Todos estão de passagem pelo Níger?

Níger não é um país estampado nos cartazes da agencias de turismo. Muitas pessoas se confundiriam perguntando, “Não é para Nigéria que você vai?”. Outros tantos não saberiam definira a nacionalidade de quem nasce no Niger (Nigerino). Um dos países mais pobres da Africa, frequentemente está em ultimo lugar nas listas de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de todo o mundo. O que eu fui fazer lá? Me surpreender!

Eu viajava numa das principais estradas do país, rumo a capital, Niamey, mas parecia que me dirigia sentido ao interior. Um estrada muito simples e de má qualidade, pouquíssimas cidades, que na verdade eram uma ou outra vila, mesmo eu estando numa das regiões mais populas do país.

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Quando atravessamos o Rio Niger, entrando na capital, os quatro Fulas (uma das etnias locais), altos e magros, não esconderam a alegria. Falavam sem parar e gritavam para o motorista orientações de onde queriam descer. Eles dividiam o ultimo assento do ônibus comigo, o que mais sacolejou durante a viagem. Todos os outros passageiros viravam para ver o que diziam. Eles estavam voltando de uma temporada de trabalho em Freetown, Serra Leoa. Não sabiam dizer ao certo quantos meses estavam fora. O bastante um comentou, mais de meio ano afirmou o outro- sem comunicação com a família. Grande parte da população do Niger esta na região rural e vive de subsistência. As poucas dezenas de dólares que conseguiram guardar mensalmente faria grande diferença no dia a dia de seus parentes. Antes de descer um deles me desejou boa sorte na minha jornada. Minha vontade era de dizer, fique com a sorte, você precisa mais dela do que eu. Mas ele saiu com seus amigos feliz da vida, e ficou abanando quando eu dei uma espiada pela janela lacrada por causa do ar condicionada que já não vencia o calor lá de fora.

Alguns quilômetros adiante, já dentro da cidade, o ônibus parou na “moderna” estação. Não existe o sintema de rodoviária na maioria dos países da África, cada companhia tem seu terreno. Muitas vezes parece um terreno baldio, cheio de lixo e empoeirado. Eu havia embarcado num destes em Ouagadougou, Burkina Faso, que era exclusivo da Sonef. Em Niamey, sede da empresa, eles tinham dois terminais grandes, murados, bem estruturados para os padrões locais.

Grande mesquita de Niamey

Grande mesquita de Niamey

No meu plano inicial, eu passaria uns dias na capital e seguiria ao sul, onde faria uma ou outra parada antes de chegar ao Benim. Mas uma semente havia sido plantada, meses antes, em um bate papo informal em Florianópolis. Meu amigo, Edson Walker, grande viajante que já esteve no Niger ficou empolgado com meus planos de viagem. Primeira coisa que perguntou é se eu iria para a histórica Agadez. Não que eu não tivesse cogitado, mas não parecia fazer muito sentido eu me aventurar quase mil quilômetros sentido ao Saara para depois retornar. Cheguei a estudar uma ida até o Chade para voltar de avião, mas teria que passar por cidades na fronteira da Nigéria onde tiveram recentes atentados do Boko Haram. Estava descartado este trajeto.

Eu tentei colher o máximo de informações possível, entender como estava a situação. O wikitravel dizia que qualquer viajante que tentasse chegar a Agadez seria mandado de volta no primeiro ônibus no sentido contrario, o que poderia demorar 24 horas. Eu fiquei sabendo de um cara que tinha feito o trajeto poucos meses antes, e disse que tudo estava ok. As pessoas em Niamey não sabiam informar direito, era tão longe, uma realidade tão diferente da delas. Teve rebelião dos Tuaregues, as coisas estão agitadas nos últimos anos por lá, um jovem me disse, quando tomava um café (ultimas décadas na verdade!). Outro recomendou eu entrar em contato com a policia ou exercito. Mais fácil foi eu perguntar no guichê onde vendem passagem para lá, afinal de contas, com ônibus diários, sabiam exatamente como estava a região. Um rapaz entusiasta me encorajou. Está bem tranquilo, só não vá mais ao norte. O pessoal não sabe o que fala… A proibição de estrangeiros caiu em Janeiro, pode ir tranquilo. A falta de informação é cruel, mas a sua confiança me contagiou e comprei um bilhete. O ônibus partiria as quatro da manhã. Sai para perambular pela cidade. Haviam me recomendado o museu nacional, um dos mais completos do Oeste da Africa, mas com pouco tempo eu preferi curtir a cidade como um todo. Fui na imponente mesquita principal, financiada pelo Kadafi, onde diversos jovens jogavam bola nos seus arredores. Futebol é um dos esportes mais populares do Niger, talvez só superado pela “Luta Tradicional”. Eu havia me informado onde tinha um ginásio da luta local e fui la para conferir se estavam treinando. Infelizmente lá só acontecem as competições. Gostaria de ter visto um ou outro combate, mas não tinha nenhum agendado. É uma especie de Wrestling, onde vence quem derruba seu oponente com os dois ombros no chão. Nada de tatame, tudo num piso empoeirado, acompanhado de musica e rituais tradicionais. Dei uma olhada nos mercados, no Rio Niger, onde as pessoas lavam a roupa mesmo no centro da cidade. Queria procurar pelos famosos morcegos da região e ninguém entendia direito quando eu perguntava por informações. Mas quando escureceu eu entendi porque, eles estavam por todos os lados, sobrevoando a cidade e dando seus rasantes. Com o anoitecer eu, com minha mochila, sabia que seria uma presa fácil. Não para os morcegos, mas para algum oportunista que me visse dando mole.

Peguei um táxi coletivo para a estação de ônibus e fui comer alguma coisa no pequeno mercado improvisado ali na frente. Os preços dos hotéis são muito caros na capital do Niger, não valeria a pena para poucas horas. Descansaria na rodoviária mesmo.

Dormindo na estação de ônibus de Niamey

Dormindo na estação de ônibus de Niamey

Comprei um baguete e quatro espetinhos de bode (100 CFA/0,15EUR cada) e me sentei num banco. Um rapaz puxou papo em inglês. Aparentava ter uns vinte poucos anos (depois descobri que tinha quase trinta), e falava inglês relativamente bem. Era de Burkina Faso, mas não morava lá fazia tempo. Estava sempre se mudando atras de trabalho. O ultimo foi no porto em Benim, se orgulhava de ter mandado um bom dinheiro para casa. No inicio fiquei meio atento, na defensiva, mas depois baixei a guarda. Ele me elogiou: “você é gente boa, me aproximo de muitos brancos que nem querem conversar”… “Depois de um tempo de conversa ele peguntou: “Onde você mora mesmo? Brasil? Tem trabalho bom lá? Se me levar para o teu país posso trabalhar em qualquer coisa…”. Ele dizia que estava indo para a Argélia ou Líbia. Dizia ter empregos bons lá. Eu brincava perguntava se ele ia mesmo para lá ou se daria uma esticadinha até a Europa. Ele negava, dizia ser muito perigoso, “Minha família depende de mim!”afirmava.

Ele passou uns dias sem dinheiro, e até enviarem para ele completar a viagem, ficou vivendo na rodoviária. Me mostrou o salão de espera, três andares onde as pessoas descansavam em esteiras,o banheiro e chuveiros. “Precisa tomar banho depois de alguns dias, te da força”, afirmava. Na sala de espera, o primeiro nível era para as mulheres e os outros dois para os homens. Ao contrario dos ouros países que passei nesta viagem(e os que iria também) a maioria esmagadora da população do Niger é Muçulmana.

