República da Geórgia

A Georgia funcionou como hub para eu visitar os países vizinhos e acabei entrando e saindo quatro vezes no país. De certa maneira isto fez com que eu me sentisse meio que intimo, quase em casa por ali. Até o formato todo original das letras do alfabeto georgiano não me eram mais estranhas.

Georgiano

Hã?!

 

Comentei que a região que mais gostei na Geórgia foi Svaneti, que fica no meio das montanhas. Mas tem muitas outras coisas interessantíssimas no país. A capital, Tbilisi, é bonita, interessante e cheia de contrastes. Prédios em blocos soviéticos no seus subúrbios, uma cidade velha que esta sendo restaurada rapidamente no centro, e cercada por construções modernas. Bem no meio da Geórgia, ótimo ponto de apoio para visitar outras atrações. E os turistas sabem disto. Impossível não observar nas ruas vários estrangeiros. No metro sempre tinham vários grupos de jovens com suas mochilas. Se no Brasil a Georgia não é um destino tão popular, os europeus já descobriram…

A cidade velha é um charme. Apesar do grande investimento que fazem no país, ainda é relativamente autentica. Uma parte bem turística, contrasta com casas lindas caindo aos pedaços poucas quadras dali. No meio de tudo isto, dezenas de casas sendo reformadas para se tornarem hotéis, restaurantes e cafés. Tem tudo para se tornar um destino turístico muito popular.

 

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O forte Narikala fica no topo de Tbilisi, onde é possível chegar de teleférico e ter uma ótima vista da cidade. Um pouco mais para o lado tem um funicular. Diversas pontes, de diversos estilos, atravessam o rio Mtkavari que corta a cidade. O palácio presidencial e a catedral Sameba também tem seu destaque em Tbilisi.

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Carros modernos nas ruas e jovens que baixíssimos salários. Cafés descolados na rua Rustaveli e mulheres tradicionais nas igrejas. Tudo parece um verdadeiro conflito de ideias e ideais.

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Mulheres cobrem a cabeça para entrar nas Igrejas Ortodoxas

Bem perto de Tbilisi fica a antiga capital do “Reino da Ibéria”, Mtskheta. Pequena, charmosa com suas ruas de pedra, é um lugar muito agradável e bonito para se visitar. Lugar sagrado para a Igreja Ortodoxa, é onde a Sta Nino (que saiu da Capadócia) teria convertido o Rei Mirian III no início do seculo 4. Logo após a conversão, o Rei Miriam III tornou o cristianismo a religião oficial de toda a região.

 

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O cristianismo está diretamente ligado com a cultura e a história da Geórgia. Muitos dos atrativos da região tem relação com a religião. Pegamos um microonibus até a região desértica de Kakheti, bem perto da fronteira com a Azerbaijão. Lá está o Monastério David Gareja, ativo até hoje, que possui um complexo de centenas de células monásticas em cavernas. Na verdade parte do complexo deste monastério está em terras azeris, o que gera uma disputa territorial até hoje. Simpáticos soldados azeris controlam a linha da divisa para que nenhum maluco saia caminhando deserto a dentro.

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Quando comentei em outro post que subi a Military Highway sentido Kazbegi e Ossétia do Norte, acabei não colocando nenhuma foto do caminho.  O forte Ananuri e suas duas igrejas são só mais um na lista dos monumentos da Geórgia que fazem parte do patrimônio da Unesco.

Ananuri

Ananuri

 

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Painel com ótima vista na beira na Military Highway

Num lugar tão único e interessante como a Geórgia, não poderia faltar uma boa comida tipica!

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Gostei muito da Geórgia. Belezas naturais, cultura fortíssima, história, povo simpático e bons preços. Tipo do lugar que agrada os mais diversos estilos de viajantes. A Bibi já tinha muita vontade de ir para lá, e depois que contei algumas histórias para ela, tive a certeza de que vou voltar! O legal é que existem diversas opções de destinos. Eu adorei a região de montanhas de Svaneti, mas ainda existe Mutso, Shatili e Tusheti. Se conheci David Gareja, tem as cavernas monásticas de Vardzia, e assim por diante. Posso voltar e fazer uma viagem completamente diferente desta, mas não me incomodaria nem um pouco repetir alguns lugares tão legais 😉

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Terra Santa, terra de disputas e guerras.

Israel/Palestina, estão sempre nas noticias sobre disputas religiosas e territoriais. A terra santa e disputada a seculos. Algumas cidades da região são habitadas a 6,8 mil anos, onde muita historia se passou. Muitos povos e religiões diferentes alternaram o domínio da região, dependendo do período histórico. Ate houveram alguns períodos onde se viviam lado a lado sem problemas, mas o mais comum foram as disputas. Jerusalém e sagrada para Judeus (terra prometida, onde foi erguido o templo de Salomão, do qual resta o muro das lamentações), Cristãos (onde Cristo foi crucificado e ressuscitou) e Muçulmanos (terceira cidade mais sagrada para os muçulmanos, depois de Mecca e Medina. Foi aqui que Maomé subiu aos céus para falar com Alah num sonho).

