Burkina Faso – Terra de Homens Honrados

No final do seculo 19 os franceses conquistaram a região onde estava o império Mossi. Chamaram de Alto Volta, uma referencia à parte superior ao Rio Volta (nomeado Volta pelos portugueses que utilizavam o rio para voltar das suas incursões ao interior). Sob administração francesa, o território do Alto Volta foi dividido e anexado diversas vezes com outras colonias da Africa Ocidental Francesa. A administração sempre foi comandada em seus vizinhos, seja Costa do Marfim, Sudão Frances (Mali) ou Niger. Após a segunda guerra, os milhares de africanos que ajudaram os europeus a derrotar o nazismo (muitas vezes na linha de frente), almejavam a prometida independência. Ela só aconteceu na década de 60. Infelizmente o sonho de liberdade não melhorou a situação do país, que adquiria dividas, estava mergulhado na pobreza e governantes tiranos se revezavam entre um golpe de estado e outro.

A história parecia mudar quando surgiu um jovem revolucionário, Thomas Sankara. Um dos maiores lideres africanos que já existiu. Um grande idealista, que iniciou uma serie de reformas e também mudou o nome colonial de Alto Volta para “Burkina Faso”, que significa significa “Terra de Homens honrados” nas línguas Mole e Dioula. As poucas famílias privilegiadas e até mesmo a França, que lucrava com o sistema instaurado desde a colônia não gostaram das novas ideias e das mudanças. Sankara foi assassinado em outubro de 1987. Ele costumava dizer que “Se pode matar um revolucionário, mas não se pode matar ideias”. Vinte e sete anos depois da sua morte, uma onda de protestos tomou Burkina Faso, e derrubou o Ditador Compaoré, que estava no poder desde o assassinato de Sankara. Muitos analistas acharam que poderia surgir uma “Primavera africana”, pois muitos jovens saíram às ruas para protestar contra ditadores e tiranos. Em muitos países foram reprimidos brutalmente, mas em Burkina Faso, com cartazes de “Estou aqui”(Referencia ao Thomas Sankara) conseguiram uma nova eleição, programada para Outubro de 2015. Com a instabilidade politica, os turistas (que normalmente não são poucos) acharam melhor esperar o resultado das eleições, e eu pude desfrutar este belo país só para mim.

Na pequena e empoeirada fronteira de Hamale, fui recepcionado por oficiais da imigração muito simpáticos, “Bon arrive! Ça va bien?”, frases que escutei em todos os controles de passaporte junto com “Benvindo à Burkina Faso”. Eu estava entrando nos países francofônicos da minha viagem, e a comunicação passava a ser um pouco mais lenta agora. Apareceu um cara oferecendo para fazer cambio. Nos meus cálculos rápidos a taxa oferecida era próxima da metade da oficial. Fui enrolando, conversando e olhando se encontrava outro lugar, mas não pareciam ter muitas opções para trocar dinheiro. Fui fazendo amizade, criando laços. Não tinha muitos Cedi (Moeda de Ghana) para trocar, mas fiz minha proposta. Dava um deságio de uns 8% da taxa oficial. Falei que sabia que ele precisava ganhar algum dinheiro, mas que eu não poderia ser explorado… Ele aceitou e me ajudou a encontrar transporte para seguir viagem. Novamente não tinham varias opções, somente um furgão que carregava mercadorias. Não aceitei de cara, sondei o preço com outros dos passageiros antes de comprar meu bilhete. O motorista dizia que só ia terminar de carregar e já sairia, mas eu sabia que não seria bem assim, por outro lado não tinha outra alternativa. Aguardamos por mais de uma hora. Ainda não era nem a metade da manhã, mas os transportes saem cedo por ali. Desta fronteira eu tinha duas opções, seguir para Ouagadougou (a capital) ou Bobo-Dioulasso (segunda maior cidade). Fui para Bobo, primeiro numa pequena estrada (com alguns controles de passaporte) e depois pela principal estrada do país, uma pista simples, sem acostamento, que corta Burkina Faso de leste a oeste.

