Terra Santa, terra de disputas e guerras.

Israel/Palestina, estão sempre nas noticias sobre disputas religiosas e territoriais. A terra santa e disputada a seculos. Algumas cidades da região são habitadas a 6,8 mil anos, onde muita historia se passou. Muitos povos e religiões diferentes alternaram o domínio da região, dependendo do período histórico. Ate houveram alguns períodos onde se viviam lado a lado sem problemas, mas o mais comum foram as disputas. Jerusalém e sagrada para Judeus (terra prometida, onde foi erguido o templo de Salomão, do qual resta o muro das lamentações), Cristãos (onde Cristo foi crucificado e ressuscitou) e Muçulmanos (terceira cidade mais sagrada para os muçulmanos, depois de Mecca e Medina. Foi aqui que Maomé subiu aos céus para falar com Alah num sonho).

Pegamos um táxi para a fronteira com Israel/Palestina com aquela apreensão, e a certeza de que se tudo desse certo, teríamos que no minimo ficar algumas horas ali. Acabamos tendo que esperar mais tempo do lado da Jordânia que em Israel/Palestina. Chegamos junto com dezenas de palestinos, e fomos nos posicionando para despachar a bagagem que seria vistoriada, passamos por raios-x e tivemos o passaporte verificado algumas vezes. Quando toda a previsão parecia se concretizar pegamos uma fila de não mais que 3, 4 pessoas e nos apresentamos na imigração. Foi rapidíssimo! Não se importaram quando respondi que não tinha hotel reservado nem passagem de volta. Comentei que iriamos ate a Turquia passando pela Síria (a Bibi ainda lembrou do Líbano, sem causar nem uma mudança no tratamento) e a simpaticíssima agente da imigração ofereceu para carimbar a entrada num papel separado. Eu e a Bibi só nos olhamos tipo: “ta bom, tão fácil assim!?!” Dali até Jerusalém foi rapidinho, passando pelas auto-estradas que cruzam o território da Cisjordânia (mas que palestinos não podem usar).
O primeiro contato com a cidade também nos surpreendeu. A estrutura física da cidade antiga e bem mais legal que eu imaginava, porem a banalização e comercio turístico muito pior. Jerusalém era quase uma unanimidade entre as pessoas que encontrava na estrada. Só um amigo meu brasileiro que não gostou muito, todos amavam, falavam que era um lugar único e da forte energia do lugar…
Os preços também assustaram, mesmo sabendo que seriam caros. Opção barata só dormindo em colchoes nos terraços. Quarto com banheiro uma fortuna, e a qualidade ainda não era boa. Deu saudades dos hotéis da Índia!!! Os primeiros dias foram calmos, para reconhecer o lugar mesmo. Nada de ir ate alguma atracão especifica. Circulávamos meio que sem destino e elas iam aparecendo. Se bem que as ruas estreitas, portões, arquitetura desta cidade já são uma grande atracão. Pena estar poluída com camisetas da coca-cola escrito em hebreu, alem de outras quinquilharias que turista gosta. Fico imaginando se fossem só lojas de frutas e legumes, artigos religiosos, temperos…
Teve um dia que fomos tomar café da manha cedo e conhecemos um novaiorquino que esta fazendo um filme independente. Iniciamos assunto de religiões (ele e de origem judia, mas hoje ateu), e logo surgiu um alemão louco. Não ele não era louco, era doido varrido! Aplicava suas teses matemáticas para explicar tudo, mas tinha um bom conhecimento geral. Passamos por diversos tópicos, mas quando o assunto se voltou para família, o choro do novaiorquino frustrado foi grande. Sei que quando fomos ver já eram umas três e meia da tarde!!! Como sabíamos que iriamos voltar para Jerusalém, fomos bem com calma, experienciando o local. Claro que fomos na igreja do Santo Sepulcro, no muro das lamentações e outros pontos famosos, mas gastamos muito tempo andando para cima e para baixo e conversando com o pessoal.

