Até a fronteira, o ônibus aguentou bem, apesar das paradas não esperadas, para um ônibus direto. Assim que entramos no Quênia, a estrada começou a ficar ruim, e foi piorando. A poeira entrava por tudo, e ate caia da caixa de som. A Bibi já tava com um bico gigante quando o ônibus parou pela primeira vez. Mexeram um pouco e seguiu viagem. Numa outra parada ela decidiu ir ao banheiro, o famoso “bush toilete”. Como era savana, e a vegetação bem rasteira, tive que segurar uma canga para fazer “cabaninha”. Depois de seguidas paradas, o ônibus quebrou de vez. Me irritei um pouco com as reclamações e falta de espirito de aventura (quando decidimos não esperar para pegar o voo, saíamos do risco), e fui ler dentro do ônibus. Com tanto tempo de Africa, deixo vários detalhes passar. Para enriquecer um pouco mais, vou colocar aqui o e-mail que o Clau mandou para todos da família la no Brasil:
” … saímos de Arusha na Tanzânia para Mombasa no Quênia. Que aventura…Da fronteira da Tanzânia ate a cidade de Voi e uma estrada de terra absolutamente horrível. O ônibus que tomamos nada tem a ver com nosso padrão Marcopolo. Mas ao menos tínhamos poltronas individuais e que reclinavam razoavelmente. Mas a estrada tinha tantas panelinhas que o possante não resistiu e quebrou no meio do nada. Depois de algumas tentativas soubemos que não tinha como seguir viagem nele. Mandariam um outro que chegaria em 5 horas…A solução foi parar o próximo ônibus que apareceu e la fomos nos com todas as malas no corredor sobre sacos de farinha, batata, galinhas, etc… Cada um ficou num assento possível com bagagem no colo e rodeados de tudo o que se possa imaginar. Na minha frente havia uma mulher com uma vasta cesta cheia de ervilhas e aproveitava para debulhar enquanto o ônibus pulava pela estrada de pó. Ao lado uma outra tirou uma panela de barro de um baita saco e pegava as cascas de ervilha pra levar pra casa. Não cabendo nesta panela, tirou uma segunda do fundo do saco e encheu tb de cascas. No final socou tudo saco a dentro. Estava o Gui e eu na ultima fila com montanhas de malas e sacos nos separando da Bibi que estava uns 3 assentos adiante e a Monica que ficara mais pra frente do onibus sentada entre dois passageiros bem perfumados. E com as janelas fechadas. De vez em quando via que a Monica levantava o braco e eu respondia abanando pensando que tava dando tchau. Na terceira vez que levantou o braco vi que a cabeça dela tinha caído. Logo pensamos o Gui e eu que estava vomitando. Pulei por cima dos sacos e das malas do corredor pra chegar ate ela e ver que tinha desmaiado. O passageiro do lado queria abrir a blusa dela pra respirar melhor. Cheguei em tempo de evitar e mandei abrir as janelas pra entrar um pouco de ar. Todos queriam saber o que tinha acontecido. Disse que era problema de pressão baixa. Logo o da frente me passou um cartão de medico de ervas. Neste meio tempo havia entrado no ônibus um camelo que em altos berros apregoava remédios para o nariz, asma, figado, febre amarela, etc… Ate ofereceu um pó pra colocar na boca da Monica. Claro que não aceitei. La atras perguntaram pra Bibi que havia acontecido. Ela disse: She…desmaiou. What? Is she died? No only e fez o gesto com a cabeca caindo pro lado. Enfim depois de algumas horas de peripecias chegamos a Voi. Mas nao sem antes pagar nova passagem no trecho que usamos o segundo onibus. Em Voi pegamos um taxi que nos levou finalmente a Mombasa.”
Não foi fácil ver a Mãe assim. Sei que ela tem pressão baixa, já vi ela assim varias vezes, mas assusta. Alguns detalhes que o Clau não mencionou: O táxi, depois de carregado, não funcionou, por problemas de bateria. Ao pararmos para comprar bebidas, o motorista retirou rapidamente os adesivos da lataria do carro, pois não tinha autorização para sair do município.
Mombasa surpreendeu. Cidade festeira, cheia de Matatus (os dala-dala daqui) coloridos, com neons e dvds. Mesmo sendo de maioria Muçulmana, noitadas que seguem até o amanhecer. Entendi porque o Dimitri, francês que morava em Ibo-Moçambique, de vez em quando atravessava toda a Tanzânia só para chegar ate aqui. Gostaria de ter passado mais tempo por aqui, terra que também já foi dos portugueses. Seguimos pela costa ate Malindi, passando por diversas praias que mais parecem um pedacinho da Itália. Não, não é por causa do visual, e sim pela quantidade de italianos que veraneiam aqui. Tudo que e placa e escrita em italiano, e ate os guardadores de carro falam italiano para se comunicar com os turistas. De lá pegamos um Voo para Lamu. Inicialmente queria atravessar a África da Africa do Sul ate Djibuti por terra, sem pegar avião. A estrada não era longa, mas era pior que a que passamos. Como não estava mais sozinho, tinha que ser responsável. De qualquer maneira faria uma volta pelos países do Leste da Africa e retornaria a Tanzânia, e subiria tudo de novo por terra.
Ainda no “aeroporto”, comecei a conversar com um senhor alemão que puxou papo. Ele se interessou pela minha viagem, meus antigos empregos , minha formação, dentre outras coisas. Falou que era consultor de hotéis, e que também lidava com o mercado imobiliário. Contei das minhas novas empreitadas junto com o Geraldo, e até falamos de preços e oportunidades no Brasil. Chegando na pequena pista de pouso, ele contou que já havia vendido mais de 600.000 casas/terrenos durante a vida dele. Achei meio forcado, mas seguimos juntos ate Lamu, que fica em outra ilha. O barco estava o esperando, com toda uma comitiva. Ele nos deixou num bom hotel e falou que recomendava. Nos convidou para ir ate a casa dele em algum dos dias que estivéssemos por ali.