Garanti minha esteira e dei uma esticada. Achei que iria dormir, mas tinham muitas pessoas querendo conversar. Muitos curiosos apareceram e meu novo amigo servia de interprete. Queriam saber da minha vida e eu da deles. Eramos todos viajantes, mas cada um com um proposito diferente. A impressão que fiquei é que todo mundo que encontrei no Niger estava em transito. Já sobrecarregado de informação e de duras histórias de vida, cochilei. Uma hora antes da saída do ônibus um funcionário acordava todo mundo, puxava as esteiras e tocava uma musiquinha irritante enquanto iluminava a todos com sua lanterna. Me despedi de algumas pessoas, mas muitos outros seguiriam comigo, no mesmo ônibus, rumo a Agadez.

Aproveitei as primeiras horas para dormir, ou pelo menos descansar. Ainda escuro, e sem a influencia do sol forte, o ar condicionado ainda funcionava. Vesti até uma jaqueta corta vento e um lenço no pescoço. As estrada era ok, mas o ônibus lotado tinha pouco espaço para as pernas. Na primeira parada para controle de passaportes fiquei tenso. O oficial subiu no ônibus e olhou o passaporte e identidade de todos. Ficou procurando meu visto e de onde eu era. Perguntou para onde eu ia e me devolveu o passaporte sorridente. “Bon Voyage!”. Mas nem todos tiveram a minha sorte. Muitos tiveram que descer e entrar em uma tenda improvisada. O motorista esperou, impaciente mas esperou, muitas pessoas serem extorquidas em cada uma das paradas do exercito. Em duas delas me mandaram descer. Fui na tenda, somente verificaram o passaporte, anotaram uns dados e me liberaram. Outra pessoas me perguntavam o quanto eu tinha pago, e se surpreendiam quando falava que nada. Nem todos tinham a mesma sorte, e muitas pessoas iam deixando suas economias pelo caminho.

Paisagens gravadas na minha memória

Paisagens gravadas na minha memória

Interior do Niger

Interior do Niger

Niger

O interior sempre é mais interessante que as cidades

Niger

Povoados no meio do Niger

Numa das paradas, tentando entender a situação, um senhor saiu em defesa dos oficiais. “Eles pagam dinheiro para serem liberados porque os documentos não estão em ordem. O meu está e eu nunca tive que pagara nada…”. No ponto de vista dele os policiais estavam sendo generosos em deixar o pessoal seguir viagem, era apenas uma troca de favores.

Por falar em troca de favores, numa parada mais longa decidi comprar um pedaço de frango e batatas fritas. Meu amigo estava comigo e não conseguiria comer com ele olhando. Comprei o mesmo para ele. Em todas as outras paradas ele vinha com alguma coisa para mim, fosse uma laranja, um saquinho de água ou qualquer coisa que fosse comer. Vontade de dizer, fique para você, guarde, não precisa. Mas não, na África a reciprocidade é muito forte. Você ajuda e é ajudado, você sorri e faz amigos. É uma lei natural, ninguém sobrevive sozinho, um depende do outro e todos sabem disto.

Tuaregues ficam mais comuns no interior

Tuaregues ficam mais comuns perto do deserto

Churrasquinho sempre presente

Churrasquinho sempre presente

A estrada foi se deteriorando e logo era mais fácil trafegar pela areia que pelos buracos. Vez ou outra dava para avistar um caminhão tombado na beira da estrada. Paisagem monótona, só mudava quando passávamos por algum vilarejo ou por pastores. Alias era minha alegria quando dávamos uma parada um pouco mais longa. Olhar as diferentes casas, pessoas, estilos, parecia um sonho.

Parte boa da estrada

Parte boa da estrada

Já havia passado das onze da noite ( tínhamos saído as 4 da manhã) quando teve um controle “pente fino”. Olharam todo o bagageiro do ônibus e analisaram minunciosamente os documentos. Eu havia sido surpreendido positivamente por cada sorriso e gesto acolhedor de cada oficial que encontrei no Niger, mas eu ainda parecia não acreditar. Seria tudo tão fácil? Neste ultimo controle disseram que ficariam com meu passaporte. Eu disse que não podia me separar dele mas insistiram. É para o registro, esta tudo bem. Amanha de manhã você pode buscar na delegacia, fique tranquilo. Procedimento normal. Já estava tão exausto que concordei. Poucos quilômetros adiante entramos em Agadez.

Pequei uma moto e fui até um hotel que haviam me indicado. Passamos por ruas estreita, casas feitas de barro, num verdadeiro labirinto desta cicade do seculo 11. O hotel, bem decadente, aparentava ter tido seus dias de gloria, mas estava em pedaços. Pedi o quarto mais barato e capotei.

Quarto simples e caro

Quarto simples e caro

Acordei assustado, com o despertador estridente. Havia dormido profundamente, e acordei com a sensação de que tinha perdido a hora. O ventilador não vencia o calor. Ainda era cedo, mas o sol já estava mostrando quem mandava naquela região. Fui tomar um banho e me deu uma tristeza. Fazia tempo que alguém não passava uma água por ali, de tão imundo que estava o lugar. Falei um um funcionário que regava umas poucas plantas no jardim interno do hotel. Pedia informação sobre como chegar à delegacia de polícia. Ele chamou o irmão do dono do estabelecimento, o jovem Mohamed. Com carra de sono, ele pediu cinco minutos e disse que me acompanharia. Lavou o rosto e enrolou um cigarro de maconha. Me contou da época que o hotel era frequentado por turistas europeus. Mostrou fotos de caminhonetes que atravessavam o Saara até chegar em Agadez na época que seu pai era vivo. Era um ótimo negocio, dizia (ele nem tinha nascido). Um italiano construiu este hotel. Mas depois da rebelião dos Tuaregues, somente nigerianos se hospedam aqui.

Peguntou se eu queria ir de táxi, mas como fiquei sabendo que era próximo, resolvi ir a pé mesmo. Ele me olhou com uma cara de “então tá”, e logo percebi porque. Sol fortíssimo, poucas sombras, mas foi bom para ir me localizando na cidade. Ele parou para comprar um perfume importado. Muito bom, dizia, oferecendo para eu cheirar. Muito dinheiro em Agadez, uma cidade muito rica. Algumas quadras depois chegamos a uma especie de quartel, onde indicaram o local onde deveríamos ir. Alguns soldados batiam papo numa varanda e pediram para eu esperar. Esperamos, esperamos e o Mohamed cansou. Vamos comer algo, depois voltamos, ele dizia. Eu estava aflito por estar sem meu passaporte e disse que esperaria por ali. Ele saiu voltaria depois para me buscar. Um bom tempo passou, não sei ao certo quanto, pois estava sem relógio. Mas foi tenso, demorado psicologicamente. Os soldados me convidaram para sentar, mas eu fiquei encostado numa pilastra, de onde conseguia ver a rua e me distrair um pouco.

De uma hora para outra chega um carro relativamente rápido, levantando poeira do chão de terra. Todos se levantam e batem continência. Era o oficial da noite anterior. Ele bate nas minhas costas e diz para eu acompanha-lo para uma sala. Um outro soldado vem junto e fecha a porta. Será que cairia numa armadilha? Onde estaria meu passaporte? Já tinha passado por tantos controles e parecia que eu ainda não acreditava que tudo fluiria tão bem. Ele apenas registrou meus dados, anotou onde eu estava hospedado e quantos dias ficaria por ali. Me proibiu de passar do limite norte da cidade. Aqui você está seguro, mas tem muitos problemas por lá. Infelizmente não seria desta vez que eu conheceria as Montanhas Air, que ficam no meio do deserto e tem o tamanho de uma Suíça. Tampouco o famoso Tenere. A maioria das vilas e acampamentos tuaregues também estavam off-limit para estrangeiros, somente com uma autorização especial, transporte, guia e escolta armada, fora do meu orçamento e bom senso.

