Em 2003 fui para o Peru com uns amigos. Era uma surf-trip, mas claro que a barraca e afins estavam na mochila para fazer a caminhada até Machu Picchu.
Chegamos no dia 28 de Julho, dia da independência peruana e as ruas estavam um caos. Fomos direto até Punta Hermoza, praia que utilizamos como base para explorar a região. Cada dia era uma praia, com ondas para todos os gostos. De manhã bem cedo sempre encontrávamos um senhor, Paco Del Castillo, que ficamos sabendo mais tarde ser um dos pioneiros a surfar no Peru. Ficamos amigos dele e do seu filho, Roberto, que sempre estava na água. Revesávamos entre as ondas de “Herradura”, “Caballeros”, “Señoritas”, “Punta Hermoza” e nossa predileta, “Punta Rocas”, que estava grande. Bem, pelo menos achávamos até então. Com a ondulação chegando, a gigantesca onda de “Pico Alto” começou a “funcionar”. Mas segundo nosso amigo local, Roberto, com aquele vento o lugar ideal era a tal de “Peñascal”. Pegamos o ônibus sentido sul, e lembro de olhar a praia e pensar, “é até que tem onda”. Mas ele riu, falando que não era aquela “ondinha”. Apontou lá para o fundo, onde devido a distância não dava para ter noção do tamanho da onda, mas já imaginava que era a maior onda que já tinha encontrado até ali.
Como é um blog de viagens, não de surf, não vou entrar em detalhes, só contar que literalmente quase morri. A cordinha arrebentou, quase me afoguei, lutando contra a corrente durante mais de meia hora, ainda tendo que pisar em ouriços para sair do mar. Pelo menos peguei uma ou outra onda com mais de 10 pés!
Com aquela ondulação chegando, decidimos ir mais ao norte do Peru. Um amigo do Paco alugaria um carro por um preço camarada se o Roberto fosse junto. Topamos na hora, mas como ele não sabia dirigir, mal sabíamos da encrenca que estávamos nos metendo.
Fomos extorquidos a cada posto policial, na ida e na volta. Parecia que combinavam e passavam um radio para o posto seguinte “tem uns trouxas brasileiros indo…”. Tínhamos verificado que não era necessária a carteira de motorista internacional, mas eles alegavam que precisava. Nas cidades maiores parávamos para verificar e confirmávamos que tínhamos razão. De nada adiantava, teve um guarda que disse que a regra tinha mudado na “semana anterior”. Tentávamos de tudo, mas no final só eramos liberados deixando um dinheirinho.
Fomos até Pacasmayo, passando antes em “Chicama”, uma das ondas mais compridas do mundo. Apesar do estresse com os policiais, foi uma road-surf-trip muito divertida!
Após devolver o carro em Punta Hermoza na volta, ainda exploramos Lima e pegamos umas baladinhas. Uma coisa que achávamos muito engraçado era que o cobradores iam empurrando as pessoas do ponto para dentro do ônibus falando “Lima, lima, Lima” sendo que muitas vezes elas nem queriam ir para lá.
Chegava ao fim a etapa litoral da viagem e partimos para as montanhas, em um voo até Cusco. Naquela época, não tinha tanta informação quanto hoje. Não era só entrar na internet e saber bem certinho sobre como ir até Machu Picchu. Eu tinha amigos que tinham feito a trilha Inca na década de 90. Tinha que carregar tudo, falavam da dificuldade de encontrar o inicio da trilha e tal…
Mas tudo tinha mudado. Minha barraca, fogareiro e equipamentos em geral pareciam supérfluos. Para chegar até Mache Picchu somente através de agencias. Não era o ideal, mas tudo bem, fomos atrás. Nos surpreendemos quando vimos que estava tudo lotado para as próximas semanas. Mas não desistimos tão facilmente. Depois de revirar Cusco atrás de um pacote, sem sucesso, encontramos uma guia Quechua, que se dispôs a nos ajudar. Fomos com ela encarar filas em um escritório oficial de turismo, e depois de uma longa tarde saímos com as autorizações. Tudo certo então? Mais ou menos. A trilha liberada era outra, portanto tínhamos só 3 dias (2 noites) e não 4 (3 noites) para chegar até Machu Picchu.
