente e minha moto estava lenta. Alguns Km depois, parou completamente. O motorista pediu para eu descer, deitou a moto chacoalhando, e me falou: “Agora chega ate o posto de gasolina”. Claro que no posto ele não tinha dinheiro nem pra colocar combustível. Dizem que não colocam combustível para que a moto/carro não sejam roubados, mas acho que e poque são quebrados mesmo.

Motoboy!!

Motoboy!!

Chegamos no hotel indicado, que era fora do centro. Tinha tentado ligar de Jinja, mas o numero tinha mudado. Resultado, tava lotado. O da frente era bem tranquilo, mas a Bibi não quis ficar porque não tinha banheiro no quarto. Acabamos indo procurar um outro hotel que não encontramos, e seguimos de volta para o centão barulhento. Eu já tava bem irritado nesta hora porque queria ter ficado já no primeiro. Vimos mais um hotel, mas o custo beneficio não parecia ser dos melhores. Para encurtar a historia, dei uma colher de chá pra Bibi, que tava de TPM, e arrumei um hotel melhor (e caro!). Deu tempo de caminhar um pouco pelo caos  desta região ainda antes de dormir.

Kampala...

Kampala…

Dia seguinte fui dar entrada para meu visto da Etiópia, era melhor esperar em Kampala que em Nairóbi sozinho. Vi que a parte de cima da cidade e totalmente diferente, pelo menos para este lado. Poucas quadras do caos do centrão, estão avenidas largas, com arvores floridas. Se afastando ainda mais começam os bairros residenciais, com muitas casas bonitas e algumas mancões. Kampala fica ao longo de sete colinas, portanto tem uma bela vista, e muda muito de uma região para outra. O visto ficaria para o dia seguinte, e voltei para pegar a Bibi e sair a pé pela cidade. Caminhamos bastante, e nos impressionamos com gigantescos pássaros que sobrevoavam a cidade e faziam ninhos nas praças. Como estávamos longe, voltamos de moto, passando pela parte nobre da cidade. Kampala estava surpreendendo bastante. Para fechar o dia, e comemorar que o visto estava encaminhado, fomos jantar num gostoso restaurante Etíope. Restaurante movimentado, comida boa, mas o mais legal foi ver a Bibi comer com as mãos…

Passaros

Pássaros

Nao tem preco!!

Não tem preço!!

Um dia pela manha, começamos a conversar com o garçom, e a conversa se prolongou por horas. Falamos sobre o dia a dia, sobre cultura, e sobre a época do Amin, e claro. Achava que todos odiavam este homem que fez tantas barbaridades, mas descobri que alguns o defendem, dizendo que tem o outro lado da historia…

Bem, o Achi (garçom) foi mais uma daquelas pessoas que nos encantou. Combinamos de nos encontrar depois do expediente dele. Neste tempo saímos para conhecer mais a cidade e buscar o visto que deveria estar pronto. Deveria, mas não estava. Vieram com aquela historia que brasileiros ganham o carimbo quando chegam no aeroporto. Tive que explicar (novamente) que iria por terra, e que nesta fronteira nao davam o visto (eu explicando para o consulado!). Também, porque alguém em sã consciência iria encarar a dura e longa viagem pelo deserto do norte do Kenya/sul da Etiópia? Bem, o problema era meu, e acabaram emitindo o visto na hora mesmo. Ufa!

Tivemos que ligar para o Achi e remarcar para noite. Neste meio tempo corri para conseguir as passagens para Kabale. Inicialmente íamos no ônibus do correio, que diziam que era mais seguro, mas como e pequeno e para o te, pó todo, optamos por ir em um noturno, que vai mais rápido. No horário combinado o Achi apareceu no hotel (que já não era mais o mesmo do primeiro dia, mas acho que não preciso entrar em detalhes,hehe). Saímos para um barzinho, mas estava muito barulhento. Acabamos num bar de um hotel, onde conversamos por algumas horas. O cara e de uma simpatia que não existe, cheio de sonhos, trabalhador, mais uma daquelas historias de vida. Trabalha um monte, e no final do mês ganha USD35. E eu que me achava malandro quando em parte da viagem gastava só USD7 por dia. E o Achi com aquele sorrisão estampado, falando dos seus planos, de seus sonhos. Mesmo com toda a dificuldade, ele se deu ao trabalho de nos trazer lembranças de Uganda. Algumas provavelmente de sua própria casa, outras talvez compradas. Prometemos que tentaríamos ajudar de alguma maneira. Como a vida e dura! E como alguns, mesmo perdendo os pais, trabalhando um monte, não desanimam, nem perdem a vontade de viver.