Fiquei batendo papo, me serviram chá, e o Mohamed apareceu. Sinalizei que tudo estava ok e fomos caminhar pela cidade. A cidade é toda plana, com construções térreas e uma ou outra de dois andares. O minarete da antiga mesquita tem apenas 27 metros mas pode ser visto de longe. Caminhamos pela cidade antiga, mercados e fomos conhecer o interior da mesquita.

Minarete da mesquita se destacando na cidade

Minarete da mesquita se destacando na cidade

Mesquita toda de barro

Mesquita toda de barro

Mesquita de Agadez, cidade patrimônio da Unesco

Mesquita de Agadez, cidade patrimônio da Unesco

Quando o sol estava insuportável paramos num restaurante para comer e bater papo. Pronto para descansar, o Mohamed me convidou para voltar para o hotel. Ele ligava para amigos que iriam fugir do calor no seu quarto com ar condicionado. Beberam cerveja e fumaram, enquanto cantavam ao som de violão e batuques, musicas de “Azawad” (liberdade). Acompanhei um pouco para não fazer desfeita, mas depois parti sozinho para explorar mais a cidade antiga.

Cidade velha da Agadez

Cidade velha da Agadez

Futebol em um final de tarde na cidade velha de Agadez

Futebol em um final de tarde na cidade velha de Agadez

Mercados Agadez

Mercados Agadez

Alguns vendedores insistiam para eu entrar em suas lojas. Belos artesanatos e a famosa “Cruz de Agadez” eram os primeiros itens a serem oferecidos. Um grupo de mulheres entravam cantando em frente ao Palácio do Sultão. Parecia que teria uma grande festa. O Sultão de Agadez é uma figura importante, como que um governo paralelo. Mostra um pouco da importância que a cidade já exerceu (1449 já era um sultanato), quando estava numa das principais rotas de conexão entre a África e a Europa. Rivalizava com Timbuktu, e sua imponência ainda pode ser observada na arquitetura entre as ruas empoeiradas.

Palácio do Sultão de Agadez

Palácio do Sultão de Agadez

Quando o Mohamed não estava com seus amigos ou com prostitutas nigerianas, ele saia para dar umas voltas comigo. Me levou para diversos lugares de moto, sempre sem me cobrar nada (também me deu presentes antes de ir embora). Parecia orgulhoso de mostrar a região, alem de me mostrar para seus amigos. Eu não deixava de ser um troféu, sei lá porque. Fomos no mercado de animais, uma das paradas indispensáveis para quem esta vindo ou voltando para o deserto. Tuaregues negociavam cabras e mantimentos. Cordas e camelos eram vendidos na parte sul do terreno, no meio de muito lixo e poças de água.

Com meu amigo Mohamed

Com meu amigo Mohamed

Mercado de animais de Agades

Mercado de animais de Agadez

Mercado

Mercado

Um jovem dromedário lutava com seus donos para não ser carregado, mas não teve jeito, torceram seu rabo, seguraram sua mandíbula e patas e derrubaram. Nos arredores era fácil de ver dromedários sendo puxados por tuaregues com vestimentas tipicas e espadas. Uma verdadeira viagem no tempo!

Tuaregue

Tuaregue com sua espada

Dromedarios

Dromedários

Tuaregue

Roupa da moda!

Se preparando para o deserto

Se preparando para o deserto

A curta temporada de chuva tinha sido mais forte que o esperado. Tijolos de barro que estavam prontos para serem utilizados pareciam estar derretidos. Nos subúrbios, algumas vezes pude observar caminhonetes lotadas. Eram os traficantes de pessoas que levariam diversos sonhadores para a Líbia, para quem sabe chegar até a Europa. Meus amigos da noite em Niamey provavelmente estavam entre eles. Era final de Julho e e nem sabia que a crise da imigração na Europa estaria para se agravar. A histórica rota comercial transaariana estava mais viva do que nunca, mas agora o comercio mais lucrativo era de pessoas. Enganasse quem pensa que não existem estrangeiros em Agadez. Não tem mochileiros ou turistas, mas existem representantes de todos os povos da África sub-saariana, prontos para encarar uma longa viagem pelo Saara. Não são os amantes de off-road que um dia se deliciavam por estas terras. São pessoas que acham que passar por bandidos, guerrilhas e Al-Qaeda são problemas pequenos da vida quando comparado ao seu dia a dia. Ficar sem comer também não é novidade para ninguém por ali.

Tijolos de barro, "derretidos" pela chuva

Tijolos de barro, “derretidos” pela chuva

Viagens longas são reflexivas e demorou um pouco para digerir tudo que eu havia visto e vivido. A raiva do mundo se transformava em esperança quando eu fui adotado por um grupo de tuaregues que me entupiram de comida e de perguntas durante a longa viagem de volta para Niamey. Foi só eu elogiar (por educação) uma barra gordurosa de queijo de cabra que quase fui obrigado a comer um quilo dela. Pouquíssimos postos de controle na volta, mas nem por isto a viagem foi mais curta. Passando perto da fronteira da Nigéria, eu sabia que meu próximo destino estava por ali. Mas não podia arriscar descer na escuridão num vilarejo onde sabidamente não existiam hotéis. Fui até Niamey, onde dormi novamente da estação de ônibus. Exausto não me enturmei muito,  cobri a cabeça para ter um tempo só para mim. Queria dormir, mas o queijo de cabra fez efeito, justamente na rodoviária! Temia pela sequencia da viagem, mas nada que não fosse controlado.

Meu plano era pouco antes do amanhecer pegar um táxi coletivo até a estação dos microonibus que vão para o sul. Acabei descobrindo que poderia pegar um o ônibus de longa distancia que passaria por Kouré, caso estivesse sobrando lugar. Dei sorte e embarquei, ainda de madrugada, no único lugar disponível!

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O motorista teve que me acordar para eu descer na beira da estrada. Nenhum sinal de vilarejo, apenas duas barracas de madeira onde vendem comida, e um posto de contole da polícia. Tomei um café e fui tentando entender o lugar. Kouré é o nome da região, tem um ou outro vilarejo ali perto e sua fama vem das girafas que vivem soltas por ali. Alguns dos ultimos rebanhos de girafas selvagens do Oeste da Africa. O sol ainda não havia nascido e eu já tinha encontrado algumas pessoas que poderiam me ajudar. Paguei uma pequena taxa num centro de informações e fui procurar os bichinhos. Você pode ir de carro, de moto ou a pé, depende um pouco da sorte para encontrar. Mas a primeira família não estava longe, e pude ficar o tempo que quis caminhando entre elas. No inicio você se empolga, quer filmar, tirar fotos, mas a parte mais legal é quando você relaxa, apenas curte. Caminhar atrás delas e se surpreende quando são elas que te seguem!! Ficar no meio das girafas até enjoar é uma atividade privilegiada. Olhar elas se alimentando, cuidando uma da outra e até galopando com estilo deixa qualquer um satisfeito.

Girafas de Kouré

Girafas de Kouré. Eram 50 na década de 80, mas já chegam a 170 hoje.

Girafa

Girafa

Filhote

Filhote

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Dei uma olhada nas vilas da região e fui tentar pegar carona para a fronteira com o Benim. Carona na África normalmente significa pagar por um lugar em um transporte. Todos os carros que passavam estava completamente lotados. A fronteira do Benim e Nigéria não estavam tão longe, e quem ia para lá tentava dividir os custos ou ganhar um dinheiro extra. O jeito foi ter paciência e quebrar a viagem em entapas. Primeiro um transporte até Dosso, relativamente próximo dali . Até que não foi tão ruim, tendo em vista que a pequena cidade já foi de importância histórica (grande reinado) e possui um Chefe Tradicional com seu próprio palácio (Djermakoye).

