O pequeno país dos grandes vulcões

Aos matemáticos de plantão, segue a lógica de que no Equador estão as montanhas mais próximas do sol. Quem tiver alguma opinião contrária é só argumentar.
“Let x = polar radius =  6357 km.  Equatorial radius  = 6378 km =  6357 + 21 km
Assume also that bulge of earth surface (sea level) increases evenly between poles and the equator.
 
Everest:   36 degr N  and 8.85 km above sea level
                sea level radius =  x +  21( 90 – 36 degr.)/ 90degr = x + 12.6 
                Thus from earth’s centre   x + 12.6 + 8.85  =  x +  21.45 km
 
Chimborazo:  1.5 degr S and 6.3 km above sea level
sea level radius = x + 21(90 – 1.5 degr)/ 90 degr =  x + 20.7 
Thus from earth’s centre   x + 20.7 + 6.3    =  x +  27.00 km
 
Thus even at the first Chimborazo refugio at 4.8 km, you were already  x + 25.5 km

from the centre of the earth and 4 km further into space compared to standing on the summit of Everest !!!

Bem, de Latacunga peguei um ônibus lotado  até a pequena Zumbahua, passando por diversas vilas e bonitas paisagens. Assim que saímos do perímetro urbano, pedi para o ônibus parar e subi no teto, onde muitas vezes ficam as bagagens. Não existe melhor lugar para curtir o visual! Lá em cima estava o Pierre, um frances que faria um trajeto parecido com o meu (o chamado Quilotoa-loop). No entanto ele ia direto até Quilotoa, enquanto eu desci em Zumbahua para seguir a pé por vilas e um canion. Minha esperança era de ser convidado para ficar em alguma casa, o que não aconteceu então acabei indo (a pé) até Quilotoa.

Dentro do onibus

Em cima do onibus

Paisagens

A caminho de Quilotoa, agora a pé

O lugar é uma pequena vila, com algumas pousadas, mas praticamente nenhuma infraestrutura. A poucos metros dali fica uma das mais impressionantes atrações do Equador, a Lagoa Quilotoa, um vulcão extinto com um grande lago dentro. Lugar fantástico!! Algumas pessoas pegam um taxi de Latacunga, vem ver a lagoa e voltam, mas desta maneira perdem o grande encanto do lugar. É possível descer até o lago, tomar banho, ou dar a volta completa na cratera, que demora de 4 a 5 horas. Na pousada (8 usd incluindo 3 refeições) reencontrei o Pierre, além de fazer outras amizades, Nir, Janna, Nayra, que se tornariam ótimas companhia de viagem. Durante o jantar diversos assuntos, mas eu fui massacrado ao defender muçulmanos e falar da tranqüilidade que foi viajar em terras islâmicas. Bem, era um francês ateu, um israelense, uma libanesa cristã, uma espanhola e duas americanas. O ponto de vista deles era super unilateral, e sem conhecimento de causa (somente informação que vem na tv). Dias depois conheci um Italiano que viajava um monte, e deu risada quando eu contei da discussão. Ele disse que era perda de tempo falar com ocidentais, por mais legais que fossem, a respeito deste assunto, caso eles mesmos não tivessem  tido a experiência. Me conformei um pouco mais, pois na hora da discussão, tremi de raiva, não por causa da ignorância, mas por não me deixarem argumentar.

Lagoa Quilotoa

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A princípio queria viajar sozinho, seria mais fácil de interagir com as comunidades locais, mas o grupo se formou meio sem querer, e não seria uma má idéia ter alguém para se perder junto comigo…

Depois de ter ido novamente até a parte mais alta da cratera, nos encontramos todos e pegamos a trilha que levaria até Chugchilan. Umas 5 horas para caminhar os pouco mais de 10 km até a cidadezinha. Primeiro pela cratera, depois subindo e descendo montanhas e atravessando um grande canion e pequenas vilas.

Nir, Pierre, Janna, Nayra e eu

Na chegada em Chunchilan uma grande surpresa, uma ótima pousada, com um clima super acolhedor. Encontramos outras pessoas que estavam fazendo o caminho contrario e aproveitamos para trocar dicas. O grupo foi se unindo e estava bem divertido, todo mundo fazendo piadas.

As escolas daqui são trilíngues, ensinam espanhol, inglês e quechua, a língua nativa. Nestas vilas em geral o quechua é a primeira língua, e não tem como não pensar no assassinato cultural que o português fez no Brasil, já que quase todas as outras línguas hoje são secundárias e estão desaparecendo.