Achi

Achi

Ele ainda caminhou com a gente ate o hotel, onde arrumamos as coisa, e antes de sair dei a camiseta do Brasil que tinha acabado de ganhar da mãe/Clau. Logo saímos pois já era perto da meia noite, e tínhamos que pegar o ônibus.

Lua de Mel/ Escolinha de Mochila

Cheguei em Dar alguns dias antes da Bibi, para ja ir comprando a passagem para Zanzibar e ir me acostumando com o lugar. O Joska veio comigo e o Samuel ficou pelo caminho. Foi bom que ele ja tinha vindo para ca e deu varias dicas. Rodamos todo o centro, que ate e interessante, depois de passar por todos aqueles suburbios, que parecem com sujas vilas.

Na Tanzânia, ao contrario dos outros países da Africa daqui de perto, não existem tantas línguas assim. Ate existiam, mas apos a independência na década de 60 (Tanganica se associou a Zanzibar e formaram a Tanzânia) foram feitas vilas que funcionavam num sistema de cooperativas. Para evitar a rivalidade entre as tribos, vários lideres tiveram que trabalhar em regiões diferentes de onde moravam. Apesar de fracassado este movimento, surgiu um sentimento nacionalista, e o Kiswahili, língua africana mas de influencia árabe, foi adotada como oficial. O Inglês também é oficial, mas muito pouco falado nas regiões rurais e não turísticas. As minhas aulas de swahili com as crianças no barco do Malawi e com os alemães no Moçambique foram muito importantes.

A Bibi chegou depois de ter alguns problemas no aeroporto. Os relatos dela são muito mais ricos e engraçados que eu poderia colocar, portanto leiam o ” Tambem Sai”. Eu tava nervoso, só esperando ela chegar. Tentei decorar o simples hotel com flores para ela não achar tao ruinzinho. Ate que deu certo. Levei ela para jantar, e ela não gostou de algumas opções que eu achava super boas. Vi que eu teria que ir com calma, ela tinha acabado de despencar no Leste da Africa, e não é tão fácil assim viajar por aqui.

Muito mais fácil seria a ambientação na paradisíaca Zanzibar. Depois de um rápido cafe da manhã, no restaurante onde o Samora e sua Trupe da Frelimo se reuniam para organizar a tomada de Moçambique (estavam no exílio) e consequente expulsão dos portugueses, e pegamos o ferry para Stone Town-Zanzibar. Ficamos na primeira classe, mas sempre via a Bibi de olho nas outras, de olho arregalado com tudo que estava vendo. Era muita informação para pouco tempo de chegada. Batemos papo com outros gringos e trocamos informações e dicas. O jet leg pegou e ela capotou boa parte da viagem. Na chegada na quase medieval StoneTown, seguimos por estreitas ruelas ate chegar ao simpático hotel. Parecia tudo perfeito e ela tinha gostado muito. Logo soubemos que a cidade estava sem luz, e o gerador do hotel estava com problemas. Saímos para caminhar torcendo para que consertassem. Tava tudo movimentado com o “Dhow Festival”, antigo festival de cinema de Zanzibar, mas que agora abrangia musica, arte e muitas outras coisas. Quando me dei conta ela já estava ate experimentando as comidas das barraquinhas de rua (se bem que torceu o nariz quando o cara deu o troco com a mesma mão que preparou a comida). Em poucas horas já tínhamos conversado com uma galera, e todo mundo sabia que eramos do Brasil. De volta ao hotel, ainda não tinha energia. A Bibi já estava se preparando para seu primeiro banho de balde (que seria aquecido) quando escutamos o barulho do motor…. (ufa!!).