Cicatrizes, a identidade da cada povo

Cicatrizes, a identidade da cada povo

Dali para frente foi numa van lotada, com mulheres com roupas coloridas e cicatrizes no rosto. Homens com seus chapéus tradicionais, carregando galinhas em sacolas e bodes amarrados no bagageiro. Paisagens bucólicas deixavam para trás este país que foi a grande surpresa desta viagem pelo Oeste da Africa. Uma moto por mais alguns quilômetros até a fronteira com o Benim, e o que não foi surpresa foi o tratamento da imigração na saída do Niger. O senhor com cara sofrida me perguntou onde eu gostaria que ele carimbasse no passaporte. Apontei com o dedo um espaço livre para não usar uma pagina nova. Agradeci a hospitalidade, contei como havia me surpreendido com o país. Ganhei um sorriso, um abraço e segui viagem.

Burkina Faso – Terra de Homens Honrados

No final do seculo 19 os franceses conquistaram a região onde estava o império Mossi. Chamaram de Alto Volta, uma referencia à parte superior ao Rio Volta (nomeado Volta pelos portugueses que utilizavam o rio para voltar das suas incursões ao interior). Sob administração francesa, o território do Alto Volta foi dividido e anexado diversas vezes com outras colonias da Africa Ocidental Francesa. A administração sempre foi comandada em seus vizinhos, seja Costa do Marfim, Sudão Frances (Mali) ou Niger. Após a segunda guerra, os milhares de africanos que ajudaram os europeus a derrotar o nazismo (muitas vezes na linha de frente), almejavam a prometida independência. Ela só aconteceu na década de 60. Infelizmente o sonho de liberdade não melhorou a situação do país, que adquiria dividas, estava mergulhado na pobreza e governantes tiranos se revezavam entre um golpe de estado e outro.

A história parecia mudar quando surgiu um jovem revolucionário, Thomas Sankara. Um dos maiores lideres africanos que já existiu. Um grande idealista, que iniciou uma serie de reformas e também mudou o nome colonial de Alto Volta para “Burkina Faso”, que significa significa “Terra de Homens honrados” nas línguas Mole e Dioula. As poucas famílias privilegiadas e até mesmo a França, que lucrava com o sistema instaurado desde a colônia não gostaram das novas ideias e das mudanças. Sankara foi assassinado em outubro de 1987. Ele costumava dizer que “Se pode matar um revolucionário, mas não se pode matar ideias”. Vinte e sete anos depois da sua morte, uma onda de protestos tomou Burkina Faso, e derrubou o Ditador Compaoré, que estava no poder desde o assassinato de Sankara. Muitos analistas acharam que poderia surgir uma “Primavera africana”, pois muitos jovens saíram às ruas para protestar contra ditadores e tiranos. Em muitos países foram reprimidos brutalmente, mas em Burkina Faso, com cartazes de “Estou aqui”(Referencia ao Thomas Sankara) conseguiram uma nova eleição, programada para Outubro de 2015. Com a instabilidade politica, os turistas (que normalmente não são poucos) acharam melhor esperar o resultado das eleições, e eu pude desfrutar este belo país só para mim.

Na pequena e empoeirada fronteira de Hamale, fui recepcionado por oficiais da imigração muito simpáticos, “Bon arrive! Ça va bien?”, frases que escutei em todos os controles de passaporte junto com “Benvindo à Burkina Faso”. Eu estava entrando nos países francofônicos da minha viagem, e a comunicação passava a ser um pouco mais lenta agora. Apareceu um cara oferecendo para fazer cambio. Nos meus cálculos rápidos a taxa oferecida era próxima da metade da oficial. Fui enrolando, conversando e olhando se encontrava outro lugar, mas não pareciam ter muitas opções para trocar dinheiro. Fui fazendo amizade, criando laços. Não tinha muitos Cedi (Moeda de Ghana) para trocar, mas fiz minha proposta. Dava um deságio de uns 8% da taxa oficial. Falei que sabia que ele precisava ganhar algum dinheiro, mas que eu não poderia ser explorado… Ele aceitou e me ajudou a encontrar transporte para seguir viagem. Novamente não tinham varias opções, somente um furgão que carregava mercadorias. Não aceitei de cara, sondei o preço com outros dos passageiros antes de comprar meu bilhete. O motorista dizia que só ia terminar de carregar e já sairia, mas eu sabia que não seria bem assim, por outro lado não tinha outra alternativa. Aguardamos por mais de uma hora. Ainda não era nem a metade da manhã, mas os transportes saem cedo por ali. Desta fronteira eu tinha duas opções, seguir para Ouagadougou (a capital) ou Bobo-Dioulasso (segunda maior cidade). Fui para Bobo, primeiro numa pequena estrada (com alguns controles de passaporte) e depois pela principal estrada do país, uma pista simples, sem acostamento, que corta Burkina Faso de leste a oeste.

Aguardando o transporte

Aguardando mais passageiros

Bobo-Dioulasso, chamada carinhosamente de Bobo, é uma cidade histórica, muito agradável e com algumas atrações bem interessantes. Fui chegando meio sem planos, e da parada do furgão pedi para o mototáxi me deixar na mesquita antiga, bem no centro da cidade. Com a cidade velha ao lado, e a mesquita a frente, esqueci das longas horas de viagem e fui correndo achar um hotel próximo. Não precisei caminhar duas quadras para achar um hotel simples, num preço razoável. A moeda em Burkina Faso é o CFA (Comunidade Financeira da Africa), aceita em nove países. É uma moeda “Forte” pois seu cambio flutua com o Euro (inclusive a França garante o CFA), mas o cambio é de 656 CFA para 1 Eur. Quando se busca qualidade, vai pagar o mesmo ou mais caro que na Europa, mas se viver como locais, pode conseguir verdadeiras pechinchas, principalmente quanto à alimentação.

Mesquita Velha

Mesquita Velha

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Perambulando pela parte histórica da cidade, fui cercado por guias oferecendo seus serviços. Com a queda do turismo, muitos ficaram ociosos. Para entender melhor, solicitei se alguém falava inglês. Com uma rápida ligação, chegou um nigeriano que me acompanhou pelos pontos de maior interesse. A cidade antiga, as tradições, história e todo o dia a dia naquelas casas de barro me encantaram. A Mesquita velha, com arquitetura sudanesa- parece um porco espinho- vai mudando de acordo com a intensidade da luz. Entrei, bati papo com o pessoal, subi no terraço, fiquei amigo do guardador de sapatos e até dei um livro meu de presente para ele. O grande mercado, assim como a estação ferroviária, apesar de construções novas, também tem arquitetura sudanesa, o que da um charme para a cidade. Uma cidade acolhedora, até mesmo os guias (que são chatos) batem papo depois de saber que você já contratou um guia para conhecer a parte histórica- e portanto não vai contrata-los. A boa localização do hotel foi essencial para explorar a cidade, perambular sem destino, de dia e de noite, sempre me sentindo muito seguro.

Cervejaria artezanal

Cervejaria artezanal

Casa mais antiga

Casa mais antiga, seculo XI

Ruas da cidade velha

Ruas da cidade velha

Portão do mercado central

Portão do mercado central

Me deliciei ao ver taturanas serem fritas no óleo. Filas de pessoas se formavam para garantir a sua porção. Eu pedi um sanduíche, mas depois de aprovado, solicitei uma porção extra para ficar petiscando enquanto via a vida passar.

O restaurante

O restaurante

O prato

O prato

Matando a fome!

Matando a fome!

Alem das vans superlotadas e dos furgões, existem ônibus de linha entre as principais cidades. Custam um pouco mais caro (ainda assim baratos), mas saem em horários marcados e são bem confortáveis. Fui de ônibus até Banfora, já perto da fronteira de Costa do Marfim e Mali. Um ótimo lugar para passar uns dias, cheio de atividades nos arredores. Tem tudo para ser um ponto de encontro de mochileiros que viajam pela região. Alias, encontrei um casal franco-mexicano viajando com sua filha de 3 anos, o que pode dar esperanças a todos os pais que gostaram da descrição de Burkina-Faso. Da para viajar com filho pequeno para lá sim!

