O melhor lugar para ser curdo!!

Depois de passarmos por regiões habitadas por curdos em diferentes países  finalmente encontramos um lugar onde os curdos tem uma vida tranquila. Como não poderia ser diferente, no Irã. Não poderia ser diferente devido a vários aspectos. Desde que Ciro – O Grande, uniu o império Persa, há mais de 2500 anos atrás, a tolerância em seus domínios sempre foi bem clara. Os povos eram conquistados, mas podiam seguir seus costumes dentro do comando persa. Quando os Judeus foram libertados dos Babilônicos (e até mesmo antes), passaram a viver onde hoje é o Irã. Ate mesmo a mulher do Ciro era judia. Poucos anos atras Israel tentou levar os judeus iranianos para Israel (muitos fugiram após a revolução islâmica), mas eles se negaram a sair, pois criaram uma identidade de Judeus Persas. Cristãos armênios (dentre outros) também vivem na região  e possuem certas regalias. Mesmo vivendo no Irã, podem consumir álcool (que é proibido para os muçulmanos . Ciro, chamado de Kouroush, tem origem Curda por parte da mãe  que era uma Mod, parte dos arianos que originaram os curdos, e o Curdistão foi uma província autônoma por muito tempo. Se (ainda) não é possível ter uma nação Curdistão, pelo menos que sua língua  tradição e costumes sejam respeitados (apesar de existir um preconceito contra eles, acharem que são “do mato, toscos”). Há quem diga que as minorias são tratadas como os persas pelo governo, ou seja, muito mal! Mas não deixa de ser melhor que nos países vizinhos.

Já estávamos maravilhados com as montanhas do Curdistão Iraquiano, e quanto mais nos aproximávamos da fronteira, mais a paisagem ficava bonita. Tivemos um pequeno problema quando nosso táxi  infelizmente, atropelou uma mulher, mas acho que não foi tao serio assim e que ela vai ficar bem. Nosso companheiro de táxi era um Iraniano tipico, mega simpático  e que não nos deixava encostar na carteira, seja para pagar os táxis  almoço ou qualquer coisa. A pequena fronteira era um lixo, cheia de caminhões e lama. Na imigração foi tudo certo, foi só a Bibi amarrar o lenço na cabeça (obrigado por lei) e entramos no Irã.

Marivan, nossa primeira parada, ficava a poucos km dali. Era o primeiro dia de final de semana deles (quinta) e os hotéis tavam todos lotados. Acabamos ficando num bem simples e sujinho, para desespero da Bibi. Para balancear comemos um carneiro muito gostoso, depois de passear pela praça  com velhinhos curdos jogando dama sentados no chão. Quando alguém falava inglês vinha direto perguntar se precisávamos de alguma coisa, nos davam boas vindas e por ai ia…

No outro dia cedo, fomos conferir a atracão da cidade, o lago Zarivar. Tava bem quente, e ainda com a conduta das roupas femininas para cumprir, já imaginávamos que não daria para tomar banho. Muitas pessoas passeando, fazendo piquenique, cantando. Vimos a primeira mulher sem véu,  mas com ele no pescoço  para colocar se alguma autoridade aparecesse. Na água só pedalinhos, e um ou outro tomando banho, todos homens. Curtimos o visual, mas tava muito quente. Resolvemos buscar uma sombra, nas arvores do outro lado do morro. De longe já dava para ver que tinha mais gente fazendo piquenique, desta vez curdos com suas roupas tipicas. As mulheres usam roupas coloridas, ora lembrando saris indianos ora ciganos. Fogueira, rede, musica e muita dança tipica. Sentamos e ficamos olhando de longe. Não demorou para uma família chegar e nos adotar. Conversamos, rimos, dançamos  A chuva chegou e nos amontoamos no carro deles ate a comida ficar pronta. Depois de um dia inteiro juntos, ainda fomos para casa deles, jantamos, tomamos chá e queriam que ficássemos lá.

Lago em Marivan

Piquenique

Marivam e muito agradável  mas queríamos um lugar ainda menor, como uma vila. Howraman não e tao longe em distancia, mas a barreira natural mostra porque a cultura curda conseguiu sobreviver tao bem através dos anos. A cidadezinha, pendurada na montanha, fica isolada do mundo durante o inverno, devido a tanta neve. Mal tínhamos botado as mochilas no chão e uma família já pediu para tirar fotos. Eles eram da capital do Discursista Iraniano, e estavam la aproveitando o feriado, data comemorativa da morte de Fátima  mulher do Imam Ali e filha do profeta Maomé  Não deu tempo de pensar, e já estávamos indo para mais um piquenique, com varias famílias  num lugar sagrado, de frente para a vila, e com vista para as montanhas. Total momento celebridade, ganhamos mais presentes, e queriam porque queriam a Nossa Senhora da Bibi. Como já comentei anteriormente, tem um capitulo só para Nossa Senhora no Corão  Foi muito legal, e a despedida comovente. Só faltavam chorar. Carros lotados com pessoas abanando para nos e buzinando. Um dia muito legal, e com muuuuita comida!!

