A Índia é foda!!

A Índia é foda! Poderia iniciar o meu primeiro post na Índia de diversas maneiras diferentes. Poderia falar sobra a rica cultura do Hinduísmo, sobre o sistema de castas, a chegada dos portugueses, o domínio linha dura dos ingleses, sobre Gandi, independência e divisão do subcontinente indiano em Paquistão, Índia e Bangladesh. Poderia falar da “nova Índia” (a Índia rica e descolada), de Bollywood ou da fantástica culinária. Ao invés disto inicio com um “A Índia é foda!”. Foda no bom sentido. Existe um (já batido) ditado que diz que ou você ama a Índia ou odeia. Eu não concordo. Conheço muita gente que amou e depois odiou, odiou e depois amou e tem os que amam e odeiam ao mesmo tempo. O sentimento sobre a Índia e algo muito forte. Eu tive uma rápida passagem pela parte norte do país em 2005, numa viagem combinada com Nepal e Tibet. Amei! Uma vez um grande amigo meu me perguntou para qual pais que eu tinha ido e mais gostaria de voltar. A resposta foi muito rápida e precisa: Índia! Pode-se viajar dois, três, seis meses, ou ate um ano pela Índia e ainda terá muita coisa interessante e diferente para conhecer e vivenciar. Em algum momento você pode ate cansar, mas se não for só ódio, com certeza vai voltar.

Chegamos no novo aeroporto de Cochim, no sul da Índia. Escolhi a chegada pelo sul por uma questão logística, clima tica, mas também por um primeiro contato mais fácil para a Bibi. O sul do pais e bem mais tranquilo e o povo mais simpático e menos insistente. Ainda no aeroporto conhecemos um casal de Suíços com quem pegamos um ônibus ate Fort Cochin, a região histórica da cidade. Ao procurar um lugar para ficar, percebi que o povo do sul não era só um pouco mais tranquilo que o do norte, mas muuuito mais tranquilo. Ficamos numa pequena pousada de dois quartos, onde os Suíços nos acompanharam. Todo o estado de Kerala tem uma forte influencia portuguesa. Em Cochim esta a igreja de São Francisco, a primeira construção europeia na Índia, e também onde o Vasco da Gama ficou enterrado por uns anos, antes de ser levado a Portugal. Dentro da igreja tem ate uma flamula do time de futebol do Eurico Miranda. Tem muuita igreja por aqui, mais que templos Hindus e Mesquitas, pelo menos na região histórica. Existem ate alguns nomes de lojas e restaurantes em português. A maioria dos cristãos indianos estão no sul da índia. Existe também uma sinagoga no bairro judeu, onde eles se estabeleceram a centenas de anos. Muitas lojas e turistas por toda a região. Redes de pesca artesanal chinesas dão todo um clima para o lugar, que e dividido em algumas ilhas/penínsulas.

Igreja de São Francisco

Bairro Judeu

Redes de pesca chinesa

Um dia fomos surpreendidos por uma greve geral devido o aumento dos combustíveis. Tudo parou. Kerala foi o primeiro estado (devido a diversidade de línguas são muito autossuficientes) no mundo a eleger um governo comunista. Não preciso nem falar das heranças que este sistema trouxe, ne?! Educação e saúde de dar inveja a qualquer pais emergente, porem a falta de investimento privado trás muitos atrasos para a região. Nossos novos amigos passaram três meses viajando pelo norte da Índia, antes de irem para o sudeste asiático e voltarem para mais dois meses. Estavam descolados para cá, e isto me ajudou bastante. Eu contava para a Bibi que em 2005 comia até na frente da ferroviária e era bom, mas ela insistia que queria tomar mais cuidado, devido a todas as historias que ouvíamos de infecção intestinal. Aqui tem ate nome: “Delhi Belly”. Dizem que e impossível vir para cá e não ter nada. Sempre tem uma vez, fica imune e tudo em ordem. Parenteses: estou a 11 meses na estrada, comendo de tudo, em muitos lugares com as mãos, e ate agora não tive nenhum problema. A segunda refeição que fizemos aqui foi num restaurante estilo “pé sujo”. A Bibi ficou meio de cara, o lugar era quente e não muito agradável. Depois que terminamos a refeição ela já estava mudando. Foi só mais uma visita a um destes restaurantes para ela admitir que a comida era muito melhor que nos outros. A grande vantagem daqui e que tudo e preparado na hora. Havíamos decidido também que para vivenciar mais a cultura indiana nos tornaríamos vegetarianos e não consumiríamos alcool.