O hotel que eu peguei era um pouco decadente e de higiene duvidosa, não foi das melhores escolhas. Fiquei um pouco irritado com a hospedagem pela primeira vez. Por sorte o quarto era somente para dormir, devido a tantas atividades na natureza. Você pode alugar uma scooter para explorar a região. Como quase todas estavam caindo aos pedaços, e eu estava sozinho, resolvi pagar o equivalente 2 euros a mais para alguém me acompanhar em cada passeio. Alem da segurança caso a moto quebrasse no meio do nada ( alguns lugares fica a 50 km de distancia) eu teria alguém para conversar.

Toda a paisagem rural da região é incrível, com suas casas tradicionais por todos os lados. Uma das poucas partes verdes de Burkina Faso, já que ao norte está o Sahel, sertão que beira o Saara.

Uma das poucas regiões verdes do país

Uma das poucas regiões verdes do país

Casas Tradicionais

Casas Tradicionais

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Meu primeiro destino foram os Les Pics de Sindou, formações rochosas com mais de 50 metros de altura e 3 km de comprimento, esculpidas pela erosão. Caminhar no meio dos paredões e depois escalar para curtir a vista foi incrível! Nestas alturas meu guia já tinha virado meu grande amigo e não queria nem cobrar para os outros passeios que eu queria fazer.

Pics de Sindou

Les Pics de Sindou

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Perto da bela vila de Tengréla, tem o lago de Tengréla, gostoso para relaxar e ver uns hipopótamos. Mas não se pode entrar na água, pois alem dos hipopótamos, dizem ter esquistosomose. Para se refrescar, o bom mesmo é ir na Chutes de Karfiguela. Novas vilas e curta caminhada até as pequenas quedas de água. Mesmo estando no inicio da temporada de chuvas, o volume de água estava muito baixo. Se não estavam tão bonitas devido a falta de água, estavam muito relaxantes!! Não muito longe das quedas d’água, atravessando grandes plantações de cana de açúcar, estão os Domes de Febedougou. Outras formações rochosas que se destacam no horizonte plano de Burkina Faso. Se em Sindou o melhor é andar entre as rochas, em Febedougou o mais legal é caminhar no topo curtindo o visual das arvores no meio das rochas. Fenomenal!

Domes de Febedougou!

Domes de Febedougou!

Caminhada no final da tarde

Caminhada no final da tarde

Cachoeira de Karfiguela

Cachoeira de Karfiguela

Banfora em si não é tão legal. Por estar próxima da fronteira é uma cidade de passagem, apesar de pequena, movimentada, com mercados improvisados. Vende-se de tudo, cabos velhos de computador, calculadoras estragadas, lampadas e roupas usadas. Ao contrario de Ghana, a mendigancia é comum em Burkina Faso, e crianças passeiam com pequenas latas para ganhar alguns trocados. Um restaurante chamado Mac Donalds é um dos melhores da cidade. Não é dos mais baratos, mas muito melhor que os da cadeia americana.

Mc Burkina

Mc Donald Burkina

De Banfora eu tinha que ir para o país Gorunsi, no sul de Burkina Faso, ao longo da principal fronteira com Ghana. Parecia que eu simplesmente poderia trafegar por estradas secundarias rumo ao leste, mas não existia transporte publico para lá. Mesmo com transporte próprio poderia levar dias, devido as condições das estradas. Não tive outra alternativa a não ser pegar a principal estrada do país (construída pelos americanos) e passar novamente por Bobo, seguir viagem até Ouagadougou onde faria nova conexão, desta vez até Pô.

Quando viajava com microonibus os controles de passaporte eram frequentes, já com ônibus eles nunca aconteceram. Pô é a porta de saída para Ghana, uma cidade importante na história recente de Burkina Faso, já que a revolução do país iniciou ali, assim como o golpe de estado que matou Thomas Sankara. De noite eu não me prorroguei muito no churrasquinho de bode e na cerveja para acordar cedo. Eu pretendia pegar o transporte publico até Tiébélé, que fica uns 30 e poucos quilômetros dali. Como sempre o transporte sai cedo, então lá estava eu preparado antes do sol nascer. Achei uma van que diziam que iria para lá, mas não tinha nenhum outro passageiro. Tentei pegar carona, mas o pessoal ia somente até as vilas nos arredores de Pô. Tomando um café e conversando com um mecânico que arrumava seu caminhão ao lado da barraquinha onde eu estava, ele ficou sabendo dos meus planos e conseguiu uma moto para me levar lá. Menos da metade do preço que me ofereceram na noite anterior. Aceitei e seguimos por paisagens rurais muito bonitas, arvores baobás cheias de folhas, muitas delas alinhadas ao longo da estrada.

Baobas ao longo da estrada

Baobas ao longo da estrada

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Em muitas vilas pude observar reuniões que agrupavam um grande numero de pessoas. Fiquei sabendo que estavam discutindo sobre as eleições que aconteciam dentro de alguns meses. Paisagem rural, mulheres com seus potes na cabeça, carroças e pessoas carpindo. O trajeto acabou demorando mais que eu imaginava, devido a condição da estrada, mas foi muito agradável. Chegando em Tiébélé fui direto na casa do Chefe do povo Gorunsi. Parece um condomínio, um aglomerado de casas de barro interligadas e com um muro ao redor. A arquitetura das casas é bem diferente das casas tradicionais que eu tinha visto em outras regiões de Burkina Faso, mas o que chamava mais a atenção eram as pinturas. Todo o muro era pintado, assim como as casas. Todas as pinturas tem um significado, contam lendas e costumes, alem de expressar a arte do povo. Neste aglomerado de casas moram mais de 130 pessoas, alem de diversos animais. Eles estavam trabalhando nas plantações, portanto o lugar estava calmo. Incrível aprender sobre o povo, e a funcionalidade das casas. Pude aprender um pouco sobre como funciona a segurança do lugar alem de algumas crenças e lendas. Belas pinturas e casas de barro precisam ser reconstruídas depois de algumas temporadas de chuvas. Claro que da trabalho, mas isto não deixa a técnica e a tradição morrer. No caminho procurava parar em pequenas vilas só para sentir como que eram. Podia ser para pedir informação ou para comer bolinhos fritos, uma espécie de sonho sem recheio.Sempre fui muito bem recepcionado.

Casa do chefe Gorunsi

Casa do chefe Gorunsi

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Já de volta a Pô, caminhando aleatoriamente eu encontrei uma igreja que estava lotada por ser domingo. Na saída todo aquele colorido e uma feira se formou de forma espontânea. Perdi um bom tempo alí só observando as pessoas, experimentando comidas e frutas até o horário do meu ônibus de volta para Ouaga (Todos chamam a capital,Ouagadougou, assim).

Mercado Pô

Mercado Pô

Saíporaí!

Saíporaí!

É uma viagem relativamente curta, poucas horas de viagem por uma estrada ok. Uma cidade toda espalhada, plana, com pouquíssimas construções com mais de 2 andares. Se é difícil imaginar que ali foi a capital do Império Mossi, mais incrível é que até hoje reis Mossi (uma das etnias do mosaico que é Burkina Faso) ainda tem autoridade e respeito de muitos. A cidade é uma grande vila, bem diferente de outras metrópoles africanas que conheci. Não encontrei jovens americanizados, de boné e camisetas de cantores de rap, tão comuns em cidades grandes do Leste da África. São poucas atrações, talvez a Catedral, toda feita de barro, a Mesquita principal e o discreto tumulo de Sankara. Sempre vale a pena passar pelo mercado central, movimentadíssimo. Até mesmo fora do Palácio Mogho Naba não se pode tirar fotos. Curti a cidade, fiz caminhadas, aproveitei os cafés e confeitarias (uma boa herança francesa) mas minha passagem por Ouaga tinha um propósito: Tirar o visto Entente. Este visto da direito a entrada em diversos países do Oeste da África e era imprescindível para eu seguir viagem. Chegando no escritório da imigração, para desespero meu escutei um “Não é possível”. Me desesperei internamente mas não perdi a postura. Tentei entender oque estava acontecendo. Seria a tentativa de corrupção? Tinha verificado as informações sobre os vistos com outros viajantes pela internet e parecia ok, se bem que não eram informações tão atuais. Para resumir a história, para me concederem um visto entente tive que tirar um novo visto de Burkina Faso, desta vez com múltiplas entradas e com 3 meses de validade. Um gasto que não estava previsto, uns 90 USD, de qualquer forma ainda mais barato ( e mais rápido) que se eu fosse tirar os 3 vistos que faltavam para completar a minha viagem (Mesmo com os 25000CFA do Entente).