Caminho para Howraman

vilas

Mais piquenique

Howraman

O lugar e parado no tempo. Não cansávamos de andar pelas montanha, curtir a vista, ir ate a mesquita olhar os locais com seus trajes típicos se encontrarem no final de tarde. Lá embaixo da montanha passa um rio, com água de desgelo e muito verde ao redor.

Trajes

Conhecemos uns iranianos de Teerã  Uma delas e cineasta, e fez um filme na região  Nos ajudaram a traduzir o cardápio  e acabaram nos convidando para ir ate a casa que tinham alugado. Nem uma semana de Ira e vimos que para os iranianos modernos existem duas personalidades. Entrando na casa, roupas são mudadas, lenços tirados da cabeça e garrafas de wiskey e vodka aparecem do nada… Conversamos bastante, bebemos um pouco, e ficamos de entrar em contato quando fossemos para Teerã.

dupla personalidade

A Bibi estava apaixonada pelo lugar, queria morar la. Mas temos data fixa de entrada para os próximos países, então não poderíamos ficar mais de um mês no Ira. Pegamos a estrada de terra pelas montanhas para Pavet. Passamos por diversas vilas, vales, penhascos numa região incrível. Realmente não dava vontade de sair dali. Pavet já e uma “cidade grande”, com uns 20 mil habitantes. Se eu contar que em 5 minutos que chegamos la, já tinha uma família convidando para um piquenique, e que fomos para a casa deles depois, vcs acreditam?

caminho pelas montanhas

mais vilas

Pavet

Acabamos alternando os planos novamente, e em vez de irmos para Kermanshah, voltamos para Howraman, desta vez pela estrada de asfalto que beira a fronteira com o Iraque. Estrada que também e bonita, com calotas de gelo que ocupavam meia pista em alguns lugares. Ficamos na casa do Omid, que tinha ficado de arranjar um quarto para alugarmos, mas acabou nos convidando para ficar na casa dele mesmo. As casas simples da região não tem nenhum móvel  so tv e cozinha, se dorme no chão  que e todo coberto de tapetes. Sapato dentro de casa nem pensar. Tem chinelo para o banheiro, e outro para a casa se quiser.

gelo na estrada de volta

O Omid tem uma historia de vida que poderia ser filme. Durante a guerra Irã-Iraque a região ficou no meio do conflito, e ele se perdeu dos seus familiares quando fugiam pelas montanhas e acabou no Iraque, sozinho, com 8 anos. Trabalhou servindo chá  juntou dinheiro para ir para a Turquia, roubaram todas as suas economias, ficou perdido no meio do nada, foi para Baghdad, trabalhou mais, conseguiu ir para a Turquia, trabalhou mais, foi para a Grécia  depois de barco para a Itália  deportado, tentou de novo, entrou clandestino dentro de um caminhão contêiner, pegou trem para a Franca e em seguida para a Suécia.  Falaram que não estavam aceitando refugiados, foi para a Alemanha, onde não teria liberdade, foi para a Inglaterra, onde o aceitaram como refugiado. A estas alturas já tinha 18 anos.Viveu 12 anos la, achando que sua família tinha morrido. Conheceu uma brasileira de londrina-pr, e casaram. Tiveram um acidente de carro e ela morreu. Ele foi para o Brasil para seu enterro, descobriu que os pais estavam vivos, e 22 anos depois voltou para Howraman! Hoje ele tem uma marcenaria, esta casado e tem uma filha. Você tem coragem de reclamar da tua vida?

vencedor

Aproveitamos mais Howraman, e seguimos estrada para Sanandaj, Hamadan, sempre encontrando pessoas muito bacanas, até chegar em Tehran, onde os nossos novos amigos nos esperavam.

Ps- Tanta gente interessante, historias, mas tem que escolher o que contar. Acabei nem falando do dia que A Bibi esqueceu de colocar o lenço na cabeça, e das pessoas me criticarem por dar pouco ouro para ela, mas fica para uma próxima.

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Quase um novo país; pra cá de Baghdad.