Nova caminhada, desta vez até Islivi. Mais uns 12 km, atravessando canions, montanhas e bonitas paisagens. No caminho tinha uma pequena interação, mas na maioria das vezes não passava dos “Holla, holla”. Não acho certo comparar lugares, mas caso tivesse no Paquistão ou Irã, não tenho duvidas que teriam oferecido lugares para dormir, algo para comer/beber, ou simplesmente bater um papo. Na pousada onde ficamos, estava trabalhando uma guria de Wisconsim, estado americano onde morei em 93. Muito estranho!

Usamos o mapa para não seguir o caminho marcado

Para irmos até Saquisili tínhamos somente duas opções. O ônibus das 3 da manha, ou o caminhão de leite das 9. Como queríamos chegar para o mercado de animais, madrugamos mesmo. No teto do ônibus já tinham ovelhas e porcos. O marcado inicia cedo, e as pessoas vem de todos os cantos para vender e comprar seus animais. Chegamos na área dos porcos, onde tinha um barulho ensurdecedor de porcos gigantescos gritando. A área das vacas e ovelhas estava mais calma, mas o que nos interessava mesmo eram as Lhamas. Sem contar nas pessoas, com seus costumes e trajes típicos.

Mercado de animais

Trajes típicos

As meninas seguiram viagem, pois iam para Baños, e eu Nir e Pierre ficamos para ver o mercado de artesanato e para comer alguma coisa.Não muito tempo depois seguimos para Latacunga, onde nos despedimos do Pierre, que foi para Quito, onde tinha um casamento. Eu não tinha planos muito fixos sobre o que eu iria fazer nos próximos dias, e não foi difícil do Nir me convencer a escalar o vulcão Cotopaxi.

Chegando na pousada onde ele tinha deixado sua mochila grande, encontramos a Janna e Nayra que acabaram mudando os planos delas também, aceitando o desafio do vulcão. Logo um Inglês e um argentino também se juntariam a nós. Por falar em argentino, é incrível como eles estão com o país quebrado, moeda desvalorizada, e viajam por todos os cantos da América do Sul. Não encontrei NENHUM brasileiro! Não sei se os brasileiros estão trocando de carro ou indo pra Miami…

No primeiro dia emprestamos todo o equipamento e subimos até o acampamento base. Lá demos pequenas caminhadas e testamos os grampões de caminhar no gelo e equipamentos. Bate papo (encontrei aquele italiano que mencionei aqui), sopa quente e dormir pouco depois que o sol se põe, para levantar umas onze da noite, para sair perto da meia noite.

Antes da saída já tivemos nosso primeiro desfalque. O Nir, que me convenceu a subir, passou mal e nem saiu do acampamento base. Tínhamos todos jantado juntos um dia antes, e parece que tinha algo errado com a comida. Pelo caminho outros foram desistindo, não sei se pela altitude ou pelo problema da comida. A uma certa altura, o grupo já estava bem dividido, e eu e a Nayra, que é guia de aventura nas Ilhas Canárias, fomos nos destacando na frente junto com um guia. Não dava para ver muito longe, só até o alcance das nossas lanternas, mas sabíamos que se estávamos amarrados um nos outros era porque deveria ter alguns precipícios por ali. Eu tinha uma forte dor de cabeça, e depois uma forte dor de barriga, mas fui controlando a respiração e superando. A Nayra ia forte na frente. Tínhamos a recomendação que deveríamos chegar até a rocha negra até as 7 da manha, pois a partir dali seria mais uma hora até o cume, e teríamos que voltar no máximo às 8, quando o sol do equador começaria a derreter o gelo, tornando tudo mais perigoso.

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Chegamos na tal rocha antes das 5, então tínhamos 3 horas para fazer o que normalmente se faz em uma. Acontece que a Nayra começou a passar muito mal, e quando faltavam menos de 200 metros ela não conseguia mais seguir em frente. Eu queria ir sozinho, mas o guia disse que não seria possível. Disse também que se deixássemos ela lá para buscar na volta poderia ser perigoso, já que ela estava bem mal, e inclusive com diarréia. Já que tínhamos passado dos 5700 metros, pelo menos esperamos mais algum tempo até o sol nascer para curtir o visual. Na volta pudemos observar as geleiras, os precipícios e paredões que escalamos. Como o fato de não ver as vezes torna as coisas mais fáceis! Na volta eu ia na frente, e os dois atrás. Estava caminhando e escutei um ruído, derrepende o gelo embaixo do meu pé rachou, e minha perna inteira caiu num buraco, aquelas galerias, grotas de gelo. Uma verdadeira caverna. Levei um baita susto, mas por sorte estava com meu machado de gelo bem preso, e nem foi preciso usar a corda.