Zanzibar - Stone Town

Zanzibar – Stone Town

Ruas estreitas

Ruas estreitas

Porta e Crianca

Porta e Crianca

Mercado Noturno

Mercado Noturno

Porta talhada

Porta talhada

Stone Town é o máximo, e ate adiamos a ida para praia, aproveitando todo o movimento por causa do festival. Se perder pelas ruelas com aquelas portas sensacionais e uma delicia. Vi que a Bibi tava se empolgando com a viagem cada vez mais, e em alguns momentos ate pediu para parar um pouco para escrever, organizar as ideias e algumas vezes se emocionar…

Fomos ate o centro para ver onde era o transporte publico para a primeira praia, mas consegui um ótimo preço com um transfer direto, e achei que era melhor para a Bibi ir se acostumando.

Primeira praia que ficamos foi Jambiane, no leste de Zanzibar. Lembro da Bibi ter ido dar uma olhada enquanto eu esperava e voltando falando: Parece Photoshop… Eu falei: Tipo nordeste? Ela: Não, tipo Maldivas, Thaiti… Bem, não se deve comparar lugares, sei que o mar em Jambiani é show, muito lindo e com várias cores.

Jambiani

Jambiane

Jambiani 2

Jambiane 2

O lugar e meio isolado, calmo. Já sabia, e achava que era o ideal para começarmos, tendo bastante tempo junto, tranquilo, podendo botar o papo em dia e se curtir, a uns 4 metros da areia. A pequena vila e meio sem graça, sem grandes atracões como mercados ou simplesmente cultura local. O tempo não ajudou, ficando nublado quase todos os dias, saindo sol só de vez em quando. Uma pena. Aproveitei para achar uma pessoa para lavar todas minhas roupas. Comemos bem todos os dias e na lua cheia tomamos uma cerva num bar de Rastafáris.

Partimos de Dala-Dala (transporte local, tipo lotação) para a próxima praia,  Paje. Lugar já mais estruturado, com um chalezinho mais simpático que a pousada de Jambiani. O lugar do cafe da manha era “na cara do gol”, quase no mar quando a mare tava cheia.  Lugar bem gostoso, alto astral, mas o tempo ainda não tava perfeito. Ficamos muito amigos de uma família espanhola que tínhamos conhecido antes, e saímos ate para jantar juntos.

Paje

Paje

Inicialmente nem iriamos para a parte norte da ilha, e seguiríamos para Lushoto, entre Dar e Arusha. Como teríamos 50 dias para viajar antes da Bibi voltar, decidimos ficar mais por aqui e ir para Kendua.  Voltamos para STown so para fazer conexão para Nuongui, e descemos um pouco antes, na estradinha que vai para a turística Kendua. Uma família Tcheca deu carona para a Bibi e Mochilas, e eu segui na pernada, mas nem era muito longe. Ficamos num chalé bem bacana, e a Bibi adorou. E um lugar mais cara de ferias, estruturado, cheio de jovens turistas.

Jovens europeus em Kendua

Jovens europeus em Kendua

E eu nao podia estar mais feliz...

E eu não podia estar mais feliz…

De noite pegamos ate uma baladinha, onde jovens europeias dançavam junto com guerreiros Masai (que vendem artesanato aqui). Viva a globalização!!! Haha, mas tava hilario, e entramos no embalo e dançamos muito hip-hop, eletrônico e anos 80 juntos. Como não tínhamos reservado a pousada, só pudemos ficar um dia nesta cara pousada. Como nada acontece por acaso, não demorei muito tempo para achar um lugar bem legalzinho por menos da metade do preço. A Bibi fez massagem um dia, e em pouco tempo já tava super amiga de muçulmanas, que ficavam sem véu e abracavam e beijavam ela. Figura…

E a Bibi, ne...

E a Bibi, ne…

Fim de tarde em Kendua

Fim de tarde em Kendua

Tinha um restaurante local bem gostoso, e comemos sempre la. Fui treinando mais ainda o kiswahili, e ganhando descontos e amigos com isto. Infelizmente tínhamos que partir, pois meus pais voariam para Nairobi, e nos encontraríamos em Arusha. Zanzibar foi uma Lua de Mel, com praias lindíssimas, sem ter muito o que fazer, só ficar largado. Stone Town, com suas portas entalhadas, ruas que pareciam corredores de tão estreitas, e todo o mundo Swahili foi fantástico… Seguimos então para Dar onde pegaríamos o ônibus para Arusha. Ops, não tao fácil assim. Hehe

Tinham me recomendado de pegar o Catamarã noturno. Isto seria ideal, pois se esperássemos o da manha, não chegaríamos a tempo te pegar o ônibus “executivo” da Scandinavian Express. Os outros ônibus a Bibi poderia ainda não estar preparada (e não queríamos perder um dia em Dar)… Bem, sabia que apesar de ser primeira classe no Catamarã, não seria tao tranquilo assim, pois os colchoes seriam jogados no chão, entre os sofás. Mas como sempre carrego um lençol e um saco de dormir, achei que taria tudo bem.