Aguardando o transporte

Aguardando mais passageiros

Bobo-Dioulasso, chamada carinhosamente de Bobo, é uma cidade histórica, muito agradável e com algumas atrações bem interessantes. Fui chegando meio sem planos, e da parada do furgão pedi para o mototáxi me deixar na mesquita antiga, bem no centro da cidade. Com a cidade velha ao lado, e a mesquita a frente, esqueci das longas horas de viagem e fui correndo achar um hotel próximo. Não precisei caminhar duas quadras para achar um hotel simples, num preço razoável. A moeda em Burkina Faso é o CFA (Comunidade Financeira da Africa), aceita em nove países. É uma moeda “Forte” pois seu cambio flutua com o Euro (inclusive a França garante o CFA), mas o cambio é de 656 CFA para 1 Eur. Quando se busca qualidade, vai pagar o mesmo ou mais caro que na Europa, mas se viver como locais, pode conseguir verdadeiras pechinchas, principalmente quanto à alimentação.

Mesquita Velha

Mesquita Velha

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Perambulando pela parte histórica da cidade, fui cercado por guias oferecendo seus serviços. Com a queda do turismo, muitos ficaram ociosos. Para entender melhor, solicitei se alguém falava inglês. Com uma rápida ligação, chegou um nigeriano que me acompanhou pelos pontos de maior interesse. A cidade antiga, as tradições, história e todo o dia a dia naquelas casas de barro me encantaram. A Mesquita velha, com arquitetura sudanesa- parece um porco espinho- vai mudando de acordo com a intensidade da luz. Entrei, bati papo com o pessoal, subi no terraço, fiquei amigo do guardador de sapatos e até dei um livro meu de presente para ele. O grande mercado, assim como a estação ferroviária, apesar de construções novas, também tem arquitetura sudanesa, o que da um charme para a cidade. Uma cidade acolhedora, até mesmo os guias (que são chatos) batem papo depois de saber que você já contratou um guia para conhecer a parte histórica- e portanto não vai contrata-los. A boa localização do hotel foi essencial para explorar a cidade, perambular sem destino, de dia e de noite, sempre me sentindo muito seguro.

Cervejaria artezanal

Cervejaria artezanal

Casa mais antiga

Casa mais antiga, seculo XI

Ruas da cidade velha

Ruas da cidade velha

Portão do mercado central

Portão do mercado central

Me deliciei ao ver taturanas serem fritas no óleo. Filas de pessoas se formavam para garantir a sua porção. Eu pedi um sanduíche, mas depois de aprovado, solicitei uma porção extra para ficar petiscando enquanto via a vida passar.

O restaurante

O restaurante

O prato

O prato

Matando a fome!

Matando a fome!

Alem das vans superlotadas e dos furgões, existem ônibus de linha entre as principais cidades. Custam um pouco mais caro (ainda assim baratos), mas saem em horários marcados e são bem confortáveis. Fui de ônibus até Banfora, já perto da fronteira de Costa do Marfim e Mali. Um ótimo lugar para passar uns dias, cheio de atividades nos arredores. Tem tudo para ser um ponto de encontro de mochileiros que viajam pela região. Alias, encontrei um casal franco-mexicano viajando com sua filha de 3 anos, o que pode dar esperanças a todos os pais que gostaram da descrição de Burkina-Faso. Da para viajar com filho pequeno para lá sim!

O hotel que eu peguei era um pouco decadente e de higiene duvidosa, não foi das melhores escolhas. Fiquei um pouco irritado com a hospedagem pela primeira vez. Por sorte o quarto era somente para dormir, devido a tantas atividades na natureza. Você pode alugar uma scooter para explorar a região. Como quase todas estavam caindo aos pedaços, e eu estava sozinho, resolvi pagar o equivalente 2 euros a mais para alguém me acompanhar em cada passeio. Alem da segurança caso a moto quebrasse no meio do nada ( alguns lugares fica a 50 km de distancia) eu teria alguém para conversar.

Toda a paisagem rural da região é incrível, com suas casas tradicionais por todos os lados. Uma das poucas partes verdes de Burkina Faso, já que ao norte está o Sahel, sertão que beira o Saara.

Uma das poucas regiões verdes do país

Uma das poucas regiões verdes do país

Casas Tradicionais

Casas Tradicionais

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Meu primeiro destino foram os Les Pics de Sindou, formações rochosas com mais de 50 metros de altura e 3 km de comprimento, esculpidas pela erosão. Caminhar no meio dos paredões e depois escalar para curtir a vista foi incrível! Nestas alturas meu guia já tinha virado meu grande amigo e não queria nem cobrar para os outros passeios que eu queria fazer.

