Vistos complicados 1

Nossas experiencias com vistos sempre foram muito boas. Incrível como está bom viajar com o passaporte brasileiro. Tiramos a maioria dos vistos nas fronteiras, e tivemos que visitar poucas embaixadas. Mesmo nos países que tivemos que aplicar o visto nas embaixadas, o processo sempre foi rápido. Para o Iêmem pediram uma carta do Consulado Brasileiro, para o Vietnã fizemos a aplicação on-line, mas nada de mais. Nosso conceito de “empenho” para visto era ter que ir para São Paulo tirar o visto americano (que sempre saiu fácil) ou ter que esperar uma semana para o visto indiano (que droga, tivemos que ficar mais este tempo na Tailândia!!rs).

Mas não e assim para todos os lugares. A burocracia existe. Nossos amigos que visitaram o Iram falavam de meses esperando um código de liberação, para só assim poder dar entrada no visto. A carta convite era necessária para quase todos. Estive nas embaixadas Iranianas em Saana e Muscat, junto com o Guru. Pelas rápidas conversas, percebi que o passaporte brasileiro poderia ajudar mais uma vez.

Enquanto americanos precisam fazer parte de um grupo para visitar o Irã, a necessidade de documentos para brasileiros e bem mais tranquila: são duas vias do formulário, duas fotos 3×4, e pagamento de taxa no banco. Tudo pode ser feito sem ajuda de intermediários, e enviado via sedex para Brasilia. teoricamente demora ate 15 dias uteis. O visto tem validade para 3 meses, mas so  pode permanecer um mês depois que entrar no país.

Como fui novamente para o Amapá a trabalho, tentei fazer a aplicação antes da viagem, mas me aconselharam fazer depois, pois o vencimento do visto ficaria muito próximo da entrada do pais. Pra encurtar a historia, mandei todos os documentos e o carnaval e o Nowrus acabaram atrapalhando as coisas. A data da minha passagem ia se aproximando, e eu ligava diariamente para saber a situação. Sempre muito simpáticos, falavam que não haveria problemas. Eu já precisava dos nossos passaportes para solicitar carta convite para outros lugares, e tudo parecia que ia dar errado. As ligações passaram a ser toda manha e tarde, mas nada!!

No dia que o Brasil votou contra o Irã na ONU a respeito dos direitos humanos, saiu meu visto. Estranho foi ver a matéria numa pagina da internet, onde a noticia ao lado era sobre policiais tentarem levar um jovem baleado num hospital mais longe, PARA DAR TEMPO DELE MORRER. A hipocrisia não foi suficiente para melar nosso visto, nem para conceder a tão sonhada vaga do Conselho de Segurança na ONU para o Brasil (esta vaga sim, melada pelos EUA).

Os passaportes chegaram no sábado de manha (quase tive um treco de nervosismo!), a tempo para nossa viagem que seria na quarta. Surgiram problemas pessoais e tivemos que adiar umas semanas, mas finalmente chegou a hora!!

Valido para o ano 1390!!!

Videos da viagem – Africa e Peninsula Arabica

Pois e, os videos de viagem ficaram prontos, e alguns amigos puderam ver a pre estreia!rs

Gostamos da recepcao, e como falamos, acredito que junto com o blog, fotos e conversas, o video ajuda a entender a viagem. O video foi postado justamente no dia em que voltamos da nossa primeira viagem depois de chegar ao Brasil. Voces nao imaginam a saudades que da ao vermos estas imagens…

 

 

Expresso do Ocidente!

A Turquia tem uma localização que foi muito importante ao longo da historia. Sempre foi a porta de entrada do “oriente”, do desconhecido, dos “outros” que não eram da Europa. Longas rotas comerciais, como a China, iniciavam ali. Passou a ter grande importância quando o imperador romano Constantino mudou a capital romana para a renomeada Constantinopla. Com o tempo o Império Romano se separou, e a parte oriental passou a se chamar Império Bizantino, e manteve seus domínios por muito, muito tempo. Chegaram os otomanos e turcos, e outro poderoso império se estabelecia. Mudava nome, povo e religião, mas não a importância da região. A Turquia propriamente dita, se formou apos a primeira grande guerra, e muito tempo depois, continuava fazendo parte das grandes rotas. Os hippies não gostavam só de sexo, drogas e rock and roll, eles gostavam também de uma grande viagem. Uns iam em suas kombis coloridas, outros pegavam o famoso trem Expresso do Oriente, que ligava a Europa a Istambul. Nos viemos na contramão desta rota. Ao invés de Istambul ser a porta de entrada para o “oriente”, para nos era a porta de saída.