Bairro Judeu

 

Ruas da cidade velha

 

mercados

Depois de um certa chantagem emocional de que não ia mais voltar para o Brasil, consegui que a mãe e o Clau viessem me visitar novamente!! Claro que eles adoram viajar, mas em cima da hora não e tão fácil. Tinha falado para nos encontrarmos na Síria, mas o feriado de corpus cristi emendado foi a solução que acharam. Desta vez deu certo da Mara, minha sogra vir junto! Não, não achei ruim tá!!! Minha sogra e gente boa!!
Israel/Palestina é pequeno, então para chegar a Tel Aviv foi rapidinho. Ficamos num hostel na Bem Yehuda, a duas quadras da praia. Curtimos o sol e o mar mediterrâneo um dia, mas depois o tempo virou e deu uma esfriada. Demos uma rodada pela cidade, que nada tem a ver com Jerusalém. Ela e moderna, descolada, tá mais para americana com influencia europeia que para oriente médio. Isto pode ser um elogio ou uma critica, dependendo do gosto de cada um. Uma cidade nova, mas com muitos prédios com cara de não cuidados. Na parte yemenita da cidade (lembram do post que contei sobre os judeus yemenitas?), perto do carmel market, é a unica região onde de longe lembra o oriente médio. Muito mais fácil e encontrar clubes tocando musica eletrônica, cafés descolados e lojas de decoração. Na praia que seria longa e reta, criaram molhes paralelos a areia, o que fez com que se criassem diversas praias. Muitos jovens, pessoal praticando esportes. Em uma parte cercada, no canto da praia, esta marcado numa placa os dias que homens e os dias que mulheres podem frequentar, contradizendo tudo que esta ao redor. No período do Shabbat (por de sol de sexta até por de sol de sábado), dia sagrado para os judeus, tem muita gente festando e bebendo em Tel Aviv. Não estou falando como errado, apenas apontando a diferença entre Tel Aviv e Jerusalém (e não que o inverso não aconteça, mas são proporções muito menores). No Brasil se festa e se bebe em qualquer feriado sagrado, mas o Brasil não e parâmetro…

Beira mar em Tel Aviv

Com a chegada da mãe, Clau e Mara, o estilo da viagem mudou um pouco. Eles tinham 9 dias para aproveitar ao máximo. Demos umas caminhadas, matamos a saudades, atualizamos um pouco os assuntos no dia que chegaram e já no dia seguinte alugamos um carro para sair por ai. Passamos pelo bairro bíblico de Jope, e depois pelo museu de design, que estava fechado, mas o prédio em si já valeu. As estradas são excelentes, e logo estávamos em Cesareia, ruínas de uma cidade romana que já foi a capital de controle nas terras palestinas. Dentre as ruínas, chamou a atenção o hipódromo bem de frente para o mar. Que vidinha que eles tinham! Passamos pelas colinas de Carmel até chegar em Haifa, onde tem um bonito jardim Bahari (religião persa). Estava tudo fechado por causa do Shabbat, mas dizem ser a cidade com melhor convivência entre os povos/religiões. Um pouco mais para o norte esta Akko, também na beira do Mar Mediterrâneo. A parte velha da cidade e muçulmana, e estava aquela bagunça, cheia de vida. Mercados, mesquitas, igreja, ruas medievais. Tinham muitas bandeiras do Brasil por todos os lados, mas uma casa se destacava. Fomos ver se não era nenhum brasileiro que morava la, mas eram só os locais se preparando para a Copa!!! Aposto que esta região ta mais enfeitada que muitos lugares do Brasil. De la uma esticada ate Tiberíades, onde ficamos numa pousada muito gostosa, afastada da cidade.

Joppe

 

Cesaria

 

Haifa

 

Akko

 

O Brasil em alta por aqui!!

Tiberíades fica na região da Galileia, e usamos de base para explorar vários locais bíblicos. Alias, não precisávamos de guia, já que em cada lugar que íamos abríamos a Bíblia e liamos a passagem que ocorreu na região. Para se seguir os caminhos bíblicos, tem que se ter consciência que nem todos os pontos indicados são originais, mas isto pouco importa, importa o que se passou e a mensagem que ficou. Porem, isto não parece ser percebido pela maioria (inclusive muuuitos grupos brasileiros que vimos), pois descem do ônibus, tiram trocentas fotos no pouco tempo que ficam no local e vão embora. Pouco importa se a igreja construída na região esta no exato local ou algumas dezenas de metros do ponto onde realmente ocorreu algo importante. Sendo cristão ou não, e impossível negar o Jesus histórico, que viveu nesta região. Depois de tanto tempo viajando por islamismo, budismo, janeísmo, sikhismo, hinduísmo, e tantas outras, foi bom chegar no berço do cristianismo.
Foram muitos locais como Igreja do Primado; Cafarnaum; Migdal; Monte das Bem Aventuranças; Nazaré e a Igreja da Anunciação; Canaã; Monte Tabor e a Igreja da Transfiguração; Rio Jordão…
Aproveitamos também para conhecer Tsafat, cidade judaica ortodoxa, conhecida pela parte do misticismo judaico, como a Cabala, por exemplo. Passeamos pela rua principal, que fica em cima das colinas (com ótima vista), e ficamos vendo as roupas, cabelos e estilo dos moradores. Nos chamou a atenção a quantidade de crianças/bebes, se confirmando o que meu amigo israelense secular havia falado sobre a taxa de natalidade entre os judeus ortodoxos.