A cultura dos cafés franceses pode se observada nas confeitarias espalhadas pela cidade

A cultura dos cafés franceses pode se observada nas confeitarias espalhadas pela cidade

O visto demoraria 3 dias para ficar pronto. Pedi um documento oficial, carimbado, comprovando que meu passaporte estava lá, e segui para o norte do país, Shahel a dentro. Sahel em árabe significa “Bordadura”, “Limite”, que nada mais é que o entorno do Deserto do Saara. Alias, para quem não sabe, Sahara em Arabe significa deserto.

Toda esta região do norte de Burkina Faso é muito interessante. Durante décadas cidades como Gorom-Gorom estiveram na rota turística dos viajantes do país. Hoje devido a problemas no Mali, pouco mais ao norte, a região não é recomendada pelos governos ocidentais. Para minha sorte, a pequena cidade de Bani, pouco antes de Dori, ainda esta em área segura. Quando eu programava a viagem pelo Oeste da África, o Eder do blog Quatro Cantos do Mundo se animou em viajar junto comigo (infelizmente acabou cancelando). Ele me deu a dica deste local que até então eu não tinha lido. Uma pequena vila, com casas de barro, carroças puxadas por burricos e mulheres com tecido colorido. Se só isto já tornaria o lugar interessante, ainda tem sete mesquitas que junto com a montanha, formam um homem rezando. As etnias mudam rapidamente quando se viaja pelo país, mas grande parte deles falam francês ou Jula, uma linha comercial que se desenvolveu nesta parte do Oeste da Africa.

Apesar de não ser tão longe, não foi tão simples assim chegar em Bani. Poucos ônibus, uma estrada lenta e tivemos alguns problemas. Dois pneus estouraram e passamos por uma tempestade na qual o motorista não conseguia enxergar nada. Primeiro tempestade de areia e depois muita água.

Imprevistos sempre acontecem!

Imprevistos sempre acontecem!

Apesar de estar viajando durante a temporada de chuva, foi o único dia que choveu durante o dia. Tiveram outros poucos dias em Ouaga que dava uma pancada no final de tarde, mas coisa rápida. Em Bani é possível alugar pequenas casas tradicionais, super simples, mas por bons preços, cerca de 3 Eur.

"Hotel" em Bani

“Hotel” em Bani

É um lugar muito especial. Pelas ruelas passam pastores com suas cabras, mulheres separam grãos utilizando o vento, e crianças brincam com rodas de bicicleta ou jogando bola. Em cima da colina as antigas mesquitas, muitas delas em péssimo estado de conservação. Mais embaixo a grande Mesquita, onde ocorrem as orações de sexta-feira. Imponente, toda de barro, com um grande minarete e arquitetura tipica. Fachada toda decorada, um espetáculo! Dentro os tapetes são feitos de peles de animais.

Mesquita toda de barro

Mesquita toda de barro

Fachada da mesquita principal

Fachada da mesquita principal

Mulher separando os grãos

Mulher separando os grãos

Ruas de Bani

Ruas de Bani

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Uma pena que as crianças em geral ficam pedindo presentes, resultado de turistas irresponsáveis que querem muito mais aliviar a sua consciência do que realmente ajudar.

Para voltar para Ouaga basta sinalizar um dos ônibus na beira da estrada. Os de longa distancia, que vem do Mali, normalmente estão lotados, mas não foi tão demorado para um parar.

Em Ouaga, depois de pegar o Visto Entente, deu para dar mais uma circulada. Fui conhecer a parte “Moderna”da cidade, resultado do projeto Zaca. Ainda na década de 80 iniciaram a construção de prédios comerciais de 3 andares na Avenida Kwame Nkrumah, onde seria o centro comercial. Bancos, hotéis e lojas ficariam ali, para dar uma boa impressão a quem chegasse do aeroporto, que fica logo ao lado. Pouco foi concluído. É diferente do restante da cidade, que basicamente tem um ou dois andares, mas não apresenta nada de mais.

Região comercial de Ouaga

Região comercial de Ouaga, parte rica da cidade

Ruas esburacadas e cidade espalhada

Ruas esburacadas e cidade espalhada

 

As fortes chuvas do final de tarde alagavam as ruas esburacadas, mas no dia seguinte já estava tudo seco. Meu hotel tinha um jardim no patio interno, onde seria agradável descansar se não fosse a quantidade de mosquitos e o alto preço das comidas e cerveja. Era um hotel econômico, um bom preço para uma capital (12 Eur para duas pessoas), mas se eu andasse uma quadra conseguia uma refeição por oito vezes o valor do hotel! Tirando a refeição que fiz no Mc Donalds de Banfora, acho que não gastei mais que 2 Eur em nenhuma refeição em Burkina Faso ( Normalmente 1 ou 1,5 mas cheguei a pagar 0,5 Eur num prato de comida). E não eram refeições ruins não. Senhoras com seus panelões servindo comida fresca em barraquinhas improvisadas. Peixe, frango e bode eram oferecidos com diversos acompanhamentos. Outra coisa barata é a água. Água mineral em garrafa é cara, mas eles vendem saquinhos lacrados de 500 ml que custa menos de 4 centavos de Euro! Com a vantagem de sempre estar gelada (ou perto disto). A desvantagem é a questão ecológica, já que provavelmente os saquinhos vão acabar parando no meio da rua. De sobremesa sempre comprava deliciosas mangas (grandes e doces!), que custavam 100 CFA (0,15 EUR). O pessoal adorava ver eu me misturando com eles nas horas das refeições, e sempre era um bom motivo para puxarem papo.

Adorei o país, e foi com tristeza que peguei um ônibus ainda de madrugada, que iria para Fada-Ngourma e de lá seguiria para a fronteira com o Niger. A estrada foi piorando cada vez mais. Eram poucos veículos, mas sempre superlotados. Dezenas de pessoas nas caçambas de caminhão, alem de motos , caixas e animais que pareciam ser difícil de se equilibrarem nas pilhas no topo dos furgões.

Controle de passaporte na saída de Burkina Faso, e as vilas que já estavam escassas desapareceram completamente. Era a terra de ninguém, por onde viajaríamos por vários quilômetros até a entrada de um novo país, Níger!

Kosovo: Não-País ou Quase-País?

Dos países com reconhecimento parcial, Kosovo tem uma posição privilegiada. Digamos que está mais para um Quase-País do que para um Não-País. Tem o reconhecimento de 108 estados membros da ONU (Só perde para a Palestina, que tem o reconhecimento de 134 membros, além de ser Estado Observador da ONU), faz parte do FMI, do Banco Mundial dentre outras associações internacionais. Sua grande força é que a maioria dos membros da União Européia o reconhecem como país (somente 5 não reconhecem). Para o governo brasieirol, se você for para o Kosovo, estará indo para a Sérvia, que já não tem nenhum controle sobre a região.