Pics de Sindou

Les Pics de Sindou

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Perto da bela vila de Tengréla, tem o lago de Tengréla, gostoso para relaxar e ver uns hipopótamos. Mas não se pode entrar na água, pois alem dos hipopótamos, dizem ter esquistosomose. Para se refrescar, o bom mesmo é ir na Chutes de Karfiguela. Novas vilas e curta caminhada até as pequenas quedas de água. Mesmo estando no inicio da temporada de chuvas, o volume de água estava muito baixo. Se não estavam tão bonitas devido a falta de água, estavam muito relaxantes!! Não muito longe das quedas d’água, atravessando grandes plantações de cana de açúcar, estão os Domes de Febedougou. Outras formações rochosas que se destacam no horizonte plano de Burkina Faso. Se em Sindou o melhor é andar entre as rochas, em Febedougou o mais legal é caminhar no topo curtindo o visual das arvores no meio das rochas. Fenomenal!

Domes de Febedougou!

Domes de Febedougou!

Caminhada no final da tarde

Caminhada no final da tarde

Cachoeira de Karfiguela

Cachoeira de Karfiguela

Banfora em si não é tão legal. Por estar próxima da fronteira é uma cidade de passagem, apesar de pequena, movimentada, com mercados improvisados. Vende-se de tudo, cabos velhos de computador, calculadoras estragadas, lampadas e roupas usadas. Ao contrario de Ghana, a mendigancia é comum em Burkina Faso, e crianças passeiam com pequenas latas para ganhar alguns trocados. Um restaurante chamado Mac Donalds é um dos melhores da cidade. Não é dos mais baratos, mas muito melhor que os da cadeia americana.

Mc Burkina

Mc Donald Burkina

De Banfora eu tinha que ir para o país Gorunsi, no sul de Burkina Faso, ao longo da principal fronteira com Ghana. Parecia que eu simplesmente poderia trafegar por estradas secundarias rumo ao leste, mas não existia transporte publico para lá. Mesmo com transporte próprio poderia levar dias, devido as condições das estradas. Não tive outra alternativa a não ser pegar a principal estrada do país (construída pelos americanos) e passar novamente por Bobo, seguir viagem até Ouagadougou onde faria nova conexão, desta vez até Pô.

Quando viajava com microonibus os controles de passaporte eram frequentes, já com ônibus eles nunca aconteceram. Pô é a porta de saída para Ghana, uma cidade importante na história recente de Burkina Faso, já que a revolução do país iniciou ali, assim como o golpe de estado que matou Thomas Sankara. De noite eu não me prorroguei muito no churrasquinho de bode e na cerveja para acordar cedo. Eu pretendia pegar o transporte publico até Tiébélé, que fica uns 30 e poucos quilômetros dali. Como sempre o transporte sai cedo, então lá estava eu preparado antes do sol nascer. Achei uma van que diziam que iria para lá, mas não tinha nenhum outro passageiro. Tentei pegar carona, mas o pessoal ia somente até as vilas nos arredores de Pô. Tomando um café e conversando com um mecânico que arrumava seu caminhão ao lado da barraquinha onde eu estava, ele ficou sabendo dos meus planos e conseguiu uma moto para me levar lá. Menos da metade do preço que me ofereceram na noite anterior. Aceitei e seguimos por paisagens rurais muito bonitas, arvores baobás cheias de folhas, muitas delas alinhadas ao longo da estrada.

Baobas ao longo da estrada

Baobas ao longo da estrada

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Em muitas vilas pude observar reuniões que agrupavam um grande numero de pessoas. Fiquei sabendo que estavam discutindo sobre as eleições que aconteciam dentro de alguns meses. Paisagem rural, mulheres com seus potes na cabeça, carroças e pessoas carpindo. O trajeto acabou demorando mais que eu imaginava, devido a condição da estrada, mas foi muito agradável. Chegando em Tiébélé fui direto na casa do Chefe do povo Gorunsi. Parece um condomínio, um aglomerado de casas de barro interligadas e com um muro ao redor. A arquitetura das casas é bem diferente das casas tradicionais que eu tinha visto em outras regiões de Burkina Faso, mas o que chamava mais a atenção eram as pinturas. Todo o muro era pintado, assim como as casas. Todas as pinturas tem um significado, contam lendas e costumes, alem de expressar a arte do povo. Neste aglomerado de casas moram mais de 130 pessoas, alem de diversos animais. Eles estavam trabalhando nas plantações, portanto o lugar estava calmo. Incrível aprender sobre o povo, e a funcionalidade das casas. Pude aprender um pouco sobre como funciona a segurança do lugar alem de algumas crenças e lendas. Belas pinturas e casas de barro precisam ser reconstruídas depois de algumas temporadas de chuvas. Claro que da trabalho, mas isto não deixa a técnica e a tradição morrer. No caminho procurava parar em pequenas vilas só para sentir como que eram. Podia ser para pedir informação ou para comer bolinhos fritos, uma espécie de sonho sem recheio.Sempre fui muito bem recepcionado.

