Monoteístas, mas o meu Deus e melhor que o teu!

Em 2005, tive contato pela primeira vez com o Islamismo. Fiquei horas conversando, trocando informações com um muçulmano na mesquita Jama Masjid. Ao retornar ao Brasil tentei dividir algumas coisas com um amigo Protestante, que foi categórico em dizer que eu queimaria no inferno por estar afirmando que Alah era o mesmo Deus que o dos Cristãos.
Judaísmo, Cristianismo e Islamismo são as 3 grandes religiões monoteístas do mundo. Todas elas possuem seus livros sagrados, mas o Velho Testamento e sagrado para as três. Existem muito mais similaridades entre elas. O Islamismo, por ser a mais recente acaba “aceitando” as outras duas um pouco melhor, enquanto o Cristianismo acredito “aceitar” o antecessor Judaísmo, e este exclui as outras duas. Fácil de entender se observarmos a cronologia delas, e que de certa forma vieram como reformas de religiões já existentes. Mas pergunte para qualquer estudioso sobre a base delas, e todas terão um ponto em comum: O mesmo Deus, o Deus de Abrão, Noé, Moises…
Quando se chama Deus ou “God” não e a mesma coisa? Sim, pois só a língua esta mudando. O mesmo se passa com Alah, que significa um Deus Único. Esta escrito no Al Corão, que todos os povos dos livros sagrados devem ser respeitados, não podem ser escravizados ou perseguidos… Alguém pode contestar, falar sobre as guerras dos muçulmanos com os Judeus, por exemplo, mas vamos lembrar que guerras entre católicos e protestante já mataram muita gente, mesmo “não matar” sendo um dos Dez Mandamentos.
Os Judeus eram o “Povo Eleito”, povo escolhido por Deus e tinham o caminho para a salvação. Dai veio Jesus, para as “ovelhas desgarradas de Israel”, para os Judeus que não tinham mais contato com Deus, alem de qualquer outra pessoa que necessitasse de Deus mas não fosse Judeus, já que o Judaísmo restringe, pois praticamente não existe conversão. Centenas de anos depois veio o Islamismo, inicialmente para converter os Árabes, que eram um povo barba-o e politeísta. As mudanças na região foram gigantescas, e o Islamismo passou a crescer entre os não Árabes também.
Teoricamente os Judeus e Muçulmanos originais (não convertidos) são parentes, pois descendem de Abraão. O Islamismo, por ser mais novo que as outras duas religiões, acabou absorvendo alguns aspectos destas. A não exposição do corpo das mulheres e as comidas proibidas são um exemplo. Em conversa com um israelense judeu secular, professor de historia em Tel Aviv, ele me afirmou que Judeus Ortodoxos estavam mais próximos de muçulmanos do que da comunidade que ele convivia. Acho que já escrevi aqui em post passados, mas cristãos da Igreja Ortodoxa Etíope aceitam casamentos interfamiliares com muçulmanos mais do que com evangélicos. A forma de venerar e de chegar a Deus são diferentes, mas a base de Judaísmo, Cristianismo e Islamismo é a mesma, pois tem o mesmo Deus!
O Cristianismo se difere das outras duas por ter uma imagem, a de Jesus. Tanto o Judaísmo e o Islamismo não aceitam imagens. Um motorista de ônibus me afirmava numa discussão que tivemos: “Filho de Deus? Claro, assim como todos nos. Tudo tem o dedo de Deus. Jesus foi só mais um dos profetas…”
O Anjo Gabriel, que aparece no Novo Testamento, foi quem ajudou a passar as palavras de Deus para o Profeta Maomé, para que este escrevesse o Corão. Os domos das mesquitas só apareceram centenas de anos depois do inicio do Islamismo, quando estes tiveram contato com as Igrejas Sírias (na verdade o “prédio” de igrejas e mesquitas se alternavam dependendo da religião de quem dominava o local). O mesmo aconteceu com as torres. Já as roupas das freiras cristas foram baseadas na vestimenta muçulmana, observadas em Jerusalém. São Francisco de Assis, em visita a território islâmico, conheceu o chamado das mesquitas cinco vezes ao dia, e introduziu os sinos que tocariam na igreja Católica algumas vezes ao dia também…
Deus encontrou uma forma unica e simples para falar com cada povo, mas novamente vem o Homem e complica. Não só o homem, mas a politica e o dinheiro. As Cruzadas, que teoricamente eram em nome de Deus, na verdade eram politicas e territoriais. Ao chegarem em Jerusalém, massacraram muçulmanos, judeus e inclusive cristãos habitantes da região. Jihad? Também não passa de uma grotesca ma interpretação das palavras de Deus. Em Jerusalém facções de Igrejas Cristas disputam igrejas e terras, inclusive com acusações de incêndios criminosos, enquanto cristãos e muçulmanos convivem pacificamente do outro lado do muro na Cisjordânia (Palestina).
As religiões não deveriam ser consideradas em guerra com outros objetivos. Só servem para mascarar a situação…
Politica, influencia, dinheiro fazem com que se esqueçam do principio dos seus livros sagrados, seja ele qual for. Estes hipócritas terão muito tempo para brigar, discutir suas diferenças, pois estarão no mesmo lugar, e não sera no paraíso!

