Encontro com os Mourides

Antes da chegada do franceses, a região onde hoje é o Senegal era dividida em diversos reinados. Com o estabelecimento da colonia, uma das principais resoluções foi acabar com o poder politico destes lideres. Até então o povo Wolof, predominante por ali, seguiam religiões africanas locais. Só depois da conquista francesa é que passaram a se converter para o islamismo. Mas não é um islamismo como o do Oriente Médio, ele é bem “africanizado”. As antigas estruturas sociais dos clãs foram supridas pela nova estrutura religiosa, as Irmandades Muçulmanas. O grande líder, Amandou Bamba, passou a ser o verdadeiro representante do Profeta Muhamed na terra, assim como os seus descendentes.

O Senegal passou a ser um dos países onde a religião é mais importante e influente no mundo. A luta de Amandou Bamba era religiosa, mas também muito anticolonial. Foi exilado por isto, mas sua redenção pode ser vista nos dias de hoje. Seu nome, e a ramificação do islamismo que originou, o Mouridismo (uma especie de sufismo), esta presente nos nomes de lojas, transporte e das próprias pessoas.

O Senegal não fica tão longe do Brasil, seria uma rápida viagem do Rio Grande do Norte ou do Ceará, mas a ausência de voos diretos faz com que se faça uma longa viagem. Curitiba-São Paulo-Johanesburgo-Dakar é três vezes mais longa do que se tivesse um voo Curitiba-Dakar. Depois de um dia e meio de viagem, acabei chegando de madrugada no aeroporto de Dakar, capital do Senegal. Tinha contactado um jovem jornalista pelo site Couchsurfing que aceitou me hospedar. Apesar do horário, duas da manhã, ele fez questão de me buscar no aeroporto. Segundo ele fazia parte da “Teranga” senegalesa, palavra Wolof para designar hospitalidade.

Ele morava numa casa boa, dois andares com um terraço, num bairro do subúrbio da cidade. Seu pai, que trabalha como gerente de RH e seu irmão, universitário, estavam me esperando ansiosos. Era a primeira vez que recebiam um estrangeiro através do site. Apesar da língua colonial oficial do Senegal ser o francês, todos falavam relativamente bem o inglês.

Conversamos um pouco e perguntaram se eu estava com fome. Trouxeram um grande prato de comida e me assustei com a quantidade. Estava com fome, mas não queria fazer desfeita. Só depois entendi que o prato era para todos. Foi colocado no meio da mesa e todos se serviam, com as mãos mesmo.

No silencio da madrugada vinha uma musica hipnotizante ao fundo, “AaaoooAOaaaoo…”. Era um encontro Mourid, a principal irmandade muçulmana do Senegal. Estavam lendo poesias em voz alta, como se fosse um coral, e a cantoria seguiu pela noite toda.

De manhã acordei com crianças brincando e gritando. A casa do Bachir, meu anfitrião, ficava na frente de um campinho de futebol de areia. Quando olhei pela janela pude notar que todo o bairro era uma “continuação”do campinho, já que toas as ruas eram de areia também.

Campinho do bairro

Campinho do bairro

Interessante que era uma família de classe media alta (pelos empregos e cursos universitários), tinham uma mensalista para limpar a casa e um bom carro na garagem, mas o banho era de balde. Tinha um “rabo quente” ligado na tomada para esquentar o balde antes de tomar banho.

Dakar é uma cidade grande, movimentada e espremida numa pequena peninsula. Visitar a cidade num final de semana foi um alivio, pois as ruas ficam constantemente congestionadas nos dias de trabalho.

Visitei o centro antigo, onde tem alguns prédios coloniais interessantes, com clara influencia francesa, como a estação de trem, a prefeitura, a câmara do comercio. O palácio presidencial também é muito bonito. Não muito longe dali, na Medina, fica a grande mesquita, inspirada na de Casablanca-Marrocos. Existem grandes e belos mercados como o Kermel, mas é gostoso explorar os pequenos mercadinhos espalhados pelas ruelas.

Arquitetura com influencia européia

Arquitetura com influencia européia

Grande mesquita de Dakar

Grande mesquita de Dakar

Explorando o centro de Dakar com meu amigo Bachir

Explorando o centro de Dakar com meu amigo Bachir

Na minha passagem por Dakar, não poderia deixar de conhecer a Ilê de Gorée, uma pequena ilha a poucos quilômetros de barco da capital. Patrimônio histórico da Unesco é uma das grandes atrações do país.