Pegamos um táxi para a fronteira com Israel/Palestina com aquela apreensão, e a certeza de que se tudo desse certo, teríamos que no minimo ficar algumas horas ali. Acabamos tendo que esperar mais tempo do lado da Jordânia que em Israel/Palestina. Chegamos junto com dezenas de palestinos, e fomos nos posicionando para despachar a bagagem que seria vistoriada, passamos por raios-x e tivemos o passaporte verificado algumas vezes. Quando toda a previsão parecia se concretizar pegamos uma fila de não mais que 3, 4 pessoas e nos apresentamos na imigração. Foi rapidíssimo! Não se importaram quando respondi que não tinha hotel reservado nem passagem de volta. Comentei que iriamos ate a Turquia passando pela Síria (a Bibi ainda lembrou do Líbano, sem causar nem uma mudança no tratamento) e a simpaticíssima agente da imigração ofereceu para carimbar a entrada num papel separado. Eu e a Bibi só nos olhamos tipo: “ta bom, tão fácil assim!?!” Dali até Jerusalém foi rapidinho, passando pelas auto-estradas que cruzam o território da Cisjordânia (mas que palestinos não podem usar).
O primeiro contato com a cidade também nos surpreendeu. A estrutura física da cidade antiga e bem mais legal que eu imaginava, porem a banalização e comercio turístico muito pior. Jerusalém era quase uma unanimidade entre as pessoas que encontrava na estrada. Só um amigo meu brasileiro que não gostou muito, todos amavam, falavam que era um lugar único e da forte energia do lugar…
Os preços também assustaram, mesmo sabendo que seriam caros. Opção barata só dormindo em colchoes nos terraços. Quarto com banheiro uma fortuna, e a qualidade ainda não era boa. Deu saudades dos hotéis da Índia!!! Os primeiros dias foram calmos, para reconhecer o lugar mesmo. Nada de ir ate alguma atracão especifica. Circulávamos meio que sem destino e elas iam aparecendo. Se bem que as ruas estreitas, portões, arquitetura desta cidade já são uma grande atracão. Pena estar poluída com camisetas da coca-cola escrito em hebreu, alem de outras quinquilharias que turista gosta. Fico imaginando se fossem só lojas de frutas e legumes, artigos religiosos, temperos…
Teve um dia que fomos tomar café da manha cedo e conhecemos um novaiorquino que esta fazendo um filme independente. Iniciamos assunto de religiões (ele e de origem judia, mas hoje ateu), e logo surgiu um alemão louco. Não ele não era louco, era doido varrido! Aplicava suas teses matemáticas para explicar tudo, mas tinha um bom conhecimento geral. Passamos por diversos tópicos, mas quando o assunto se voltou para família, o choro do novaiorquino frustrado foi grande. Sei que quando fomos ver já eram umas três e meia da tarde!!! Como sabíamos que iriamos voltar para Jerusalém, fomos bem com calma, experienciando o local. Claro que fomos na igreja do Santo Sepulcro, no muro das lamentações e outros pontos famosos, mas gastamos muito tempo andando para cima e para baixo e conversando com o pessoal.

Bairro Judeu

 

Ruas da cidade velha

 

mercados

Depois de um certa chantagem emocional de que não ia mais voltar para o Brasil, consegui que a mãe e o Clau viessem me visitar novamente!! Claro que eles adoram viajar, mas em cima da hora não e tão fácil. Tinha falado para nos encontrarmos na Síria, mas o feriado de corpus cristi emendado foi a solução que acharam. Desta vez deu certo da Mara, minha sogra vir junto! Não, não achei ruim tá!!! Minha sogra e gente boa!!
Israel/Palestina é pequeno, então para chegar a Tel Aviv foi rapidinho. Ficamos num hostel na Bem Yehuda, a duas quadras da praia. Curtimos o sol e o mar mediterrâneo um dia, mas depois o tempo virou e deu uma esfriada. Demos uma rodada pela cidade, que nada tem a ver com Jerusalém. Ela e moderna, descolada, tá mais para americana com influencia europeia que para oriente médio. Isto pode ser um elogio ou uma critica, dependendo do gosto de cada um. Uma cidade nova, mas com muitos prédios com cara de não cuidados. Na parte yemenita da cidade (lembram do post que contei sobre os judeus yemenitas?), perto do carmel market, é a unica região onde de longe lembra o oriente médio. Muito mais fácil e encontrar clubes tocando musica eletrônica, cafés descolados e lojas de decoração. Na praia que seria longa e reta, criaram molhes paralelos a areia, o que fez com que se criassem diversas praias. Muitos jovens, pessoal praticando esportes. Em uma parte cercada, no canto da praia, esta marcado numa placa os dias que homens e os dias que mulheres podem frequentar, contradizendo tudo que esta ao redor. No período do Shabbat (por de sol de sexta até por de sol de sábado), dia sagrado para os judeus, tem muita gente festando e bebendo em Tel Aviv. Não estou falando como errado, apenas apontando a diferença entre Tel Aviv e Jerusalém (e não que o inverso não aconteça, mas são proporções muito menores). No Brasil se festa e se bebe em qualquer feriado sagrado, mas o Brasil não e parâmetro…