\”Mar\” da Galileia

 

Barco da epoca de Cristo encontrado

 

Cidade Ortodoxa, centro do misticismo judaico

Bibi no rio Jordao

Comemos muito bem na pousada e o casal proprietário fazia questão de cuidar de detalhes. Antes de sairmos sempre perguntavam se tínhamos passado protetor, se tínhamos boné e avisavam para tomar muita água!!! Nos alertaram que Nazaré era “meio complicado”, para deixarmos carro em estacionamento (não vimos nada de mais), e para que não nos preocupássemos ao seguir sentido sul pela Cisjordânia, pois a auto-estrada era só para Israelenses Judeus (carros com placa amarela) e que os postos de gasolina eram de Judeus e não de palestinos (que preconceituosa!).
Atravessamos a Cisjordânia sem ver muito da região, pois os check-points e barreiras são colocados em lugares estratégicos para isto. Durante quilômetros viajamos ao lado de cercas elétricas. Voltamos a território Israelense perto do Mar Morto e seguimos ao sul ate chegar em Massada. E uma região bem desértica, com cânions e ruínas de uma grande fortaleza no topo. Na revolta dos Judeus no seculo I, eles tomaram a fortaleza dos Romanos e se defenderam como puderam. Quando viram que estavam sem saída, e que a fortaleza seria invadida, cometeram suicídio em massa. Cerca de mil pessoas morreram. No final eram 10 judeus matando o pequeno numero remanescente, e o ultimo matando os nove colegas antes de se suicidar. O local foi declarado patrimônio da Unesco e e de grande importância para os Judeus. La encontramos um simpático israelense fã de Formula 1 (Senna e Piquet) e futebol. Sabia detalhar ultrapassagens, detalhes de GP de F1, alem da escalação do time brasileiro de 70. Ficamos brincando que ele era parente da jovem oficial da imigração. Esta piada virou muito comum. Sempre que achávamos um israelense simpático falávamos que eram parentes dela, que deveriam ser da mesma família. Esta piada foi porque, na nossa experiencia, normalmente não são nem um pouco simpáticos.
De Masada ate uma praia no Mar Morto foi rapidinho. Tentamos um resort particular mas achamos que não valia a pena. Achamos uma publica que tinha toda a estrutura de chuveiros e ate vestiários, que cumpriu super bem o papel. Enquanto o pessoal foi se trocar eu já fui nadar, ops, boiar. O Mar Morto e o local mais baixo da terra, a 416 metros abaixo do nível do mar. Ele e tao salgado que o empuxo faz você boiar. Muito divertido!! Da para ver pedaços de pedras de sal. O gosto da água e horrível, e se for nos olhos você terá problemas.

Boiando no mar morto

Ficamos até o final da tarde, e quando estávamos quase saindo sentido Jerusalém, 4 jatos de guerra passaram voando super baixo, fazendo aquele barulho, e nos lembrando que estávamos em área onde a segurança pode mudar de uma hora para a outra. Poucos dias antes um navio de ajuda humanitária a Gaza tinha sido interceptado em águas internacionais, e os israelenses mataram alguns dos tripulantes.
Os dias em Jerusalém foram muito proveitosos, apesar de corridos. Fomos no Monte das Oliveiras onde tem a Igreja da Acensão (onde Jesus subiu aos céus); Igreja do Pai Nosso (com a oração escrita em 234 línguas); Basílica da Agonia; tumba da Virgem Maria, Igreja onde Jesus chorou (sempre lendo os trechos da bíblia referentes ao local).
No monte Sião, a Igreja da Negação; Igreja da Dominação, tumba do rei Davi, e o local da Santa Ceia. Levamos o pessoal pelas ruas da cidade velha, e já tínhamos ate os caminhos na cabeça de tanto que rodamos por ali. Fomos novamente ao Muro das Lamentações, e andamos pelos bairros Judeu, Cristão, Armênio e Muçulmano. Nosso hotel e antigo, mas muito bacana. Bati altos papos com o dono que fazia questão de sempre vir me cumprimentar.