Mesopotâmia, do grego “entre rios”. Lembra aquela historia de que o homem era caçador e coletor, ate encontrar uma área fértil entre os rios Tigre e Eufrates? Pois e, o homem se organizou numa sociedade ali. Vestígios de cidades de 10 mil anos foram encontrados na região.  Civilizações importantes se formaram (Sumérios, Assirios e Babilônicos entre outros), deixando “pequenas” heranças  dentre elas a escrita e a roda…

Pra ca de Baghdad

Ainda no Curdistão Turco encontramos no ônibus um cara que falava bem inglês  Mostrou musicas da sua banda e nos deu algumas dicas sobre as próximas conexões que teríamos que fazer. Seu amigo seguiria o mesmo caminho que nos, então já tínhamos encontrado alguém para dividir os táxis comunitários até Dohuk.

Carimbamos a saída da Turquia e logo estávamos na imigração do Curdistão Iraquiano, uma região autônoma e segura ao norte do Iraque. O plano inicial da viagem era seguir da Turquia para Georgia e Armênia,  mas com o atraso da saída do Brasil, e em Istambul, acabamos mudando os planos. Com um pouco de pesquisa, e ao descobrir que até algumas mulheres sozinhas viajavam para esta região semi-independente do Iraque, nem ficamos tristes de alterar os “planos” (que de qualquer maneira sempre se alteram…). A imigração foi super tranquila, com um saguão com poltronas confortáveis,  e uma pessoa só para servir chá.  Foram simpáticos e atenciosos, só perguntaram para onde estávamos indo, e explicaram que a validade do carimbo (gratuito) de entrada era de 10 dias, mas que poderia ser estendido em qualquer posto de imigração.

Trocamos dinheiro na cidade de Zako, que tem uma antiga ponte de pedra como atração, e com outro taxi comunitario fomos até Dohuk, que e cercada de montanhas. Logo na chegada percebemos que teriamos uma grande dificuldade pela frente – a comunicação. Como se já não fosse suficiente ninguem falar ingles, eles não entendiam a nossa escrita, entao de nada adiantava ter nomes de hoteis escritos num papel. Perdemos um bom tempo nesta historia, e rodamos a cidade inteira ate achar um dos hoteis, que para  triste surpresa, não tinha nada a ver com a descricao que tinham me passado. Ok, tinha ante sala e tv a cabo (satelite), mas era um muquifo, so o preco era bom. Como já tinhamos perdido muito tempo, decidimos passar a noite lá, e procurar outro hotel no dia seguinte. Quando o chuveiro não funcionou e não veio agua quente tudo parecia perdido. Mas para controlar a furia da Bibi, esquentei água na nossa chaleira eletrica e aos poucos enchi uma bacia para ela tomar banho. Ufa, sobrevivi!!!haha

Dohuk

Muitos restaurantes já estavam fechados, e ao caminharmos aleatoriamente para achar uma boa opção  um cara falando um bom inglês se ofereceu para nos ajudar. Nos levou num lugar bacana e gostoso ali perto. Ele tinha aprendido inglês com soldados americanos quando ele morava numa cidade mais ao sul do pais. Seu apelido era Hollywood, e o sonho dele era ser ator. Usava umas roupas toda estileira, um figura! Batemos papo e já conseguimos algumas informações importantes do lugar.

Fomos numa represa, no memorial Curdo, num parque, mas o que mais gostamos mesmo foi do mercado local. Todas estas coisas novas são bem artificiais, e de certo mau gosto. Uns chafariz, luzes, sei la… Mas o mercado mostrava a verdadeira tradição Curda, pessoas com suas roupas tradicionais para cima e para baixo, tomando chá ou no seu dia a dia. Curtimos o clima da cidade, tomamos chá vendo Rambo 2 junto com os “tiozinhos”. Numa noite um senhor alemão se sentou com a gente. Ele, com 75 anos estava viajando sozinho pela região.  Depois de muito bate papo descobrimos que era padre, e que estudava liturgias orientais. Deu dicas de vilas cristas na região e demos muita risada juntos (as custas do que os alemães e brasileiros imaginam da região, e o que ela realmente é).

Estilo local

Eu com o padre alemao e o “hollywood”

Já no novo e bom hotel (garantindo minha integridade física – e o banho da Bibi), um dia deixei a Bibi na porta de entrada, e fui procurar uma internet. Era um recepcionista novo, não o que tinha nos atendido antes. Bem, o cara ligou varias vezes para o quarto, ofereceu chá, e depois se declarou para a Bibi, falando que ela e linda e que ele amava ela. Quando voltei ela me contou, e eu fui furioso tirar satisfações  Em segundos o cara que mal falava inglês estava ajoelhado, e beijando meus pés  pedindo desculpas. Alternava beijando minha mão e implorando. Falei que ia pensar e para ele rezar bastante. Subi para o quarto e logo ele bateu na porta de joelho, implorando novamente. Fiquei com pena e disse que ele estava perdoado, mas que se fizesse isto de novo com outra mulher, Allah não o perdoaria… Acabei ate ficando com pena dele haha.