Estávamos um pouco na duvida se realmente valia a pena enfrentar tantas horas de estrada para ir ate Palmukale. Sim, era mais um lugar listado como patrimônio da Unesco, porem metade da Turquia ‘e, alias, o pais todo devia ser listado, daí já acabava com esta historia. Chegamos depois de uma conexão, e ficamos num hotel gostoso na pequena cidade. O calor era grande, e só a piscina e a brisa do gostoso terraço para aliviar. Do próprio hotel tínhamos vista para as montanhas brancas. No dia seguinte, já bem no final de tarde ‘e que nos aventuramos ir ate la, e a temperatura continuava castigando. Pelo menos o caminho todo se anda com água escorrendo das piscinas naturais e artificiais. Nem todos os Travertines estão ativos. Algumas áreas cortaram a água por motivos de conservação. A vista la de cima ‘e muito bonita. De um lado montanhas com a pequena Pamukale, na nossa frente todas aquelas formações brancas com água escorrendo, e do outro as ruínas de Hierapolis, antiga cidade Romana. Caminhamos, nos molhamos bastante, mas claro que o ponto alto foi com o sol se pondo, já bem depois das oito, com as mudanças de cores. Descemos com calma e ainda fomos jantar num restaurante de frente para a montanha, que recebe toda uma iluminação a noite. Muito gostoso!

De la fomos para Selcuk, que fica perto da praia novamente, mas nosso interesse era outro. Iriamos visitar as ruínas da cidade de Efeso. Ruínas romanas em bom estado de conservação, citada na Bíblia diversas vezes, inclusive tendo um trecho do novo testamento que ‘e a “Carta aos Efesos”. Pegamos um ônibus para uns poucos quilômetros, mas mesmo assim ainda teríamos que caminhar sob um sol escaldante. Por nossa sorte um motorista de uma van parou, nos deu carona e garrafas de água!! Claro que algum turista estava pagando por isto, mas muito simpático da parte dele. Do que restou da cidade, duas partes chamam mais atenção: o teatro, que apesar de ser o quinquagésimo teatro romano que vemos, tinha capacidade para 25000 pessoas, e a arquitetura do que sobrou da biblioteca, muito bonita. Mesmo com o sol forte tava lotado de gente, inclusive brasileiros. Aproveitamos para ir ate a casa de Nossa Senhora, que fica numas colinas não muito longe dali. Ela teria vindo com o Apostolo João para a região depois da morte de Jesus. Uma pequena capela onde acharam escavações, clima tranquilo, fonte de água e parede com muitos agradecimentos e pedidos enrolados em guardanapos.

Efesos

Nossos pedidos e agradecimentos estao juntos!

Nos aventuramos mais pela culinária turca, e caminhamos pelas ruas de Selcuk. Existe uma imponente cidadela numa montanha, e em frente os restos da Basílica de São João, onde o Apostolo teria escrito o Evangelho e sido sepultado depois de morto.

Selcuk

Estávamos tentando achar alguém no couchsurfing para nos hospedar, mas não estava dando muito certo. Todos que entravamos em contato já tinham algum para os próximos dias. Resolvi apelar para o “emergency couch” e surgiram duas pessoas. Uma que deixaria o apto para nos pois iria viajar, e outro que disse que não nos deixaria ir para outro lugar, pois estava largando o emprego em duas semanas e indo para o Leste da Africa e depois para o Brasil. A sorte estava lancada. Na longa viagem noturna ate Istambul, usei o wi-fi do ônibus para acertar os últimos detalhes do encontro. Chegamos pela manha e ficamos tomando um café ate nosso anfitrioa chegar. Pegamos um trem ate a casa dele onde comemos um café da manha Turco. Nos que vinhamos nos impressionando com o desenvolvimento da Turquia, estranhamos a quantidade de lixo acumulada nas ruas, e os transportes não serem tao modernos (talvez por serem existirem a mais tempo que nas cidades que passamos antes). Logo vimos que desta vez havíamos acertado em cheio no couchsurfing. Nosso anfitrião era muuito gente boa!!! Demos uma descansada e depois ficamos conversando o dia todo com o Mehmet e dois de seus amigos. Saímos só para comprar algumas coisas, mas comemos e passamos o dia todo em casa. Quando nos demos conta já era madrugada!!