Pai Nosso em Kiswahili


Cidade armada

Muro das lamentacoes

Fomos a Belém, que fica na Cisjordânia, e pudemos ver a realidade do povo palestino mais de perto. Sabíamos do muro que Israel esta quase terminando, mas de perto foi chocante. Passamos pelos corredores de grades, controles de passaporte, arames farpados ate estar em território palestino. Do outro lado do muro não tem as flores plantadas para mascarar a situação, e sim protestos em grafites na parede. Foi chocante, muito mais que imaginávamos.
Visitamos um Monastério Cristão Ortodoxo mais afastado e deu para conhecer a parte fora da cidade, que é um deserto. Muito bonito, no meio de um cânion. Tentava conversar com o motorista para entender um pouco mais a situação, mas não consegui tanta informação quanto queria. Fomos no campo dos pastores perto de Bet Sahur, onde anjos avisaram sobre o nascimento de Jesus (Lucas 2:8-21). Em Belém estivemos na Basílica da Natividade, local onde Jesus teria nascido. Igreja bem grande, e com todos os tipos de fieis, sendo que grande parte era de russos.
A cidade árabe crista-muçulmana é acolhedora, e conseguimos um pouco mais de informações sobre a palestina antes de retornarmos. Mais uma passagem pelo vergonhoso muro, corredores de grade até pegar a lotação do outro lado e voltar para Jerusalém. Tínhamos visto controles de documentos em um dos portões da cidade velha, que agora com o muro, entendemos a comparação que fazem com o Apartaid sul-africano.
Vergonha!

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Em Jerusalém fizemos a procissão com os freis franciscanos pela via crucis, passando pelas diversas estacoes. Chamou atenção a estacão 4, onde diz na Bíblia, Jesus encontrou sua mãe. Neste local a procissão encontrou um grupo de jovens soldados altamente armados, e ao mesmo tempo ocorria o chamado das mesquitas. Dava para sentir a diversidade da cidade. A procissão terminou na Igreja do Santo Sepulcro, onde Jesus foi crucificado e ressuscitou. A igreja e meio sombria, e seu controle e disputado entre Católicos Apostólicos Romanos, Gregos Ortodoxos, Ortodoxos Etíopes, Armênios, Ortodoxos Sírios e Maronitas.

ortodoxos

Fomos também ao Monte Moria, onde andamos pela gigantesca plataforma de pedra onde já esteve erguido o templo de Salomão. Não consegui entrar na Mesquita do Domo da Rocha, que e só para muçulmanos. Depois que a mãe, Clau, Bibi e Mara saíram ainda tentei insistir com segurança, falar com pessoas, mas não teve jeito. Dentro da mesquita tem a rocha onde Abraão ia sacrificar seu filho Isaac, a pedido de Deus. Foi ali também que Maomé teria subido aos céus para encontrar com Alah em um sonho. Para os Judeus esta é a pedra fundamental do mundo, e tudo teria acontecido a partir dali.

Vista panoramica de Jerusalem

 

foto daqui, foto dali

 

Domo da Rocha

Eu e a Bibi fomos convidados para jantar na casa de uma família ortodoxa judia através do couchsurfing. Foi muito bom para ver a cultura de dentro, e obter mais informações alem de tirar duvidas. A Bibi e meio azarada com o couchsurfing, e apesar dos 3 amigos convidados do casal serem gente boa, o anfitrião era pra la de esquisito. Se bem que ela não pode reclamar, pois ela e um para raio de loucos durante a viagem. Aparece cada um…Loucuras a parte, foi bom ver todo o ritual do Shabbat, ler o Torah, escutar os cantos e descobrir mais sobre esta complicada e regrada religião.
Ainda fomos em museus, como o Israel Museum para ver os pergaminhos do mar morto, museu do holocausto e teve ate dia para descansar, rodar a cidade e ir a restaurantes gostosos. Da para acreditar? Falei que o ritmo tinha mudado com a chegada deles!! Mas quando saíram ficamos meio de ressaca de saudades. Tiramos um dia para descansar e nos outros dias fomos para mais alguns lugares que ficaram faltando, como o museu das terras bíblicas, nova Jerusalém (onde pudemos conviver mais um pouco com a antipatia de muitos) e Jerusalém Oriental, parte palestina da cidade.
Fiquei surpreso e feliz quando fui pagar o hotel. Já tinha negociado um desconto, e o dono palestino deu um outro desconto ainda maior que eu pedi. No caminho para a fronteira da Jordânia pararam para revistar o carro. Perguntaram até se estávamos armados, mas só era rotina. A saída foi super rápida, e carimbaram em outro papel separado. Estávamos entrando na Jordânia, mas a cabeça já estava na Síria.

soldado israelense observando o muro das lamentacoes

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Monoteístas, mas o meu Deus e melhor que o teu!