Em vez de ir direto para Erbil, fizemos um caminho mais longo, por estradas secundarias, ate a cidade crista de Diana. Toda esta região do Curdistão Iraquiano e linda, cheia de montanhas e cânions.  Tivemos azar que estava chovendo boa parte da viagem, o que atrapalhou bastante. O problema de comunicação continuava, e não entendiam para onde estávamos indo e por que, dentre outras coisas. Mas um iraniano que dividia o táxi  e que nada tinha a ver com a historia, não sossegou ate não ligar para um conhecido que falava inglês  e traduzir tudo para nos. Organizou  um restaurante, negociou táxi ate Erbil e so depois seguiu viagem.Uma pequena previa da simpatia do povo iraniano que tanto tínhamos ouvido falar.

Perto da cidade crista de Diana

Foi um dia longo, passamos por mais diversas vilas até chegar na capital da região  Erbil. Claro que não entenderam onde queríamos ir. Mas como existem placas bilíngues  conseguimos chegar ate a citatel. Ficamos num hotel bem de frente para a a fortificação  Esta região e continuamente habitada ha pelo menos 7000 anos. Um “pouquinho” de historia aconteceu por aqui também  Outro importante mercado, uma região famosa pelos seus tapetes. Chamou a atenção tapetes expostos com figuras de Cristo, Imam Ali (primo e genro do profeta Maomé,  a quem os Shiitas seguem) e o Imam Hussem. Os Curdos são muçulmanos sunitas, mas como foram muito perseguidos, e talvez por sua própria tradição, são bastante tolerantes. Essa tolerância foi citada diversas vezes,e com a busca do reconhecimento de sua nação, a harmonia só deve aumentar.

no centro da cidade

Tapetes

Tomando uns sucos e vitaminas coloridas tivemos a noticia da morte do Bin Laden. Tentávamos ter mais informações  mas demorou uns dias ate entendermos direito o que aconteceu. Eles comemoraram o acontecimento, pois são aliados dos EUA/Inglaterra, que os protegeu do Sadam Hussem.

vitaminas

A Bibi tava cansada de comer o “comercial de frango” local ou Kebab, e fomos num shopping chique da cidade. Lojas de marca, musica, igual a qualquer lugar. Na hora de pagar a comida vi que tava sem dinheiro suficiente (pois pediram para eu pagar o hotel quando tava saindo), e acabei cancelando o meu pedido. Eles não aceitam cartão de credito, e sei lá porque eu tava sem dólares de reserva. Acabaram servindo não só a refeição da Bibi que eu tinha pago, como também a minha. Só para vocês terem uma ideia da hospitalidade Curda.

No dia em que fomos para Sulaymania, inacreditavelmente o táxi saiu logo, sem que tivéssemos que esperar muito tempo por outros passageiros. Optamos por não ir de ônibus pois passaríamos por Kikut, já em território Iraquiano. Regoai rica em petróleo  com labaredas de gases queimando ao longo da estrada. Vários controles de passaporte, mas sempre aquela alegria ao vermos que eramos brasileiros.

Kikut

Sulaymania e uma cidade bastante agradável  e inacreditavelmente conseguimos ir direto para o hotel que queríamos.  Andamos pela cidade, e fomos ate o museu Anma Sukara. O museu fica numa penitenciaria onde a equipe do Sadan torturava os curdos. Fotos, encenações de tortura e um cemitério de tanques. Clima bem pesado, como vocês devem imaginar. A visita guiada fez toda a diferença  Soldados pediram para tirar foto comigo, e demos umas risadas falando as palavras em curdo que já aprendemos.

Comida de rua

Soldados na frente do museu.

Depois de tantos táxis  finalmente estávamos novamente num ônibus  passando por paisagens lindíssimas  ate chegar na cidade de Halabja. Esta cidade foi o centro da resistência curda contra o Sadam Husem. Em 1988 o governo iraquiano fez um ataque com diversas armas químicas  matando milhares de curdos. Um memorial foi erguido para explicar tudo que aconteceu neste, e em outros ataques aos curdos, e as consequências  Alguns sobreviventes trabalham hoje no local, e novamente não preciso comentar que as fotos são fortíssimas. Da vergonha do que o ser humano é capaz de fazer.

