Rumo ao norte!!

Eu e a Pati sembre discutimos (no bom sentido) qual e a India verdadeira. A India tradicional, espiritual, historica, que vem na nossa imaginacao e que tenho mostrado aqui ou a “nova India”, a India rica. Abro o jornal e vejo que uma empresa indiana acaba de comprar a Zain telefonica, se tornando uma das cinco maiores do mundo.. Muitos podem falar, ta e daí?! A Zain e uma compania telefonica com atuacao em mais de 15 paises africanos, muito boa por sinal (dava para passar de pais para pais com o mesmo chip, sempre como se o numero fosse local). A Land Rover e Indiana, assim como a Jaguar. Nao preciso comentar que os salarios de Bollywood sao mais altos que os da Globo, nem que os jogadores de cricket ganham mais que os de futebol no Brasil, ne?! Poderia citar outras empresas, e pesquisando um pouco mostrar numeros astronomicos.

A India ta crescendo muito. Ok, tem muito para crescer, pode se comparar com o crescimento que o Brasil teve nos anos 70, quando tinha muito para crescer tambem (claro que ainda tem, mas era o inicio da caminhada). Mas o Brasil desandou por um bom periodo, teve altas inflacoes e estagnou. A India aparenta ter uma economia solida, planejada, e a sequencia de crescimento pode ser diferente da que tivemos (sera que pelos excelentes economistas indianos que lecionam no mundo todo?). A nova India existe, são milhoes e milhoes de pessoas, mas proporcionalmente a populacao ainda e muito, mas muito pequena.

No Brasil as coisas não são muito diferentes. Qual o percentual da populacao brasileira que tem curso superior? 10%? Tudo bem, esta aumentando com a popularizacao de cursos superiores, mas ainda demora para recuperar. Saneamento? Habitacao? Mortalidade infantil? Corrupcao? Infraestrutura? O BRIC fica todo se achando, as novas economias bambambam. Pensem o tamanho das populacoes de Brasil, Russia, India e China, agora no tamanho da area destes paises. Como paises, estao se tornando nacoes poderosas, pois decisoes politicas internacionais contam como um todo, mas se pensarmos bem, estao muito abaixo do potencial. Peguem estes PIBs e dividam pela populacao para ver o PIB per capta, ou ate mesmo pela area dos paises, criando uma nova forma de avaliacao (os paises do BRIC sao top 10 em area e populacao). Piada!  A India, assim como Brasil, Russia e China ainda tem que comer muito feijao ou chapati, arroz, batata, seja la o que for…

Normalmente temos muito poucos planos, e mesmo assim estao sempre mudando, mas desta vez nos superamos. De Tirunavamalai pegamos um onibus comum ate Bangalore, e so la decidimos para onde iamos. Inicialmente seguiriamos para Mysore, onde tem um magnifico palacio, a Bibi ficou seduzida por historias de uma linda e tranquila praia com cultura indiana, chamada Gokarna, e poderiamos seguir tambem direto para Hampi, destino que passariamos com certeza.

Ao nos aproximarmos de Bangalore, já podiamos ver que se tratava de uma grande cidade. Talvez seja a maior representante da “nova India”. Claro que não tem o glamour de Mumbai, mas ali e onde esta o maior custo de vida do pais, inpulssionado pelos altos salarios dos capacitados profissionais de TI. Meu companheiro de viagem na africa, Guru, contava que muitos dos seus amigos estavam largando seus empregos no Vale do Silicio na California para ganhar salarios superiores em Bangalore, com um custo de vida bem mais baixo que o americano.

Quase que passamos pela nossa parada, já que o onibus não ia ate a rodoviaria. Nos avisaram em cima da hora, pulamos do onibus meio desageitados e pegamos um outro onibus urbano ate a rodoviaria. Para evitar um zigue zague, mais mudancas de lugares e para fugir do calor, resolvemos ir direto para Hampi mesmo. O ultimo onibus já estava para sair, mas era um onibus comum e a viagem seria longa. Optamos por pegar um onibus noturno com camas e passar o dia na cidade. Compramos as passagens, largamos as mochilas e fomos ate um “shopping” ali perto que o pessoal que vendeu a passagem recomendou. Estava mais para galeria de centro, nada a ver com a nova India. Acabamos descobrindo qual era um dos shopping descolado da cidade e fomos la. O grande motivo era ter um lugar com ar condicionado para não ficar no calor infernal que estava la fora, mas acabou tendo a desculpa que estariamos vendo um pouco da outra India…

Mesmas lojas, mesmo padrao, para ser sincero não me atrai muito. Ate tem um ou outro estilo diferente, coisas interessantes para se ver da “cultura pop”, mas fiquei entediado muito rapido. Pelos menos matamos o tempo. Ao pegar o onibus a Bibi cometeu uma grande gafe. Um “piazinho” nos guiava ate onde o onibus estava estacionado, e ela estava encantada com a desenvoltura e firmesa da crianca. Na hora de embarcarmos ela perguntou qual era a idade dele, mostrando com os dedos 5 ou 6 anos. Ele respondeu 22. Ficamos achando que ele não sabia falar ingles direito, que tava tentando falar 12 anos (mesmo parecendo a metade desta idade). O “piazinho” que não era um piazinho e sim um “Cara” que não cresceu, falou irritado que tinha nascido em 88′, so que não tinha crescido. Demoramos um tempo ate acreditar na historia, e o cara saiu bravo…

