Nosso loop pelo leste da Africa estava completo e estávamos novamente na Tanzânia. Em Kiswahili existe uma frase que se traduzida literalmente significa “bem vindo novamente”. Em português ou inglês não faz muito sentido, mas aqui faz… Felizmente estávamos de volta neste país fantástico, que possui muito a oferecer do que somente os belos parques do circuito norte dos safáris, Monte Kilimanjaro e Zanzibar.
Kigoma e uma cidade super tranquila, entrada e saída para o Congo, Burundi e não tão distante de Ruanda. Possui um porto onde os navios descem todo o Tanganika até a Zâmbia, e muitos pegam o navio para ir ate o Malawi. Clima de interior, e alem do pequeno porto tem uma ferroviária, de onde e possível pegar um trem que atravessa o pais em 48 horas ate chegar em Dar. Minha ideia inicial era pegar o barco ate Tabora, quase fronteira com a Zâmbia/Malawi e de la pegar um trem. Como a experiencia anterior de barcos da Bibi não foi das melhores, e acabamos nos enrolando no caminho, só teríamos tempo para pegar o trem. Inicialmente pegaríamos um trem “especial” que só tem segunda classe dormitório, e que sairia no dia seguinte. Aqui, homens e mulheres tem que ficar em vagões diferentes, então teria que comprar todas as 6 camas da cabine para podermos ficar juntos. Não sei se comentei, mas a Bibi conseguiu ficar mais, e dia 20 em vez de voar de volta para o Brasil, voaríamos para Madagascar. Antes de confirmar o bilhete do trem, recebi a noticia do aumento das tarifas para Madagascar, e resolvemos esperar ate dia 22 para pegar a passagem com preço reduzido. Gostamos tanto da região que resolvemos ficar mais, e a viagem de Dar para Lushoto (montanhas) seria cancelada. Assim poderíamos explorar melhor o lugar, e pegar o trem antigo, que possui uma primeira classe, só com 2 camas.

Kigoma

Vista do nosso Hotel
A poucos minutos daqui, fica Ujiji. Uma cidade esquecida no tempo, mas que era de muita importância na região antes da construção da ferrovia com estacão em Kigoma. Belas construções, hoje decadentes, com todo aquele povo com cultura Kiswahili. Dificil imaginar que estamos tao longe do mar. Caminhamos pelas pacatas ruas, brincamos com criancas ate chegarmos ao museu no local onde supostamente o Stanley encontrou o Dr Livingstone (lembram que em Burundi afirmam que foi lá). Independente se mas para cima ou mais para baixo do lago Tanganika, a questão e que o Dr Livingstone estava desaparecido. Ele era um missionário Escocês que veio para a Africa pregar o Cristianismo, descobrir novas oportunidades de negocio e acabar com a escravidão. Ele fez diversas expedições, durante vários anos cada uma delas. Ele que “descobriu” a cachoeira de Victoria Falls, por isto a cidade do lado da Zâmbia leva seu nome.