Beira mar em Tel Aviv

Com a chegada da mãe, Clau e Mara, o estilo da viagem mudou um pouco. Eles tinham 9 dias para aproveitar ao máximo. Demos umas caminhadas, matamos a saudades, atualizamos um pouco os assuntos no dia que chegaram e já no dia seguinte alugamos um carro para sair por ai. Passamos pelo bairro bíblico de Jope, e depois pelo museu de design, que estava fechado, mas o prédio em si já valeu. As estradas são excelentes, e logo estávamos em Cesareia, ruínas de uma cidade romana que já foi a capital de controle nas terras palestinas. Dentre as ruínas, chamou a atenção o hipódromo bem de frente para o mar. Que vidinha que eles tinham! Passamos pelas colinas de Carmel até chegar em Haifa, onde tem um bonito jardim Bahari (religião persa). Estava tudo fechado por causa do Shabbat, mas dizem ser a cidade com melhor convivência entre os povos/religiões. Um pouco mais para o norte esta Akko, também na beira do Mar Mediterrâneo. A parte velha da cidade e muçulmana, e estava aquela bagunça, cheia de vida. Mercados, mesquitas, igreja, ruas medievais. Tinham muitas bandeiras do Brasil por todos os lados, mas uma casa se destacava. Fomos ver se não era nenhum brasileiro que morava la, mas eram só os locais se preparando para a Copa!!! Aposto que esta região ta mais enfeitada que muitos lugares do Brasil. De la uma esticada ate Tiberíades, onde ficamos numa pousada muito gostosa, afastada da cidade.

Joppe

 

Cesaria

 

Haifa

 

Akko

 

O Brasil em alta por aqui!!

Tiberíades fica na região da Galileia, e usamos de base para explorar vários locais bíblicos. Alias, não precisávamos de guia, já que em cada lugar que íamos abríamos a Bíblia e liamos a passagem que ocorreu na região. Para se seguir os caminhos bíblicos, tem que se ter consciência que nem todos os pontos indicados são originais, mas isto pouco importa, importa o que se passou e a mensagem que ficou. Porem, isto não parece ser percebido pela maioria (inclusive muuuitos grupos brasileiros que vimos), pois descem do ônibus, tiram trocentas fotos no pouco tempo que ficam no local e vão embora. Pouco importa se a igreja construída na região esta no exato local ou algumas dezenas de metros do ponto onde realmente ocorreu algo importante. Sendo cristão ou não, e impossível negar o Jesus histórico, que viveu nesta região. Depois de tanto tempo viajando por islamismo, budismo, janeísmo, sikhismo, hinduísmo, e tantas outras, foi bom chegar no berço do cristianismo.
Foram muitos locais como Igreja do Primado; Cafarnaum; Migdal; Monte das Bem Aventuranças; Nazaré e a Igreja da Anunciação; Canaã; Monte Tabor e a Igreja da Transfiguração; Rio Jordão…
Aproveitamos também para conhecer Tsafat, cidade judaica ortodoxa, conhecida pela parte do misticismo judaico, como a Cabala, por exemplo. Passeamos pela rua principal, que fica em cima das colinas (com ótima vista), e ficamos vendo as roupas, cabelos e estilo dos moradores. Nos chamou a atenção a quantidade de crianças/bebes, se confirmando o que meu amigo israelense secular havia falado sobre a taxa de natalidade entre os judeus ortodoxos.