Quase lá

Cheguei no acampamento base desiludido, tão perto dos 5897 metros mas sem poder chegar lá. Mas na verdade valeu o passeio, o visual e a superação. Meu ego não é tão grande assim para eu precisar desta conquista. Fica a lição maior, que nem tudo depende de nós, e na caminhada não estamos sozinhos. Poderia ter sido o contrário, e eu não gostaria de ter sido abandonado. Sempre achei um absurdo ao ler sobre montanhistas que passavam sobre cadáveres sem se comover só para atingir um cume, e colecionar mais um numero.

Boa parte do pessoal já tinha voltado para Latacunga, e nós também fomos. Tava arrebentado pela noite não dormida e por toda caminhada naquela altitude. Tomei um banho e ia seguir para Quito, onde um Couchsurfer me esperava, mas depois de irmos almoçar, o pessoal me convenceu de que eu precisava mesmo era dormir. Foi um dia revezado entre dormir, ver filme e bater papo. Só de perna para o ar.

Mas o dia da minha volta se aproximava, e fui para Quito bem cedo, antes do café da manhã ou de poder me despedir do pessoal. Chegando na rodoviária de Quito, peguei o “ligeirinho”deles (que custa 25 centavos) e fui até a casa dos Csers. Eles já estavam de saída, e eu decidi ir com eles. Fomos pra lá de Otavalo (onde tem um mercado ultra turístico) numa cachoeira.

Cpuchsurfing

Quito é uma cidade cheia de arquitetura colonial, igrejas por todos os lados. Não explorei muito a cidade, mas fui jantar no bairro badalado  El Mariscal.

Depois de viajar pelo Equador pude comprovar a facilidade que é viajar por aqui, e porque dos gringos gostarem tanto. É muito fácil, pra mim até um pouco fácil demais, faltou friozinho na barriga. E sobre os preços, um ônibus comum em Quito (não o estilo metrô) custa 5 centavos de dollar. A economia pode ser dolarizada, mas se utilizam muito as moedas (muitas destas made in Equador).

Então se você esta pensando em trocar de carro, ou ir fazer compras em Miami, pode ter certeza que uma viagem para o Equador vai ser migalha.

refeição completa, incluindo bebida

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A ilha “católica” e a outra ali do lado com dragões de verdade!

Apesar de quase toda a Indonésia ter sido colonizada pela Holanda, uma ilha no seculo 16 foi território português. Encantados com a beleza do lugar, os portugueses chamaram de “Flores”. O domínio português não durou, e o controle passou para os holandeses, que mantiveram o catolicismo. Até hoje Flores é uma ilha Católica, apesar de suas crenças serem bem peculiares.

Tivemos sorte que eu sou neurótico com a questão de horários. Chegamos cedo no aeroporto e nosso voo tinha sido adiantado uma hora. Imagine se chegasse só uma hora antes do horário marcado e o avião não estivesse mais la! Dentre diversas ilhas que sobrevoávamos, não muito tempo depois de ter levantado voo, passaram a aparecer vulcões que saiam diretamente do mar. Uma destas “ilhas vulcões” tinha um belo lago dentro. Por mais que fossem esperadas, as belezas naturais da Indonésia surpreendiam a cada etapa da viagem. Não demorou muito e chegamos a Labunbajo, na costa oeste de Flores. Rápido transporte para a pequena cidade, e fomos procurar hotel para ficarmos. Logo percebemos que a qualidade das poucas opções da cidade eram inferiores as que estávamos ficando, e os preços não acompanhavam a queda da qualidade.

Vulcão no mar, visto do avião

Achamos um lugar agradável, e a Bibi ficou lendo e escrevendo enquanto eu fui rodar a cidade. Percorri a rua principal, fui no mercado de peixes e parei na frente do pequeno porto, onde tinha vista para a baia, cercada de ilhas com diversas montanhas. Tentei descobrir mais sobre o transporte na região, e voltei para conversar com a Bibi sobre nossa programação para os próximos dias. Final de tarde fomos para um dos dois restaurantes para turistas, onde tem Wi Fi. Era só para tomar alguma coisa curtindo o por de sol mas acabamos nos empolgando com o Skype e jantamos por ali mesmo.

