Kashgaria sempre fez parte da Asia Central. Seu povo e língua são parentes dos seus vizinhos, não tendo nenhuma ligação com a China. Ha uns 60 anos atras a região foi anexada pelos chineses, mais ou menos na mesma época que a China invadiu o Tibet. Mais recentemente o governo passou a criar incentivos para que os chineses se mudassem para la e abrissem negócios (o mesmo que foi feito com o Tibet), visando assim acabar com a identidade do povo de Kashgar, os Uygurs. Urunqui, a capital da região teve toda sua cidade velha destruida. Dezenas de mesquitas foram demolidas, mas os Uygures nao aceitaram esta invasão tao facilmente. Enquanto os chineses queriam seu vasto território desértico, mas cheio de petróleo eles só queriam sua identidade, e vida tranquila que sempre tiveram.
Chegando na imigração chinesa novamente problemas com meu passaporte velho (sem chipe e foto 5×7 tosca), e para terminar, queriam olhar minhas fotos na maquina e por fim abriram meu computador. Ainda não sei se acharam que eu era jornalista ou terrorista. Ao sair da fronteira, negociamos um carro que levava trocentos galoes e mercadorias. Ao comprar agua agradeci em mandarim, para a revolta (com toda a razão !) do dono do estabelecimento. Eu sabia da questão dos Uygurs x Chineses, mas como arrisquei uns comprimentos em mandarim na imigração acabei me confundindo. A estrada, para nossa surpresa, nao era nem um pouco boa. Para ajudar o nosso motorista começou a dar aquelas pescadas. Tentei puxar papo para ele não dormir, mas ele ano aguentou, encostou a caminhonete e deitou na direção Eu me ofereci para dirigir e ele aceitou na hora, indo para o banco traseiro roncar. Dirigi não mais de uma hora e o pneu furou. Depois de trocarmos o pneu, o motorista voltou para o comando. A estrada era longa, e apesar de bonita, nem se comparava com a etapa final do Quirguistão Os últimos quilômetros foram beem cansativos, e depois de algumas paradas, chegamos a uma autopista, e logo a ex- pequena cidade Kashgar.
Todos ficaram muito contentes com o hotel, que era bom, barato e super bem localizado. Outra coisa que foi suuper bem vinda foi a comida!! Nossa, que delicia. Estávamos precisando mudar o cardápio depois da Asia Central!! O pessoal só levou um baita susto com a pimenta, que achávamos que era tomate ao ver o prato.
Estávamos a uma quadra da cidade velha e na nossa primeira caminhada, aquela boa surpresa, lojas de antiguidade, temperos, frutas, alem de cobras e lagartos secos para vender dando todo um clima. Os uygurs super simpáticos puxavam papo e logo chegamos na praça onde tem a antiga mesquita Kha. Logo percebemos uma movimentação de exercito e tropa de choque, que nos assustou um pouco. Depois entendemos a situação, e ate nos acostumamos com as tropas e carros camuflados.
Tínhamos alguns dias ate o final de semana, quando teria o famoso mercado de domingo e o de animais. Kashgar ‘e uma cidade comercial a muuito tempo, uma das principais da rota da seda. Aqui a rota se dividia, e seguia mais a leste para Xiang ou para o sul, sentido India. Rodamos a cidade velha varias vezes. Final de tarde ficava caótica cheia de barraquinhas de comida. Muitas comidas boas, e outras bem diferentes. Mas tudo por uns poucos trocados. Como ‘e Ramadan, as pessoas estavam loucas para pegar comida e fazer sua refeição assim que o sol se por. Muiitas opções de comida, entre fornos fazendo pão na hora e carnes penduradas sem nenhuma refrigeração. Sweet caos!!
Parte da cidade velha esta caindo aos pedaços e parte esta totalmente reconstruída (não reformada). Existem cidades em que toda a cidade velha foi colocada ao chão pelos chineses. Visitamos a parte leste da cidade velha, ainda residencial. Muitas casas tradicionais, corredores estreitos, mas se olhássemos para cima já enxergávamos ruas e prédios modernos ao lado. A forca da China esta chegando com tudo. Poucos locais tradicionais se mantem em pé, mas felizmente mantiveram alguns deles, como a bonita tumba do Abakh Hoja.
A cultura Uygur esta diminuindo cada vez mais, apesar da resistência deles. Eles se recusam a aprender Mandarim, e se rebelam como podem. A dois anos atras teve um inicio de revolução mas que foi duramente esmagado pelos chineses. Muitas perseguições, execuções e mesquitas implodidas.