\”Mar\” da Galileia

 

Barco da epoca de Cristo encontrado

 

Cidade Ortodoxa, centro do misticismo judaico

Bibi no rio Jordao

Comemos muito bem na pousada e o casal proprietário fazia questão de cuidar de detalhes. Antes de sairmos sempre perguntavam se tínhamos passado protetor, se tínhamos boné e avisavam para tomar muita água!!! Nos alertaram que Nazaré era “meio complicado”, para deixarmos carro em estacionamento (não vimos nada de mais), e para que não nos preocupássemos ao seguir sentido sul pela Cisjordânia, pois a auto-estrada era só para Israelenses Judeus (carros com placa amarela) e que os postos de gasolina eram de Judeus e não de palestinos (que preconceituosa!).
Atravessamos a Cisjordânia sem ver muito da região, pois os check-points e barreiras são colocados em lugares estratégicos para isto. Durante quilômetros viajamos ao lado de cercas elétricas. Voltamos a território Israelense perto do Mar Morto e seguimos ao sul ate chegar em Massada. E uma região bem desértica, com cânions e ruínas de uma grande fortaleza no topo. Na revolta dos Judeus no seculo I, eles tomaram a fortaleza dos Romanos e se defenderam como puderam. Quando viram que estavam sem saída, e que a fortaleza seria invadida, cometeram suicídio em massa. Cerca de mil pessoas morreram. No final eram 10 judeus matando o pequeno numero remanescente, e o ultimo matando os nove colegas antes de se suicidar. O local foi declarado patrimônio da Unesco e e de grande importância para os Judeus. La encontramos um simpático israelense fã de Formula 1 (Senna e Piquet) e futebol. Sabia detalhar ultrapassagens, detalhes de GP de F1, alem da escalação do time brasileiro de 70. Ficamos brincando que ele era parente da jovem oficial da imigração. Esta piada virou muito comum. Sempre que achávamos um israelense simpático falávamos que eram parentes dela, que deveriam ser da mesma família. Esta piada foi porque, na nossa experiencia, normalmente não são nem um pouco simpáticos.
De Masada ate uma praia no Mar Morto foi rapidinho. Tentamos um resort particular mas achamos que não valia a pena. Achamos uma publica que tinha toda a estrutura de chuveiros e ate vestiários, que cumpriu super bem o papel. Enquanto o pessoal foi se trocar eu já fui nadar, ops, boiar. O Mar Morto e o local mais baixo da terra, a 416 metros abaixo do nível do mar. Ele e tao salgado que o empuxo faz você boiar. Muito divertido!! Da para ver pedaços de pedras de sal. O gosto da água e horrível, e se for nos olhos você terá problemas.

Boiando no mar morto

Ficamos até o final da tarde, e quando estávamos quase saindo sentido Jerusalém, 4 jatos de guerra passaram voando super baixo, fazendo aquele barulho, e nos lembrando que estávamos em área onde a segurança pode mudar de uma hora para a outra. Poucos dias antes um navio de ajuda humanitária a Gaza tinha sido interceptado em águas internacionais, e os israelenses mataram alguns dos tripulantes.
Os dias em Jerusalém foram muito proveitosos, apesar de corridos. Fomos no Monte das Oliveiras onde tem a Igreja da Acensão (onde Jesus subiu aos céus); Igreja do Pai Nosso (com a oração escrita em 234 línguas); Basílica da Agonia; tumba da Virgem Maria, Igreja onde Jesus chorou (sempre lendo os trechos da bíblia referentes ao local).
No monte Sião, a Igreja da Negação; Igreja da Dominação, tumba do rei Davi, e o local da Santa Ceia. Levamos o pessoal pelas ruas da cidade velha, e já tínhamos ate os caminhos na cabeça de tanto que rodamos por ali. Fomos novamente ao Muro das Lamentações, e andamos pelos bairros Judeu, Cristão, Armênio e Muçulmano. Nosso hotel e antigo, mas muito bacana. Bati altos papos com o dono que fazia questão de sempre vir me cumprimentar.

Pai Nosso em Kiswahili


Cidade armada

Muro das lamentacoes

Fomos a Belém, que fica na Cisjordânia, e pudemos ver a realidade do povo palestino mais de perto. Sabíamos do muro que Israel esta quase terminando, mas de perto foi chocante. Passamos pelos corredores de grades, controles de passaporte, arames farpados ate estar em território palestino. Do outro lado do muro não tem as flores plantadas para mascarar a situação, e sim protestos em grafites na parede. Foi chocante, muito mais que imaginávamos.
Visitamos um Monastério Cristão Ortodoxo mais afastado e deu para conhecer a parte fora da cidade, que é um deserto. Muito bonito, no meio de um cânion. Tentava conversar com o motorista para entender um pouco mais a situação, mas não consegui tanta informação quanto queria. Fomos no campo dos pastores perto de Bet Sahur, onde anjos avisaram sobre o nascimento de Jesus (Lucas 2:8-21). Em Belém estivemos na Basílica da Natividade, local onde Jesus teria nascido. Igreja bem grande, e com todos os tipos de fieis, sendo que grande parte era de russos.
A cidade árabe crista-muçulmana é acolhedora, e conseguimos um pouco mais de informações sobre a palestina antes de retornarmos. Mais uma passagem pelo vergonhoso muro, corredores de grade até pegar a lotação do outro lado e voltar para Jerusalém. Tínhamos visto controles de documentos em um dos portões da cidade velha, que agora com o muro, entendemos a comparação que fazem com o Apartaid sul-africano.
Vergonha!