O calor estava grande e todos só falavam que iria aumentar nos próximos meses. Ainda bem que o ônibus que pegamos para Allepey, mais ao sul não tinha vidros nas janelas.

Ônibus preparado para o calor…

A cidade em si não e tao interessante, apesar de ter alguns canais cortando o centro, ainda tem cara de uma vila suja. As primeiras vacas começaram a aparecer nas ruas, alem de cores e muvuca. Esqueçam a arquitetura europeia de alguns casarões de Fort Cochi, ali estava com mais cara de Índia mesmo. Demos umas voltas e pesquisamos sobre os passeios de barco disponíveis para as famosas “Back Watters”. Barco a motor, canoa, ferry e barco casa. Difícil de escolher quando cada um fala das diversas vantagens do produto vende. O barco casa parecia mais interessante, apesar de não passar pelos canais menores e do preço mais elevado. Deixamos algumas opções na manga, e na manha que faríamos o passeio eu e o Inri saímos para fazer uma ultima negociação. No caminho encontramos um cara que ofereceu sua casa barco, cortando os intermediários ficaria muito mais barato. Subimos na moto dele e fomos dar uma olhada. Foi aprovada e logo estávamos lá com nossas bagagens navegando calmamente por Backwatter. Tinham 2 quartos para nos, uma sala com tv e dvd e um terraço. Na tripulação tínhamos nos 4, o capitão, o cozinheiro e um ajudante. Comidas maravilhosas (em grande quantidade, não para passarinho como em Halong Bay), frutas, chá. Aquela vida dura, passando por paisagens fantásticas, pequenas vilas, canais, lagos. O programa foi muito, mas muito acima da expectativa. E olha que era bem recomendado. A noite eu estava dormindo na nossa cabine quando acordo e vejo a Bibi sentada na janela. Me assustei e perguntei o que tinha acontecido. Ela respondeu, sem mudar sua expressão, que tinha um rato gigantesco no nosso banheiro, e que decidira fazer xixi pela janela! Hahaha. Conferi e realmente o dito cujo estava lá. Não dava para abrir a porta para ele não vir para o quarto. Rimos muito da situação no dia seguinte, e ele tinha misteriosamente desaparecido do banheiro. Uma das cenas mais hilarias da viagem com certeza foi acordar e ver a Bibi sentada na janela!!!

House Boat parecido com o nosso, mas este não tem terraço…:)

BackWater

Lago em BW

Não tínhamos muitos planos e ficamos na duvida se já íamos para o estado vizinho de Tamil Nadu ou se passávamos na praia de Varkala. Como continuava um calor de 38 graus, e teríamos que ir para outra cidade para pegar um trem de qualquer forma, decidimos pegar uma praia. Varkala fica um pouco mais para o sul ainda. E cercada de falésias vermelhas e tem um estilo alternativo. Cheia de restaurantes, cafés e lojinhas. Bem turística, com muitos mochileiros, mas como era final de semana tinham locais na praia também. No segundo dia observamos que no canto da praia indianos eram barrados por dois policiais, que ficavam apitando a toda hora. Ali só podiam ficar turistas. O primeiro sentimento e de revolta, mas logo vimos que os indianos ficam tirando fotos das gringas na cara dura, alem de ficar olhando fixamente, quase babando. Para preservar o turismo, e o dinheiro que vem com ele, acharam melhor fazer esta separação. Arranjamos um tiozinho de uma venda para cozinhar para a gente. Eu adoro frutos do mar, e tava pegando mais não comer aqueles camarões gigantes, lulas e peixes do que carne. Mas descobri porque e tao fácil de ser vegetariano aqui. As opções são intermináveis, e os temperos também. Sei que muitos não vão acreditar mas comemos um prato de couveflor (cheio de apetrechos) que estava melhor que muito camarão que eu já comi por ai! Acredite se quiser…