Judeus no muro da lamentacao-Jerusalem

 

Igreja da transfiguracao, no Monte Tabor-Galileia

 

Mesquita do domo da rocha, no monte Moria-Jerusalem

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NUNCA MAIS!?!

Never again, o  “nunca mais” já foi dito muitas vezes. A cada catástrofe, cada desgraça é dito novamente. Quando poderemos dar um basta em tantas situações que poderiam ser evitadas e que depois ficamos lamentando? Não quero fazer um texto político, pois sei que vai ficar chato, mas seria interessante refletirmos.

Construção do genocídio na Ruanda:

  • 1894 – Alemães chegam a região Urundi-Ruanda. Houve uma resistência inicial a colonização, mas sem muito sucesso.
  • 1923 – Belgas assumem o território, apos o fracasso alemão na primeira guerra.
  • 1932 – Belgas classificaram o povo em Tutsis, Hutus e Twa (pigmeus). Qualquer família que tivesse mais de 10 vacas era considerada Tutsi, independente da origem. Virou uma divisão social, mas ate os Twa que protegeram uma rainha Tutsi receberam o titulo de Tutsi. Identificacao feita na carteira de identidade.
  • 1950 – Os Tutsis ja comandavam a região, com os seus ” reis” Mwani.  Passam a ser ainda mais favorecidos (educação, cargos…), em troca de  lealdade aos belgas.
  • Hutus eram 85%, Tutsis 14% e Twa 1% da População. Originavam de tribos que vieram da Etiópia e Sudão, dentre outras regiões. Os hutus já eram o “povo” antes da chegada dos belgas, mas existiam casamentos entre as diferentes “raças”, viviam tranquilamente por centenas de anos.
  • A Igreja apoiava a discriminação, pregando que os Tutsis eram superiores.
  • 1956- Tutsis tentam a Independência, belgas passam a apoiar os Hutus.
  • 1959 – Morre o Mwani (rei Tutsi).
  • 1959-1973- Quase 1milhao de Tutsis vao para o exilio em paises vizinhos.
  • 1962 – Independência forma 2 países, Ruanda, agora comandada por Hutus e Burundi, comandada por Tutsis (que perderam eleições, mas continuaram no poder a forca). Hutus crian cotas para Tutsis.
  • 1972 – Hutus tentam um golpe de estado no Burundi, matam cerca de 1000 Tutsis. Em represália mais de 300.000 Hutus são mortos, num genocídio selecionado. Matam Hutus com educacao, influentes, com bons cargos. Tentam “popularizar” os Hutus novamente.
  • 1973 – Habyarimana derruba o presidente Kayibana na Ruanda, e tenta melhorar o problema dos conflitos.
  • 1986 – Musevini assume o poder na Uganda. Para ganhar a guerra, utiliza muitos refugiados de Ruanda que estavam exilados em Uganda. Paul Kagame (atual presidente da Ruanda) era seu braço direito.
  • 1990 – Ruanda Patriotic Front, Rebeldes Tutsis que viviam no exílio, invadem Ruanda. O exercito de Ruanda recebe o apoio de tropas internacionais, contando com exercito da Franca, Belgica e Congo.
  • Inicialmente milhares de Tutsis e Hutus que colaboraram com a invasão foram massacrados. Muitos presos em estadios de futebol superlotados, sem comida nem agua. Mais Tutsis se refugiam nos países vizinhos. Inicia uma serie de matanças de Tutsis em pequenas cidades.
  • Ministro da Defesa de Ruanda (Coronel Bagarosa) ajuda a treinar a Milícia Interhamwe, forma não oficial de matar os Tutsis. Exercito francês também apoia.
  • 1991- RPF invade novamente a Ruanda, desta vez mais armados e treinados (com o apoio de Uganda). Vão conquistando territórios no norte do pais, ate que em 1993 já estão próximos de Kigali. Os massacres esporadicos contra Tutsis em outras regioes se tornam mais frequentes.
  • 1993- Criam a convencao em Arusha-Tanzania para um cessar-fogo.
  • 1994 – Presidente Habyariama volta da convenção de Arusha junto com  presidente Cypriem do Burundi. Ele discutia uma divisao de poder, mas parecia que conseguira menos que o esperado. Seu aviao estava para aterrisar quando foi derrubado por um missil. Dizem que foram Hutus extremistas, que já estavam com o genocídio planejado, mas muitos Hutus tem explicações claras de porque foram os Tutsis que derrubaram. Ninguem nunca vai saber.
  • Inicia o genocidio. Listas de todos os Tutsis já estavam feitas. Ruas sao bloqueadas e a matanca inicia. A populacao em geral tambem participa. Quem não participa e acusado de traição e e morto também.
  • Facoes, martelos e porretes com pregos foram armas muito utilizadas.
  • Na Igreja em Nyamata, 6 mil pessoas estavam dentro da Igreja, e mais de 4 mil fora. Elas buscaram abrigo la pois em 1992 muitas tinham se salvado la. Algumas pessoas morreram esmagadas quando o tumulto estava acontecendo do lado de fora. Alguns homens se posicionaram na entrada da igreja, para proteger as outras pessoas. O sucesso durou pouco, pois granadas foram lancadas. Todas as marcas dos estilhaços podem ser vistas no chão, paredes, portão e toldo da igreja ate hoje.
  • Historias como as de Nyamata aconteceram as dezenas, por todo o pais. Em alguns locais os próprios padres/pastores colaboraram na execução de seus fieis, ou ate mesmo, executaram.
  • Não adiantava só matar, tinha que ser cruel.
  • Cortavam os tendões para que não pudessem fugir.
  • Homens com Aids estupravam mulheres.
  • Cortavam a barriga de mulheres gravidas para matar as crianças na frente da mãe.
  • Maridos eram obrigados a  matar suas mulheres antes de serem mortos.
  • Mulheres eram obrigadas a matar suas crianças antes de serem mortas.
  • Crianças eram forcadas a participar dos massacres.
  • Vizinhos matavam vizinhos, amigos de anos.
  • No interior era pior, pois todos se conheciam, e sabiam quem deveria morrer.
  • Dados do governo atual (RPF) dizem que 90% dos Hutus participaram do genocídio, 5% ficaram neutros e 5% ajudaram os Tutsis.
  • Pessoas da ONU tentaram avisar o que estava por vir, mas nada foi feito. As pequenas tropas designadas para salvar os estrangeiros ja seriam suficientes para evitar o genocídio, se tivessem outro foco.
  • Na hora de escolher se salvavam os estrangeiros (independente da nacionalidade) ou os Tutsis, não exitaram em deixar os Tutsis para trás.
  • 1994 – 3 meses depois a guerrilha RPF toma Kigali e conquista mais territórios, fazendo com que o exercito e a milicia fujam para o Congo
  • Nos próximos anos os Hutus se tornaram os refugiados. As milicias afirmavam que quem voltasse seria morto por um teorico sentimento de revanche.
  • Interhamwe, milicia hutus,  faziam ataques a partir da fronteira.
  • 1996 – RPF invade as fronteiras do Congo para guerrear com a Milicia. Muitos Hutus que não tinham nada a ver com a milicia retornam ao pais.
  • Muitos responsáveis são julgados, mas alguns conseguem asilo em outros países (alguns presos mais tarde).
  • Os tribunais não dão conta de tantos julgamentos. Reativam as Gacaca, forma tribal de julgar problemas pequenos (tipo tribunal de pequenas causas). Ate hoje são realizadas as Gacaca todas as quinta-feiras de manhã. Se o acusado assumir e contar o que foi feito, pega a pena de trabalho comunitario, devidamente vestido com um macacao rosa. Se não assumir, pode pegar pena de prisão perpetua.
  • So assim algumas familias podem “enterrar” seus parentes.
  • Muitas famílias foram separadas. Milhares de órfãos.  Muitas famílias morreram por inteiro, sem ficar ninguém para contar a historia…
6000 pessoas neste espaco, aguardand para serem mortas...