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Em Jerusalém fizemos a procissão com os freis franciscanos pela via crucis, passando pelas diversas estacoes. Chamou atenção a estacão 4, onde diz na Bíblia, Jesus encontrou sua mãe. Neste local a procissão encontrou um grupo de jovens soldados altamente armados, e ao mesmo tempo ocorria o chamado das mesquitas. Dava para sentir a diversidade da cidade. A procissão terminou na Igreja do Santo Sepulcro, onde Jesus foi crucificado e ressuscitou. A igreja e meio sombria, e seu controle e disputado entre Católicos Apostólicos Romanos, Gregos Ortodoxos, Ortodoxos Etíopes, Armênios, Ortodoxos Sírios e Maronitas.

ortodoxos

Fomos também ao Monte Moria, onde andamos pela gigantesca plataforma de pedra onde já esteve erguido o templo de Salomão. Não consegui entrar na Mesquita do Domo da Rocha, que e só para muçulmanos. Depois que a mãe, Clau, Bibi e Mara saíram ainda tentei insistir com segurança, falar com pessoas, mas não teve jeito. Dentro da mesquita tem a rocha onde Abraão ia sacrificar seu filho Isaac, a pedido de Deus. Foi ali também que Maomé teria subido aos céus para encontrar com Alah em um sonho. Para os Judeus esta é a pedra fundamental do mundo, e tudo teria acontecido a partir dali.

Vista panoramica de Jerusalem

 

foto daqui, foto dali

 

Domo da Rocha

Eu e a Bibi fomos convidados para jantar na casa de uma família ortodoxa judia através do couchsurfing. Foi muito bom para ver a cultura de dentro, e obter mais informações alem de tirar duvidas. A Bibi e meio azarada com o couchsurfing, e apesar dos 3 amigos convidados do casal serem gente boa, o anfitrião era pra la de esquisito. Se bem que ela não pode reclamar, pois ela e um para raio de loucos durante a viagem. Aparece cada um…Loucuras a parte, foi bom ver todo o ritual do Shabbat, ler o Torah, escutar os cantos e descobrir mais sobre esta complicada e regrada religião.
Ainda fomos em museus, como o Israel Museum para ver os pergaminhos do mar morto, museu do holocausto e teve ate dia para descansar, rodar a cidade e ir a restaurantes gostosos. Da para acreditar? Falei que o ritmo tinha mudado com a chegada deles!! Mas quando saíram ficamos meio de ressaca de saudades. Tiramos um dia para descansar e nos outros dias fomos para mais alguns lugares que ficaram faltando, como o museu das terras bíblicas, nova Jerusalém (onde pudemos conviver mais um pouco com a antipatia de muitos) e Jerusalém Oriental, parte palestina da cidade.
Fiquei surpreso e feliz quando fui pagar o hotel. Já tinha negociado um desconto, e o dono palestino deu um outro desconto ainda maior que eu pedi. No caminho para a fronteira da Jordânia pararam para revistar o carro. Perguntaram até se estávamos armados, mas só era rotina. A saída foi super rápida, e carimbaram em outro papel separado. Estávamos entrando na Jordânia, mas a cabeça já estava na Síria.

soldado israelense observando o muro das lamentacoes

Monoteístas, mas o meu Deus e melhor que o teu!