Em 2005, tive contato pela primeira vez com o Islamismo. Fiquei horas conversando, trocando informações com um muçulmano na mesquita Jama Masjid. Ao retornar ao Brasil tentei dividir algumas coisas com um amigo Protestante, que foi categórico em dizer que eu queimaria no inferno por estar afirmando que Alah era o mesmo Deus que o dos Cristãos.
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo são as 3 grandes religiões monoteístas do mundo. Todas elas possuem seus livros sagrados, mas o Velho Testamento e sagrado para as três. Existem muito mais similaridades entre elas. O Islamismo, por ser a mais recente acaba “aceitando” as outras duas um pouco melhor, enquanto o Cristianismo acredito “aceitar” o antecessor Judaísmo, e este exclui as outras duas. Fácil de entender se observarmos a cronologia delas, e que de certa forma vieram como reformas de religiões já existentes. Mas pergunte para qualquer estudioso sobre a base delas, e todas terão um ponto em comum: O mesmo Deus, o Deus de Abrão, Noé, Moises…
Quando se chama Deus ou “God” não e a mesma coisa? Sim, pois só a língua esta mudando. O mesmo se passa com Alah, que significa um Deus Único. Esta escrito no Al Corão, que todos os povos dos livros sagrados devem ser respeitados, não podem ser escravizados ou perseguidos… Alguém pode contestar, falar sobre as guerras dos muçulmanos com os Judeus, por exemplo, mas vamos lembrar que guerras entre católicos e protestante já mataram muita gente, mesmo “não matar” sendo um dos Dez Mandamentos.
Os Judeus eram o “Povo Eleito”, povo escolhido por Deus e tinham o caminho para a salvação. Dai veio Jesus, para as “ovelhas desgarradas de Israel”, para os Judeus que não tinham mais contato com Deus, alem de qualquer outra pessoa que necessitasse de Deus mas não fosse Judeus, já que o Judaísmo restringe, pois praticamente não existe conversão. Centenas de anos depois veio o Islamismo, inicialmente para converter os Árabes, que eram um povo barba-o e politeísta. As mudanças na região foram gigantescas, e o Islamismo passou a crescer entre os não Árabes também.
Teoricamente os Judeus e Muçulmanos originais (não convertidos) são parentes, pois descendem de Abraão. O Islamismo, por ser mais novo que as outras duas religiões, acabou absorvendo alguns aspectos destas. A não exposição do corpo das mulheres e as comidas proibidas são um exemplo. Em conversa com um israelense judeu secular, professor de historia em Tel Aviv, ele me afirmou que Judeus Ortodoxos estavam mais próximos de muçulmanos do que da comunidade que ele convivia. Acho que já escrevi aqui em post passados, mas cristãos da Igreja Ortodoxa Etíope aceitam casamentos interfamiliares com muçulmanos mais do que com evangélicos. A forma de venerar e de chegar a Deus são diferentes, mas a base de Judaísmo, Cristianismo e Islamismo é a mesma, pois tem o mesmo Deus!
O Cristianismo se difere das outras duas por ter uma imagem, a de Jesus. Tanto o Judaísmo e o Islamismo não aceitam imagens. Um motorista de ônibus me afirmava numa discussão que tivemos: “Filho de Deus? Claro, assim como todos nos. Tudo tem o dedo de Deus. Jesus foi só mais um dos profetas…”
O Anjo Gabriel, que aparece no Novo Testamento, foi quem ajudou a passar as palavras de Deus para o Profeta Maomé, para que este escrevesse o Corão. Os domos das mesquitas só apareceram centenas de anos depois do inicio do Islamismo, quando estes tiveram contato com as Igrejas Sírias (na verdade o “prédio” de igrejas e mesquitas se alternavam dependendo da religião de quem dominava o local). O mesmo aconteceu com as torres. Já as roupas das freiras cristas foram baseadas na vestimenta muçulmana, observadas em Jerusalém. São Francisco de Assis, em visita a território islâmico, conheceu o chamado das mesquitas cinco vezes ao dia, e introduziu os sinos que tocariam na igreja Católica algumas vezes ao dia também…
Deus encontrou uma forma unica e simples para falar com cada povo, mas novamente vem o Homem e complica. Não só o homem, mas a politica e o dinheiro. As Cruzadas, que teoricamente eram em nome de Deus, na verdade eram politicas e territoriais. Ao chegarem em Jerusalém, massacraram muçulmanos, judeus e inclusive cristãos habitantes da região. Jihad? Também não passa de uma grotesca ma interpretação das palavras de Deus. Em Jerusalém facções de Igrejas Cristas disputam igrejas e terras, inclusive com acusações de incêndios criminosos, enquanto cristãos e muçulmanos convivem pacificamente do outro lado do muro na Cisjordânia (Palestina).
As religiões não deveriam ser consideradas em guerra com outros objetivos. Só servem para mascarar a situação…
Politica, influencia, dinheiro fazem com que se esqueçam do principio dos seus livros sagrados, seja ele qual for. Estes hipócritas terão muito tempo para brigar, discutir suas diferenças, pois estarão no mesmo lugar, e não sera no paraíso!