Chegamos em Hospet pouco antes do inicio da manha, e Hampi fica a um pulo dali. Olhamos umas 3 pousadas ate nos dar conta que os precos e qualidade mudavam muito pouco. A regiao fica no meio de um “bazar” baguncado, com ruas estreitas, pequenas lojas improvisadas, restaurantes e pousadas. A torre do principal templo pode ser vista de toda a regiao. Muitos dos restaurantes estao nos terracos, para proporcionar uma melhor vista.

Bem cedo alugamos uma moto para rodar. Apesar das distancias não serem tao longas, o calor estava muito grande para fazer o percurso de bicicleta. Hampi foi a capital de um imperio que dominou todo o sul da India, e existem incontaveis ruinas desta civilizacao, em diversos estados de conservacao. Alem das obras do homem, a paisagem chama muito a atencao. Uma regiao seca, apesar de algumas “ilhas” verdes de plantacoes de banana e arrozais, com milhares de pedras de diferentes formatos e tamanhos. Muitas destas pedras estao empilhadas, estranhamente equilibradas, como se tivessem sido colocadas desta forma propositalmente. O conjunto da obra do homem e de Deus e realmente espetacular.

Bem no inicio da nossa estadia, fomos num destes restaurantes turisticos pois a Bibi queria mudar o gosto da comida. Resultado, acabou pegando uma infeccao intestinal. Não adianta, restaurante local ta sempre cheio, o giro de pessoas e muito maior, pois obviamente tem mais indianos que turistas, e a comida sempre vai ser mais fresca. Resolvemos esperar passar naturalmente, sem remedio, pois não tinhamos pressa para sair dali. No inicio fiquei cuidando mais dela, pois so podia comer sopa e torradas. Ficou internada no quarto e nas leituras, e com o passar dos dias arriscou umas saidas para ver o por de sol num lugar não muito longe. Sentindo a melhora dela, passei a arriscar passeios mais longos, por mais ruinas, enquanto ela continuava mergulhada nos seus estudos. Com a melhora passamos a gastar horas nos restaurantes a beira do rio, so aproveitando a sombra e agua fresca. Mais passeios pelas interminaveis ruinas, e ate uma volta num “barco cesto”.

Quando se passa bastante tempo num lugar pequeno assim, fica amigo do dono da pousada, pendura a conta no restaurante que vai todo dia, os vendedores nem insistem mais pois sabem que voce não vai comprar, se sente em casa mesmo. Um dia antes da nossa despedida do local, voltando de uma caminhada, descobrimos meio que por acaso um lugar incrivel onde o sol estava se pondo. Na hora certa e no lugar certo!! Foi so deitar na pedra quente e curtir ate a noite cair por completa…

A India e grande, e qualquer viagenzinha demora um bom tempo. Nossa proxima parada, Jalgaon, era a maior distancia que percorreriamos ate agora. Autorickshaw ate Hospet, trem ate Guntakal onde esperariamos por duas horas o trem ate Jalgaon. O compartimento sleeper e simples mas bom por causa da interacao, já que não existem cabines fechadas, mas neste trecho da viagem incomodou um pouco pois praticamente so tinham homens. Linha muito utilizada por pessoas que viajam a trabalho. Nos dois trens estavamos cercados por engenheiros civis, profissao que esta em alta com o grande investimento em infra estrutura no pais. Já se aproximava da metade da tarde e a temperatura so parecia aumentar. A Bibi comparou o vento que vinha da janela do trem como um secador de cabelos, e acreditem, ela não estava exagerando.

Pulamos do trem na rapida parada na estacao de Jalgaon, e já tinham pessoas perguntando se queriamos dividir um carro para os passeios a Ajanta e Ellora, que tambem tinham acabado de chegar e tal. Eram 3 refugiados tibetanos, que moram aqui na India e estavam em perigrinacao para as “cavernas” Budistas da regiao. Eles foram com a gente ate o hotel que escolhemos e acabamos combinando de fazer o passeio, ou parte dele juntos, pois o aluguel de um carro seria praticamente o mesmo preco que as diversas passagens de onibus somadas.

A distancia ate Ajanta não era grande, mas a viagem não e tao rapida assim. O nosso amigo tibetano foi recitando mantras boa parte da viagem, e logo notamos que seria uma experiencia muito interessante. As cavernas de Ajanta foram esculpidas na rocha por monges, que la fizeram seu local de estudos e devocao. Pilares para a sustentacao foram deixados, alem de algumas esculturas e muitas pinturas. Na epoca que era ativa, no chao existia uma fina camada de agua, que funcionava como um espelho natural para iluminar as impressionantes pinturas. Diz a lenda que os monges daqui estudavam magia e eram capazes de coisas incriveis. Levitacao era uma das praticas mais simples…

As fotos de Ajanta desapareceram do cartao de memoria, junto com a maioria das fotos de Ellora. Espero conseguir recuperar!