Em 2005, tive contato pela primeira vez com o Islamismo. Fiquei horas conversando, trocando informações com um muçulmano na mesquita Jama Masjid. Ao retornar ao Brasil tentei dividir algumas coisas com um amigo Protestante, que foi categórico em dizer que eu queimaria no inferno por estar afirmando que Alah era o mesmo Deus que o dos Cristãos.
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo são as 3 grandes religiões monoteístas do mundo. Todas elas possuem seus livros sagrados, mas o Velho Testamento e sagrado para as três. Existem muito mais similaridades entre elas. O Islamismo, por ser a mais recente acaba “aceitando” as outras duas um pouco melhor, enquanto o Cristianismo acredito “aceitar” o antecessor Judaísmo, e este exclui as outras duas. Fácil de entender se observarmos a cronologia delas, e que de certa forma vieram como reformas de religiões já existentes. Mas pergunte para qualquer estudioso sobre a base delas, e todas terão um ponto em comum: O mesmo Deus, o Deus de Abrão, Noé, Moises…
Quando se chama Deus ou “God” não e a mesma coisa? Sim, pois só a língua esta mudando. O mesmo se passa com Alah, que significa um Deus Único. Esta escrito no Al Corão, que todos os povos dos livros sagrados devem ser respeitados, não podem ser escravizados ou perseguidos… Alguém pode contestar, falar sobre as guerras dos muçulmanos com os Judeus, por exemplo, mas vamos lembrar que guerras entre católicos e protestante já mataram muita gente, mesmo “não matar” sendo um dos Dez Mandamentos.
Os Judeus eram o “Povo Eleito”, povo escolhido por Deus e tinham o caminho para a salvação. Dai veio Jesus, para as “ovelhas desgarradas de Israel”, para os Judeus que não tinham mais contato com Deus, alem de qualquer outra pessoa que necessitasse de Deus mas não fosse Judeus, já que o Judaísmo restringe, pois praticamente não existe conversão. Centenas de anos depois veio o Islamismo, inicialmente para converter os Árabes, que eram um povo barba-o e politeísta. As mudanças na região foram gigantescas, e o Islamismo passou a crescer entre os não Árabes também.
Teoricamente os Judeus e Muçulmanos originais (não convertidos) são parentes, pois descendem de Abraão. O Islamismo, por ser mais novo que as outras duas religiões, acabou absorvendo alguns aspectos destas. A não exposição do corpo das mulheres e as comidas proibidas são um exemplo. Em conversa com um israelense judeu secular, professor de historia em Tel Aviv, ele me afirmou que Judeus Ortodoxos estavam mais próximos de muçulmanos do que da comunidade que ele convivia. Acho que já escrevi aqui em post passados, mas cristãos da Igreja Ortodoxa Etíope aceitam casamentos interfamiliares com muçulmanos mais do que com evangélicos. A forma de venerar e de chegar a Deus são diferentes, mas a base de Judaísmo, Cristianismo e Islamismo é a mesma, pois tem o mesmo Deus!
O Cristianismo se difere das outras duas por ter uma imagem, a de Jesus. Tanto o Judaísmo e o Islamismo não aceitam imagens. Um motorista de ônibus me afirmava numa discussão que tivemos: “Filho de Deus? Claro, assim como todos nos. Tudo tem o dedo de Deus. Jesus foi só mais um dos profetas…”
O Anjo Gabriel, que aparece no Novo Testamento, foi quem ajudou a passar as palavras de Deus para o Profeta Maomé, para que este escrevesse o Corão. Os domos das mesquitas só apareceram centenas de anos depois do inicio do Islamismo, quando estes tiveram contato com as Igrejas Sírias (na verdade o “prédio” de igrejas e mesquitas se alternavam dependendo da religião de quem dominava o local). O mesmo aconteceu com as torres. Já as roupas das freiras cristas foram baseadas na vestimenta muçulmana, observadas em Jerusalém. São Francisco de Assis, em visita a território islâmico, conheceu o chamado das mesquitas cinco vezes ao dia, e introduziu os sinos que tocariam na igreja Católica algumas vezes ao dia também…
Deus encontrou uma forma unica e simples para falar com cada povo, mas novamente vem o Homem e complica. Não só o homem, mas a politica e o dinheiro. As Cruzadas, que teoricamente eram em nome de Deus, na verdade eram politicas e territoriais. Ao chegarem em Jerusalém, massacraram muçulmanos, judeus e inclusive cristãos habitantes da região. Jihad? Também não passa de uma grotesca ma interpretação das palavras de Deus. Em Jerusalém facções de Igrejas Cristas disputam igrejas e terras, inclusive com acusações de incêndios criminosos, enquanto cristãos e muçulmanos convivem pacificamente do outro lado do muro na Cisjordânia (Palestina).
As religiões não deveriam ser consideradas em guerra com outros objetivos. Só servem para mascarar a situação…
Politica, influencia, dinheiro fazem com que se esqueçam do principio dos seus livros sagrados, seja ele qual for. Estes hipócritas terão muito tempo para brigar, discutir suas diferenças, pois estarão no mesmo lugar, e não sera no paraíso!

Judeus no muro da lamentacao-Jerusalem

 

Igreja da transfiguracao, no Monte Tabor-Galileia

 

Mesquita do domo da rocha, no monte Moria-Jerusalem

Les Milles Colines

Na imigração de Ruanda conhecemos 2 casais da África do sul que estavam indo sentido Uganda e trocamos algumas dicas de viagem. O oficial da Ruanda me questionou sobre  eu ter alguma carta convite, para que ele pudesse emitir o visto. Já sabia que eles perguntavam isto as vezes, pois outros viajantes tinham me alertado, e prontamente respondi que tinha passado no consulado em Kampala e que me falaram que para brasileiros não precisava (nem tinha passado). O visto saiu rapidinho… Pegamos uma van até Ruhengeri, cidade que fica próxima da entrada do Parc des Vulcans (assistam o filme   ” Gorilas in the Mist”). A chegada em Ruanda foi um choque. Depois de tantas estradas esburacadas, um asfalto que parecia um tapete. Ha, aqui eles dirigem como no Brasil, não na mão inglesa como em todos os países da África que passei até agora. O estranho e que tem carros com a direção do lado direito e outros do lado esquerdo. A passagem custava 400, mas o cobrador tentou me vender por 1000 pra ver se eu comprava…

