Curdistão!

Mapa Curdistao

Quando estava na Síria e Líbano, escrevi um pouco sobre o Curdistão ( Blog). Um povo com uma cultura e língua própria, toda uma tradição e acabou sendo dividido por fronteiras politicas (sendo que na época da Pérsia, eram uma província autônoma). Hoje é a maior população de uma etnia sem Estado do mundo (40 milhoes). Na Turquia, foram proibidos de utilizar sua língua  tradições  nem mesmo comemorar seu ano novo (Nowruz, na chegada da primavera). Desde a independência os turcos tentavam formar um sentimento de unidade no pais, e para isto queriam acabar com identidades de minorias, como os Curdos. Falavam que os curdos não existiam, eram apenas turcos camponeses, turcos das montanhas…

A fim de recuperar sua identidade, nos anos 80 iniciou uma guerrilha, um braco armado do PKK (partido dos trabalhadores Curdos). Muitas mortes e atentados depois, e o líder do PKK foi preso em 1999. O exercito turco reprimiu fortemente a revolta, e a situação virou uma guerra civil, com quase 50.000 mortos.  A resistência ainda acontece, mas tem se enfraquecido com as novas atitudes do governo Turco, que autorizou o ensino de curdo, celebrações de folclore e ate uma televisão Curda. Hoje e uma região tranquila para se viajar, e decidimos conferir.

Com todos os vistos no passaporte (pelo menos os que eram possível pegar no momento), agora poderíamos partir. Pegamos o ferry para o lado asiático de Istambul, deixamos as mochilas no locker da bonita ferroviária  e fomos dar uma caminhada de despedida. Compramos umas comidinhas, mas sem se preocupar muito, pois tínhamos visto na internet que nosso trem tinha um ótimo vagão restaurante. Já acomodados na cabine de primeira classe, 15 minutos antes do trem sair, recebemos a noticia que não teria vagai restaurante nesta viagem. Deu tempo de correr para comprar pão, umas bolachas, água e refrigerante.

Esperando o trem

A cabine era super boa, pia, frigobar, tomadas e camas largas. Ideal para um trajeto longo. A viagem era para ser de 30 horas, mas acabou sendo de 36. E olha que passou rápido  Nos dividíamos entre bater papo, leitura e olhar para fora da janela. Passamos por paisagens lindas, vales, montanhas completamente nevadas, outras que pareciam pintadas com suas manchas brancas de neve  ( muitas vezes abaixo de onde estávamos , vilas com casas e muros de pedra, pastagens (com ovelhas e seus devidos pastores). Pra não dizer que não faltou nada, senti falta de um pouco de interação  Este é o maior problema de uma cabine de primeira classe. Como o trem ia passar perto da região da Capadócia  tinham outros viajantes ate a primeira manha da viagem, mas depois nada. Nas paradas descia para comprar alguma comida, e já quase de manha, nos avisaram que estávamos chegando em Diyabarkir.

Neve!

Vilas

Trem

Diyabarkir e a capital do Curdistão turco, cidade com muita historia antiga (Asirios, Romanos…), e também recente, pois foi o centro da resistência do PKK. Como já era quase de manha, resolvemos arriscar de ir ao nosso couchsurfer (que nos esperava desde a 1hr), mas ninguém atendeu a porta. Nem insistimos muito, e o taxista nos levou ate a região dos hotéis  sem nos cobrar mais por isto. Ficamos dentro da cidade velha, com seu gigantesco muro e ruas estreitas, bem cara de oriente médio  mas com um estilo próprio  Ate as mesquitas já tem uma aparência mais árabe e não turca. O muro escuro da cidade, tem diversos portões e muitas torres, sendo que é possível subir na maioria delas. As do norte tem vista para a cidade e parque que acompanha a cidade velha, e as do sul para o planalto da mesopotâmia, com o rio Tigre a apenas 3 km.

Cidade murada

Rio Tigre

A bonita mesquita (ex-igreja) Ulu Cami e suas Madrasas estavam em reforma parcial, mas a região ao redor, logo em frente ao mercado do ouro estava bem movimentada. Muitos curdos tomando cha, com suas calcas saruel. Pelo jeito tao dando uma geral na cidade, que também possui muitas igrejas. A mais bonita delas, igreja siria Keldani Kilisesi, também tava em reforma. Existem também alguns museus que mostram as casas tradicionais da região, mas nos tivemos outra experiencia com casa tradicional.

Reuniao para o cha

Uma garota de 12 anos e suas amigas puxaram papo com a Bibi (são muito curiosos e simpáticos por aqui). Logo surgiu o convite para irmos conhecer a casa delas, família e por ai vai. Seguimos pelos labirintos da cidade velha, por ruas cada vez mais estreitas. As pixações de PKK estavam presentes por todo o lado. Chegamos na casa de uma delas e logo a família já foi se apresentando, tudo em curdo, pois só a filha e um irmão falavam um pouco de inglês  Ficamos sabendo que a menina de 12 anos e professora de curdo a 4 anos, pois sua família sempre preservou a tradição  enquanto muitas de suas amigas não sabem falar nem a língua do seu povo. Na casa tem uma sala de aula, onde alem da língua  parte da cultura e historia também são passadas. Tomamos chá  comemos pão caseiro e queijo tipico, tudo sentado no chão  rodeados pelos familiares. Ligaram a TV curda Roj, que hoje é legalizada. Falaram bastante da guerrilha, do filho morto pelo exercito turco, dos 3 anos de cadeia por sua filha ensinar a língua curda e por ai vai. O convite para dormirmos na casa deles não demorou muito também. A Bibi ganhou presentes e nos divertimos muito.

Intercambio

Existem muitos lugares interessantes na região  Mardim não fica muito longe dali, uns cento e poucos km ao sul. E uma cidade no topo de uma montanha, com só uma grande rocha acima dela, e uma grande vista para a Síria e Iraque, que estão logo ali do lado. Mais igrejas, algumas dos cristãos nestorianos. Nos viramos muito bem com os ônibus  mesmo sem falar curdo, e logo estávamos a caminho de Cizre.

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