Fotos em Halabja

Preparando para sair do hotel, encontramos um casal de canadenses que estavam viajando de moto. Passaram 8 meses na estrada, por diversos países europeus ate chegar na Turquia e Curdistão Iraquiano. Para eles a highlight da viagem tinha sido ali, e tem gente que ainda tem medo do oriente…Encontramos um turista no mercado de Dohuk, o Padre alemao, um casal inglês (perto dos 80 anos) em Erbil, alem dos canadenses. Mesmo podendo ser tratados como novidade, sentimos que estávamos viajando invisíveis  Pouco olhavam ou reparavam em nos, só quando nos aproximávamos, ou iniciávamos o contato.

cenario basico…

– Mais sobre o Curdistão Iraquiano: Bem, o Sadan era um doido varrido. Atacava as minorias, fossem elas Cristas, Yazd, Shiitas ou Curdos (alem de matar ate parentes). Depois dos ataques com armas químicas os Curdos tentaram reações  mas cada vez eram mais massacrados. Mais de 180.000 curdos foram mortos, e por pouco um genocídio não aconteceu. Milhares fugiram para as fronteiras do Irã e Turquia para se salvar. Com a ocupação americana no Iraque, os curdos puderam voltar a ter segurança  Hoje o presidente do Iraque é um Curdo, e o Primeiro ministro muçulmano Shiita. Quem não ficou nem um pouco contente com esta distribuição foram os Árabes Sunitas. E por isto o caos continua, e Baghdad, que já foi umas das cidades mais ricas e cultas do mundo, fica para outra viagem…O Curdistão Iraquiano segue na tentativa de, quem sabe no futuro, um referendo, para poder se separar definitivamente do Iraque. Mas as coisas não são tão simples. A Otam com certeza apoiaria, para ter um aliado numa região tao importante como o Oriente Médio.  Porem os vizinhos, Síria  Turquia e Ira, não gostariam nada de abrir um precedente para separações de suas regiões curdas. Se estes detalhes já não fossem o suficiente, regiões com grandes reservas de petróleo ficam bem no meio de onde seria a fronteira deste novo pais. Independente ou não, Curdistão esta num bom caminho, e vimos muitas lojas  e comércios sendo abertos, alem de pessoas que tinham voltado da Europa para aproveitar as novas oportunidades da região.

Que tudo de certo… Boa sorte!!!

bandeiras doIraque e Curdistao lado a lado

Curdistão!

Mapa Curdistao

Quando estava na Síria e Líbano, escrevi um pouco sobre o Curdistão ( Blog). Um povo com uma cultura e língua própria, toda uma tradição e acabou sendo dividido por fronteiras politicas (sendo que na época da Pérsia, eram uma província autônoma). Hoje é a maior população de uma etnia sem Estado do mundo (40 milhoes). Na Turquia, foram proibidos de utilizar sua língua  tradições  nem mesmo comemorar seu ano novo (Nowruz, na chegada da primavera). Desde a independência os turcos tentavam formar um sentimento de unidade no pais, e para isto queriam acabar com identidades de minorias, como os Curdos. Falavam que os curdos não existiam, eram apenas turcos camponeses, turcos das montanhas…

A fim de recuperar sua identidade, nos anos 80 iniciou uma guerrilha, um braco armado do PKK (partido dos trabalhadores Curdos). Muitas mortes e atentados depois, e o líder do PKK foi preso em 1999. O exercito turco reprimiu fortemente a revolta, e a situação virou uma guerra civil, com quase 50.000 mortos.  A resistência ainda acontece, mas tem se enfraquecido com as novas atitudes do governo Turco, que autorizou o ensino de curdo, celebrações de folclore e ate uma televisão Curda. Hoje e uma região tranquila para se viajar, e decidimos conferir.

Com todos os vistos no passaporte (pelo menos os que eram possível pegar no momento), agora poderíamos partir. Pegamos o ferry para o lado asiático de Istambul, deixamos as mochilas no locker da bonita ferroviária  e fomos dar uma caminhada de despedida. Compramos umas comidinhas, mas sem se preocupar muito, pois tínhamos visto na internet que nosso trem tinha um ótimo vagão restaurante. Já acomodados na cabine de primeira classe, 15 minutos antes do trem sair, recebemos a noticia que não teria vagai restaurante nesta viagem. Deu tempo de correr para comprar pão, umas bolachas, água e refrigerante.