Depois deste simples Daladala (van) nos surpreendemos com o mini ônibus que nos levaria ate Gisenyi. Um ônibus limpo, novo, até com filmes de DVD numa tela plana que descia  do teto. Viajamos primeiro lateral a aquelas montanhas e vulcos e depois passamos a contornar as milhares de colinas da Ruanda. Que paisagem fantástica!!! Triste era ver que em todas as cidades, por menores que fossem, tinham placas sobre os memoriais do genocídio (comentarei em outro post). A chegada em Gisenyi foi linda, vinhamos descendo ate visualizar o lago Kivu. Gisenyi e a cidade balneário de Ruanda, onde os ruandeses ricos passam suas ferias. Existem alguns grandes hotéis, alem de outros menores e descolados. Descemos na parada final do ônibus e caminhamos algumas quadras ate o lago para se localizar. Na parte alta da cidade fica a muvuca, mercados, bagunça e perto do lago os hotéis e casarões coloniais. Decidimos pegar umas motos para ir 7 km ao sul, onde estava o hotel indicado pelos sul-africanos que encontramos na fronteira. Para chegar la, contornamos montanhas com uma vista super bonita, e passamos por barreiras do exercito. Hotel bacana, de frente para o lago, numa parte mais recortada do lago. Chales que lembravam os Bungalows que sempre ficamos na Praia do Rosa (lado esquerdo da entrada da Verde Rosa). Curtimos uma praia, e o lugar. Tinham umas pedras onde vimos o por de sol, e ao virarmos para voltar, vimos a lua cheia saindo de trás das colinas. Parecia encomendado.

Cafe no lago Kivu

Cafe no lago Kivu

Lua no Lago kivu

Lua no Lago kivu

Praia 1

Praia

Dia seguinte tomamos um cafe no florido jardim e saímos com bagagens de volta para a cidade. Não tinha vaga para mais dias e o preco era bem salgado. Alias, Ruanda e mais estruturada, mas bem mais cara que seus vizinhos próximos. Não achávamos transporte para a cidade e acabamos dividindo um táxi com um casal de belgas. Nos mudamos para o albergue da igreja presbiteriana, onde tem quartos para casal, com banheiro limpo, além de restaurante. Engatamos num papo com os Belgas e decidimos almoçar juntos. Ele cuida da cinemateca de Bruxelas e ela e professora. Ele conhecia muitos filmes brasileiros e já bateu um papo com o Walter Salles. Andávamos pelas ruas quando fomos parados por soldados. Perguntaram onde íamos, pois o presidente estava no hotel ali ao lado. Achamos um bom restaurante com uma super vista para o lago, onde comemos bem e tomamos uma deliciosa cerveja local (herança da colonização Belga). O casal voltou para o hotel que estavam e nos passeamos pela larga avenida com palmeiras na beira do lago.

Praia Gysenyi

Praia Gysenyi

Gostamos do lugar e resolvemos ficar um dia a mais (sempre acontece isto). Como não estávamos prevendo ficar mais um dia, e era sexta, claro que já tava tudo reservado. Arrumamos as coisas e mudamos para outra pousada. Uma pena, pois foi uma delicia acordar com o coral da Igreja. Na nova pousada os quartos eram ao redor de um jardim/restaurante, aparentemente ok, mas o banheiro era ruinzinho…

Passeamos mais pela cidade, que na verdade achávamos que era um pouco maior. Andamos ate a fronteira com o Congo e só não fomos ate o outro lado pelos altos custos dos vistos e falta de tempo. Caminhões do exercito passavam por nos toda hora, assim como bonitas caminhonetes de estrangeiros que trabalham no país. Fomos até o principal hotel da cidade, onde sentamos para tomar uma cerveja e curtir uma praia. Este hotel foi utilizado pelo governo interino de Ruanda durante o genocídio, estrategicamente escolhido devido a fronteira com o Congo.

Congo, logo ali..

Congo, logo ali..