Interessante como a mídia reage a estes novos protestos que aconteceram poucos dias antes de chegarmos. A maioria das agencia de noticias colocava os Uygurs como extremistas islâmicos treinados no Paquistão e Afeganistão Não estou defendendo a forma que estao protestando, pois houveram mortes e queimaram estabelecimentos, mas sua causa ‘e nobre. Não e fácil conversar com um vendedor na rua e ver seus olhos se encherem de lagrimas ao falar sobre o que sua vida se transformou depois da ocupação chinesa. A China esta colonizando e fazendo as mesmas coisas que os países europeus fizeram nos últimos seculos. Os países ocidentais dizem “amem” para a China por diversos motivos. Pela potencia econômica que e, que empresta dinheiro para o pais mais rico do mundo quando este entra em crise, e para combater o Islamismo, como se este fosse inimigo do ocidente. Vendo tanto exercito, detectores de metal sendo colocados nas portas da mesquita, e áreas sendo isoladas, claro que tentamos encontrar o maior numero de informações Da vontade de rir ao ver o que esta acontecendo e o que a mídia fala. Me surpreendi ao ver uma matéria no Brasil não tendenciosa como as outras. (Clique aqui)
O gigantesco mercado de domingo e um caos. Tem de tudo, mas acabamos não achando coisas que tínhamos visto durante a semana. Nos divertimos negociando, e nos arredores do mercado, numa região não tao turísticas juntou uma pequena multidão para ver a Bibi barganhando uma camisa-vestido,davam opinião na cor, estilo, preço, estava demais.
Pegamos um táxi ate o mercado de animais, mas acabaram nos deixando no lugar errado. Pegamos um trator de volta. Isto, um trator. Kashgar pode estar se modernizando, mas ainda e muuito comum ver pessoas andando de trator nas avenidas, de carroça e de burros. Muitas vezes na contramão sem causar nenhuma estranheza. Chegamos no mercado de animais na metade do dia, e estava quente, muito quente. Já na entrada um caminhão saindo com Yaques (aqueles bois peludos dos Himalaias) se debatendo dentro de caminhões Pessoas colocando ovelhas no porta malas ou amarrando na sua moto. Uns levavam no colo, outros davam chutes nos bichos. Vacas, cavalos, cabras, ovelhas, camelos, yaques, tudo num patio empoeirado, mas bota empoeirado nisto. O lugar parecia congelado no tempo. As pessoas, deitadas na sombra e sem tomar água por causa do Ramadam eram uma atração a parte. Só não imaginávamos demorar tanto para pegar um transporte dali. Ficamos um tempão buscando carona, táxi carroça ou ate um trator. Tudo passava lotado, mas depois de muita insistência deu tudo certo.
Tomamos nossas ultimas cervejinhas, pois sabíamos que teríamos semanas de seca pela frente. Organizamos um transporte e ja cedo pegamos estrada rumo ao sul. Não demorou muito para recebermos a noticia que não poderíamos passar de um check point sem autorização Demos meia volta com menos de uma hora de viagem. Nova informação chegou que poderíamos passar, se falássemos que estávamos indo direto para o Paquistão sem dormir em território chines. Comemoramos e seguimos em frente. Não demorou muito para a Karakoran Highway mostrar a sua cara. O asfalto foi terminando, apesar de muitos operários e maquinas na beira da pista, e as montanhas foram ficando cada vez mais impressionantes.
Ao chegarmos no lago Kara Kul, já sabíamos que iriamos passar a noite la, mesmo contra a vontade das autoridades chinesas, que nestas alturas nem tinham mais controle sobre nos. Procuramos yurts ao norte do lago, e achamos uma família muito simpática Eram Kyrgs, mesmo sua família nunca tendo tido nenhum contato com o Quirguistao. Kyrg ‘e etnia, não nacionalidade! Para nossa surpresa nosso amigo japones Koich, que conhecemos no Quirguistao, tambem estava acampando la. Camelos na beira do lago e montanhas com mais de 7 mil metros davam o clima. Yurt nada turístico dormimos todos juntos, e acordamos cedo com nosso anfitrião rezando e comendo antes do sol nascer (lembram que e ramadan?). Aproveitamos e saímos cedo, por paisagens tao fantásticas quando no dia anterior. Chegamos em Tashkurgan, terra de Tagics e fomos direto ate a imigração onde aguardamos o único ônibus diário por um bom tempo. Fizemos todos os procedimentos de saída do pais, embarcamos no ônibus acompanhados por soldados chineses, que viajaram com a gente por mais algumas horas, teoricamente passando por terra de ninguém mas que esqueceram de avisar os pastores e seus yaques. Os soldados chineses desceram do ônibus e estávamos no Khunjerab pass, a quase 5 mil metros de altitude. Avistamos a primeira bandeira paquistanesa, mas ainda levaria algumas horas (e centenas de curvas) ate chegarmos na imigração do pais.