Nosso primeira volta pela cidade foi com o Mehmet, pois ele estava de folga, e foi bom para nos localizarmos e aprendermos sobre o transporte. Fomos com ele na Universidade de Istambul, pois precisava pegar um documento. Lembrou muito a UFPR. Caminhamos ate o Grand Basar, mas já de cara não nos seduziu. Depois de tantos souqs autênticos, este não teve a menor graça. Fomos ate a grande Mesquita Azul, com todos os seus minaretes, e continuamos caminhando. Pulamos varias “atracões” pois sabíamos que voltaríamos outro dia. Ainda no Sultanahmet tomamos uma bebida que parecia a água avinagrada de conservas de pepino e de sei la o que (nabo?). Não da para falar que e bom, mas valeu para saber que existe. Atravessando a ponte, já subindo sentido a Galata Tower, já dava para ver que era a parte mais moderninha da cidade. Lojas estilosas, alguns cafés, ate chegar no grande calcadão Istiklal Caddesi. Ali tem de tudo, butecos nas ruas laterais, mercado de peixe, restaurantes mais caros, outros simples e gostosos. Da para comer cabeça de bode em qualquer canto. Algumas lojas de roupas e quinquilharias antigas bem estilosas e o trenzinho antigo ainda funcionando. Tudo lotado, de turista mas também de turcos. Fomos no cafe/bar preferido da turma do Mehmet e ficamos um bom tempo la. Ainda passamos pelo bairro dos artistas, onde compramos algumas coisas e paramos num gramado no topo de um barranco, com vista para toda a Istambul, com seus prédios e mesquitas iluminados. Muito show.

Mesquita Azul

Galata

Sultanahmet

Istiklal

Com o Mehmet trabalhando nos dias seguintes (ele dorme no trabalho), ficamos com a casa só para nos. Ele nos deu sua própria chave. A Bibi matou a saudades de cuidar de casa, cozinhou, limpou como se fosse dela. Fomos em alguns lugares básicos que não havíamos estado, como a impressionante Aya Sofia, Igreja que virou mesquita e depois museu. Pena que esta tendo o “Istambul, capital europeia da cultura 2010” e tava em reforma. Interessante ver os antigos mosaicos cristãos (que no passado estavam encobertos) junto com escritas muçulmanas. A construção e muito bonita, e por dentro e incrível. A basílica cisterna e bacana, consigo me imaginar empolgado la, com as colunas e barulho de gotejamento, caso tivesse menos gente, mas infelizmente estava muito craudeado! Domingo e dia de parque, então fomos ao Topkapi, onde estendemos um lençol de baixo das arvores, em frente ao Palácio, e curtimos o lugar. Ainda retornamos para a região do Taksim, mas não para caminhar, só para sentar num café de frente para a rua e ficar vendo o movimento. Istambul e a maior cidade da Europa, mas depois de tanto caminhar, pegar ônibus e trem, nos sentíamos em casa, e nem parecia estar numa metrópole tão grande.

Aya Sofia

Basilica Cisterna

Domingo no parque!

nhanham…

A nova folga do Mehmet chegou, e resolvemos ir para o lado asiático da cidade. Como viajaríamos a noite, saímos com as mochilas e deixamos na casa do Erai, um amigo que mora na parte mais central da cidade. Pegamos o ferry e fomos curtindo a vista. Andamos por cafés, lojinhas e mercados. Definitivamente a parte de Anatólia e bem mais “pura” que a parte europeia de Istambul. Caminhamos ate um bairro chamado Moda, onde fizemos um piquenique. Nos perdemos no tempo conversando, pois o sol se poe perto das nove horas, e tivemos que correr na volta para não perder o trem. O nome do trem era outro, mas não tínhamos como não pensar que estávamos pegando o Expresso do Ocidente!

OBRIGADO AMIGOS!

Anatólia!