Falesias de Varkala

Devido ao trem lotado acabamos ficando um pouco mais que o planejado inicialmente, e deu para irmos num restaurante italiano para a Bibi matar a vontade dela. Os suíços mudaram os planos deles e resolveram pegar o trem com a gente para Mandurai- Tamil Nadu. Na estacão ferroviária fiquei brincando com uma menininha, e logo a mãe dela puxou papo com a Bibi e pintou a testa dela. Antes de virmos para cá já avisava para a Bibi que o melhor da Índia não esta nos templos, fortes, palácios e sim no dia a dia. A classe sleeper e simples, mas barata e permite esta interação. Dormimos e inacreditavelmente durante a noite esfriou, tivemos ate que nos cobrir. Chegamos bem cedo em Mandurai, cidade grande, suja e movimentada. Por sorte os hotéis ficam perto da estacão de trem, e o templo Sri Meenasshi também. Fizemos duas visitas ao templo, uma de dia quando estava muuuito quente e outra a noite, bem mais tranquila. Como tem que tirar os sapatos, tivemos que andar descalços pelas calcadas que pareciam brasas. Um falso professor, falando de um festival e tal, nos convenceu de irmos com ele e quando vimos estávamos dentro de uma loja. O “velho truque índio”!!!haha Pra quem não ta de calca, as lojas emprestam roupas para você entrar no templo, e depois tentam te vender alguma coisa. Tinham alguns turistas, mas muito mais devotos. Algumas regioes eram restritas a hindus. No fechamento do templo, um pequeno ritual com musica deu um extra para o lugar. Imaginava que o bonito portal estaria iluminado a noite, mas estava mais bonito de dia mesmo.

Mandurai

Aqui os elefantas também dão benção…

E cuidam das vacas melhor do que cuidamos de cachorros no Brasil

Ao contrario de tantos lugares que tivemos “early check in”, aqui você pode ficar no hotel 24 horas, independente da hora que chega. Descobrimos isto quando nos ligaram as 6 da manha para perguntar se ficaríamos mais um dia. Resolvemos partir e nos despedimos de nossos amigos que estavam indo para outra direção, rumo as montanhas. Pegamos um ônibus simples que foi ate Tanjore.

Chegamos naquele calor infernal, e os hotéis apesar de serem uma pechincha, eram de baixa qualidade. Rodamos um pouco ate achar um lugar decente. Nosso almoço foi servido em folhas de bananeira e não em pratos, e cada vez descobríamos mais opções gostosas de comida. O templo daqui Brihadishawara completa mil anos este ano. Não e colorido como o de Mandurai e sim só num tom. O silencio e menor numero de pessoas fez com que esquecêssemos o caos da cidade. No templo principal ficamos aguardando numa fila num corredor escuro. Dois músicos tocavam uma especie de corneta e tambor. Num certo momento paravam, um sino tocava e as cortinas la na frente se abriam, onde homens seguravam candelabros e abençoavam os fieis, que levavam suas mãos a cabeça fazendo sinal de saudação. Ritual muito bonito e interessante. Ficamos largados no gramado deste que e patrimônio da Unesco quando algumas famílias foram se aproximando. Quando vimos estávamos cercados de indianos curiosos. Tentávamos superar a barreira da língua, quando apareceu um cara que falava um bom inglês. O Hindi, língua oficial do pais, só e falado como primeira língua por 20% da população. Aqui neste estado são 70 milhões de pessoas que só falam Tamil.

Tanjore

Em Tanjore tem também um palácio, onde estão diversos museus. Na época áurea da região, foram daqui que saíram muitos dos navios que colonizaram parte da Malásia e Indonésia. Estavamos na duvida se seguíamos para outras cidades com templos, as grandes atraçõe do estado ou se íamos para um Ashram (que já tínhamos cancelado a reserva) ou ainda para o norte. Como a Bibi já esta um pouco cansada de viagens, achamos melhor passar no Ashram, que fica ao lado de uma montanha muito sagrada da Índia (Arunashala, onde o deus Shiva se transformou numa coluna de fogo). O trasporte na Índia é muito bom, vai para qualquer canto, mas o problema que as informações as vezes não são tao boas assim. Uns falavam que tinha ônibus direto, outros que tinha que fazer conexão. Nem qual das rodoviárias deveríamos ir souberam nos indicar. Acabou que pegamos horas de ônibus ate uma cidade onde deveria ter um ônibus até Tiruvanamalai, cidade do ashram, mas não tinha. Mais uma conexão ate outra cidade, onde chegamos só no final da tarde e resolvemos ficar. A paisagem era muito bonita, verde e rural, mas teve uma situação um pouco complicada. Vocês devem saber que as vacas são sagradas aqui, e estão por todos os lados. Eu correndo para pegar o ônibus, chutei uma bosta de vaca. Chutei, não pisei. Isto significa que tinha merda entre meus dedos e entre o chinelo e meu pé! So deu para jogar um pouco da nossa água mineral e limpar com um jornal onde estavam enroladas nossas comidinhas para viagens. Que situação! Na nossa parada, fizemos sucesso na cidade. Trocamos emails com um monte de gente e ficamos conversando um monte. Não devem parar muitos estrangeiros por aqui. Incrível como muitas pessoas não tem a menor ideia de onde e o Brasil. Não tem futebol (aqui o Cricket que e famoso), não lembram do Brasil. Sempre me perguntavam o que tinha de famoso no Brasil.

