As nações da região dos Bálcãs, ficavam bem no meio da encruzilhada oriente x ocidente, sempre sob domínio de grandes impérios (ficava bem no meio do Império Austro-Húngaro e Otomano). No final do seculo 19 começaram a ter certa autonomia, mas depois das grandes guerras que seu futuro mudou drasticamente. Após a primeira guerra mundial, conquistaram territórios dominados pelos Otomanos e formaram o Reino dos Servos, Croatas e Eslovenos, mais tarde alterado para Reino da Iugoslávia, que significava “Reino dos eslavos do sul”. Foram invadidos por Nazistas e Fascistas na segunda guerra e sua força de resistência liderada pelo Josip Tito, os Partisans, instaurou uma republica socialista após os Nazi-Fascistas serem derrotados.
A figura de Tito se mistura com a da Iugoslávia. Quando ele era vivo, o país formado por diversas nações, era unido e tinha importância no senário mundial. Lembram aquela história do mundo ser dividido entre primeiro mundo e comunistas, além do terceiro mundo que não era alinhado com ninguém? Pois é, a Iugoslávia era um dos países que lideravam o “Terceiro mundo”ou países não alinhados (mesmo sendo comunista).
Com a morte do Tito, iniciaram vários movimentos nacionalistas, e os Sérvios, centro do poder e com minorias em diversas nações foram cruéis. A Iugoslávia ainda se manteve por uma década, mas com o fim do comunismo, novas guerras sanguentas acontecerem e ela foi se despedaçando ao longo da década de 90. O líder da Sérvia Milosevic foi acusado de diversos crimes de guerra e genocídio e Belgrado foi bombardeada elos sérvios terem desafiado até a ONU. Na minha ultima viagem pela região (clique aqui) não não fomos para Sérvia. Já não tínhamos muito tempo (passagem para o Brasil comprada) e naquela época brasileiros precisavam de visto para entrar no país. Facinado pela região dos Bálcãs, quando a Bibi decidiu participar de um congresso em Viena-Áustria, não tive duvida em marcar meu voo para Belgrado, para só depois encontrar com ela.
No aeroporto de Belgrado, um taxista simpaticíssimo me levou até o Hostel. Em meio a conversas sobre Tito e a Iugoslávia, ao saber que eu era brasileiro, me mostrou um adesivo no carro escrito “AS”. Ele tinha acabado de voltar de Ímola, onde foi prestar homenagens no aniversário da morte de Ayrton Senna. Não era um fanático por F1, era um fanático por Ayrton Senna! Não preciso nem dizer que a conversa sobre a Iugoslávia-Tito se encerraram…
Nas notícias eu lia que a Sérvia passava por uma das maiores enchentes dos últimos tempos. Quando cheguei a chuva não estava pesada e para minha sorte a previsão era de dar uma trégua. Por causa do mau tempo o hostel estava vazio. Nada mal ter um quarto só para você por 12 EUR com café da manhã!
Belgrado não é um grande centro turístico, mas é uma cidade agradável, daquelas que você vai descobrindo e vai gostando cada vez mais. É uma cidade grande, movimentada e está se reinventando. Famosa por sua vida noturna, dizem que a cidade bombardeada está “Bombando”.
Da para percorrer boa parte da cidade a pé, mas se cansar o tram 2 faz um circulo na parte mais central (compre o bilhete antes de entrar). Caminhei muito, já no primeiro dia de viagem estava com bolhas no pé. Fui conhecer a cena independente que está florescendo na cidade. O BIGZ, antigo prédio, daqueles blocos gigantes comunistas, foi invadido e hoje tem artistas, pequenos espaços para shows e até um centro cultural brasileiro. Incrível como a pratica do Squat é popular na Europa. Com paredes todas pichadas, difícil de acreditar que atrás das portas tenham lojas, artistas, pequenos empreendedores e até jazz no terraço. O mesmo acontece atrás das portas metálicas da região de Savamala.