Viajando a tanto tempo, passando por tantos lugares, sempre tive que explicar onde era Curitiba. Alguns estrangeiros que se aventuraram pelo sul do Brasil conheciam, mas a referencia sempre era as Cataratas de Foz do Iguaçu ou “ao sul de São Paulo”. Conhecemos também algumas pessoas que sabiam de Curitiba pois tinham visto uma reportagem sobre a “cidade modelo” de Jaime Lerner (mal sabendo dos problemas existentes la hoje me dia), e ate um cara que tinha estudado sobre a cidade na faculdade. Mas sempre eram estrangeiros, e não locais. Mas esta historia mudou ao chegar na Turquia. Não estou falando de Istambul, ou grandes centros. No meio de Anatólia, parte asiática da Turquia, sabiam exatamente onde era Curitiba. O culpado? Alex!
Alexandro de souza, “curitibano de Colombo”, revelado pelo Coritiba, ídolo da torcida, jogou diversas vezes pela seleção, e também teve passagens por times menores como Palmeiras, Flamengo, Cruzeiro. Atualmente joga no Fenerbahce da Turquia, e é Rei!

Ainda cedo pegamos um táxi comunitário até Antakya, ja na Turquia. Na moderna imigração demorou só o tempo de carimbar o passaporte. Não adiantou nada termos chegado cedo, pois o próximo ônibus só sairia a uma da tarde. Fazia tempo que não percorríamos longas distancias, e logo deu para ver que a Turquia era um pais grande. Aparentemente não era tao longe, mas a viagem demorou, mesmo o ônibus sendo moderno e as estradas de excelente qualidade. As montanhas podem ter nos atrasado um pouco, mas embelezaram, e muito, a paisagem. Já na chegada nos rendemos a beleza natural da Turquia.
Chegamos em Aksaray já tarde, e teríamos que fazer uma conexão até Goreme, na Capadócia. O problema e que todos os ônibus que passavam neste sentido estavam lotados. O jogo do Brasil e Portugal já estava para começar. Poderíamos assistir no ônibus, pois todos tem tvs com programação ao vivo, mas acabamos ficando num restaurante do posto de gasolina. Entre comemorações, ficava de olho nos ônibus que estavam passando. A Bibi tomava uma sopa e falava com uma Turca, só não sei em que língua, pois ela não falava uma palavra em inglês. O jogo terminou já passava das onze meia da noite, e as possibilidades de pegar um ônibus ficavam menores. Chegamos a cogitar de procurar um hotel e ir no dia seguinte, mas vi um furgão/van parado no posto, e com ajuda de um pessoal consegui descobrir que o motorista estava indo entregar sua carga de alho em Nevsehir, bem próximo de Goreme. Pagamos a passagem de ônibus para ele e fomos. A comunicação tava muito difícil, mas deu para saber quantos filhos tinham e coisas do tipo. No final, depois de ter suplicado para nos levar um pouco mais adiante ate a cidade que estávamos indo, ele topou. A chegada foi muito show, com todas aquelas formações rochosas iluminadas, alto astral. Ate nos presenteou com um “olho turco” pendurado no retrovisor que tínhamos elogiado. Ufa, finalmente poderíamos dormir. Foi só escolher a nossa caverna e capotar. Sim, muitas das pousadas oferecem cavernas, todas estruturadas, com banheira de hidro e tudo.
A Capadócia esta para os cristãos, assim como Ajanta/Ellora esta para os budistas/hindus/janeistas. Aqui eles se organizaram e viveram por centenas de anos, em comunidades que estudavam a religião, e escavavam igrejas nas pedras, alem de fazer pinturas. Muitas das pinturas tem os rostos raspados, pois se tornaram residencia de muçulmanos, que não podem rezar na presença de imagens. A região e muito bonita, com vales, cânions e pedras de diversos formatos. Existe um museu a céu aberto, onde se concentram muitas destas igrejas, mas por toda a região e possível encontrar muitos lugares interessantes. Existem diversas trilhas, cidades e lugares para se conhecer. As mais curtas a Bibi foi comigo, mas algumas mais longas fui sozinho. Depois de horas de caminhada era muito bom chegar na pousada e tomar um banho de piscina com aquele visual. A cidade e pequena e super estruturada para o turismo. E os turistas sabem disto, e chegam em bandos nos ônibus de excursão. Junto com Israel, foi o lugar que vimos mais brasileiros. No jogo com a Holanda tinha muita gente, e a decepção foi grande. Para piorar tinham alguns holandeses vendo o jogo junto. Um final de tarde a Bibi foi ver os Dervishes, turcos sufis, braco mistico do islamismo. Eu não fui pois achava que seria muito turístico, mais ela gostou muito.