Judeus no muro da lamentacao-Jerusalem

 

Igreja da transfiguracao, no Monte Tabor-Galileia

 

Mesquita do domo da rocha, no monte Moria-Jerusalem

A hospitalidade Árabe.

A hospitalidade Árabe e notória. Em poucos países se é tão bem recebido como nos países Árabes. No inicio da viagem, passamos a sonhar com o Oriente Médio, do Egito ate a Turquia, mas depois parecia que não teríamos tempo para isto. Quando ficamos em duvida sobre onde ir depois da Índia, voltou a ideia. Teríamos que pegar voo, mas por outro lado, seria uma região muito mais fácil de viajar, o que facilitaria pois a Bibi já estava meio cansada. Acabamos achando uma passagem barata para Amã, na Jordânia, e o Egito ficaria para uma próxima vez. Fomos muito bem recebidos, escutamos “Bem vindos a Jordânia!!” durante toda a nossa estadia. Aqueles lugares que você faz amigos na rua, pede informação e te colocam no carro para te levar onde você quer ir, ganha presente e comida. O Brasil voltou a ser lembrado como pais do futebol, e receber apoio de todos para a Copa 2010 (apesar da previsão de alguns que a Argentina sera campeã! Eca!rs). Dizem que esta hospitalidade toda vem da época que os árabes eram povos nômades, e viviam em regiões inóspitas. Desta forma tratavam bem qualquer um que chegasse na sua região, pois em uma próxima vez, poderia ser ele numa longa jornada, e precisaria de ajuda. Não sei se esta historia e verídica (para os Beduínos com certeza!), mas e fato que nos sentimos em casa e muito acolhidos!!

Pegando o avião em Nova Delhi, pediram minha passagem de volta. Falei que não tinha. Perguntaram para onde iria depois, e eu respondi Síria. “Quero ver a passagem para a Síria”. Não tenho, respondi, vou por terra. Mostrei todos os carimbos nos nossos passaportes, mas fizeram eu assinar um termo para que se eu fosse barrado na chegada, a Cia Aérea não teria nenhuma responsabilidade. Apesar de já ter viajado “one way” diversas vezes, não vou dizer que não causou uma certa apreensão. Resumindo a historia, chegamos e fomos super bem recebidos, carimbaram nossa entrada rapidamente. Como passaríamos por Amã depois, resolvemos ir direto a Wadi Musa, cidade ao lado de Petra (considerada uma das sete maravilhas do mundo). Ônibus do aeroporto até a estacão norte, outro ate a estacão sul, e já estávamos numa calorosa e amigável discussão religiosa com o motorista, que adorava o Brasil. Ônibus ali parado e só nos três batendo papo. No micro-ônibus para Wadi Musa não paramos de falar ate la, pois parecia entrevista. Na parada nos pagavam chá, falafels e se recusavam a aceitar dinheiro.
A Jordânia e estruturada, e depois de vir da Índia, suas qualidades foram ainda mais acentuadas, alem do fato de não ter tanta gente, transito e calor. Claro que tem seu preço, e o custo para se manter ali era mais caro. Ate existem algumas opções baratas, mas nos lugares mais turísticos os preços são jogados la para cima. Sabia que Wadi Musa era a cidade de apoio para visitar Petra, mas não que era tao perto, o que facilitou as coisas.
O primeiro dia que fomos ate Petra, acordamos umas seis e pouco para chegar cedo, antes das dezenas de ônibus de turismo. Deu certo, chegamos logo quando estavam abrindo, e se o lugar não era só nosso, pelo menos estávamos dividindo com poucos. Tem que dar uma caminhada ate o Siq, uma falha geológica causada por um terremoto, que resultou num corredor estreito. Se caminha por este corredor por um bom tempo, e a expectativa só vai aumentando. De repente se chega no Treasure, um dos principais e mais bonitos monumentos. Acho que o filme Indiana Jones e a ultima Cruzada fizeram o lugar ficar ainda mais famoso.