Ile de Gorée

Ilê de Gorée

A Ile de Goree é pitoresca e muito tranquila. Tem belos casarões, ruas estreitas, buganviles e barcos coloridos. Pela manhã estava muito calmo caminhar pelas ruelas, mas com o passar do dia mais barcos foram chegando e ficou lotada de turistas. Em alguns lugares históricos como a “La Maison des Esclaves, não dava para circular de tanta gente. A saída foi assistir um futebol no centro da vila e bater papo com meu amigo. Detalhe que no meio do campinho tinha uma grande Baobá, arvore que esta presante em diversos lugares da ilha.

Ile de Gorée

Ilê de Gorée

Baobá no meio do campinho

Baobá no meio do campinho

Maison des Esclaves lotada de turistas

Maison des Esclaves lotada de turistas

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Assim como tantos outras ilhas e fortificações da costa oeste e leste da Africa, a Ilê de Gorée faz parte da triste história de envio de escravos para a america.

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Homenagem aos escravos

A família do meu anfitrião era Mourid devota, então pude me aprofundar um pouco nesta pratica/cultura/religião tão tipica do Senegal. Não tinha um plano bem definido para onde viajaria, mas acabei me influenciando por todas as nossas conversas e decidi ir para Touba, a capital sagrada do Mouridismo. O Bachir fez algumas ligações para amigos me receberem lá e em outras cidades que eu poderia passar ao longo da minha viagem pelo país.

Para ganhar tempo não viajei de ônibus. O transporte escolhido foi o “Sept Place”, carros Peugeot com lugar para sete passageiros, alem do motorista. São os famosos “taxis comunitários”, meio de transporte muito comuns na África (alem do Oriente Médio e Asia Central). Eles saem quando lotam, então é bom iniciar o dia cedo, de preferencia antes do sol nascer.

Sept Place!

Sept Place!

Uma estrada reta e plana, num ambiente árido, mostra um pouco da geografia do país. Uma antiga linha de ferro segue paralela a estrada. É uma ferrovia que liga Dakar até Bamako, capital do Mali, antigo sonho de consumo meu. As baobás espalhadas e as diversas charretes ao longo da estrada dava um clima todo para a viagem, sem falar nos mercados vivos e coloridos dos pequenos vilarejos.

Chegando em Touba, ela pouco se difere de uma outra cidade senegalesa, mas aos poucos fui descobrindo suas regras e peculiaridades. É proibido o consumo de tabaco e álcool em toda a cidade. Também não se pode usar os famosos tambores senegaleses, musica somente se for sagrada. Me surpreendi por não existir nenhum hotel. Durante o Magal, a grande peregrinação de Touba, chagam a vir 3 milhões de fieis, mas eles precisam ficar hospedados nas casas das pessoas ou nas cidades vizinhas.

Transporte público

Transporte público

Charretes são meio de transporte nas cidades também

Charretes são meio de transporte nas cidades também

No coração da cidade está a grade mesquita de Touba. Uma mesquita em constante reforma, já que cada Califa quer aumentar um pouco ou deixar a sua marca. Já são 7 Minaretes, o mesmo numero que em Meca (e o máximo que o Islã permite). Diversos mausóleos onde os descendentes de Bamba são venerados como verdadeiros santos. Interessante que no Islã ortodoxo só existe a relação direta com Deus, sem os intermediários que existem no Mouridismo. No Islã tradicional também não se pode venerar nada alem de Deus portanto os mourides seriam hereges na visão deles.

Grande Mesquita de Touba

Grande Mesquita de Touba

Grande Mesquita de Touba

Assim como Mecca, com sete minaretes

Grande Mesquita de Touba

Em constante reforma

Artistas trabalham na renovação e em novas pinturas, e o dinheiro das doações vem de fieis que vivem em todos os cantos do mundo. Existe uma legião de fieis disposta a seguir a ordem do Sheik, o que torna a doutrina poderosíssima. Dizem que é este poder que tem afastado o extremismo do Senegal. Já os críticos apontam que os benefícios financeiros e politicos estão acima dos espirituais.Apesar de ser bem fora de mão, gostei bastante da minha passagem por lá e de ter aprendido mais sobre este aspecto tão único do Senegal.