De Goreme acabamos indo para Konya, antiga capital dos turcos Seljuks, uma cidade grande, moderna, mas com muita tradição, uma bela arquitetura e um certo misticismo. Muitas mesquitas, e um museu onde viviam os Dervishes. Existe uma grande exposição de livros do Corão, alem de uma caixa onde supostamente esta a barba do profeta Maomé. Ao lado o mausoléu do grande poeta Rumi. Como era um sábado, tinha uma apresentação no centro cultural, e pude ver também a musica, tradição, e forma de meditação – que parece um transe – com eles girando sem parar. Conhecemos um casal de americanos que estavam na mesma pousada que nos na Capadócia, e eles estão dando a sua segunda volta ao mundo, agora já perto dos 60 anos de idade. A primeira foi antes do filho nascer e a segunda com o filho já bem crescido. Bastante inspirador, pois achávamos que essa nossa viagem seria a ultima, mas depois de ver casais com filhos pequenos viajando por meses e agora os sessentões, entendemos que não precisamos parar por aqui. Muito legal conhecer esta cidade, que mesmo com seus modernos trens elétricos, ainda preserva a tradição e a cultura. Falar em cultura, fui experimentar um dos pratos típicos locais, que e uma especie de pizza com carne moída. Digamos que uma esfirra engordurada em formato de pizza. Mais ou menos. Mas a comida da Turquia em geral tem nos agradado bastante.

Dervishes

Seguimos para mais algumas, na verdade muitas, horas de ônibus e conexões. Ônibus super confortáveis, com tvs individuais com diversas programações, serviço de bordo (inclusive com sorvete!), e aquela paisagem surpreendente fora da janela. O povo tem se mostrado muito atencioso, e sempre tentam nos dar informações, nos ajudar em alguma coisa, mesmo que não saibam falar inglês direito. No final da tarde chagamos a Olympus, praia que a muito tempo estávamos querendo ir. Ouvimos falar deste lugar a primeira vez a mais ou menos um ano atras, quando uns companheiros de viagem (japoneses) na Africa fizeram ate um mapa de como chegar la. Falavam maravilhas do lugar, como sendo uma fuga do litoral super urbanizado, cheio de resorts, que estava se tornando a Turquia.
O lugar e muito tranquilo, e nossa pousada fez com que nos sentíssemos em casa. Uma delicia! O lugar e meio hiponga, no meio das montanhas, com ar de isolado. Isto não impedia que turistas chegassem para ver as ruínas que ficam na beira da praia. Nos nem precisávamos visitar, pois passávamos por elas no nosso caminho para a praia. Só um dia que subimos num pequeno morro para ver o visual que passamos por umas ruínas no meio do mato. Definitivamente e uma praia musical, e existem muitos bares, tocando rock, reggae e jazz. A praia e de pedras e não de areia, e o mar mediterrâneo e muito limpo na região. Um pouco gelado, mas o que era bom, devido ao calor. Na volta da praia revesávamos entre comer frutas uns dias e melão com bolas de sorvete em outros. Era para visitarmos outras praias bem recomendadas da região, mas estávamos ocupados não fazendo nada! Alias tem um ditado que diz algo assim: “O problema de ficar sem se fazer nada e que nunca se sabe quando terminou…”. Esta foi nossa frase durante o tempo que ficamos por ali, mas não podíamos reclamar.

Olympus


Uma semana tinha se passado e cedo fomos ate Antalya, onde teoricamente faríamos só uma conexão. Ficamos sabendo que todos os ônibus estavam lotados ate a metade da tarde. Deixamos as mochilas no guarda volumes e fomos conhecer a cidade. A parte velha da cidade e totalmente renovada, ficando artificial demais. As ruas estreitas, arquitetura que poderiam ser interessantes parecem de mentira. Dezenas de turistas para cima e para baixo, um sol e calor infernal e pessoas tentando vender passeios de barco, fizeram com que não aproveitássemos tanto o lugar. Optamos por sentar num restaurante, tomar alguma coisa e bater papo. O lugar e bonito, alto com vista para o mar, mesquitas e bastante estiloso, mas na verdade não nos conquistou. Pegamos mais um moderno trem elétrico (o desenvolvimento da Turquia tem nos impressionado!) para voltar para a rodoviária, e seguir viagem.