Esperando o trem

A cabine era super boa, pia, frigobar, tomadas e camas largas. Ideal para um trajeto longo. A viagem era para ser de 30 horas, mas acabou sendo de 36. E olha que passou rápido  Nos dividíamos entre bater papo, leitura e olhar para fora da janela. Passamos por paisagens lindas, vales, montanhas completamente nevadas, outras que pareciam pintadas com suas manchas brancas de neve  ( muitas vezes abaixo de onde estávamos , vilas com casas e muros de pedra, pastagens (com ovelhas e seus devidos pastores). Pra não dizer que não faltou nada, senti falta de um pouco de interação  Este é o maior problema de uma cabine de primeira classe. Como o trem ia passar perto da região da Capadócia  tinham outros viajantes ate a primeira manha da viagem, mas depois nada. Nas paradas descia para comprar alguma comida, e já quase de manha, nos avisaram que estávamos chegando em Diyabarkir.

Neve!

Vilas

Trem

Diyabarkir e a capital do Curdistão turco, cidade com muita historia antiga (Asirios, Romanos…), e também recente, pois foi o centro da resistência do PKK. Como já era quase de manha, resolvemos arriscar de ir ao nosso couchsurfer (que nos esperava desde a 1hr), mas ninguém atendeu a porta. Nem insistimos muito, e o taxista nos levou ate a região dos hotéis  sem nos cobrar mais por isto. Ficamos dentro da cidade velha, com seu gigantesco muro e ruas estreitas, bem cara de oriente médio  mas com um estilo próprio  Ate as mesquitas já tem uma aparência mais árabe e não turca. O muro escuro da cidade, tem diversos portões e muitas torres, sendo que é possível subir na maioria delas. As do norte tem vista para a cidade e parque que acompanha a cidade velha, e as do sul para o planalto da mesopotâmia, com o rio Tigre a apenas 3 km.

Cidade murada

Rio Tigre

A bonita mesquita (ex-igreja) Ulu Cami e suas Madrasas estavam em reforma parcial, mas a região ao redor, logo em frente ao mercado do ouro estava bem movimentada. Muitos curdos tomando cha, com suas calcas saruel. Pelo jeito tao dando uma geral na cidade, que também possui muitas igrejas. A mais bonita delas, igreja siria Keldani Kilisesi, também tava em reforma. Existem também alguns museus que mostram as casas tradicionais da região, mas nos tivemos outra experiencia com casa tradicional.

Reuniao para o cha

Uma garota de 12 anos e suas amigas puxaram papo com a Bibi (são muito curiosos e simpáticos por aqui). Logo surgiu o convite para irmos conhecer a casa delas, família e por ai vai. Seguimos pelos labirintos da cidade velha, por ruas cada vez mais estreitas. As pixações de PKK estavam presentes por todo o lado. Chegamos na casa de uma delas e logo a família já foi se apresentando, tudo em curdo, pois só a filha e um irmão falavam um pouco de inglês  Ficamos sabendo que a menina de 12 anos e professora de curdo a 4 anos, pois sua família sempre preservou a tradição  enquanto muitas de suas amigas não sabem falar nem a língua do seu povo. Na casa tem uma sala de aula, onde alem da língua  parte da cultura e historia também são passadas. Tomamos chá  comemos pão caseiro e queijo tipico, tudo sentado no chão  rodeados pelos familiares. Ligaram a TV curda Roj, que hoje é legalizada. Falaram bastante da guerrilha, do filho morto pelo exercito turco, dos 3 anos de cadeia por sua filha ensinar a língua curda e por ai vai. O convite para dormirmos na casa deles não demorou muito também. A Bibi ganhou presentes e nos divertimos muito.

Intercambio

Existem muitos lugares interessantes na região  Mardim não fica muito longe dali, uns cento e poucos km ao sul. E uma cidade no topo de uma montanha, com só uma grande rocha acima dela, e uma grande vista para a Síria e Iraque, que estão logo ali do lado. Mais igrejas, algumas dos cristãos nestorianos. Nos viramos muito bem com os ônibus  mesmo sem falar curdo, e logo estávamos a caminho de Cizre.

Constantinopla

Quando decidimos que a continuação da viagem seria pela Rota da Seda/Asia Central, não tínhamos ideia alguma de qual seria o trajeto em si, mas tínhamos uma certeza: iniciaríamos por Istambul. A cidade era perfeita por diversos aspectos. Historicamente era o inicio (e fim) de diversas caravanas, um caldeirão cultural, que unia o Ocidente e o Oriente. Em termos práticos  era um ótimo lugar para pegar os vistos, e uma agradável cidade para esperar por eles.

Da ultima vez que estivemos por aqui fizemos couchsurfing, mas nosso anfitrião estava viajando quando chegamos. De qualquer forma foi bom ficar em um lugar central, bem estratégico para transportes ate as embaixadas. Como vocês leram no post passado, os vistos deram um certo trabalho, mas muitas vezes só em um período do dia, sem contar os intervalos que tínhamos que ficar aguardando. Chegamos até a pensar em fazer alguma viagem para algum lugar perto, mas decidimos não ficar enfiados num ônibus por 5 hs só para um final de semana.