Gui, fotos incriveis, eu amo ver su forma de ver os lugares e principalmente seus registros das expressões dos povos (os locais)
Ahcom certeza os carinhas nao viram “A” placa…kkk e os “sopranas no taxi” só voce…
se cuidem
bjs
Ah Gui a Bibi tava emocionada pra caramba né?
que lindinhaa…. e que perfil dormindo na janela!!
bjs
Tava sim. Agora os idis se foram, e ela chorou um monte. Logo eles chegam ai.
Bjs
Super legal o post e as fotos, Gui! Tava sentindo falta de novos posts. 🙂
Pai e Mãe chegam amanhã – mal posso esperar. Parece que vai fazer tempo bom no fim de semana e vamos poder aproveitar.
Saudade!
Beijos
Oi Gi, to escrevendo os do Pak agora. Logo tem mais.
Espero que esteja tudo bem em Londres. Vc ta recebendo bastnte visita, ne?!
Beijao,
sds
Olá! Como foi para o processo de visto chinês? Vc pegou no Brasil, fez em algum lugar?
Tou fazendo também uma volta ao mundo e devo ir para a China em alguns meses, E segundo consta, só daria para tirar o visto no Brasil.
Oi Bruno, tudo bem?! Primeiro, parabens pela demissao, acredito que esteja aproveitando como nunca!!!
Tiramos o visto da China no Uzbequistao, pedimos o express e saiu em 5 horas! O normal demorava 3 dias. Esta historia de so poder tirar no Brasil e lenda! No sudeste asiatico, o visto da china sai rapidinho tambem.
Na teorio o pessoal gosta de complcar, mas na pratica tudo e mais facil…
Boa Viagem
Fala Guilherme. Muito bom o seu relato. Parabéns.
Só uma coisa, o link da matéria que você achou que fosse brasileira é na verdade da AFP (Agence France-Presse), ou seja, a matéria foi feita na gringa e traduzida no Brasil.
Estou ansioso pelo post sobre o Pak.
Estou seguindo para East Turkey, em breve entrando no Iraque
Abraço e safe travels
Oi Milton!!
Turquia entao?! Agora acho que tua viagem tomar outro rumo!! Cara, nada conta a Europa (que e bem bacana) mas eu sou um orientalista assumido!!!
Comentei que a materia saiu no Barsil, mas claro que nao seria um reporter da Uol/Folha.Talvez eu deva colocar de uma maneira mais clara.
Ja tirou o visto do Ira?
Sobre o Pak so te digo uma coisa: IMPERDIVEL!!!
Meus cunhados foram embora ontem, e logo sento para escrever algo.
Abracao,
Então, já estou com o visto do Irã, da Índia e do Pak só não saiu em Istambul porque eu não consegui a tempo uma passagem aérea fake pra mostrar pro consul, mas ele ia me dar. Ele não queria que eu fosse overland, disse que com um ticket aéreo ele me daria. Descobri uns sites que forjam tickets, perguntei pro pessoal do LP se eu deveria tentar, uns disseram que sim outros que não e como teve o Ramadã e eles ficaram 5 dias fechados e eu já estava há 15 dias em Istambul, resolvi vazar. Mas vou tentar de novo em Teerã.
To indo pro Iraque semana que vem. Descolei couch em Erbil e parece que vai rolar em Suli também.
Você entrou no Pak por cima, acho que isso conta muito. A entrada pelo Irã parece que é um perreio e tanto. Conversei com viajates e pesquisei e a rota tem que ser Quetta – Lahore e aí de Lahore dá pra ir pra Peshawar e ir mais pro norte. Como eu to indo pra India também, é um backtrack. Não sei como vou solucionar isso.
Bom, aguardo o post do Pak.
Abraço! Safe travels
Legal que ja saiu o do Ira!!!
Pak por cima e mega tranquilo, visto na fronteira. Mas pelo sul nao e nem um bixo de 7 cabecas. Da para pegar um trem e em 2 dias vc ta em Lahore. Bem provavel que mandem escolta. Poucas pessoas consegum sem escolta, mas nao custa tentar…
Islamabad/Rawalpindi ate Gilgit sao 20 hs de onibus. Pode ser empenho, mas vale muuito a pena!!!! Eu cortaria ate um outro pais se fosse o caso.
Que legal que vc conseguiu couch no Iraque. So um me respondeu, e eu acabei nao fazendo. Se bem que nunca sabemos das datas, entao sempre e em cima da hora, o que dificulta um pouco. Em Diabarkir sempre tem uns encontros do CS.
Aproveite por ai!!!
Abracao e boa viagem!
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