Casa do chefe Gorunsi

Casa do chefe Gorunsi

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Já de volta a Pô, caminhando aleatoriamente eu encontrei uma igreja que estava lotada por ser domingo. Na saída todo aquele colorido e uma feira se formou de forma espontânea. Perdi um bom tempo alí só observando as pessoas, experimentando comidas e frutas até o horário do meu ônibus de volta para Ouaga (Todos chamam a capital,Ouagadougou, assim).

Mercado Pô

Mercado Pô

Saíporaí!

Saíporaí!

É uma viagem relativamente curta, poucas horas de viagem por uma estrada ok. Uma cidade toda espalhada, plana, com pouquíssimas construções com mais de 2 andares. Se é difícil imaginar que ali foi a capital do Império Mossi, mais incrível é que até hoje reis Mossi (uma das etnias do mosaico que é Burkina Faso) ainda tem autoridade e respeito de muitos. A cidade é uma grande vila, bem diferente de outras metrópoles africanas que conheci. Não encontrei jovens americanizados, de boné e camisetas de cantores de rap, tão comuns em cidades grandes do Leste da África. São poucas atrações, talvez a Catedral, toda feita de barro, a Mesquita principal e o discreto tumulo de Sankara. Sempre vale a pena passar pelo mercado central, movimentadíssimo. Até mesmo fora do Palácio Mogho Naba não se pode tirar fotos. Curti a cidade, fiz caminhadas, aproveitei os cafés e confeitarias (uma boa herança francesa) mas minha passagem por Ouaga tinha um propósito: Tirar o visto Entente. Este visto da direito a entrada em diversos países do Oeste da África e era imprescindível para eu seguir viagem. Chegando no escritório da imigração, para desespero meu escutei um “Não é possível”. Me desesperei internamente mas não perdi a postura. Tentei entender oque estava acontecendo. Seria a tentativa de corrupção? Tinha verificado as informações sobre os vistos com outros viajantes pela internet e parecia ok, se bem que não eram informações tão atuais. Para resumir a história, para me concederem um visto entente tive que tirar um novo visto de Burkina Faso, desta vez com múltiplas entradas e com 3 meses de validade. Um gasto que não estava previsto, uns 90 USD, de qualquer forma ainda mais barato ( e mais rápido) que se eu fosse tirar os 3 vistos que faltavam para completar a minha viagem (Mesmo com os 25000CFA do Entente).

A cultura dos cafés franceses pode se observada nas confeitarias espalhadas pela cidade

A cultura dos cafés franceses pode se observada nas confeitarias espalhadas pela cidade

O visto demoraria 3 dias para ficar pronto. Pedi um documento oficial, carimbado, comprovando que meu passaporte estava lá, e segui para o norte do país, Shahel a dentro. Sahel em árabe significa “Bordadura”, “Limite”, que nada mais é que o entorno do Deserto do Saara. Alias, para quem não sabe, Sahara em Arabe significa deserto.

Toda esta região do norte de Burkina Faso é muito interessante. Durante décadas cidades como Gorom-Gorom estiveram na rota turística dos viajantes do país. Hoje devido a problemas no Mali, pouco mais ao norte, a região não é recomendada pelos governos ocidentais. Para minha sorte, a pequena cidade de Bani, pouco antes de Dori, ainda esta em área segura. Quando eu programava a viagem pelo Oeste da África, o Eder do blog Quatro Cantos do Mundo se animou em viajar junto comigo (infelizmente acabou cancelando). Ele me deu a dica deste local que até então eu não tinha lido. Uma pequena vila, com casas de barro, carroças puxadas por burricos e mulheres com tecido colorido. Se só isto já tornaria o lugar interessante, ainda tem sete mesquitas que junto com a montanha, formam um homem rezando. As etnias mudam rapidamente quando se viaja pelo país, mas grande parte deles falam francês ou Jula, uma linha comercial que se desenvolveu nesta parte do Oeste da Africa.

Apesar de não ser tão longe, não foi tão simples assim chegar em Bani. Poucos ônibus, uma estrada lenta e tivemos alguns problemas. Dois pneus estouraram e passamos por uma tempestade na qual o motorista não conseguia enxergar nada. Primeiro tempestade de areia e depois muita água.