Detalhes do interior

Interior da mesquita

Detalhes do teto

Detalhes do teto

De Touba foi para Kaolak onde consegui fazer uma conexão até a Gâmbia. A estrada que era simples, porem de qualidade, ficou bem ruim, até que se transformou num caminho de terra. Passei uns dias na Gâmbia antes de voltar para o Senegal, agora na porção sul, chamada de Casamance. A Gambia é uma “tripa”de uns 40 km de largura por 300 de comprimento, bem no meio do Senegal. A região de Casamance é bem diferente do restante do país. Menos árida, cheia de rios, manguezais e bem mais arborizada, possui outro povo (Jola), língua e religião. Este contraste fez com que guerrilhas lutassem por independência, principalmente nos anos 80 e 90. O governo do Senegal conseguiu controlar a situação, e já faz uma década que não acontece mais nenhum incidente. No meu caminho até Ziguinchor, passei por uma grande base militar de onde saíram três carros blindados. Acho que nosso carro não tinha autorização para ultrapassar, então atrasou muito a nossa viagem, pois tivemos que ir bem devagar atras deles até resolverem sair da estrada.

Ziguinchor é uma cidade agradável, na beira de um rio. Foi uma base ideal para eu explorar a região. Consegui um hotel num preço aceitável, que tinha um patio cheio de arvores e wifi para eu poder dar noticias. Os preços de toda esta região do Oeste da Africa não são muito convidativos. Eles tem uma comunidade de moeda unica, basicamente formada pelas antigas colonias franceses. A moeda corrente é o CFA, e flutua de acordo com o Euro.

Qualquer hotel podre, custa pelo menos o equivalente a uns 10 euros (podendo chegar a 15 ou 20 sem água corrente). Tudo bem que as vezes o preço é para o quarto duplo, mas eu estava sozinho então tinha que pagar o preço cheio. Uma refeição simples num restaurante qualquer custa 3500 CFA, ou seja, 5 Euros. Um absurdo para o valor do Real atual. A saída era seguir os locais, e descobrir onde tinham os “pratos feitos”, que muitas vezes custavam 500 CFA, em torno de 70 centavos de dólar.

A improvisação e imaginação sempre trazem alternativas também. Eu tinha ido visitar as praias de Cap Skiring, uma antiga vila de pescadores que esta se transformando com o turismo. Fui até os pescadores, escolhi um peixe e um caranguejo, perguntei se não poderiam preparar para mim e fiz uma das melhores refeições da viagem. Prepararam arroz e até um molho para acompanhar o peixe. Comida farta, muito farta e de qualidade.

Cap Skiring

Mulheres aguardando os pescadores

Cap Skiring

Onde tem pescadores tem comida fresca

Onde tem pescadores tem comida fresca

Cap Skiring não é mais nenhum segredo, já tem até um hotel Club Med por lá. Isto não impede que existam diversas praias desertas, muitas delas a unica companhia que eu tinha era de vacas que voltavam da pastagem.

Cap Skiring

Cap Skiring – praias ainda desertas

Cap Skiring

Cap Skiring

Algumas casas de veraneio e terrenos a venda para estrangeiros ou endinheirados de Dakar, mas o sossego continua, pelo menos por enquanto. Na praia principal dezenas de canoas, peixes secando ao sol e pilhas de conchas que formavam verdadeiras montanhas.

Novas casas

Novas casas

Peixes secando ao sol

Peixes secando ao sol

Mas não só de praia vive Casamance. Diversos vilarejos entre os manguezais e rios, mostram uma vida simples e tradicional, onde pessoas batem papo embaixo de mangueiras gigantes. Na minha passagem por Oussouye eu fiquei amigo de um cara que me levou para conhecer a região com sua moto. Passei por pequenas vilas, seguindo pequenas trilhas entre as arvores. Queria muito conhecer o rei da região mas novamente não consegui. Já tinha tentado conhecer reis em outros lugares no Oeste da Africa, mas as majestades africanas parecem que são muito ocupadas.