Bem, para reduzir a historia, que sera contada pela Bibi com muita mais entusiasmo e  emoção (além do lado feminino), apelidamos esta viagem de “Barco do Terror”.

Barco do terror, ainda de dia...

Barco do terror, ainda de dia…

Quando tava tudo bem, perfeito, a Bibi começou a reclamar de pequenas baratinhas que apareceram na primeira classe. Eu, baseado naquele filme do Will Smith, Em busca da felicidade, comecei a falar que eram só besourinhos africanos (hehe). Ate me irritei com a ” frescura dela”. Deitamos e logo dormimos. Acordamos com uma Sra “vomitando as tripas”, devido ao balanco do barco que só aumentava. Ela levantava a cabeça, vomitava, e voltava a dormir, segurando o saquinho. O marido dela nem acordava, para a revolta da Bibi. Logo a Bibi começou a ficar enjoada. Pediu para ir para o deck, pegar um ar. Vcs viram o filme ” Ensaio sobre a cegueira”? Pois e, o corredor da classe que levava ate o deck era igual ao do filme. Pessoas vomitando ou dormindo (algumas com a cara no chão) segurando um saquinho de vomito. Sinnniiiiistro. Total filme de terror, trash mesmo!!! Bem, no ” tambem sai” vcs vão ler detalhes mais ricos de todos estes momentos. Depois de sobrevivermos ao ” Barco do Terror”, pegamos o ônibus a tempo, e seguimos na longa viagem ate Arusha (A Bibi só tomava sopa nestas alturas).

Cuidado para não ficar encalhado no Malawi

Quando estava indo para o Malawi escutava muita gente falando para tomar cuidado para não ficar ” encalhado” la. Logo entendi porque. O Malawi é carinhosamente apelidado de ” coração caloroso da Africa” (odeio estas traduções) e faz jus ao apelido.

É um país pobre, muito pobre. Um dos mais pobres da Africa, e consequentemente do mundo. Sofreu uma das ditaduras mais longas, do então ” presidente ” Banda. Um cara que proibiu mulheres de usar mini saias e calças compridas. Os homens foram proibidos de ter cabelos compridos, dentre outras coisas. A censura era muito grande em vários aspectos, mas mesmo assim, o Papa e a Margaret Thacher visitaram o país e não falaram nada contra este sistema, muito pelo contrario.  Hoje os tempos são outros e houve uma inversão de valores daquela época. O clima é super amistoso e existem rastafaris por todos os lados.

Vindo da fronteira da Zâmbia, arranjamos transporte ate uma pequena cidade  e de lá, junto com meia duzia de zambianos, acertamos com um ônibus para nos levar ate Lilongwe. Ao entrar no velho ônibus estilo escola americana peguei no sono rapidamente. Acordei não muito tempo depois, e nem havia percebido que algumas jovens haviam entrado em alguma parada no caminho. O dia estava amanhecendo e elas cantavam musicas locais, estilo coral. Eu meio confuso pela falta de sono, com o dia nascendo e aquela musica maravilhosa, que durou as próximas horas. Entendi claramente aquela expressao: ” De chorar!”

A entrada em Lilongwe parecia um pós guerra. Muitas pilhas de lixo sendo queimadas, naquela parte antiga da cidade, com uma nevoa,  que apesar de ser crista, possui algumas torres de mesquitas que se destacam ao céu. A estação de ônibus é hilaria. Uma bagunça, nem parece uma capital. Só passamos no caixa eletrônico e já pegamos um ônibus para o Lago Malawi.

rodo

O lago Malawi é o terceiro maior da Africa é o sétimo maior do mundo. Tentaram apelidar de lago calendário, mas não pegou. São 365 milhas de comprimento (dias no ano), por 52 milhas de largura (semanas no ano) e 12 rios que desembocam nele (meses no ano) e e o sétimo maior lago do mundo (dias da semana). Água transparente, no maior clima de praia.