A gigantesca catedral ortodoxa de St Sava, é muito bonita por fora, mas quem quer observar os ícones ortodoxos deve passar pela St Mark’s Chunrch, pois St Sava ainda esta em obras no seu interior. Caminhando pela avenida Kneza Milosa, onde estão as embaixadas, você vai dar de cara com prédios bombardeados, que foram propositalmente deixados no meio da cidade reconstruída. Independente da terrível posição/ação da Sérvia nos conflitos com seus vizinhos, numa guerra muitos inocentes vão morrer e isto também aconteceu em Belgrado.
A larga avenida Kralja Milana te leva de volta para o centro histórico, Stari Grad, com a praça da república, o museu e o teatro nacional no seu limite. No calçadão Kneza Mihaila, lojas, muita gente e até uma exposição apresentando as cidades sede da Copa do Mundo no Brasil.
Mas a grande coroa de Belgrado é o parque Kalemegdan, com vista para o encontro dos rios Danúbio e Sava. O antigo forte, uma grande Cidadela, possui diversos monumentos, belos portões, torres, museus e igrejas. Os locais gostam de passear por ali e se misturam com os turistas. Barraquinhas vendendo velharias, crianças brincando e pessoas fazendo exercício mostram que a vida diurna da cidade também é intensa.
Se o tempo tiver bom, vale alugar uma bicicleta ao lado da academia do tenista Djokovic, um pouco para fora do estremo norte do parque. Dá para percorrer as ciclovias até a região de Zenun. Como o tempo não estava dos melhores, resolvi ir de ônibus mesmo (ônibus 84, perto de Mc Donalds). É um alívio andar pelas calmas ruas de pedra ao redor da Millenium tower. Só não ache que vai conseguir informação fácil perguntando por este nome. Só quando falei “Gardosu”é que as pessoas na rua entendiam onde eu queria ir. Aquele clima mais de bairro, com senhoras ortodoxas com lenço na cabeça, parecia interior, mesmo estando na capital do país.
Construída ainda no final do seculo 19, em cima de fortificações mais antigas. A região é habitada há pelo menos 7000 anos! De cima da torre tem uma bela vista para Belgrado e os rios Sava/Danúbio. Ótimo lugar para um final de tarde.
Nas minhas andanças pela cidade acabei perdendo o horário e não fui no mausoléu do Tito e no Museu da Iugoslávia, que fecha as 16hs. Uma pena! (É só pegar o tram 41 em frente ao parque dos estudantes).
Gostei de Belgrado, cidade acolhedora, comida boa e barata (um Pljeskavica custa pouco mais que 1 EUR), fácil de se locomover. Pena o pessoal do Couchsurfing não ter aparecido na minha ultima noite, antes de eu pegar o ônibus para Zagreb. Achei um barzinho/restaurante bem bacana, com um jardim interno e cobertores para espantar o frio e o tempo passou voando, até a hora de eu caminhar para a rodoviária e embarcar para meu próximo destino.
Pa-pa (até logo) Belgrado!
Excelente! Deu saudades, a cidade é bem agradável, vale uma visita, não sei porque tantos a evitam. Será por causa da guerra? Passaram uma imagem negativa, uma pena.
Pois é Marcelo, a questão da guerra acho que atrapalha. Bósnia foi marcante e Kosovo ainda recente. Mas acho que a questão do visto também atrapalhava bastante. Agora deve aumentar o fluxo de turistas.
Abração e obrigado pelas dicas.
É “cidadela” em PT-BR e seria “habitada HÁ pelo menos 7000 anos. Aliás, não tá meio exagerado isso aí?
Oi Diogo, tudo bem?! Obrigado pelo comentário e bem vindo ao blog. Já corrigi o “Cidadela”e o “Há”. Obrigado pela observação (tinha um “Ara” ali no meio também). Nunca releio meus textos, escrevo e publico, portanto sempre passam erros. Sobre os 7000 anos é isto mesmo. Segundo os museus e livros as culturas Starcevo e Vinca são inclusive anteriores.
Abraço