O Kosovo proclamou independência no início de 2008. Os albaneses, maioria da população do Kosovo, vinham sendo massacrados pelos Sérvios, comandados pelo louco do Milosevic. O Exército de libertação do Kosovo já foi taxado de terrorista pelo ocidente no passado, mas em uma espécie de nova guerra fria (Servia tinha a Russia como grande aliada), EUA e a OTAN (se sentindo culpados por terem deixado os Sérvios massacrarem os Bósnios anos antes), resolveram apoia-los. Com os bombardeios da OTAN, as forças Sérvias recuaram e desde então a região tem autonomia e busca o reconhecimento como país. Para conseguir o feito existem algumas barreiras. A Russia, membro do conselho de segurança é extremamente contra. Países europeus, querem a garantia de que minorias servias na região sejam protegidas e tem medo do sentimento de vingança que os kosovares-albaneses possam ter, já que  milhares de albaneses foram expulsos de suas terras (quase 1 milhão de refugiados) e tiveram suas famílias massacradas (tentaram fazer uma limpeza étnica).

Eu já havia visitado todos os vizinhos do Kosovo, inclusive ensaiado uma ida para lá. Nunca escondi meu interesse pelos Bálcãs, na minha opinião uma das regiões mais interessantes da Europa! Depois de uma noite (mal) dormida no aeroporto de Istambul, cheguei em Pristina, capital do Kosovo. O avião sobrevoou  as belas montanhas, todas enrugadas, como se buscasse um vale para poder pousar. Depois da imigração, revistaram toda a minha mochila, fizeram algumas perguntas e perguntaram quanto dinheiro eu tinha. Acostumado com oficiais corruptos, fiquei com medo mostrar muito dinheiro, mas não era o caso. Eles acharam pouco, ainda perguntaram um “mas você tem um cartão de crédito pelo menos, né?!” antes de me liberarem e solar um “somente rotina, bem vindo ao Kosovo!”

Tinha sido alertado sobre a “síndrome do carro branco”, referencia à cor dos carros da ONU, que fazem o preço dos produtos e serviços subir consideravelmente devido à presença de expatriados com altos salários. Como não existe transporte público do aeroporto para o centro, o jeito foi atravessar a saguão do aeroporto desviando dos taxistas, passar por outro grupo deles lá fora e ficar parado como se esperasse alguém. Ofereceram táxi e eu disse que já tinha um pré agendado. Apos uns minutos disse que iria com um deles se cobrassem o valor que eu já havia combinado (com o táxi que não existia), 30% do valor que estavam pedindo. Aceitaram na hora!

O aeroporto não era tão perto e deu para conversar bastante com o motorista no caminho. Ele não falava inglês muito bem, mas era comunicativo e foi bastante proveitoso. Conheceria Pristina depois, meu foco naquele momento era Prizren, cidade cerca de duas horas de distância. Na verdade não fica muito longe, mas a estrada passa por pequenas vilas e muitas curvas entra as montanhas. Ótimo para ver o dia a dia pela janela alem de poder bater papo com os outros passageiros. Os kosovares estão acostumados com estrangeiros, que normalmente estão a trabalho lá, então não iniciam tanto as conversas, mas se você puxa papo, não param de falar! Como eu já havia viajado pela região albanesa da Macedônia (Tetovo) além da Albânia, eles me viam com bastante curiosidade e tínhamos bastante assunto.

Interior

Interior

Prizren foi uma antiga capital do reino da Servia. Tem sua maioria esmagadora da população kosovar-albanesa, sendo que os poucos sérvios que moravam lá fugiram após o conflito. A cidade velha está muito bem preservada, somente o bairro sérvio e as igrejas que foram bastante destruídos. Mas os tempos de guerra ficaram para trás e quem quer reconhecimento interacional tem que buscar outra postura. Com muita ajuda internacional, o lugar estava pulsando. Cheio de turistas, muitos deles do próprio Kosovo mas também bastante estrangeiros, se espalhavam nos cafés ao redor do Shadervan, antiga fonte de água em um calçadão. Cheguei em pleno festival de filme da cidade e o dia a dia parecei ainda mais vivo.

Centro

Centro

Prizren

Cidade velha com a cidadela ao fundo

Prizren

Prizren

Longas caminhada entre os diversos prédios históricos, mesquitas e igrejas eram intercaladas com repouso em algum café para olhar o movimento e a viada acontecer ao redor. Uma cidade muito gostosa, adorei o tempo gasto por ali. A quantidade de gente, que por um lado dava vida ao local, com o tempo irritou um pouco, queria ter sentido o lugar em um dia comum também. Para compensar isto caminhei bastante por bairros um pouco mais afastados. Comi um delicioso Tave e tomei uma bebida tipica chamara Boza, feita do milho.

Ponte de pedra com a mesquita ao fundo

Ponte de pedra com a mesquita ao fundo

Minaretes

Minaretes

Igrejas destruídas e protegidas com arame farpado

Igrejas destruídas e protegidas com arame farpado

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Acabei nem indo para Peje, cidadezinha mais ao norte do Kosovo, pois acabaria ficando muito corrido. Segui pela mesma estrada de volta para Pristina, passando pelos diversos memoriais de guerra e pela bandeiras do Kosovo ao lado das da Albânia.

Apesar de ser a capital, Pristina não tem tantas atrações. É um lugar movimentado, com tantos estrangeiros e ajuda interacional acabou desenvolvendo uma série de opções de lugares para sair e comer. Um contraste de lugares sofisticados com apartamentos em forma de blocos da era comunista. Um enorme calçadão, chamado Madre Teresa, é uma das regiões mais movimentadas da cidade.

Blocos

Blocos

Calçadão Madre Teresa

Calçadão Madre Teresa

A Madre Teresa nasceu em Skopje, que hoje fica na Macedônia mas na época fazia parte do Kosovo, uma subdivisão do Império Otomano. Existe um grande santuário para ela no centro de Pristina, na esquina das avenidas George Bush com Bill Clinton.

Santuário

Santuário Madre Teresa

Pode parecer estranho um antigo país comunista, de maioria muçulmana, ter esta proximidade com os EUA, mas ela é visível por todos os lados. Bandeiras americanas ao lado das albanesas e do Kosovo sã bem comuns. Eles se mostram muito agradecidos pela decisão dos EUA liderarem a Otan no ataque contra os Sérvios (contrariando a ONU). Pertinho da loja “Hilary Clinton” pude ver a estátua que ergueram em homenagem ao Bill Clinton, no minimo curioso.

Estatua Bill Clinton

Estatua Bill Clinton

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Outdoor

Mesquitas e igrejas

Mesquitas e igrejas

Depois de explorar bem a cidade, tanto a parte nova como a antiga, estava pronto para seguir viagem. Seguiria minha jornada pelos #PaísesQueNãoExistem com a certeza de que o Kosovo não só existe, como já foi descoberto pelos turistas!

O Melhor da Colômbia

A Colômbia é um país cheio de possibilidades. Cidades coloniais, vida urbana moderna, montanhas nevadas, vulcões com vilarejos, zona cafeeira, praias no Caribe, comunidades no Pacifico. É possível fazer diversas viagens dentro deste país, com objetivos completamente diferentes. Uma semana antes de viajar descobri sobre a Bahia Solano, quase que mudei todos meus planos, mas as passagens internas já estavam muito caras. Ao longo da viagem mudamos a rota original e acabamos encontrando o que mais gostamos nela. De qualquer maneira. muitos dizem que o melhor da Colômbia é seu povo e este está em qualquer roteiro que você faça por lá.

Depois da parada forçada numa “cidade” no meio do nada e uma noite bem dormida, pegamos outro ônibus cedo.Passamos Rioracha e descemos em uma encruzilhada perto de Quatro Vias. Quando fui guardar água na mochila, notei que tinham mexido nela. Enquanto estávamos no ônibus, abriram nossas mochilas no bagageiro e fizeram uma limpa. Roubaram o tênis da Bibi, meu chinelo, necessaire, carregador, adaptador universal… No inicio fica aquela sensação de que poderíamos ter evitado, ter ficado com a mochila no colo e tal. Dá aquela raiva inicial, o sentimento de ser enganado, mas faz parte, coisas que acontecem com quem viaja, principalmente pela América Latina.