6000 pessoas neste espaco, aguardando para serem mortas. Sobraram as roupas…

Nunca mais?

E ossos…

Genocidio

Nunca mais?

Igreja Nyamata

Igreja Nyamata

Tudo bem, tudo acabou, Ruanda esta se reconstruindo, apesar de marcada eternamente.

Foi uma caso isolado? Não acontece nada igual em outros lugares?

Do mesmo jeito que Ruanda era um pequeno pais sem muita importãncia para a comunidade internacional, Dafur/Sudão e só um deserto, correto?!

Haiti, ha, aquele país pequenino. Nigeria, Mali, Libano, Palestina, Chad, Africa central, Costa do Marfin, Congo…

Somalia? Nao deve ter mais jeito, certo?! Iraque e Afeganistão, estes sim são “perigosos” para o Ocidente!! Lá é importante tomarmos uma ação rápida!

Ta bom, guerras são uma realidade muito distante para os brasileiros, mas duvido que ninguém se comovesse ao saber sobre qualquer um destes casos. Se comoveriam, da mesma forma que se comovem ao ver no Jornal Nacional o caso da menina Isabela, brutalmente assassinada pelo pai. Todos pedem justiça e fecham os olhos pelas centenas de outras crianças que são violentadas, mortas também brutalmente pelos seus pais. Qual a diferença? Um esta na televisão, milhares não.

E nos, fazemos o que? Só lamentamos?

Cranios furados co martelada

Cranios furados com martelada