O campo e de futebol, mas o jogo e de cricket!!

O ultimo ônibus até Tiruvanamalai foi tranquilo. Alem de já estarmos perto engatamos numa conversa com dois irmãos muçulmanos e o tempo passou super rápido. Ela era super simples, não falava quase nada de inglês, mas era muito curiosa. Conversamos sobre muitas diferenças culturais, como casamentos arranjados, religião, o pagamento do dote por parte da família da noiva e por ai vai. Ela me perguntava assustada por que eu deixava minha mulher trabalhar fora. Se eu não queria que ela cozinhasse para mim todos os dias. Ao olhar o braco bronzeado da Bibi perguntou porque ela não adotada as roupas locais, pois aqui o sol era muito forte. O ocidente tem um preconceito muito grande com chadors, sem pensar na funcionalidade delas. Ela sugeriu que ate um Sari indiano ajudaria (não era uma sugestão religiosa, e sim pratica). Não conseguimos ficar no dormitório do ashram, mas arranjamos um lugar ali bem perto. Teoricamente funcionava com doações, mas quando falamos o quanto queríamos pagar, o cara não gostou muito. Aceitou, mas falou para não contarmos para ninguém e tal. Fizemos amizade com um casal Russo/americano que passou pela mesma historia, e estavam pagando menos que a gente. O ashram e do Ramana Maharish, um “santo” hindu que meditou por aqui durante muitos anos ate encontrar suas respostas. A Bibi vai escrever com mais detalhes sobre ele( www.tambemsai.wordpress.com ). Não tinha uma programação muito certa no ashram, como Yoga e meditação. Tinham as atividades diárias, e participava quem queria. Vários estrangeiros e tudo que e tipo de gente. Lugar bonito, nos pés do monte Arunashala, com pavoes e macacos espalhados por todos os lados. Ficamos mais amigos dos Russos de NYC, e passamos um tempo com eles. Muito gente boa eles. Fui ate fazer Ditxa, uma pratica de troca de energia “divina”. Novamente deixarei a Bibi explicar isto, pois poderá falar com muito mais propriedade. Subimos o Monte Arunashala, mas não ate o topo, pois o calor tem começado cedo. Fomos ate uma das cavernas onde o Ramana Maharish meditou. De la tinha uma bela vista da cidade, com um bonito lago de um lado e o grande templo aos pés da montanha. Durante minha estada ali, lembrava da minha avo em muitos momentos, já que e praticante de yoga a uns 45 anos e grande estudiosa de energias e afins (tanta coisa que não saberia nem explicar). Alias, foi em algum verão em Caioba, quando devia ter uns 4 anos que vi yoga pela primeira vez. Eu e a Pati acordávamos correndo quando ouvíamos minha vó fazer as respirações, esticávamos as esteiras e tentávamos imitar. Ao descobrir que teria um festival importante no grande templo da cidade lembrei na hora que ela chamaria de “milagre” (coincidências não ao acaso, não necessariamente um milagre religioso). Fomos no templo ainda de tarde, e não parava de chegar gente.

Devocao

Paineis feitos de sal colorido

Quase na hora

Filas iam se formando, devotos preparavam velas e mosaicos. Saris coloridos por todos os lados, musica, elefante dando benção. Um dos pontos altos foi quando lavavam o touro, transporte do Shiva, com leite. Os fieis iam a loucura. Novamente fizemos muito sucesso, praticamente não conseguíamos ficar sozinhos. Principalmente crianças vinham conversar e cada vez juntava mais gente. Uma super experiencia, mas na saída, com aquele empurra empurra para passar nos estreitos corredores deu aquele receio. Fácil de imaginar aquelas tragedias onde dezenas (ou centenas) de pessoas são pisoteadas. Mas estávamos celebrando o dia em que Shiva dançou no topo do monte Kailash, momento especial, de muita energia segundo eles, e os deuses estavam conosco…

Mission Burma

Existia uma banda punk dos anos 80 chamada Mission of Burma. Acho que foi assim que eu escutei sobre o país a primeira vez. Pode-se pensar que nada em comum tem uma banda punk com um país do sudeste asiático,  mas a revolta daqueles adolescentes é algo bem comum como a oprimida população da “Birmânia”.

