O Feriado Cristão e a Cidade Sagrada Muçulmana

De volta a Addis, ainda tínhamos que fazer algumas coisas, antes de ir para Harar. Visitamos o Museu Nacional e o Museu Etnológico. Deu para aprender m pouco mais sobre as diversas tribos do pais (são 80 línguas e 200 dialetos diferentes), ver varias pinturas ortodoxas com Jesus negro, mas o ponto alto para mim foi a parte dos fosseis dos “Homídeos”. Para quem não sabe, eu quando tinha 6 ou 7 anos não queria ser jogador de futebol nem bombeiro, queria ser paleontólogo, e isto foi muito antes da geração parque dos dinossauros.

Existe uma seção que explica toda a evolução da especie humana, com vários fosseis de nossos ancestrais que foram achados aqui. Lembram da Lucy, nossa tatatatataravo? Ela era etíope. Os fosseis da Etiópia são os mais antigos e em excelente estado de conservação.

Já que estávamos por aqui resolvemos estender um pouco mais para ver a comemoração do Meskel, que e o dia que acharam a Cruz. Se o ano novo foi uma comemoração discreta, esta foi uma grande manifestação popular. Todas as ruas perto do centro estavam bloqueadas, milhares de pessoas caminhavam com seus trajes típicos em direção a Meskel Square, no centro da cidade. Quando chegamos, depois de muita dificuldade para arranjar transporte, as arquibancadas já estavam lotadas. Diversos desfiles de escolas, alegorias celebrando Cruz sagrada e a Etiópia. Discurso do Papa da Igreja Ortodoxa Etíope, devidamente protegido por atiradores de elite em cima dos prédios. População super comportada, sentada e ordeira. Eram milhares e milhares de pessoas, difícil estimar, mas acho que devia ter mais de 100000. Todas elas com velas em punho, numa cena bonita, durante a queima de uma fogueira de palha e de fogos de artificio.

Praca Meskel

Praça Meskel

Comemorando Meskel

Comemorando Meskel

Todo mundo curtindo, com branco e as cores da Etiopia

Todo mundo curtindo, com branco e as cores da Etiópia

O Samuel escolheu para se mudar para outra casa bem neste dia, então depois das celebrações fomos para a casa nova, depois de ter jantado num restaurante tipico de uma das tribos. Cardápio? Ingera (para variar) com carne moída crua picante (novidade!). Muito bom, comi um monte.

Já estávamos prontos para seguir viagem, então bem cedo pegamos um ônibus para Harar. Viagem longa, mas com um asfalto de excelente qualidade. A temperatura ia aumentando a medida que nos aproximávamos de Harar. A paisagem também foi se modificando, o verde foi desaparecendo gradativamente, e a areia aumentando na mesma proporção. Chegamos na cidade e depois de uma longa discussão sobe preço ficamos no primeiro hotel que visitamos. Quarto com duas camas e um colchão no chão.

Harar e a quarta cidade mais sagrada para os muçulmanos, depois de Meca, Medina e Jerusalém. E uma antiga cidade murada, com um quilometro quadrado e praticamente 100 Mesquitas.

Existem 100, aqui estao 2

Existem 100, aqui estão 2

Mesmo sendo final de tarde o calor era insuportável. Ficamos largados num restaurante, e demos uma volta na cidade velha. Nós estávamos na cidade nova, para fora dos muros, e que tem maioria crista. Ao caminhar na cidade murada, dentre tantas mesquitas, no centro da cidade uma Igreja Ortodoxa. Aqui a paz prospera…

Ruas da cidade velha

Ruas da cidade velha

Cores Vivas

Cores Vivas

Indo para a escola

Indo para a escola

A cidade é pequena, e no outro dia andamos pelas centenas de ruelas estreitas, surpreendentemente com portões de casas pintados com cores fortes. Visitamos pequenos museus, conversamos com pessoas, passamos no mercado de carne de camelo, e encontramos um antigo amigo. Sim, no meio da rua encontrei um cara que conversei durante horas na viagem de Nairóbi para Moyale, e que ate ficou no mesmo hotel que a gente. Que coincidência. Muito gente boa, nos levou para a casa dele para apresentar a família. Sua esposa ofereceu a cerimonia do cafe, tostando os grãos e servindo junto com pipoca. Ficamos brincando com a comunicativa filha de 4 anos ate a hora de sairmos. Combinamos de ver alimentarem as hienas mais tarde e fomos tomar um sorvete no final e tarde.

Amigos!!

Amigos!!

Existe uma tradição em Harar em que todo anoitecer alimentam hienas logo na saída de um dos portões da cidade. Dizem que faziam isto em épocas de fartura, para que em épocas de seca as hienas não atacassem os homens e seus rebanhos de cabras e ovelhas. Parece que funcionou, pois hoje as hienas circulam livremente durante a noite sem causar problemas. Hoje este “evento” já se tornou turístico, e pedem uma contribuição para pagar as “pelancas”. De qualquer forma fomos conferir, e os animais são bonzinhos(hehe). Pensar que já morri de medo daquelas hienas circulando pelas nossas barracas na Botsuana, e aqui estava eu dando de comer na boca dos bichinhos. Primeiro com a mão, depois com a boca!! Foi divertido.

Depois de muito tempo de Africa os animais passam a te respeitar...hehe

Depois de muito tempo de Africa os animais passam a te respeitar…hehe

Uma delicia de cidade, onde o tempo não passa. O pessoal leva o Chat a serio aqui e masca durante o dia inteiro. No final da tarde parecem Zumbis, mortos vivos perambulando. Estava enganado quando falei que era que nem Red Bull. Bem, não sei o que aconteceria se alguém tomasse Red Bull por 8 horas seguidas…

Harar

Harar

Portao principal

Portão principal

Tivemos uma grande discussão no hotel, pois estávamos usando outro quarto para tomar banho. Nosso chuveiro não funcionava direito e ninguém deu atenção a nossas reclamações. Resolveram implicar com o preço, pois estávamos pagando a tabela que era para 2 e não para 3. Como tínhamos combinado não cedemos, e ameaçaram tirar o lençol do colchão do chão. Eu que tava dormindo ali e virei um bicho. Briguei, ameacei colocar na internet e blalala e no final das contas deu certo.

Cedo seguimos para jijiga. No ônibus fiquei conversando com um Sr que tinha bastante informações sobre o Brasil, mas queria saber ainda mais. Queria saber minha opinião de como melhorar a Etiópia dentre outras coisas. Sempre encontro pessoas curiosas, mas algumas fazem perguntas difíceis, e o assunto se torna profundo. Muito legal, mas de muita responsabilidade para responder. Fizemos uma rápida conexão para Wajjale. A temperatura aumentava ainda mais, e agora era só deserto mesmo. Passamos por uma área onde estavam tirando minas terrestres ao lado da estrada, fruto de uma guerra já de algum tempo  entre Etiópia e Somália.

Logo nos aproximamos da fonteira da Somália. Pera ai, aqui não e Somália já faz muito tempo…

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4 comentários em “O Feriado Cristão e a Cidade Sagrada Muçulmana

  1. Muito legal o banco popular na rua…a citação do Huxley bem apropriada…e a amizade com a hiena, fora do normal…continue aproveitando. É uma vez na vida.

  2. Amorzinho, o que é essa foto dando comida p/ hiena tá de matar…!!! Como vc teve coragem??? Bom que pergunta boba, qdo vc nao tem, né?!!! Mas é melhor nao falar nada p/ nao reforçar esse tipo de comportamento, mas agora eu indo p/ aí esse tipo de experiencia fica só de recordaçao.

    bjs

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