Aproveitamos a cidade com calma. Alguns dos cartões postais mais tradicionais da cidade eram nossos vizinhos. Sabe aquela coisa de ir comprar um iogurte e uma fruta de manhã e passar pela mesquita azul? Então  mais ou menos assim. Tinham alguns lugares famosos que não fomos da outra vez. Fomos na ex-Igreja e Mesquita de Chora, com seus lindos mosaicos (onde Nossa Senhora já tem o manto azul desde criança , no palácio Otomano Dolmabace e no Museu de Antropologia. Mas tipo, um programa por dia, entre as embaixadas e restaurantes. Em um sábado de sol (choveu muito quando estávamos aqui) fomos ate a Prince Island, local onde já foram exilados muitas famílias Bizantinas e Otomanas. A ilha que escolhemos nem tinha tantos casarões assim, mas foi muito bom sair um pouco da “cidade grande” (e tinha uma super vista).

Pertinho de “casa”

Mosaicos de Chora

Prince Island

Fomos em vários restaurantes, repetimos outros tantos, fomos para o lado asiático,  ficamos amigos do cara do mercado, do que vende morango mais barato que banana, do tiozinho do suco… Já nos chamavam pelo nome e com o tempo já ganhávamos sobremesa, cafe, chás e descontos até sem pedir!

Bairro de Istinyie

Com as eleições chegando vimos vários protestos, muitos deles de minorias étnicas,  partidos políticos e ideologias… A policia sempre por perto, com seus carros blindados. Nada muito agradável  Por outro lado, tinham bandeiras da Turquia em tudo que é canto, pois era o dia nacional deles.

Protestos de minorias etnicas

Ficamos amigos de um casal que vai fazer um roteiro bem parecido com o nosso. Trocamos dicas, saímos para tomar um chã  jantamos juntos. Nosso Couchsurfer chegou, saímos com ele. Fomos na missa na pascoa, e numa mesquita na hora da cerimonia. Deu tempo ate pare eu terminar de ler o primeiro livro. O que nos arrependemos (e não nos perdoamos) foi de não ter aprendido um pouco mais de turco.

Revendo amigos, no frio de Istambul

As tulipas sao originarias daqui, e estao por toda a cidade

Se da outra vez saímos de Istambul seguindo a bussola, rumo ao norte, desta vez era só seguir o sol nascente, em direção ao Oriente.

Vistos complicados 2

Os posts sobre vistos complicados já esta servindo mais para desmistificar alguns vistos do que outra coisa. Não sei se eu tenho viajado demais, mas já não são tao complicados. Podem ser um empenho, mas nada que nao se possa contornar.

Para viajar para alguns países  como os da ex-URSS (além de outros), muitas vezes e solicitado uma LOI, carta convite. Como ia para a região  resolvi providenciar as LOIs assim que o visto do Irã chegou. Sabia do caso de um amigo que tirou o visto do Uzbequistão sem a carta convite, mas não poderia correr o risco. A carta pode demorar semanas para ficar pronta, e se o visto fosse negado, isto custaria muito tempo a mais em Istambul.

Entrei em contato com uma agencia que providencia o convite sem outros serviços inclusos (muitas vendem um pacote com hotel, transporte…). Eu fiz o pedido para o Cazaquistão  Uzbequistão e Quirguistão  Logo descobri que o Quirguistão não esta solicitando cartas convites para brasileiros.

Visto Cazaquistão:

-Trem de 40 minutos ate a estacão de Florya. Andar 15 minutos, achar o endereço  Descobrir que o Consulado mudou. Tentar se comunicar com os vizinhos para descobrir onde e o novo endereço.  Acabar pegando um táxi até o local. Descobrir que o consulado esta fechado sem nenhum motivo aparente.

-Outro dia, retornar até o já conhecido endereço,  preencher o formulário de 3 folhas, entregar a carta convite e uma foto. Pagar uma taxa num banco perto do endereço antigo, retornar para entregar o recibo. Muita chuva e um taxista que mandou nos descermos no meio do caminho, pq recebeu uma chamada, isso nos atrapalhou também, alem de nos molharmos bastante.

-Retornar no Consulado dois dias uteis depois. Perguntar sobre o passaporte e a mulher não achar. Esperar uns 15 minutos enquanto ela faz diversas ligações.  Chega a pessoa que nos atendeu no outro dia. Procura o nosso passaporte e entrega com o visto (mesmo tendo deixado partes do formulário em branco, como dados dos vistos da sequencia da viagem).