Chegada em Lamu
No hotel colocamos a negociação/choradeira para funcionar. Depois de espremer no preço, pediram para ligar para o dono para ver se era possível. Não e que o tal do aleãao que era o dono!!!
A chegada em Lamu e impressionante, cidade mais medieval que a Stone Town de Zanzibar. Alias, tentam comparar as duas ilhas que não tem nada a ver. Lamu e meio parada no tempo, sem carros, pequena, não tao turística , [praticamente sem praias também]. Cultura kiswahili borbulhando. Tem 25000 abitantes e 500 jegues, que são o transporte local. A primeira caminhada, já com o entardecer mostrou que não seria difícil se apaixonar por aquele lugar. Construções antigas, portas talhadas, pessoas andando de jegues nas ruas super estreitas, todas aquelas mulheres com seus véus negros e os homens mascando miraa e conversando. Fácil de entender porque era um patrimônio da Unesco.

Medieval…

Pela rua

Mercado
Ficamos alguns dias, mas eu poderia ter ficado semanas para explorar todo o arquipélago. Algumas ilhas mais distantes pareciam super interessantes. Todas as ilhas estão muito próximas do continente, e se estendem ate a divisa com a Somália.

Um dia na praia…
Um dos dias fomos ate a vila e praia de Shela. Falavam que era até mais medieval que Lamu. Mentira!! (mais um furo do Lonely Planet e de seus seguidores…) Até podia ser no passado, mas hoje quase tudo foi derrubado. No lugar, ricos e famosos construíram casas se baseando na arquitetura local, mas muito estranho e artificial. Alguns deles: os donos da Olimpics, os da Peugeot, o príncipe de Mônaco, modelos e mafiosos italianos. O pessoal gostou, mas eu fiquei decepcionado. A praia também não tinha nada de mais. Fica o ponto alto para o momento que estávamos conversando na areia e passaram alguns Dromedários. O restaurante que almoçamos também tava delicioso (que novidade, todos os restaurantes são muito bons!!).