O bom da Ruanda e que fora as estradas serem muito boas, as distancias são sempre pequenas. O pais e muito pequeno. Pegamos outro excelente ônibus sentido Kigali. Viagem passou rápido, e nem consegui prestar atenção no filme devido a paisagem que tinha do outro lado da janela. Chegando em Kigali nos surpreendemos novamente. Que cidade bacana, foi a melhor  primeira impressão de todas as capitais que passamos. Saímos a pé para ir ate o hotel indicado, e ao pedir informação para um tanzaniano na rua, ganhamos uma companhia, pois ele também buscava outro hotel. Achamos nosso hotel, bom, com internet liberada e tudo, mas meio carinho. Largamos as coisas e saímos para conhecer a cidade. Passamos pelo centrão, e por um shopping, onde a Bibi matou a vontade de comer pizza. Fomos ate o hotel Les mile collines, onde se passou a historia do ” Hotel Ruanda”. Alias, tenho citado alguns filmes, acho que vou criar um poste só com eles. Difícil imaginar toda aquela desgraça acontecendo aqui.  Claro que o pior aconteceu nas pequenas cidades e vilas da região rural, mas em Kigali o massacre foi grande. A diferença e que aqui a identificação dos Tutsis era mais difícil, enquanto nos povoados menores todos sabem quem e quem.

Kigali

Kigali

No dia seguinte fomos no memorial do genocídio de Kigali. Super estruturado, moderno, com áudio visual e muitas informações. Mostra toda a historia de Ruanda ate o genocídio e a recuperação do pais. Te faz passar mal todas aquelas informações detalhadas sobre a crueldade que tudo foi executado. Existe um andar dedicado a outros genocídios que aconteceram no mundo, alem de salas com fotografias de vitimas de Ruanda. Como o atual presidente (Paul Kagame) era líder da guerrilha Tutsi que tomou o poder depois do genocídio, achei os textos um pouco tendenciosos. Uma pena para quem vai lá sem ter informações mais profundas sobre o assunto, pois fica tendo uma ótica unilateral. Apesar de informações tendenciosas no memorial, o presidente tem feito um excelente trabalho. E um cara radical, totalmente conta a corrupção, e tem construído uma Ruanda para todos, independente de se Tutsi, Hutu ou Twas. Lemos tudo, linha por linha, sem pular nem uma das informações disponíveis. No mesmo local estão enterrados milhares de vitimas deste genocídio. Andamos de volta para a cidade (tínhamos ido de moto) e rodamos mais um pouco, antes de voltar para o albergue da Igreja católica, para onde havíamos nos mudado pela manhã. Tinha todas as vantagens dos albergues de igrejas, mas com o defeito que no tem banheiro no quarto (hi, quebrei um dos acordos com a Bibi!!).

Memorial

Memorial

Não comentei, mas aqui alem da língua local, se fala francês, devido a colonização belga. Foi divertido a comunicação. Em 2006 trabalhei com engenheiros franceses para desenvolver um produto, fiz algumas aulas particulares na Aliança, pois depois quase fui morara na Franca. Vi que não adiantou quase nada, pois o pouco que sabia, esqueci. Mas me comunicava, e era ate divertido. Eles falam um pouco de Kiswahili também, portanto fazia uma mistureba das línguas e dava tudo certo!!

Num outro dia fomos ate Nyamata, onde aconteceu um massacre terrível em uma igreja. Pra chegar la só de daladala, daqueles podrões. Tava até com saudades! Viagem curta e depois de uma pequena caminhada por esta região rural chegamos ao Memorial. Milhares de pessoas estavam se abrigando dentro da igreja e outras milhares fora, quando foram brutalmente assassinadas (contarei mais detalhes num post especifico). As roupas continuam jogadas dentro da igreja e existem porões onde milhares de ossos estão expostos. Parece macabro, mas talvez seja uma forma de alertar o mundo para que genocídios como estes não aconteçam mais. Contratamos um guia, que estava presente no genocídio, e perdeu muitos familiares. Inacreditável que enquanto comemorávamos as vitorias da Copa de 94 tudo isto acontecia aqui.

Deu um desespero quando ao pedir informação sobre o ônibus para voltar ate Kigali era só as 8:30. Na verdade foi uma pequena confusão. Nas vilas do leste da Africa usam o Kiwahili time, que e dividido entre dia e noite, sempre começando as 6. Oito e meia da manha são 14:30 para nós. Então voltamos para Kigali e fomos encontrar um Ruandês que e membro do Couchsurfing. Saímos para tomar uma cerveja e conversar sobre todas as questões do país, desde o genocídio ate o dia de hoje. O cara fala espanhol fluentemente, além de outras 7 línguas. Aprendeu sempre sozinho. Pinta faixas para levantar dinheiro para comprar material para pintar quadros, sua grande paixão. Nos passou informações importantíssimas sobre tudo o que aconteceu por aqui. Kigali e considerada a capital mais segura da Africa, e apesar de ser noite, caminhamos tranquilamente até o albergue da igreja. A Bibi adorou a experiencia de encontrar alguém do couchsurfing. Quando fazemos uma amizade por acaso e bem mais espontâneo, por outro lado assim temos uma liberdade maior de perguntar o que quiser, pois sabemos que a pessoa esta aberta a responder.

Recebemos um convite para ficar na casa de uma pessoa no Burundi, e no dia seguinte pegamos outro ótimo ônibus para lá.