A cada caverna nossos amigos seguiam o script do ritual tibetano, com gestos, mantras e muita paixao. O lugar que e mais visitado por sua beleza, teve um extra pela devocao não muito comum nem esperada por aqui.

Mais uma esticada ate Ellora, onde pretendiamos ficar e so visitar as cavernas no dia seguinte. De ultima hora acabamos decidindo visitar com os tibetanos e aproveitar a volta ate Jalgaon. Se em Ajanta, fora a construcao das cavernas, eram as pinturas que impressionavam, em Ellora eram as esculturas. As cavernas eram ainda muito mais impressionantes que as de Ajanta. Aqui as cavernas não são so budistas, mas existem janeistas e hinduistas tambem. Algumas partes das rochas foram totalmente esculpidas, deixando de ser cavernas, e passando a ser um templo solido, feito so de uma rocha, sem encaixes. Lembram das igrejas de Lalibela na Etiopia? Mesmo estilo (a cidade de Petra na Jordania tambem e assim). A principal delas e magnifica, inacreditavel como conseguiram esculpir aquela beleza, daquele tamanho, na rocha. Tiraram 250000 metros cubicos de rocha. Para se ter uma base de comparacao, um container que eu exportava carregava 50 metros cubicos de madeira. Seriam o o equivalente a 5000 destes containeres que vcs veem na estrada indo para os portos, tudo feito na mao. Vimos os templos janeistas juntos com os tibetanos, mas depois eles foram direto para os budistas enquanto nos gastamos tempo nos hinduistas.

Pilares esculpidos

Templo inteiro escavado na pedra

Esculturas

No inicio eu e a Bibi ficavamos falando um para o outro, olha isto, olha aquilo, inacreditavel, mas depois de um tempo o silencio nos tomou. Circulavamos de boca aberta, observando cada detalhe. A luz do final de tarde batia de frente e tudo ficou ainda mais bonito. Ate esquecemos de tirar fotos, que com certeza ficaram faltando, mas o momento e que vale, não e?! De qualquer forma a beleza do lugar não caberia numa foto… Terminamos nas cavernas budistas, e mesmo o horario de visitas já tendo terminado nos deixaram ficar mais, pois estavamos com os devotos. Saimos de la já era noite, e alem dos segurancas, so haviam macacos e nos. Muito gostoso das 6 as 7, quando ainda estava claro, e o lugar vazio, todo so para nos.

Na volta para Jalgaon, o tibetano pediu para sua esposa traduzir que tinhamos muita sorte de ter estado ali com eles, que o lugar e incomum e Buda nos traria muita felicidade. Eu apenas sorri, e pensava: sera que e possivel ser mais feliz do que sou? E segui a viagem em silencio, escutando o motorista cantar suas musicas indianas favoritas e o tibetano recitar seus interminaveis mantras no banco de tras…

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Road Trip 2? Não, Off Road!!

Inicialmente eu e o Grahan iríamos comprar um carro velho e vender na Zâmbia ou quem sabe na Tanzânia  Por causa da burocracia nas fronteiras, desistimos da idéia. Um pouco depois conheci o Piter, um sul-africano que ia via jar com sua namorada por alguns países e buscava cia para dividir custos. Perfeito!! Era o que precisávamos para viajar pela Namíbia e Botsuana, onde não existe muito transporte público nas áreas de maior interesse. O Tomas que vinha viajando com agente desde Coffee Bai iria junto. Encontramos o Piter em  Joburg e fomos direto para Klerksdorp, cidade pouco jurística, mas que pudemos observar o way of life dos Africaners. Esperamos 2 dias até a Land Rover ano 71 sair da oficina, e enquanto isto compramos os mantimentos. Tudo pronto, e no dia que iriamos sair, o carro não funcionou. Não seria fácil.

Antes de Sair

Antes de Sair

Crise? Eleição? Não, Futebol!

Estes dias tava comendo um Fish Roll, baguete com verduras e peixe, enrolado ” to Go” quando puxei papo com um cara ao lado. Tentei falar da crise, das eleições que estavam por vir, mas o papo não fluía. Quando ele soube que eu era brasileiro, passei até vergonha, pq queria discutir a escalação do Brasil, se o Ronaldinho Gaúcho era melhor que o Kaka e daí pra frente. Mesmo querendo entender mais a eleição da Africa do Sul, passei a utilizar o futebol como assunto e funcionou!!!

Todo mundo aqui torce pra um time da Inglaterra. Coisa de colonizado! Assim como muitos em Curitiba nao torcem para a dupla Atletiba para torcer para times de SP. Povinho…

A seleção vai ter um apoio muito grande aqui, pq é o time de muitos, depois da Africa do Sul e o Brasil.

O assunto e futebol!

O assunto é futebol!