Imprevistos sempre acontecem!

Imprevistos sempre acontecem!

Apesar de estar viajando durante a temporada de chuva, foi o único dia que choveu durante o dia. Tiveram outros poucos dias em Ouaga que dava uma pancada no final de tarde, mas coisa rápida. Em Bani é possível alugar pequenas casas tradicionais, super simples, mas por bons preços, cerca de 3 Eur.

"Hotel" em Bani

“Hotel” em Bani

É um lugar muito especial. Pelas ruelas passam pastores com suas cabras, mulheres separam grãos utilizando o vento, e crianças brincam com rodas de bicicleta ou jogando bola. Em cima da colina as antigas mesquitas, muitas delas em péssimo estado de conservação. Mais embaixo a grande Mesquita, onde ocorrem as orações de sexta-feira. Imponente, toda de barro, com um grande minarete e arquitetura tipica. Fachada toda decorada, um espetáculo! Dentro os tapetes são feitos de peles de animais.

Mesquita toda de barro

Mesquita toda de barro

Fachada da mesquita principal

Fachada da mesquita principal

Mulher separando os grãos

Mulher separando os grãos

Ruas de Bani

Ruas de Bani

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Uma pena que as crianças em geral ficam pedindo presentes, resultado de turistas irresponsáveis que querem muito mais aliviar a sua consciência do que realmente ajudar.

Para voltar para Ouaga basta sinalizar um dos ônibus na beira da estrada. Os de longa distancia, que vem do Mali, normalmente estão lotados, mas não foi tão demorado para um parar.

Em Ouaga, depois de pegar o Visto Entente, deu para dar mais uma circulada. Fui conhecer a parte “Moderna”da cidade, resultado do projeto Zaca. Ainda na década de 80 iniciaram a construção de prédios comerciais de 3 andares na Avenida Kwame Nkrumah, onde seria o centro comercial. Bancos, hotéis e lojas ficariam ali, para dar uma boa impressão a quem chegasse do aeroporto, que fica logo ao lado. Pouco foi concluído. É diferente do restante da cidade, que basicamente tem um ou dois andares, mas não apresenta nada de mais.

Região comercial de Ouaga

Região comercial de Ouaga, parte rica da cidade

Ruas esburacadas e cidade espalhada

Ruas esburacadas e cidade espalhada

 

As fortes chuvas do final de tarde alagavam as ruas esburacadas, mas no dia seguinte já estava tudo seco. Meu hotel tinha um jardim no patio interno, onde seria agradável descansar se não fosse a quantidade de mosquitos e o alto preço das comidas e cerveja. Era um hotel econômico, um bom preço para uma capital (12 Eur para duas pessoas), mas se eu andasse uma quadra conseguia uma refeição por oito vezes o valor do hotel! Tirando a refeição que fiz no Mc Donalds de Banfora, acho que não gastei mais que 2 Eur em nenhuma refeição em Burkina Faso ( Normalmente 1 ou 1,5 mas cheguei a pagar 0,5 Eur num prato de comida). E não eram refeições ruins não. Senhoras com seus panelões servindo comida fresca em barraquinhas improvisadas. Peixe, frango e bode eram oferecidos com diversos acompanhamentos. Outra coisa barata é a água. Água mineral em garrafa é cara, mas eles vendem saquinhos lacrados de 500 ml que custa menos de 4 centavos de Euro! Com a vantagem de sempre estar gelada (ou perto disto). A desvantagem é a questão ecológica, já que provavelmente os saquinhos vão acabar parando no meio da rua. De sobremesa sempre comprava deliciosas mangas (grandes e doces!), que custavam 100 CFA (0,15 EUR). O pessoal adorava ver eu me misturando com eles nas horas das refeições, e sempre era um bom motivo para puxarem papo.

Adorei o país, e foi com tristeza que peguei um ônibus ainda de madrugada, que iria para Fada-Ngourma e de lá seguiria para a fronteira com o Niger. A estrada foi piorando cada vez mais. Eram poucos veículos, mas sempre superlotados. Dezenas de pessoas nas caçambas de caminhão, alem de motos , caixas e animais que pareciam ser difícil de se equilibrarem nas pilhas no topo dos furgões.

Controle de passaporte na saída de Burkina Faso, e as vilas que já estavam escassas desapareceram completamente. Era a terra de ninguém, por onde viajaríamos por vários quilômetros até a entrada de um novo país, Níger!