Ujiji

Ujiji 2
Aproveitamos para atualizar o Blog que estava atrasado e nos surpreendemos com uma rápida internet, coisa não muito comum por aqui. Sabendo da velocidade, baixei o programa do skype e em 3 minutos já estava falando com o Clau. No meio da conversa tremeu a velha casa que estávamos. A Bibi me perguntou se era vento, mas antes de eu pensar numa resposta um local afirmou tranquilamente: ” E um terremoto.” Não tive outra reação a não ser rir muito ( de nervoso). O Clau do outro lado do Skype me perguntava se a construção era nova quando eu contei o que acabara de acontecer. Por sorte foi só um tremorzinho rápido…
Arranjei uma tiazinha para lavar as roupas, um restaurante bacana, e o tempo parou enquanto estávamos lá. Unica hora de correria foi para achar o caderninho da Bibi, que ficou na internet e estava fechada quando fomos buscar antes de pegar o trem. Mas ela vai contar com detalhes o empenho que foi.
Tínhamos tempo para pegar o trem, mas as noticias era de que sempre atrasava para chegar e, a viagem em si. O nosso atrasou só umas 5 horas, praticamente pontual para os horários africanos. Ficamos no hotel ate a hora do check in, e a Bibi aproveitou para tomar o seu ultimo banho dos próximos 2 dias, coisa que a estava incomodando muito. Duas horas antes do embarque já estávamos la, com mantimentos e muita água. Tinha falado que nas milhares de paradas daria para comprar tudo que precisássemos, mas a Bibi quis garantir. Deu tempo de fazermos amizade com um casal que estaria numa cabine ao lado da nossa. O inspetor, que ficou meu amigo de tanto eu ir verificar o horário que o trem realmente chegaria, nos acompanhou todo o tempo e fez questão de se despedir só na cabine, antes de trocar fones e emails.
A Bibi gostou da cabine, que apesar de velha, decadente, tinha ate uma pia com água. Ha 60 anos atras deveria ser um super trem!! O vagão ao lado já era o vagão restaurante, mas como não tínhamos como trancar a cabine por fora, só por dentro, fazíamos as refeições la mesmo. Cerveja gelada era uma raridade, só no final da viagem que nos ofereceram. As refeições eram estilo RU, portanto valia mais a pena comprar frutas e coisinhas nas rápidas paradas. Nas paradas mais longas dava para descer, mas nunca se sabia quando o trem ia sair. Para segurança, ficávamos na frente da janela da nossa cabine nestas paradas mais longas. Num determinado lugar, fui comprar uns espetinhos e umas batatas fritas e a Bibi ficou de guarda. O trem começou a se mexer (na verdade no sentido contrario) e eu só vi o trem em movimento com a Bibi correndo desesperadamente para alcançar a porta e me procurando ao mesmo tempo. Sai em disparada, passei ela e me segurei na porta. Com a outra mão a agarrei a Bibi e puxei para dentro no melhor estilo Indiana Jones ( antes dela segurar minha mão teve que jogar uma laranja no chão). Poucos metros depois o trem parou, e os locais riram muito.

Fim de tarde
A paisagem do primeiro dia decepcionou um pouco, pois devido a vegetação não deu para ver muito longe. No segundo dia a paisagem melhorou, mas ainda não foi possível avistar animais selvagens, o que tinham nos falado que poderia ser visto. Passamos por regiões remotas, vilas isoladas cercadas de arvores Boabab, muito legal. O trem, super lento, poderia entediar alguns, mas achei super legal a experiencia. Só de estar ali já era o suficiente. Alias, toda a viagem tem sido assim. Nunca quero estar em algum lugar, sempre onde estou. Só reparo nas datas quando tenho que encontrar alguém. Quer coisa melhor que isto?!

Paisagem
Chegando em Dar (48 hs depois da partida) fomos para dois hotéis, mas estavam lotados. Acabamos ficando no mesmo da chegada da Bibi. Tínhamos algumas atividades do dia a dia para fazer como mercado, confirmar passagem, gravar CD de fotos (…) e aproveitamos para rodar Dar um pouco. Não tinha nenhum guia de Madagascar e resolvi que compraria um. Vi onde estavam as melhores livrarias e partimos para a busca. Pegamos ônibus e atravessamos a cidade ate uma praia, que fica na península norte. La tem um tipo de shopping com muitos restaurantes e a tal livraria. Nao tinha o guia que queria, apesar de ser uma excelente loja. Almoçamos e aproveitamos para conhecer esta região com embaixadas e casas de praia muito bonitas, então valeu o passeio. A Gi (minha irma mais nova) me mandou um guia de Madagascar de Londres ano passado. Com a crise politica deste país no inicio do ano achei que não iria para la. Tinha algumas informações básicas, alem de outras dicas da internet, então depois de alguns dias de bobeira em Dar pegamos o voo para Madagascar.