Antalya

Vales, Monasterios, Castelos e muita tradição!

O bacana de viajar no Oriente Médio e que foge daquela imagem inicial que temos da região. Claro que ha desertos, beduínos, calor, mas existem muitas outras opções. Vales verdes da Jordânia, montanhas de Israel, estacoes de esqui, montanhas do Líbano, castelos, monastérios cristãos. Alias, o presidente do Líbano e sempre cristão maronita, o primeiro ministro e um muçulmano sunita, o porta vós do parlamente um muçulmano xiita, o chefe das forcas armadas druze (muçulmano que acredita que houve um outro profeta depois de Maomé), cristãos gregos ortodoxos também tem posições fixas de destaque. Viva a diversidade religiosa!!

Escolhemos Becharre como o nosso destino de montanha no Líbano, e não nos arrependemos. Pela estrada já víamos as pequenas vilas na beira do cânion, e a beleza das montanhas. O único ponto baixo é que os cedros, arvore simbolo do pais, já não são mais tao abundantes. Ficamos numa guest house bem com cara de casa, só com dois ou três quartos para alugar. Nos integramos rápido com os donos e pessoal que tava por ali. A região e centro do cristianismo (principalmente da ordem Maronita) no Líbano, e existem capelas e santos por todos os lados. Aqui e também a cidade onde o poeta e pintor Kalil Gibran viveu. Visitamos sua casa e um museu bacana que expõem algumas de suas obras. Lugar calmo, com uma temperatura amena, e estaca-o de esqui no inverno. O Cânion Qadisha, patrimônio da Unesco, logo abaixo de onde estávamos e muito bonito. Pegamos carona ate uma ponta, caminhamos cânion abaixo e seguimos a trilha. Muito verde, barulho de água e pássaros, numa paz excepcional.

Vista de Bcharre

Vales verdes

Cidades na beira do canion

No caminho alguns monastérios antiquíssimos, onde os cristãos da antiguidade se refugiavam. Não íamos conseguir voltar até o hotel antes de escurecer então pegamos carona de volta. No outro dia percorremos o cânion no sentido contrario, para conhecer toda a região. Vimos jogo do Brasil num restaurante com telão e torcida local com bandeiras, buzina e camisas. Muito legal! De la ainda passamos por Tripoli antes de seguir para a fronteira com a Síria na parte norte. No Líbano existem belas ruínas romanas, mas depois de uma viagem longa, vendo muitas delas, passam a parecer muito iguais.
Já na Síria, passamos por Homs, mas resolvemos ficar mesmo em Hama. Cidade muito simpática, com dezenas de norias, rodas de água (que são funcionais) por toda a cidade. Passamos um final de tarde muito gostoso la, numa praça, onde os locais faziam piquenique, crianças andavam de camelos e jovens passeavam. Mulheres todas de cabeça coberta com scarfs, ainda mais que em Damasco. Sentamos num banco e não demorou para aparecer um jovem estudante que ficou conversando um tempão conosco.

Norias- Rodas d’gua em Hama

Esta região possuí muitos castelos da época das cruzadas, e mesmo já estando meio cansados deles, fomos conferir. O Crac des Chevaliers e muito bonito e imponente. Grande. Muito grande, provavelmente o maior e mais bem conservado de todos os que ainda existem. Labirintos, escadas, muitos corredores. Dentro estão vazios, mas de fora a vista e impressionante, assim como de cima, pois estão sempre no topo de montanhas. Visitamos também o monastério ortodoxo de São Jorge, que contem duas antigas igrejas e belas pinturas. Conhecemos um casal romeno e acabamos indo juntos ate Alepoo, segunda maior cidade da Síria. Na hora de pegar o ônibus, pediram meu passaporte, e de dentro caiu uma moeda de Israel, que deveria estar no porta documentos. Sorte não ter sido na fronteira, pois dai teríamos problemas.