Labbjo

Na ilha existem dois tipos de transporte. O ônibus comum, estilo pau-de-arara, que só sai quando cheio (lotado) e vai parando toda hora, e um micro ônibus, um pouco mais ajeitado, que passa ate para pegar você no hotel se agendar com antecedência. Decidimos pela segunda opção e bem cedo já estávamos saindo. Engana-se quem esta imaginando um ônibus para turista, com ar condicionado e tal. Ônibus com bagageiro lotado em cima, diversas caixas no corredor, viajando com as 2 portas abertas para ventilar (apesar dos dois ventiladores de teto).

Viagem longa, quase 10h, com direito a pequena parada para almoço. As curvas iniciaram logo na saída e seguiram por todo o trajeto. Impressionante, e um sobe e desce e curvas toda hora, por paisagens deslumbrantes. Acho que por poucas vezes tivemos 100 a 200 metros de reta. E uma montanha ao lado da outra. No mesmo ônibus estava um casal de canadenses, Rob e Natasha, com quem no final da viagem começamos a conversar e dividir ideias sobre o melhor roteiro em Flores. As vezes o mato fechado se abria e era possível avistar algum vulcão ou o mar. Chegamos em Bajawa e pegamos um transporte até o hotel indicado. Como estávamos nas montanhas, a temperatura baixou bastante, o que foi comemorado por todos. Eu e o Rob fomos vendo como faríamos para visitar os lugaras que queríamos, e descobrimos que se alugássemos um carro, o preço seria quase o mesmo que o do transporte publico. Final de tarde conhecemos a Marlinda, Holandesa, que se juntou a nós. Alem de ter ficado mais barato, conseguimos otimizar o tempo. Com transporte publico viajaríamos um dia, faríamos uma atividade em outro, e poderíamos viajar só no terceiro dia. Com o carro tudo ficaria mais agilizado(apesar de perder o contato com as pessoas). Como tínhamos prorrogado a saída da Indonésia, eu e a Bibi tínhamos tempo, mas o outro pessoal tava com os dias contados. Jantamos todos juntos para acertar os detalhes, e de manha cedo estávamos indo conhecer as vilas da região.

A primeira vila era bem na base de um vulcão. Um pequeno aglomerado de casas tipicas e não muita gente. Enquanto os homens construíam novas casas para a vila, as mulheres cuidavam do dia a dia da vila. Tinham poucas crianças, e os jovens não moravam mais ali, pois se mudavam para a cidade para estudar. Eles tem o costume de enterrar as pessoas importantes da vila e colocar suas lapides no meio dela. Já tínhamos notado que mesmo nas cidades as vezes enterravam os parentes no quintal. A Natasha distribuiu balas para as crianças, o que me revoltou muito. Depois de ter passado por tantos lugares, uns turísticos e outros não, é fácil de ver o que um simples e “inocente” ato destes vai gerar. Uma geração de pedintes. Os próximos turistas que forem lá, vão ser cercados por crianças pedindo balas, mais para frente dinheiro… Cria-se uma cultura de pedir, mesmo o que não precisa. Passam a pedir qualquer coisa, independente da necessidade. Um lugar que e extremamente agradável se tornara algo insuportável. Turismo irresponsável. Não sou do perfil que fala as coisas, ainda mais por ter achado eles muito gente boa.

As lapides na vila e o vulcão ao fundo

Em algumas casas da vila tinham Posters de Jesus. Sim, esta vila tradicional era “Católica”. Bem, Católica da sua maneira, pois apesar do cristianismo estar presente, tem uma maneira bem peculiar. Eles continuam seguindo tradições de sacrifícios de animais para comemorar o nascimento ou morte de alguém, termino de uma casa, inicio ou fim do período de colheita e assim vai. No centro da vila tem construções de madeira que representam os antepassados. Todos este rituais amenistas andam lado a lado com o catolicismo por aqui, muito interessante.

Conversamos um pouco mais sobre as tradições do local, quando vimos uma senhora sentada na varanda de uma das casas. Fomos tirar uma foto e ela mascava uma folha com uma nos dentro. E o estimulante local. Eu e a Bibi mascamos, e logo estávamos com aquele liquido marrom e amargo na boca que não se pode engolir. Ate que da um efeito leve, se ficar o dia todo mascando deve acabar com o cansaço mesmo.

