A Pérola da África

Antes de cruzar a fronteira para a Uganda, atravessamos a linha do Equador. Percebi que já tinha viajado um bocado, pois iniciei bem abaixo do tropico de Capricórnio, além disto, minha viagem estava sendo para o Nordeste e não direto para o norte. Foi uma viagem bem tranquila. Pegamos um ônibus executivo, bem melhor que os da Tanzânia. Tinham so 3 poltronas por fileiras, tipo os nossos ônibus leito, mas as comparações param por aí. A viagem passou super rápido, e fomos apreciando a bonita paisagem.

A Uganda é chamada de Pérola da África, além de diversos outros apelidos. Local onde o turismo tem crescido consideravelmente, mas deve aumentar ainda mais. A estabilidade tem aumentado, mas ainda existem alguns graves problemas na fronteira com o Sudão. Difícil não associarmos a Uganda ao louco do Idi Amim. Para quem não lembra dele, vale ver o filme ” O ultimo rei da Escócia”, o qual fala da historia dele e da Uganda na época. Para se entender um pouco mais, a situação do pais não era melhor antes, e nem ficou melhor nos anos seguintes a esta ditadura. Só perto dos anos 90 que veio a “estabilidade” econômica, mas mesmo assim, o presidente que assumiu, e esta no poder ate hoje, e muito criticado.

Da fronteira seguimos sem paradas para a simpática Jinja. Mais uma daquelas cidades que tentam lançar como meca dos esportes radicais, mas e meio forcado, puro marketing turístico. Uma cidade relativamente pequena, mas com uma boa estrutura. Muitos visitam esta cidade só para fazer Rafting (nivel 5) na  nascente do rio Nilo. Sim uma das nascentes do Nilo, o rio mais longo do mundo, e aqui. O ônibus nos deixou na estrada, pois seguia para a capital, Kampala. Pegamos 2 Boda-Bodas, que nada mais e que uma motocicleta com pequenas adaptações para levar passageiros e bagagem (ta bom, motoboy, hehe), e fomos para um hotel indicado. Não sabíamos que no final de semana em questão estaria acontecendo a maior feira agropecuária do pais, portanto tudo tava lotado. A Bibi ficou cuidando das mochilas enquanto eu dei uma volta para achar algum lugar para ficarmos. Acabei negociando numa mansão, adaptada a hotel, um super quarto. A Bibi ficou bem feliz, e de sobra, a noite teria um casamento muçulmano no jardim, o qual participamos discretamente.

Hotel

Hotel

Casamento

Casamento

No outro dia fomos na tal fonte do rio Nilo, que aparentemente não tem nada de especial, mas tudo mudou, quando sentamos numa pedra, ficamos conversando por horas tomando uma cerveja com o nome de ” Nile Special” ! Íamos passar na feira agropecuária depois, mas já era o ultimo dia e estavam desmontando tudo, alem do mais, como a Bibi e de Chapecó, já ta cansada destas feiras…hehe (não podia perder a piada..!!)

Nile Special!!!!!!! haha

Nile Special!!!!!!! haha

Com o centro compacto, e um ótimo lugar para passear, e existem alguns bons e baratos restaurantes. Ficamos um bom tempo no hotel também, onde fizemos alguns amigos que trabalhavam la. Deu vontade de ficar mais tempo, só por causa das pessoas. Ha, ia esquecendo, quando Gandi morreu, seu corpo foi cremado, e suas cinzas espalhadas por alguns lugares. Parte destas cinzas estão no templo Indu daqui. Alias, alem de templos, tem muito restaurante Indiano (comemos num bem gostoso), e Indianos também. No inicio da década de 70, o Amin tava tao incomodado com os asiáticos, que os expulsou do pais, só com as roupas do corpo. Ele “nacionalizou” o comercio, que grande parte era de Indianos e Chineses.

Pegamos um ônibus para Kampala. Viagem tranquila, nem conversamos muito, ficamos só curtindo o visual. O motorista não nos avisou para descer no local que tínhamos pedido, e acabamos no centrão. Um caos nunca visto antes, impressionante mesmo. E para piorar, não estavam aceitando minha nota, pois tava com um selo raspado. Perdemos um tempinho nesta, mas logo pegamos um daladala para o Hotel que tinham nos recomendado. A Bibi foi indo na frente e minha moto estava lenta. Alguns Km depois, parou completamente. O motorista pediu para eu descer, deitou a moto chacoalhando, e me falou: “Agora chega ate o posto de gasolina”. Claro que no posto ele não tinha dinheiro nem pra colocar combustível. Dizem que não colocam combustível para que a moto/carro não sejam roubados, mas acho que e poque são quebrados mesmo.