De Quatro Vias fomos em um táxi comunitário até Uríbia, que se intitula a “Capital Indígena da Colômbia”.  No mercado central da cidade, cheio de vida, pessoas, caos e sujeira onde ficam os transportes para Cabo La vela. São no estilo “pau de arara” e saem quando lotam. Daí a necessidade de chegar cedo, pelo menos no período da manhã.

Aguardando transporte em Uríbia

Aguardando transporte em Uríbia

Ainda tem mais uma hora e meia de estrada. Quer dizer, de trilha, pois boa parte é por um deserto, onde um motorista inexperiente não saberia que sentido seguir. O pneu furou ainda no inicio da viagem, mas já não tinha pressa pra chegar. Todo o bonito visual, as rápidas paradas nas casas de pau a pique no caminho davam todo um clima.

Muito pó na estrada

Muito pó na estrada

Moradores de Guajira

Moradores de Guajira

Cabo La Vela é um pequeno aglomerado de casas de frente para um mar verde transparente. Atrás das casas só deserto com algumas cabras e montanhas ao fundo. Um clima bem devagar. Redes estendidas nas cabanas de frente para a praia. Algumas pessoas reclamam que as índias Wayuu são insistentes ao venderem seus artesanatos. Mas é só olhar para o lado e ver que fora o turismo, não tem muito do que se viver na região, a não ser da pesca.

Até víamos alguns turistas de passagem por ali, mas tínhamos a sensação de que a praia era só nossa. Para encontrar mais pessoas só fazendo passeios para as belas praias de Ojo D’agua, El Pilon de Azucar ou ao ver o por do Sol de cima do morro do farol.

Banho só de balde, mas encontramos um quarto com bom preço, pouco mais caro que se pegássemos duas redes. Normalmente em lugares mais isolados tudo é mais caro, então me surpreendi ao encontrar cerveja por 1000 cop (pouco mais de 1 real). Nas refeições vinha um peixe inteiro no prato, e a cozinheira sempre indicava qual que era para mim (grande) e o para a Bibi (menor).

Adoramos a região, foi com certeza o ponto alto da viagem para a Colômbia. Não muito longe dali está Punta Galinas, o extremo norte da América do Sul. Mas chegou a hora de retornarmos. Fomos de pau de arara até Uríbia, táxi coletivo até Rioracha onde conseguimos um ônibus (semi) direto para Santa Marta. Ainda seguimos até a pequena praia de Taganga, onde passaríamos a noite.

Muitos jovens em Taganga, onde os dread locks parecem ser o penteado da moda. A região é muito bonita, mar cheio de barcos de pesca, numa praia em forma de ferradura. Pena que a vila se desenvolveu de uma maneira meio predatória. Um calçadão com restaurantes nada a ver, construções feias, além de uns bares com musica alta.

Mas o pit stop seria rápido. Na manhã seguinte já estávamos pegando o barco para o Parque Tayrona. O mar estava agitado e depois de uns 40 minutos chegamos em Cabo San Juan. O sol que fazia de manhã já tinha se escondido, a praia estava lotada, com pessoas por todo lado. No camping, uma barraca ao lado da outra, não tinha nem vaga para ficar ali. Era sábado, além de estrangeiros, tinham muitos colombianos aproveitando o final de semana. Já tinham me alertado que esta praia podia ficar cheia demais, mas eu não imaginava que tanto. Pena, mal dava para aproveitar a beleza do lugar.

Nossa ideia era de caminhar até a praia brava, umas três horas dali. A Bibi estava se sentindo fraca e trocamos de ideia algumas vezes sobre se deveríamos ir ou não. Era uma praia menor, com menos pessoas e até uma cachoeira, mas surgiu a dúvida. Chegamos até a pensar que ela poderia ir a cavalo, mas acabamos indo até outra praia ali perto, Arrecifes. Uma trilha fácil, passando pela La Piscina, um dos locais favoritos para o pessoal tomar banho.

Raros momentos de sol

Raros momentos de sol

Arrecifes é uma praia brava, não da para tomar banho, mas é muito bonita. Tem um lago, algumas pedras e as montanhas verdes ao fundo. Lembra nossas praias na Floresta Atlântica. Estávamos sentados quando vi algo se mexendo na água poucos metros dali. Levamos um susto quando um jacaré saiu da água e se espichou para tomar sol.

Vizinho do acampamento

Vizinho do acampamento

Nosso camping era do outro lado do lago. Só esperávamos que o jacaré não fosse passear por ali, pois nossa barraca era uma das primeiras. A Bibi não é muito fã de acampar. Até encara, principalmente para estar em lugares paradisíacos. O problema é que a qualidade das barracas quando se aluga não é das melhores. Para ajudar, de noite choveu! Era o período de seca na Colômbia, portanto a chuva surpreendeu a todos. Quando a barraca alugada passou a molhar um pouco por dentro, parecia que nada poderia piorar. Mas Murphy está sempre presente e descobrimos o porque  da fraqueza que a Bibi vinha sentindo:  infecção intestinal.

Bem, sabíamos que não poderíamos ficar as 3 noites planejadas e infelizmente acabamos antecipando nossa volta. O parque Tayrona é lindo, mas não demos sorte com o final de semana (muita gente), o tempo (nublado de dia e chuva a noite) e a saúde da Bibi. Teremos que voltar qualquer dia.

Obviamente não voltamos de barco. A Bibi foi a cavalo pois estava fraca e eu fui caminhando. A trilha pela floresta é muito bonita, e neste caso a falta de sol nem atrapalhou. Chegando na entrada do parque El Zaino, pegamos um transporte para Santa Marta e de lá para Taganga. A Bibi teve uma recuperação num hotel um pouco melhor. Aproveitamos para conhecer um pouco mais de Santa Marta. Apesar de não ter grandes atrativos, é a cidade mais antiga da América do Sul e onde mataram Simon Bolivar, El Libertador.

Taganga, ultimo por de sol na Colômbia.

Taganga, ultimo por de sol na Colômbia.

Acordamos de madrugada para pegar o táxi para o aeroporto, nosso vôo saia às seis da manhã. O dono, um italiano, nos dá a notícia que roubaram o computador da pousada, procura com o olhar assustado no nosso quarto. Deve ter destacado nós como suspeitos quando viu que o imenso computador não poderia caber em nossas mochilas. Ao chegarmos no aeroporto a polícia revista nossas mochilas. As situações de roubo não mudaram nossa opinião sobre o país. Gostamos muito da Colômbia! Seu povo é muito simpático e extremamente educado (isto nos chamou muito a atenção). Mas não adianta, América Latina é América Latina.

Entrevista no Programa do Jô

Fomos entrevistados no Programa do Jô, falando um pouco das nossas andanças pelo mundo e sobre o lançamento do livro “De Cape Town a Muscat: Uma aventura pela África”, é claro

Contando para o Jô sobre nossa viagem.

Mostrando para o Jô o mapa da nossa viagem.

Não vou contar como foi se não perde a graça 😉

O programa vai ao ar na Globo no dia 21 de Maio, e no dia 26 tem reprise dos melhores momentos na GNT.

O vídeo da entrevista será postado junto com as outras reportagens, mas sempre vale a pena var na TV!  https://saiporai.com/midia/

Por falar nisto saiu uma reportagem nossa bem bacana no G1/Globo.com Quem não viu Clique aqui.

G1

G1

Ainda este mês estou saindo para mais uma viagem, e no início de Junho vai teu um lançamento bem bacana em São Paulo. Logo mais detalhes.