Caminhamos ate uma outra vila, esta bem maior. Ela não era tao legal quanto a outra, mas bem interessante. Tinha um pessoal tocando musica, mas como o lugar era maior, a interação não foi tao grande. O ponto positivo era um lugar com vista fenomenal no final da vila. De la fomos almoçar e pegamos estrada para Moni. Estrada continuava maravilhosa, e com suas curvas e sobe e desce. Paramos para caminhar um trecho perto de plantações de arroz. E muito interessante a primeira reação das crianças, que fogem da gente. Beiramos o mar e as praias com areia preta devido a atividade de vulcões e passamos por Ende, com seus vulcões, antes de continuar a viagem. Moni e uma agradável cidadezinha nas montanhas, com temperatura amena, e pouca estrutura.

Praia próxima a Ende, com vulcões ao fundo

Criançada indo para a escola

Acordamos cedo para subir o Kewlimutu. Queriamos estar lá em cima antes do céu nascer. São três crateras, todas com lagos coloridos. Duas delas tinham lagos verdes e uma preto. As cores mudam de acordo com os minerais liberados, e as vezes tem lago azul, vermelho, dentre outras cores. Muito bonito o lugar e surpreendentemente vazio. Alem do nosso grupo tinham só 2 estrangeiros, além de um senhor que vendia chá e café quente, bem apreciado por nós. Isto que se trata de uma das maiores atracões de toda a ilha de Flores. Interessante que aqui, se fala pouco Bahasa Indonésio, a língua oficial do pais, imaginem então o inglês. Para se pedir um simples café não e tarefa fácil. Na Indonésia falam mais de 700 línguas. Quando perguntam do Brasil e temos que responder que só se fala o português (ok, mais ou menos), dentre tantas outras línguas que existiam, que percebemos o assassinato cultural que ocorreu no nosso pais.

Lago verde

Lago preto

O bom de acordar tao cedo e que o dia rende. Já pegamos estrada para voltar para Bajawa. No caminho vimos uma van com muitas galinhas penduradas, bodes e cachorros amarrados no teto. Fiquei brincando que seria nosso almoço, pois cachorro e um prato muito apreciado por aqui.

Distribuidora de carne!

Muitas horas de viagem e chegamos em Bajawa. Estávamos mortos de fome e as meninas foram comer no restaurante em frente a pousada enquanto eu e o Rob fomos conferir o tao apreciado “prato tipico”. Chegamos no restaurante e pedimos cachorro para comer. O cara tirou uns pedaços do freezer e começou a preparar. Na espera para ficar pronto, para a van da estrada e entrega algumas galinhas e os dois cachorros pulguentos dentro de sacos. Não foi nada agradável, e a consciência começou a pesar. Logo chegou nosso prato. Pedaços de carne com ossos numa tigela, e arroz e verduras em outra. Experimentei o primeiro pedaço e me surpreendi. Carne macia como um corte nobre de carne de boi. Ta certo que o fato de estar perto do osso ajuda, mas tava muito bom, e o molho também. O que atrapalhou um pouco foram uns pelos nojentos que vinham junto. Tentava lembrar que em feijoada tem pedaços de carne com pelo também, mas não adianta, o psicológico pega. Cortava as gorduras com pelo para comer só a carne. Deixei só um pedaço, mas não foi a melhor experiencia que já tive. O dia todo ficava lembando dos pobres cachorros sarnentos em cima da van…

De estomago cheio e “ arrotando cachorro”, fomos para umas águas termais que não ficavam muito longe dali. Estrutura simples, uma piscina natural e o rio quente ao lado. Água bem quente, acentuada ainda mais pela fina chuva que caia. Ficamos la largados, aproveitando o único banho quente que tomamos em toda a ilha de Flores.

A volta para Labuanbajo, novamente com transporte publico, foi longa, não muito confortável mas muito prazerosa. Ao chegar tivemos que ficar em outro hotel, pois o que havíamos ficado antes estava lotado com um grupo de estudantes indonésios. Jantamos todos juntos como despedida, pois não encontraríamos mais o Rob e Natasha. A Marlinda iria junto com a gente para o Parque Nacional de Komodo.