A Birmânia assim como tantos outros países, teve seu primeiro contato com os europeus através dos portugueses  mas estes não conseguiram colonizar a região. Após algumas tentativas foram os ingleses que se estabeleceram por aqui. Foi uma colonia bem extrativista, não tendo deixado muita influencia e infraestrutura a não ser alguns casarões e, para variar, uma estrada de ferro. Favoreceram a entrada de indianos e chineses para trabalharem na construção e comercio. O controle era linha dura, e existia muita repressão.  Como sempre os monges estavam a frente dos protestos da população, e sofriam a violência dos britânicos.

Na segunda guerra, um grupo que buscava a independência do pais, teve apoio do Japão  e conseguiu expulsar os ingleses do seu território.  Não contentes com a postura do Japão após esta ação, mudaram de lado no final da guerra e lutaram, junto com os aliados, contra os japoneses. Finalmente a Birmânia se tornou independente. Nas primeiras eleições  o partido de Bogyoke Aung San, líder revolucionário, ganhou a maioria dos votos, mas foi assassinado junto com as pessoas que assumiriam os postos políticos  Paralelo com a independência veio um caos politico não resolvido ate hoje. Na região  moram diferentes etnias, com culturas, línguas  religiões e tradições completamente diferentes. O novo governo iniciou uma serie de perseguições que continuam ate hoje, o que resultou na fuga de algumas etnias para os países vizinhos, como apontei no post da Tailândia.

Na década de 60 houve um golpe militar de esquerda e o comunismo foi instituído  “congelando” o país ate hoje. A unica coisa que mudou foi o nome, que deixou de ser Birmânia e passou a ser Myanmar. Claro que com o colapso da URSS, seguindo o mesmo rumo de diversos países, o país criou seu próprio estilo de comunismo. Após diversos protestos, e milhares de mortes (novamente os monges estavam a frente da população) , finalmente eleições foram marcadas. O partido da filha do B. Aung San venceu com mais de 85% dos votos, mas não pode assumir os postos pois Aung San Suu Kyi foi presa. Desde então ela e solta e presa de tempos em tempos, e atualmente esta em prisão domiciliar. Foi dada a ela a escolha de ir para o exílio  mas se recusou a deixar seu pais. Foi vencedora do premio nobel da paz em 1991, e deve sair novamente da prisão no final deste ano, logo após novas eleições presidenciais acontecerem. Detalhe que nestas eleições só vai haver um partido, o da atual ditadura. Alguém duvida que não demora muito para ela ser presa novamente? A população local tem certeza disso, e fala que e só um jogo para não haver tanta pressão internacional. A três anos atras a violência se repetiu, e mais centenas de mortes. Algumas filmagens vazaram, e o ocidente pode ver a população fazendo uma barreira humana para proteger os monges politizados, que eram alvos de tiros dos militares. Por que não existe uma ação mais efetiva contra uma ditadura tao brutal? Interesses comerciais da Índia  de matéria prima, drogas para a China, e militar para a Russia. Dos países emergentes BRIC, só o Brasil não esta apoiando. Quem iria se opor?