“de quem e este jegue…”

Sai da frente!!!
Em Lamu existem 2 museus (alem de outros menores), passeios de barco, dentre outras coisas, no entanto o mais gostoso mesmo era caminhar sem rumo, só olhando o dia a dia deles. Lugar magico mesmo. Talvez um dia ainda tenha todas aquelas lojas e estrutura da Stone Town de Zanzibar, mas hoje ainda e bem isolada, ainda bem!

Porta
Um dia recebemos um telefonema do alemão, para irmos na sua casa. Uma bela casa, provavelmente uma das maiores da ilha. Fomos la bater papo, quando descobrimos que se tratava de um bilionário. Mostrou (de forma não muito humilde) folders de diversos empreendimentos, contou que era dono de Hotéis, campos de golf, cavalos de corrida, agencias de moda, cervejarias, Spas, condomínios… ha, ele não bebia porque voava o seu próprio avião quando estava na Europa. Fora as horas que parecia que era um professor de Deus, o papo foi legal, e passou por assuntos diversos e chegou ate a religião, telepatia, energia…

Porta estilo Lamu
Tiveram varias “figuras” que fizeram parte da nossa hospedagem em Lamu. Um deles era o Charlie. O cara e um “doente”. Com uma voz de locutor, toda hora que nos via abria um sorriso e corria para arranjar uma flor para a Bibi e para minha mãe. Derrubou minha mochila no mar na nossa chegada, e um verdadeiro “chupeta”. Aquelas lendas urbanas, sabe?!

Masha, Eu e o “Doente” do Charlie
Já o Masha, nosso guia, historiador, amigo, RP do Hotel… Um cara que trabalha 16 horas por dia, sete dias por semana, e ta sempre com um sorriso na cara, super simpático. Mora numa casa junto com os outros funcionários do hotel, só vê a família a cada 60, 90 dias, e e uma pessoa super feliz. Aquelas lições de vida mesmo. Felicidade realmente e um estado de espirito.

“IAV, e nois ae…”
Foi difícil deixar Lamu para trás. Olhávamos a pequena cidade quando atravessávamos o canal para a pista de pouso e já batia um gostoso saudosismo. A Bibi já em lagrimas, me fez ter certeza que apesar das reclamações que ela faz as vezes, ela esta no lugar certo, e muito feliz com todas as experiencias que esta tendo.

Saudades..!
Voamos para Nairóbi, popularmente chamada de Nairobery. Comparam muito Nairóbi com Joanesburgo, pois e o centro econômico do leste da Africa, alem de ser uma grande cidade. Achei uma injustiça o que fazem com a cidade, pois mesmo não tendo tantas atracões, e uma cidade legal. Caminhamos pelo centro, e longe de termos qualquer problema. A cidade pareceu surpreendente limpa e moderna em algumas regiões. Claro que tem todos os tipos de bairros, e níveis de limpeza, mas isto acontece em qualquer grande cidade.
Tivemos que nos despedir da Mãe e do Clau. Nossa, muito difícil. Impressionante como com o passar dos anos nossos pais se tornam amigos e também grandes companheiros. Eles voaram para o Brasil, via Africa do Sul, e nos seguimos para Uganda…
Acabei de sber que o cara do Malawi morreu… fiquei triste, pensei em você e na noss conversa anes de você ir: Se cuida heim!!! Não vai subir montanha, nem nadar com os tubarões, nem surfar sozinho ta?
Adorei ver as fotinho com a bibi junto, dá mais vida pra tua viagem! e fiquei morrendo de vontade de conhecer Lamu!
beijos e saudades
Nao sabia do cara do Malawi, que foda!!
Antes de ontem subi um vulcao de 4137 mt, mas devidamente acompanhado de guia. Li o livro ” No ar raroefeito” aqui na viagem, lembra?!
Nao se preocupe que vou me cuidar. Agora tem ate a Bibi pra cuidar de mim…
Bjs
ps- leu o email pro pedrinho?
agora guenta gui
Irado!
Manda para o coxanautas!
abraço!