Senga Bay foi nosso primeiro destino, pegamos ônibus + caçamba de caminhonete para chegar la. Acampamos de frente para o lago. Lugar muito tranquilo, bonito e não tinham outros estrangeiros, o que deu um charme ao lugar. O lago era lindo, mas foi o povo que chamou a atenção neste lugar. Todos paravam, conversavam, te levavam para cima e para baixo. Ninguem te pede dinheiro ou algo assim. Te levam para os lugares porque querem companhia, praticar o inglês, receber bem as pessoas.  É difícil de acreditar, pois a região é muito pobre. No início estranhei, pois as vilas de pescadores pareciam favelinhas, mas adorei andar pelas ruelas, me perder sem me preocupar. Um dia compramos algumas coisas no mercado de rua, alugamos uma canoa, e remamos ate uma ilha relativamente próxima para fazer um piquenique lá. Em pouco tempo ja tinhamos muitos amigos, e as criancas nos adoravam. Vinham, andavam de mãos dadas, brincavam. Algumas pequenas choravam ao nos ver. Os Muzungus (homem branco) sao assustadores para elas. Tinha um figura, bêbado conhecido, que é nascido no Moçambique. Ele adorou falar portugues comigo, e falava bem alto que nos dois eramos da mesma tribo. Descobri que na região que ele morava, na província do Niassa, ele era orador, encarregado de fazer os anúncios oficiais. Encontrei ele outras vezes e sempre me diverti. Arrumei um restaurante local que tinha arroz e feijão, e comi quase todas as refeiçoes lá. A proprietaria ficou suuuper feliz, e eu tambem. Comida boa pelo menos 4 vezes mais barata que no camping.  Numa noite tinham algumas casas passando filmes de DVD. Num era musical, no outro era Duro de Matar 2. Incrível!! Esta era minha piada favorita quando morava em Sengés, que os lançamentos na locadora eram Titanic e Duro de matar, e aqui era realidade!!!

Cores...

Cores…

Amigos

Amigos

Um dois, feijao com arros...

Um dois, feijao com arroz…

Costurando o Ziper da Barraca e comendo ovo

Costurando o Ziper da Barraca e comendo ovo

Decidimos ir para Nikata Bay, mais ao norte. A diversão começava.  Uma caçamba de pick up ate Salina (com um freezer novamente), mini ônibus, mais uma caçamba de caminhão e outro microonibus. Numa das viagens tinha um senhor, todo alinhado, de terno e gravata, com um galo na sacola. Pena que este (e muitos outros) momentos não da para tirar foto, pois quebra totalmente o clima, eles te veem com outros olhos.

Difícil de acreditar que não estávamos no litoral. Total clima de praia. O proprio lago formava uma baía que parecia um mar azul esverdeado. Existem alguns morros e chales pendurados entre estes e o lago. Muita gente do mundo inteiro, encalhados no Malawi. Viajantes que chegaram para alguns dias, e acabaram ficando semanas, ou meses. Aqui encontramos alguns insistentes vendedores de artesanato, o que não estávamos acostumados. No final das contas ate fizemos bons negocios com roupas velhas. Nunca pensei que uma camiseta desbotada do Che seria tao disputada. Tem um rasta figura que alem de vender bonitas pinturas, tem um “restaurante”. Na verdade são algumas cadeiras, mesa, num puxadinho atras da barraquinha dele, tudo com um super visual, tochas e velas. Ficamos encalhados ali por uns dias também, nadando, pegando sol,tomando cerveja barata, comendo peixe, de bobeira esperando o barco que ia para o sul. Um dia preparei uma caipirinha, com cachaça mesmo (não, não é brasileira), e fez o maior sucesso. Acabaram tomando 2 litros, no sistema “tubão”, passando de um para o outro. O cara do bar, que lembrava o saudoso Musum, ficou emocionado (era aniversario de 55 anos dele). Um dos dias Fizemos um mergulho bacana. Parecia um aquario com muitos peixinhos coloridos. Um chamou atenção. Quando se sente ameaçado, coloca todos os filhotes na boca para proteger.

Nikata Bay

Nikata Bay

Mercado de rua

Mercado de rua

Vida dura!!!

Vida dura!!!

Rastaman

Rastaman