Na aterrizagem em Yangon, lembro da Bibi falar, “para onde que você ta me levando?”. Realmente a visão é chocante, parecíamos ter entrado numa maquina do tempo. A região ao redor do aeroporto parece uma vila, e vista de cima só da para ver algumas casas de madeira, entre palmeiras e pagodas (templos budistas). O primeiro contato com o povo daqui foi ótimo. Quando vimos que os carregadores de mala e taxistas não são nem um pouco insistentes, já imaginamos que era um lugar tranquilo. Mas quando notamos que alem de tudo eram simpáticos e tentavam nos ajudar, tínhamos certeza que era um povo especial. Ainda no avião me dei conta que, com a correria dos últimos dias da Tailândia  não havia trocado dinheiro suficiente (inicialmente ficaríamos menos tempo no Myanmar). Normalmente saco nos caixas eletrônicos  mas em Myanmar não existem caixas automáticos  e os cartões de credito não são aceitos. La fomos nos para um hotel de luxo, onde fazem uma transação no exterior e fornecem dólar a uma taxa de 7.5%! Fazer o que, nossa unica opção se quisessemos ficar bastante tempo lá.  Fomos para perto do centro onde íamos ficar e o estilo da cidade foi nos conquistando. Esta e a melhor parte de não sobreplanejar uma viagem. Eu sempre leio a respeito de todos os lugares, tenho uma ideia geral dos países muito boa, mas não consigo entender quem vai ate o Google earth para saber o caminho a ser percorrido numa cidade, por exemplo. Pra mim pode servir para matar a curiosidade, mas não para planejar viagem. O efeito surpresa e importante e nesse caso foi ótimo.  Yangon e uma cidade grande, em torno de 7 milhões de habitantes, e tem um estilo próprio.  Casarões antigos e decadentes, monges andando com suas vasilhas para recolher o alimento do dia, procissão hindu. Só faltou encontrar um hotel um pouco mais rápido. Mas isto fez que nos afastássemos um pouco do centro e fracassemos num hotel legal, com pouca experiencia com estrangeiros, o que resultou num tratamento vip. Entramos numa “lua de mel” com o pais, que demoraria muitos dias.

Prédios do centro

Celulares ate existem, mas são caríssimos. O negocio e utilizar os telefones na rua!

Transporte publico

Descobri que a alguns anos Yangon não e mais a capital do pais, e sim Naypyidaw. Confesso que não tinha a menor ideia da mudança  Nossos primeiros dias la foram de caminhada pelas ruas empoeiradas, por prédios históricos, taxis Mazda estilo “pau de arara”, e uma cultura muito diferente. Espremido entre China, Tailândia,  Índia e Bangladesh, com tantas etnias próprias  e colonizados por ingleses, digamos que tiveram muitas influencias, de todos os tipos. Fomos na Swedagon Pagoda, e tivemos a sensação de que não precisamos mais ver templos dourados depois disto. E uma super estupa, com dezenas de outras ao redor, numa região alta da cidade. Lugar de muita fé  e ponto obrigatório de peregrinação dos budistas do Myanmar (que são 90% da população . Templos, estatuas, sinos e devoção  muita devoção.  Para se chegar ao topo existe uma escadaria muito grande, por um “túnel;” de madeira, com desenhos da historia de Buda. A lenda desta Pagoda não e medos interessante. Conta que dois irmãos de Myanmar estiveram em contato com Buda ainda em vida, e que este deu fios de cabelos para ele, e trouxeram para presentear o rei, que construiu a primeira pagoda aqui, e que só foi aumentando. Na ponta da estupa existem mais de 3000 sinos de ouro, 79000 diamantes alem de outras pedras preciosas, que ao anoitecer passam a brilhar e refletir. Um dos grandes negócios do Myanmar são as pedras preciosas, exportadas para o mundo todo. Passamos horas ali, e com certeza a melhor parte foi quando a noite chegou. Estávamos indo embora quando uns aprendizes de monge puxaram papo e acabamos indo jantar com eles(eles não podem comer depois do meio dia, mas tomaram chá).

Jarros com a “água benta budista” na pagoda Sule Paya

Budaworld!

Mau gosto também tem por aqui! Budas com luzes piscando…

Novos amigos

Myanmar não e um pais pequeno, e a condição das estradas faz com que viagens (de ônibus  de 300 km possam levar mais que 10 horas. Existe as alternativas de voos domésticos (que já não somos muito fans), de trens (que seria muito bacana) e uma região até de barco, mas como todos estes transportes são controlados pelo governo ditatorial, décimos “fazer na nossa parte” e boicotar, dando o dinheiro para o povo, que precisa mais. A rodoviária  bem afastada do centro e caótica  e muuito empoeirada. O primeiro destino seria Inle Lake. Os primeiros km de estrada surpreenderam, e percebemos que tinha alguma coisa estranha quando passamos por um “moderno” pedágio e logo após teve um controle de documentos/passaportes. Chegamos numa cidade com ruas largas, modernas, iluminadas ate demais. Lojas de pedras preciosas, resorts e ate campos de golf. Ate praça com chafariz! Estávamos na nova capital, construída só para o governo. Ate as embaixadas foram obrigadas a ficar em Yangon, e as casas aqui tem que seguir um tamanho e padrao pre-determinado. Nada de comercio pé de chinelo. Nada funciona sem autorização  e parceria.do governo. Muito pouco depois de cidade, inicia a realidade. A estrada fica esburacada, ate virar estrada de terra. Em um momento vira ate estrada de mão unica, sem acostamento. Como Inle Lake fica na região das montanhas, as curvas iniciam e não param mais. Chegamos de madrugada, e tava muito frio. Da parada do ônibus ainda tivemos que arranjar transporte para os próximos 13 km, ate chegar em Nyaungshwe, onde ficaríamos.