Combinamos com a guia que tentaríamos passar os postos de controle da trilha original, e aumentaríamos o ritmo, para ganhar um dia. A desculpa que demos era que que na trilha do trem (que tínhamos autorização) haviam muitas cobras , não sei como, colou e seguimos pela trilha desejada. Na longa caminhada íamos conhecendo pessoas, mas deixando para trás, para poder completar o percurso a tempo. Até que não foi ruim acampar em um lugar sozinhos, ainda mais quando saiu uma lua cheia que iluminava os picos nevados. Quem diria que todo o equipamento que eu levei seria utilizado, já que não fizemos parte de nenhum grupo, com carregadores de barracas, comidas, etc,
A trilha é muito legal, realmente vale a pena! A incrível paisagem, os passes que chegam a 4200 metros e os diversos sítios arqueológicos (Runkurakay, Phuyupatamarca…) todo o conjunto é tão legal quanto Macchu Pichu em si.
Devido a altitude, muitas vezes o ritmo da caminhada era lento e as subidas pareciam intermináveis. A segunda noite se aproximava e ainda estávamos longe do ultimo local permitido para acamparmos (onde inclusive tem uma construção). Fui com a guia na frente ver se conseguíamos um lugar para a barraca e meus dois amigos ficaram para trás. No final das contas acabou anoitecendo e ficaram perdidos no meio da trilha. Víamos somente algumas luzes das lanternas no alto da montanha, contrastando com a escuridão do lugar. O jeito foi contratar um guia para ir resgatar eles e outros retardatários. Pelo menos eles estavam caminhando ha umas 17 horas, mas não fugiram das minhas piadas. rs
Mas nem todas as dificuldades haviam sido superadas. Como não tínhamos autorização para estar nesta trilha, não tínhamos lugar para acampar, pois estava tudo lotado. Acabamos dormindo nas escadarias, junto aos carregadores, que pouco mais tarde nos acordaram, quando o refeitório foi liberado. Quando todos das excursões foram para suas barracas, aproveitamos para entrar e dormir nos bancos entre as mesas. Sono profundo mais curto, pois quando arrumavam o café da manhã para o pessoal tivemos que acordar (a caminhada inicia as 4 da manhã).
Comemos o pouco que restava das comidas que carregávamos e não encaramos os altos preços do cardápio. Quando o pessoal saiu para a trilha, alguns carregadores logo foram pegando as sobras. Nos ofereceram claro que não negamos. A sorte é que tinha sobrado muita comida!
Seguimos a trilha e logo estávamos chegando na Puerta Del Sol, avistando Machu Picchu pela primeira vez!! Depois de tento esforço, acho que acabamos valorizando ainda mais aquele super visual!
Caminhada até lá com a sensação de dever cumprido, visita guiada pelas ruínas e um merecido descaço no gramado. Incrível todas as construções e conhecimentos que os Incas tinham! Ficamos curtindo o lugar e eu ainda encarei uma subida até Wayna Picchu! Novamente valeu muito a pena!
Em Aguas Calientes tomamos aquele banho quente nas termas e mal reclamávamos do cheiro de enxofre. Dormimos feito pedras e pela manhã pegamos um trem de volta até Cusco. Depois de uma boa noite de sono (mais ou menos, rolou uma baladinha!) exploramos mais a bela cidade.
Já tínhamos explorado Ollantaytambo e o vale sagrado, então foi bom passar mais uns dias em Cusco, cidade muito interessante. Além das atrações mais obvias, gente do mundo inteiro para bater papo, ruelas e mercados para andar sem destino.
Logo estávamos pegando o voo para Lima, onde ficamos uma noite na casa de amigos de amigos. Voltando para o Brasil, já fazia planos para uma próxima viagem, melhor forma de curar uma ressaca pós viagem!