Primeira vista de Petra pelo Siq

Seguimos por um caminho com mais monumentos esculpidos na pedra; teatro romano e templos/monumentos em diversos estados de conservação. O que impressiona não são tanto os detalhes, mas as dimensões e quantidade das obras. Os Nabateans, povo que dominava a região cobrava pedágio desta que era uma importante rota comercial. Não sobrou muito do que era a cidade, mas ainda existem diversas ruínas.


Caminhada morro acima para o Monastério, talvez o maior de todos os monumentos. Uma grande vista da região. Alem da obra do homem, a obra de Deus impressionou muito, pois a região e belíssima!!! Primeiro dia ficamos umas 10 horas la, com direito a descanso na hora do sol forte e claro!!! Como fica longe da entrada, não da para ir e voltar para o hotel. Na volta resolvemos sair pelo sentido oposto de Petra, e fomos ate uma vila construída pelo governo para os Beduínos (algumas famílias ainda vivem nas cavernas da região) e de la pegamos carona ate Wadi Musa. Só deu tempo de comer, tomar um merecido banho quente (a noite a temperatura cai) e capotar!

Monastério

Dia seguinte eu fui sozinho cedo, e a Bibi me encontrou na parte da tarde. Aproveitei para fazer caminhos alternativos e que exigiam mais esforço. Entrei por um Wadi antes do caminho principal, ainda mais estreito que o Siq.

Wadi bem estreito

Dei a volta por fora, subindo a montanha e tive uma excelente vista de cima, alem de passar por lugares de interesse. O melhor de tudo e que estava sozinho, e dava para sentir mais o lugar. Sentei numa pedra na beira da montanha e fiquei apreciando a beleza, me perdendo no tempo.

Valeu a pena!!



Explorei as regiões altas e desci para mais uma pequena volta. O sol tava pegando, e arranjei uma sombra numa caverna para descansar. Como estava de volta no caminho principal, crianças me cercaram para vender cartões postais. Ao ver que eu não compraria nada, foram se acalmando e sentando ao meu redor. Passamos a conversar e eles me ensinavam árabe enquanto eu português. Não demorou muito para a Bibi chegar, e fomos para outras regiões altas, como o “ High Place of Sacrifice”. Mais caminhadas, passando por belos lugares e um merecido descanso la em cima admirando o local. Tivemos a companhia de um simpático suíço, que ficou junto com a gente ate o final do dia, e nos deu carona ate o hotel. Acabamos ate jantando juntos. Neste segundo dia acabei ficando 12 horas em Petra, e quando saímos já não tinha ninguém, super calmo. Outro clima!!!
Decidimos ficar mais um dia pois não tínhamos pressa. Dia calmo, e teve um churrasco no topo do hotel onde estávamos, e pudemos trocar informações com outros viajantes.
Pegamos um ônibus ate Wadi Rum, deserto mais ao sul. O bom da Jordânia e que o pais e pequeno, então as viagens são curtas (muito curtas pra quem vem da Índia). Nada de passeio de camelo desta vez. Fomos de caminhonete pelo deserto, passando por paisagens fantásticas, alem de alguns pontos históricos da Revolta Árabe, quando ajudados pelos britânicos (e depois traídos) se livraram do domínio Otomano. Não e o tipo de deserto só com areia, mas com varias rochas, que vão mudando de cor a medida que o sol vai se pondo. Passamos por algumas tendas de beduínos que nos davam chá e café árabe, alem de uma ótima sombra. Dormimos num acampamento, mas nem utilizamos a barraca, pois arrastamos os colchoes para fora para dormir sob o céu estrelado.

Wadi Rum!!