Motoboy!!

Motoboy!!

Chegamos no hotel indicado, que era fora do centro. Tinha tentado ligar de Jinja, mas o numero tinha mudado. Resultado, tava lotado. O da frente era bem tranquilo, mas a Bibi não quis ficar porque não tinha banheiro no quarto. Acabamos indo procurar um outro hotel que não encontramos, e seguimos de volta para o centão barulhento. Eu já tava bem irritado nesta hora porque queria ter ficado já no primeiro. Vimos mais um hotel, mas o custo beneficio não parecia ser dos melhores. Para encurtar a historia, dei uma colher de chá pra Bibi, que tava de TPM, e arrumei um hotel melhor (e caro!). Deu tempo de caminhar um pouco pelo caos  desta região ainda antes de dormir.

Kampala...

Kampala…

Dia seguinte fui dar entrada para meu visto da Etiópia, era melhor esperar em Kampala que em Nairóbi sozinho. Vi que a parte de cima da cidade e totalmente diferente, pelo menos para este lado. Poucas quadras do caos do centrão, estão avenidas largas, com arvores floridas. Se afastando ainda mais começam os bairros residenciais, com muitas casas bonitas e algumas mancões. Kampala fica ao longo de sete colinas, portanto tem uma bela vista, e muda muito de uma região para outra. O visto ficaria para o dia seguinte, e voltei para pegar a Bibi e sair a pé pela cidade. Caminhamos bastante, e nos impressionamos com gigantescos pássaros que sobrevoavam a cidade e faziam ninhos nas praças. Como estávamos longe, voltamos de moto, passando pela parte nobre da cidade. Kampala estava surpreendendo bastante. Para fechar o dia, e comemorar que o visto estava encaminhado, fomos jantar num gostoso restaurante Etíope. Restaurante movimentado, comida boa, mas o mais legal foi ver a Bibi comer com as mãos…

Passaros

Pássaros

Nao tem preco!!

Não tem preço!!

Um dia pela manha, começamos a conversar com o garçom, e a conversa se prolongou por horas. Falamos sobre o dia a dia, sobre cultura, e sobre a época do Amin, e claro. Achava que todos odiavam este homem que fez tantas barbaridades, mas descobri que alguns o defendem, dizendo que tem o outro lado da historia…

Bem, o Achi (garçom) foi mais uma daquelas pessoas que nos encantou. Combinamos de nos encontrar depois do expediente dele. Neste tempo saímos para conhecer mais a cidade e buscar o visto que deveria estar pronto. Deveria, mas não estava. Vieram com aquela historia que brasileiros ganham o carimbo quando chegam no aeroporto. Tive que explicar (novamente) que iria por terra, e que nesta fronteira nao davam o visto (eu explicando para o consulado!). Também, porque alguém em sã consciência iria encarar a dura e longa viagem pelo deserto do norte do Kenya/sul da Etiópia? Bem, o problema era meu, e acabaram emitindo o visto na hora mesmo. Ufa!

Tivemos que ligar para o Achi e remarcar para noite. Neste meio tempo corri para conseguir as passagens para Kabale. Inicialmente íamos no ônibus do correio, que diziam que era mais seguro, mas como e pequeno e para o te, pó todo, optamos por ir em um noturno, que vai mais rápido. No horário combinado o Achi apareceu no hotel (que já não era mais o mesmo do primeiro dia, mas acho que não preciso entrar em detalhes,hehe). Saímos para um barzinho, mas estava muito barulhento. Acabamos num bar de um hotel, onde conversamos por algumas horas. O cara e de uma simpatia que não existe, cheio de sonhos, trabalhador, mais uma daquelas historias de vida. Trabalha um monte, e no final do mês ganha USD35. E eu que me achava malandro quando em parte da viagem gastava só USD7 por dia. E o Achi com aquele sorrisão estampado, falando dos seus planos, de seus sonhos. Mesmo com toda a dificuldade, ele se deu ao trabalho de nos trazer lembranças de Uganda. Algumas provavelmente de sua própria casa, outras talvez compradas. Prometemos que tentaríamos ajudar de alguma maneira. Como a vida e dura! E como alguns, mesmo perdendo os pais, trabalhando um monte, não desanimam, nem perdem a vontade de viver.

Achi

Achi

Ele ainda caminhou com a gente ate o hotel, onde arrumamos as coisa, e antes de sair dei a camiseta do Brasil que tinha acabado de ganhar da mãe/Clau. Logo saímos pois já era perto da meia noite, e tínhamos que pegar o ônibus.

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