Crac des Chevaliers

Alepoo e uma cidade grande, mas e muito tradicional. Possui souqs gigantescos, que parecem labirintos. Grandes mesquitas e um bairro cristão. Aqui também já foi área de grande presença de judeus, e algumas sinagogas estão preservadas. Nesta região que grande parte dos armênios massacrados pelos turcos viviam, num dos maiores genocídios da historia. Escutamos historias horríveis, de mulheres estupradas antes de serem mortas, crianças enterradas vivas, dentre outras crueldades. Um povo que ajudou bastante os armênios foram os Kurdos, estes que também são tratados como minorias nestes países da região. Os curdos vivem no leste da Turquia, Síria, Irã, Iraque, e são mais de 60 milhões, mas não tiveram direito a terra na época da divisão da região. Já sonharam muito e lutaram pela independência do que seria chamado Curdistão.
Existe uma bela citadela no topo de uma montanha, de onde pode se ver toda a cidade. Existem cafés gostosos ali e conversamos com um casal de noivos, que estavam acompanhados pela mãe do noivo, irma e futura cunhada. As vezes elas saiam para dar uma volta para deixar os dois sozinhos. Uma praça estava especialmente cheia na sexta-feira, feriado muçulmano (o domingo deles). Caminhávamos por ali, e viramos atracão. Dezenas de pessoas, crianças passavam para falar com a gente, apertar nossa mão ou tirar fotos. Crianças com bandeiras da Síria e Brasil pintadas nos seus rostos nos faziam se sentir em casa. Uma hora ate um policial pediu para não darmos tanta atenção para o pessoal pois tava virando tumulto. Um final de tarde magico.

Torcida pelo Brasil!!

Citatela de Alepoo

Um dia a Bibi foi experimentar o banho sírio, e eu aproveitei para explorar mais os souqs. Conversei com bastante gente, e eles adoravam quando eu falava que não estava em nenhum grupo, pois assim podiam falar comigo. Conheci um pessoal na frente do lugar que a Bibi tava e fiquei tomando chá com eles. A Bibi se juntou a nos, assim como muitos amigos e familiares deles. Não deva para sair, nos levantávamos mas eles insistiam e acabamos ficando por horas. Discutimos diversos assuntos, e chegou ate um amigo deles que e “orador” na mesquita e “leu” (e praticamente um canto) alguns trechos do Al Corão para nos. Pedi alguns trechos que conheço alem de outros que citam Jesus. Pessoal muito gente boa e o pai de um deles muito interessado no Brasil. Falaram que a popularidade do presidente Assad (o filho), e ainda melhor que a do Lula no Brasil, chegando a 90% !!! (estranho, não?!Ainda mais com tantas fotos dele espalhadas, típicos de uma ditadura )

Vista panorâmica

Intermináveis Souqs

O bairro cristão tem uma aparência um pouco diferente, e para entender bem e preciso entrar nas construções. De fora parece só uma rua estreita com paredes altas, mas dentro se escondem casarões antigos. Muitos estão se transformando em restaurantes e hotéis. Escolhemos um deles para sentar, fugir do sol e ficar batendo papo curtindo o lugar. Começamos a conversar com um senhor que cuidava de uma Igreja Ortodoxa, e aproveitamos para tirar varias duvidas da religião e historia do local. A conversa se prorrogou e ele acabou nos mostrando algumas áreas da Igreja que não são de livre acesso, alem de nos presentear com incenso, velas e cartões postais. Nos mostrou uma Bíblia super antiga, escrita em árabe  é claro.

Bíblia em árabe

Atras dos muros altos tem casaroes, restaurantes, hoteis

Nosso hotel era super gostoso, quarto espaçoso com uma super sacada, e adoramos conversar com o “gerente” de la. Nossos cafés da manha sempre eram longos escutando suas piadas de beduínos (estilo nossas piadas de português) ou conversando com pessoas interessantes que encontrávamos. Ele adorava contar de como era difícil para ele, pobre, arranjar uma mulher. Falava empolgado, brincando, que ia nas sorveterias para ver as mulheres levantarem o véu para chupar o sorvete e ver o rosto delas.
Um dia pedimos informação sobre uma internet para um senhor. Ele apontou uma, mas depois nos levou ate uma outra, que era mais barata. Caminhou umas sete ou oito quadras para nos levar até lá, a troco de nada. Esta e só uma historia, que ajudou a formular a impressão que tivemos do povo da Síria. Lembro quando uma noite a Bibi me perguntou como faríamos com a lista dos 5 povos mais legais. Realmente é complicado, pois não cabe. Sugeri formularmos uma lista top 10!!!