Beduino

 

Que deserto!

Algumas regiões não são conectadas por transporte publico, então complicava um pouco. Na volta, conseguimos pegar um ônibus turístico ate a estrada, onde esperamos um transporte que fosse mais para o norte. Não passava nenhum ônibus e a temperatura ia aumentando. Tentávamos nos distrair com as duas muçulmanas com seus filhos, mas o sol tava de rachar!! Depois de certa espera decidimos ir para o plano B, e também pedir carona. Não demorou muito e parou um caminhão. Ele não falava muito inglês, mas nos comunicamos da forma que dava. Ele deixou bem claro que “no money”, contrariando algumas pessoas que cobram o preço da passagem de ônibus. Batemos papo da forma que dava, viajando pela paisagem que não mudava da Desert Highway. Ele nos deixou na entrada de Maaan, já na metade do caminho para onde íamos.
Fomos tomar alguma coisa num restaurante para ver como iriamos ate a rodoviária no meio da cidade. Já conhecemos um senhor, que vendia salgados nos bares e restaurantes da região, e alem de nos dar comida, nos levou de carro ate a rodoviária, que não era nada perto. Curta viagem e estávamos chegando em Dana, cidade medieval do seculo XV, com poucas casas, todas de pedra. Ela fica pendurada na beira de um bonito cânion, que faz parte de um parque nacional. Te digo que foi difícil sair dali! Varias trilhas, super paisagem e vida beem devagar.

Mesquita de pedra em Dana

 

Playground!

Curtimos muito o lugar, e de noite fazia ate um friozinho, devido a altitude. Conhecemos varias pessoas que estão viajando pela Jordânia. Dentre eles um casal de italianos que matou a vontade da Bibi de comer queijo parmesão, e um grupo muito gente boa de israelenses que conversamos ate tarde da noite pegando dicas sobre Israel/Palestina. Definitivamente Dana, Wadi Hasa e Wadi Mujib junto com Wadi Rum mostram que as belezas naturais da Jordânia são espetaculares, e quem vem para cá só para Petra ta perdendo muita coisa.
Acabamos saindo de la numa sexta-feira, que e o domingo para os muçulmanos, portanto o transporte era bem infrequente. Fizemos uma conexão em Tafila, e seguimos pela Kings HWY (antiga estrada romana) ate Karak, cidade que tem um castelo da época das Cruzadas, e que teve épicas batalhas, inclusive com o Saladim. Ficamos bem pertinho do castelo, e deu para rodar tudo com calma, pois passamos a noite ali. Estes castelos das Cruzadas foram construídos numa linha que vinha desde o sul da Turquia ao Sul da Jordânia, para proteger Jerusalém e as terras reconquistadas dos muçulmanos. Um interessante museu mostrava a linha histórica da região, alem de apontar as dezenas de citações bíblicas que estão na Jordânia.

Castelo em Karak

Não nos surpreendemos quando no dia seguinte ao pedir informação sobre ônibus para Amã, nos colocaram num carro e levaram ate la. E viva a hospitalidade Árabe!!!
Amã e uma cidade interessante. Já não sobrou muito da parte antiga, o que de certa forma perde um pouco o charme, mas existem bairros modernos ao lado de uma sociedade conservadora. Uma mistura no minimo interessante. Na cidade velha, perto do simpático hotel que ficamos fomos na Citatel, com uma ótima vista para as colinas da cidade, andamos ate o teatro romano e a Mesquita King Hussem. Aqui os taxistas falam, se não quiser pagar não precisa, uma pequena diferença dos motoristas de autorickshaw da India…haha!!

Ruínas romanas em Amman

Queríamos muito ir para Israel/Palestina, mas tínhamos alguns receios. Como o estado de Israel não e reconhecido por muitos países muçulmanos, não poderíamos ir para a Síria e Líbano depois. A solução era pedir para carimbarem num pedaço separado de papel, o que parecia tranquilo pois muita gente já fez. No entanto, algumas pessoas nos assustavam dizendo que as vezes carimbam no passaporte mesmo se você pedindo. Na internet falavam de longas horas para atravessar a fronteira, com entrevistas e revistas que seguiriam por horas. Mas tínhamos que ver com os nossos olhos, e se algo desse errado, só teríamos que mudar nosso roteiro, quem sabe indo para o sul, cruzando para o Egito. O risco com certeza valeria a pena, pois poderíamos conhecer mais da cultura judaica, alem do berço do cistianismo.