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Arredres de Oussouye

Existem pequenos campings (com quartos também) espalhados por toda a região. Devido a proximidade deles, é um ótimo lugar para se viajar de bicicleta, curtindo o dia a dia local e andando na velocidade das pessoas.

Em Ziguinchor eu visitei a embaixada de Guiné Bissau e consegui meu visto em menos de 5 minutos. Nada de muitas perguntas ou carta convite como a Embaixada no Brasil exigia. Fui para Guiné Bissau, um tempo depois eu voltei para Ziguinchor onde fui para a Gambia e depois entrei novamente no Senegal. No final da minha viagem eu tinha 8 carimbos senegaleses no meu passaporte, 4 de entrada e 4 de saída, tudo por causa desta bizarrisse colonial de ter um pais ao longo do rio (Gambia), dentro de outro país (Senegal).

A caminho de Dakar ainda passei pela região de Faick, onde tem o belíssimo Delta du Saloum. Peguei balça, apreciei a paisagem, fiz amigos, viajei com carro que quebrou e me diverti bastante. Na minha ultima passagem pela capital decidi não fazer couchsurfing e fiquei num pequeno hotel na região de Yoff. Não muito longe tinha um surfcamp onde surfistas do mundo inteiro estavam hospedados para surfar as boas ondas do país. Fui me informar e falaram que tinha uma ótima ondulação chegando no próximo dia. Depois de tantas viagens resolvi tirar um dia de folga para surfar. Já cedo estávamos percorrendo os mais famosos locais de surf de Dakar, mas não tive sorte. A tal ondulação não chegou, e as ondas não davam nem para brincar. Pelo menos acabaram não me cobrando nada e acabei passeando bastante, por regiões que eu não tinha conhecido, como Yoff, N’gor e até Ponta de Almandies, o ponto mais ao Oeste da África.

Onibus coloridos de Dakar

Ônibus coloridos de Dakar

Na última noite me mudei para um hostel perto do aeroporto, pois teria que viajar de madrugada. Encontrei um tcheco, membro de uma Ong que distribuía bicicletas usadas pela África, e o Marko, um croata que acabara de chegar para viajar alguns países da região. (edit: eu encontraria por acaso o Marko alguns anos mais tarde em Conacri, capital de Guiné e depois combinando no Brasil. Ele passou a viajar bastante e relata suas aventuras no Some nomad stories)

Fomos comer alguma coisa num restaurante ali perto e na volta ouvi aquela “música” que escutei no meu primeiro dia de Dakar. Eram os Mourides recitando as poesias. Era o final da minha viagem, tudo já fazia muito mais sentido para mim. As lembranças de uma viagem relativamente curta (para os meus padrões) mas muito intensa, passavam na minha cabeça como uma apresentação de slideshow. Só isto já seria um “final feliz”, mas ao olhar no corredor do prédio decadente, de onde saiu um rapaz todo sorridente. Eu o cumprimentei como os Mourid (colocando a mão dele na minha testa) e ele ficou todo feliz. Comecei a falar do Amandou Bamba e ele já foi me convidando para entrar. Ficamos conversando, e um senhor mais velho não sabia muito bem o que fazer com a minha presença. Ligava para ver se autorizavam eu ficar por ali. Depois de uns minutos veio a aceitação, e inclusive me autorizaram a filmar. Um lugar simples, uma reunião espiritual, portanto tentei ser discreto e respeitoso. Me sentei e fiquei apreciando o coral por um bom tempo. Hipnotizado acabei perdendo meu horário, tive que correr para o hotel para algumas horas de sono, antes da longa viagem de volta para o Brasil.

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Togo, despedida do Oeste da África

Confesso que não tinha grandes expectativas do Togo. Desde o inicio da programação da viagem, não imaginava explorar o interior, só os pouco menos de 60 quilômetros de costa deste pequeno país. Foi muito bom, pude conhecer com calma e digerir as experiencias tão intensas que tive até ali. Nestas horas, sem grandes planos, acabamos nos surpreendendo, e curtindo momentos simples, aqueles que não podem ser planejados.

As fronteiras pouco importam nesta região, onde povos são separados por linhas imaginarias. Grande parte do “Togo histórico” se é que se pode falar desta maneira, acabou fazendo parte de Ghana. Apesar de ter sido um protetorado alemão (1884) durante um período, pouco resta desta época e a língua colonial mais falada é o francês, já que a França assumiu o controle da região após a primeira guerra.