Aqui é só para comprar a passagem, ainda no centro. A rodoviária fica mais afastada, e bem mais caótica!

Ficamos numa pousada muito legal, com pessoas simpaticíssimas  Para se ter uma ideia, toda vez que chegávamos no final de tarde, batiam na porta e nos traziam uma limonada. A região e calma, rural, e muito bonita. Fizemos passeio de canoa por pequenos canais ate rustico monastério para ver o por de sol, e rodamos muito a região de bicicleta, primeiro com mapas e depois sem destino. Como estávamos perto de um grande lago, nada melhor para conhecer a região que um barco. Saímos cedo, passando por canais ate chegar ao lago propriamente dito. Grande, cercado de montanhas, com uma nevoa devido ao horário  Lugar muito bonito e de uma paz incrível.  Pescadores com suas redes e armadilhas, naquela que era só mais uma segunda-feira para eles. A região funciona como um WaterWorld. As casas são sobre palafitas, onde só se chega de barco. As plantações são em elevados no meio do lago. Voltamos a terra firme, numa vila onde acontecia o mercado do dia. Carnes, verduras, mantimentos e flores, muitas flores. Alguns vendedores de artesanatos nos fizeram lembrar que eramos estrangeiros. Rodamos km e km ao sul, passando por mais vilas suspensas  alem de jardins flutuantes, onde cultivam as flores. Alguns monastérios  sendo que em um deles as mulheres não podem se aproximar do altar principal. Existem algumas paradas que são para turista ver, como fabrica de cigarro local, tecido feito de resina de uma planta local, fabricarem barcos, etc. Algumas coisas ate são interessantes, mas e tudo montado com uma loja junta. Perdemos a ilusão de que Myanmar era perfeito, ideia que tínhamos até então. Passamos por uma loja de a artesanato das “mulheres girafas” que com certeza não estão em melhor situação que as refugiadas na Tailândia.  Voltamos cansados para o hotel, depois de um longo e produtivo dia. Inle Lake fica no estado de Shan. Shan e um povo que tem nesta região  cruza a fronteira e tem em boa parte do norte da Tailândia  Queria muito poder voltar para a Tailândia por terra, mas as áreas são controladas, e o governo marca direitinho onde os estrangeiros podem ir. Ao norte do estado de Shan, existem diversos conflitos. Shan com o exercito do governo, com guerrilhas Mon, Mon com o governo. Meio terra de ninguém.  Aparentemente conflitos étnicos  mas na verdade financiados por carteis de Opio e Heroína.

Andando de canoa

Final de tarde

Muita paz de espirito

Flores no mercado

Congestionamento para chegar em terra firme!

Mundo Aquático!!

Anos de perseguição

Vista de quem anda de bicicleta por aqui…

O aniversario da Bibi se aproximava, e ainda tínhamos que seguir outra longa estrada para Mandalay, antiga capital. Não vou nem citar o “antiga capital” novamente, pois ao redor de Mandalay fui para diversas outras “antigas capitais”. No ônibus passavam vídeo clips de bandas locais que faria qualquer “Emo” se suicidar. Nada de aparecer os cantores, só historias de amor, muitas delas com finais trágicos. Filmagens totalmente amadoras, e alguns dos passageiros cantando baixinho junto. De mais!! Ficamos indignados com um alemão que se levantou e fechou as janelas sem perguntar para os passageiros. Depois pediu para não reclinarmos tanto os bancos, pois estavam atrás de nos. Foi estranho dividir um táxi ate o hotel com eles, acabar ficando no mesmo hotel, e até tomar café da manha na mesma mesa, por falta de lugar.