Quirguistão:

-Tram, subida e uma ladeira, Consulado fechado. Espera. Abre. A mulher passa por nós varias vezes e não fala nada. Arruma a mesa dela. Vai para a cozinha. Faz chá  Toma chá enquanto vê os emails. Nos chama na frente de uma família que chegou antes. Formulário de uma só pagina e foto. Pagar taxa no banco ali perto. Escritório do banco (que não é no banco). Entregar o recibo. Falaram para voltar em 4 dias uteis. Dei uma chorada pois tinha que pegar o visto do Uzbequistão  Deixou eu ficar com o passaporte e entregar no dia seguinte, e prometeu o visto para 3 dias uteis (antes do fds).

Uzbequistão:

Carta convite atrasou sem motivo. Preenchi formulário na internet e imprimi copia. Coloquei “ainda esperando” no local onde pedia o numero da carta convite (não imprimia se não estivesse preenchido). Tram, funicular em vez de subir a ladeira pois estava chovendo, metro, descobrir qual micro-ônibus vai ate o bairro do Consulado. Ao chegar, subir uma escadaria na chuva. Aguardar a vez. Entregar o formulário e foto. Torcer para não falarem nada da carta convite. Descer a escadaria (uma quadra de escada) na chuva e ir ate o banco. Pagar a taxa, levar o comprovante. Esperar (com os pés molhados) 4 hrs num cafe/restaurante. Pegar o visto mesmo sem carta convite. Comemorar, descer as escadas com o novo amigo viajante que estava pegando visto. Pegar micro-ônibus  pegar metro. Ir até o consulado do Quirguistão  Entregar o passaporte. Escutar que vai demorar 4 dias mesmo, e não 3 ( e com isto perder o trem do final de semana).

Então, pode ser empenho, complicado neste sentido, mas difícil também não é. Achei que até foram fáceis  Claro que não se comparam ao vistos que pegamos nas fronteiras, mas aquele mito de “sera que vão me dar o visto”  nestes casos é um pouco de exagero.

Caso alguém precise dos endereços  preços  nomes dos transportes de tudo isto em Istambul, é só falar. Não coloquei, pois ficaria meio chato para quem não vai usar.

Bem, logo a viagem propriamente dita começa, e ainda existem algumas embaixadas para serem visitadas.

 

How I posted in Lonely Planet forum:

Hello, I just want to share my experiences about getting Central Asian visas in Istanbul.

Kazakistan (with Loi):
The Consulate is no longer at Florya Caddesi 62. It is on the corner of Konakli and Germeyan, not far from there.
Get the train from Sirkeci to Florya station, takes about 30 to 40 min (1,75 lira). It’s about 15 minutes walking, or 4,5 lira by taxi (it was raining a lot).
You have to fill the 3 page application, one photo, and pay at the Bank (another 15 min walk or 5 lira taxi). The cost of visa depends of your nationality. Brazilians have to pay 30 usd, and some Canadian had to pay 100 usd. You have to pay 6 lira commission to the bank. You co back and give the recite to them, and have to wait 2 working days.
On the application asked about the next country visa or Loi. I left it blank, but got the visa.
Open 9-12 and 15:30 to 16:30

They didn’t talk much there, but was easy process.

Kyrgystan:
The Consulate is on La Martin Caddesi, 7. Going out of the funicular exit, make a diagonal on your right side. Very easy to find.
Got the one page form, gave them a picture an no Loi was required. Payed the 80 usd for the visa at a bank 5 min from there. Went back, and she said to pick up the visa 4 working days later. I Begged for 3 working days and she agreed. She let me stay with the passport one more day so I could get the Uzb visa. Had to give back the passport before 17 of the following day.

Open everyday 10-12 and 14 to 17.

The lady took her time to start to work in the morning. Had tea, checked emails, but after was extremely friendly and helpful.

Uzbekistan:
I had appied for the Loi 3 weeks before, but since it had not arrived, decided to try without it.

Take the metro (1,75 lira)on Taksim and stop at 4 Levent. Exit on “Yeni Levent” and catch the minibus (1,50 lira) to Istiniye (ask to be dropped at “Devlet hastanesi”. The consul is on a parallel street as the one you will go down. You have to go up on the hill. (thanks Cam & Noemi!)
Sehit Halil Ibrahim Caddesi, 23 .
You MUST apply at www.evisa.mfa.uz and bring one copy with you.
Open Mon, Wen, Fri 10-12 and 15-17
Payed the 80 usd at the bank, plus 6 lira commission and got the visa in the same day, without Loi.

Not much talk there. They want you to have everything on hands and ready. Not that friendly but very straightforward.

If you buy the akbil, you will pay less every transport in a row that you get.

I hope it helps.