Minha primeira parada foi em Aného, pertinho da fronteira com o Benim, onde buscava a herança cultural dos escravos que voltaram do Brasil para lá. Assim como os Tabom (Ghana) e Agudás (Benim), também tiveram escravos libertos que se fixaram no Togo, e a cidade era apontada como um grande centro cultural deles. Pouco sobrou da antiga cidade protetorado alemão, no máximo uma ou outra construção colonial, a maioria bem decadente. Havia ouvido falar que até a cor das pessoas seria um pouco mais clara, devido ao “abrasileiramento”. Grande besteira. Quem já viajou pela África sabe que os tons de negro são infinitos e impossíveis de se classificar. Verdade é que não existe uma raça negra, nem fenótipa nem genótipa. Existe uma herança (multi) cultural africana, e só isto. A eugenia tentou em vão criar diferenças e padrões, mas sempre fracassou. Estudos mostram uma variabilidade genética maior entre os próprios grupos de indivíduos do que fora deles. Raça não existe, fato.

O povo Ewe, predominante na região, é amenista e crente nas praticas do Vudum. Muito rico culturalmente, colorido e bastante musical, fez minha estada na região ter sido muito agradável, apesar de não ter passado por grandes atrações.

Lago Togo

Lago Togo, com a histórica Togoville ao fundo

Acabei usando a capital, Lomé, como base, e as curtas distancias facilitaram bastante para eu explorar a região. Um curto táxi comunitário e eu estava em Agbodrafo, a antiga “Porto Seguro” na época dos portugueses. Lá tem um pequeno forte escravocrata, mas meu interesse maior era no sentido oposto ao litoral. Poucos quilômetros dali, por estradas de terra, cheguei no Lac Togo. Parecia a forma mais fácil de chegar até a histórica Togoville, mas não sem muita negociação. Canoas partiam sentido a pequena vila, todas carregadas com os mais diversos produtos, desde saco de alimentos até motocicletas. Mas pareciam não querer levar estrangeiros, pelo menos não pelo preço dos locais. Me passaram o preço que um grande hotel ali perto cobra, para um barco particular. Me surpreendi um pouco, pois no ultimo mês estava viajando por diversos países e nunca tentaram me enganar no preço do transporte. Nada de me revoltar, com um sorriso no rosto, apertos de mãos longos, piadas e abraços consegui derrubar o preço, mas não consegui pagar o justo. Com o turismo, existe uma certa crença que os mais ricos tem que dar dinheiro para os mais pobres. Não que esteja completamente errado, mas eu viajando de forma simples que estava, acabava me sentindo um pouco excluído. De qualquer forma, depois de bastante negociação, acabei cedendo e pensando que estava contribuindo um pouco com a região.

Togoville

Togoville

Redes de pesca no Lago Togo

Redes de pesca no Lago Togo

Pescadores

Pescadores

Pescadores recolhiam as redes, canoas navegavam lentamente quando pude avistar ao longe a torre da igreja. No meio de tantas capelas de Vudum se destaca uma grande catedral, que marca o lugar onde dizem que a virgem Maria apareceu nos anos 70.

Uma cidadezinha calma, com pescadores deitados na beira do lago, alguns comerciantes expondo mercadorias e uma ou outra pessoa na rua. A lotérica era o lugar mais movimentado e um bar/ restaurante o mais barulhento, apesar de poucos clientes. Crianças brincavam de bicicleta, jogavam bola e corriam com rodas. Uma ou outra gritava “Yovo” (homem branco) para mim e saia correndo dando risada.

Passei pela Mansão real, pela Catedral, capelas de vudum e pelo “Memorial”onde foi assinado o tratado com os alemães. Apesar do apelo turístico da região, não pareciam se importar muito com minha presença por ali. Fiz alguns amigos no pequeno mercado de rua e consegui um motorista para me levar de moto até Vogan, uma cidadezinha a alguns quilômetros dali, onde tem um grande mercado nas sextas-feiras. Não havia planejado, mas estava com sorte!