As intermináveis montanhas

Pegamos um barco cedo sentido Rinca, uma das ilhas do parque nacional. Não e muito perto, e demora um tempinho para chegar lá. A Bibi e a Marlinda, psicologas, engataram num papo e não pararam mais. Eu arranjei um lugar na proa do barco e fiquei só curtindo o visual de mar azul, ilhas e montanhas. Chegamos numa pequena bahia, onde atracamos na ilha. Andamos pelo trapiche e poucos metros dali estava o primeiro Dragão de Komodo. Não muito grande, pois ainda era um filhote. O cara do barco, com um pedaço de pau em forma de forquilha, não muito maior que uma vassoura, falou que não tinha problema, que seguraria o “Dragão” com seu bastão. Caminhamos receosos pelo caminho ate o centro de informações. Pegamos as entradas e fomos ate um alojamento encontrar com nosso guia. Em baixo dos alojamentos, entre as palafitas, já tinham muitos dragões, que são atraídos pelo cheiro de peixe da cozinha. Tava muito quente, bem mais que Labunbajo, que já era difícil. A vegetação aqui também era totalmente diferente, e muito mais seco. Impressionante como pode mudar tanto de uma ilha tao perto da outra. Com este calor todo muitos dos dragões estavam imoveis. Os que andavam eram assustadores. Eles não rastejam como crocodilos, e sim caminham com uma considerável altura do chão. Depois de convencer a Bibi a passar entre duas casas cheias de dragões em baixo, iniciamos nossa trilha. O senhor que era nosso guia também carregava uma vara, que falava que era magica para proteger contra ataques. Durante um bom tempo de caminhada ficamos escutando casos de ataques a humanos, desde um guarda atacado dentro do alojamento ate turistas ao irem no banheiro sozinhos no mato. Acho que e um pouco de folclore, e querem dar um “clima” para o lugar. Se bem que se quisessem, seriamos presas fáceis. Os Dragões de Komodo passam de 3 metros de comprimento, e pesam algumas centenas de quilos. Correm relativamente rápido, os pequenos sobem em arvores, e nadam ate 500 metros da praia (as fortes corrente fazem com que não consigam ir para outras ilhas). Uma maquina de caçar, mas sua especialidade e outra. Eles atacam grandes presas, como veados e búfalos. No caso de búfalos, muitas vezes dão só uma mordida e recuam, para não serem feridos. A sua saliva possui tantas bactérias que a mordida causa uma grande infecção. O Dragão segue a vitima durante dias, ate que esteja tao debilitada que não possa mais reagir. A infecção passa a exalar um cheiro podre, que atrai mais dragões, que juntos atacam a vitima.

Dragão de Komodo

Embaixo da casa

Vimos alguns dragões pela trilha, inclusive duas fêmeas em buracos cuidando de seus ovos. Eles são canibais, e se a fêmea não proteger, outros dragões comem os ovos. A própria fêmea come alguns filhotes depois que nascem, por isto eles tem que se virar sozinhos desde pequenos. Pode parecer estranho, mas a mãe natureza sabe o que faz. A população de dragões de komodo é estável, não aumenta nem diminui a anos. Depois de um rápido almoço tivemos que nos despedir desta fantástica ilha com a certeza que dragões não soltam fogo nem voam, mas que existem, existem.

Na volta fomos até uma ilha para mergulhar. Ate la o papo de psicologia e astrologia rolou solto…

Chegamos na ilha, e já tinham vários barcos. Era uma sexta-feira, final de semana para os muçulmanos, e tinham muitas pessoas curtindo o dia livre. Muita musica e banho de mar de roupa. Na hora que a Marlinda e a Bibi foram ficar de bikini, todos olharam para elas. Fiz a Bibi entrar de shorts na água. Água azul, muito limpa, transparente. Tínhamos levado mascara, e deu para ver bastante coisa, mesmo com o fundo de areia, apenas com poucas pedras e corais. Na hora de sair, a areia parecia uma arquibancada, de tanta gente esperando as estrangeiras saírem da água de bikini. Para desespero geral, elas resolveram ir até o barco pela água e eu fui buscar as coisas na areia.

Entardecer em Labumbajo

De volta a Labumbajo passada rápida no hotel e fomos jantar no nosso restaurante preferido. Duas ratazanas passaram entre as mesas, mas nem ligamos pois o lugar era muito charmoso e a comida deliciosa. Passagens para o ferry compradas, fomos dormir pois o dia seria longo. Não e que no meio da noite acaba a eletricidade e o ventilador para de funcionar. O calor estava insuportável, estava muito abafado. Resolvemos abrir a porta e passamos a ser atacados por muitos mosquitos. A Bibi tratou de extermina-los a toalhada. Noite mal dormida, rápido café e fomos para o porto, de onde saria nosso ferry.