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No caminho, aquele clima rural, cenário de interior. Rápida parada para abastecer, num lugar que vendiam gasolina em garrafas de vidro de um litro. Notei quando nos aproximávamos de Vogan pela quantidade de mulheres com seus cestos na cabeça, e roupas coloridas, voltando das compras.

Abastecendo

Abastecendo

Movimento

Movimento em dia de mercado

É um grande mercado, onde se vende de tudo. Roupas, comidas, animais alem de qualquer coisa que possa precisar no dia a dia. Fora comida, e talvez um tecido ou outro, nada que eu quisesse comprar, mas ótimo lugar para observar as pessoas e o dia a dia. Um pouco de voyeurismo eu confesso. Para aliviar o calor, nada melhor que uma água de coco, que custava 70 CFA, algo em torno de 0,10 Eur.

Vogan

Vogan

Vogan

Vogan

Cores

Cores

Para sair de um grande mercado destes claro que só num carro superlotado. Fui no banco da frente dividindo com uma “Mama”. O carro quebrou, furou pneu, mas nada que eu não estivesse esperando, nem demorou tento assim para eu voltar para Lomé.

Estava hospedado num hotel na região de China Town, atras do palácio presidencial. Os quartos eram bem ruinzinhos, mas tinha um restaurante popular entre os expatriados, onde tinha até banda alguns dias a noite. Para comer eu preferia caminhar umas quadras dali, onde ficavam os restaurante libaneses, bem mais baratos. As comidas de rua sempre estava a disposição também!

Catedral Lomá

Catedral Lomé

A praia, alem de suja, é um local considerado perigoso, portanto eu apenas passava (não aproveitava), a caminho do hotel. Caminhei bastante pelo centro, explorei vários cantinhos do Grand Marché e o mercado de artesanatos. Mas eu estava mesmo sonhando em conhecer o Mercado Akodessewa, conhecido como “Marché des Féticheurs”, o Mercado da Feitiçaria. Como fica mais afastado é só parar uma das motos e acertar o preço. Acabei tendo sorte e um cara bem bacana me levou. Em vez de somente me deixar lá acabou me acompanhando e ficou meu amigo. Ele estava desempregado e tinha tempo livre. Aproveitava para aprender um pouco de inglês, mas ainda estava bem no inicio. Rodamos um pouco pelo mercado antes de achar a seção de feitiçarias. Dentre mantimentos e animais vivos, um pequeno gato me chamou a atenção. É para comer eu perguntei um pouco sem jeito. Claro espondeu a vendedora, com cara de “para que mais seria”. Todo mundo já comeu “filé miau”, mas ir comprar assim é um pouco estranho.

Filé Miau

Filé Miau

A seção de feitiçaria foi um pouco decepcionante, pelo menos para quem tem um espírito de viajante independente. Já na entrada tem uma placa onde mostra o preço da entrada e o valor que você precisa pagar para tirar fotos. O lugar não foi montado para o turista, ele está lá e vendem mercadorias para todo o Oeste da África, só aproveitaram a possibilidade para ganhar um extra. Você pode ter um tour onde vão te explicar a utilização de cada produto, tirar duvidas e até ter uma consulta. Tudo isto no meio de crânios de macacos, cascos de tartarugas, dentes, asas de morcego, garras de diversos animais e por aí vai.

Feitiçaria

Feitiçaria

Vudum

Vudum

Compras

Compras

Loja

Loja

Vale a pena, mas não deixa de ser um daqueles famosos pega-turista. Com certeza é possível ter experiencias bem mais autenticas com o Vudum em outros lugares, mas talvez as fotos não fiquem tão boas como ali.

Consultas

Consultas

Mercado Feitiçaria

Mercado Feitiçaria

Alguma encomenda?

Alguma encomenda?

Lomé é pequena para uma capital e muito fácil de se orientar. Dali eu iria até Accra, Ghana, para pegar o voo para o Brasil. Interessante que a fronteira Togo-Ghana fica nos limites da cidade, muito perto do centro. Minha estadia por  ali foi um período nostálgico, onde eu tive um certo tempo livre. Tomando cerveja ou comendo num restaurante eu ficava relembrando esta incrível viagem pelo Oeste da Africa.  Ernest Hemingway não poderia estar mais certo quando disse:

“Não me lembro de uma manhã na África em que eu acordei e não estivesse feliz”