O pequeno país dos grandes vulcões

Aos matemáticos de plantão, segue a lógica de que no Equador estão as montanhas mais próximas do sol. Quem tiver alguma opinião contrária é só argumentar.
“Let x = polar radius =  6357 km.  Equatorial radius  = 6378 km =  6357 + 21 km
Assume also that bulge of earth surface (sea level) increases evenly between poles and the equator.
 
Everest:   36 degr N  and 8.85 km above sea level
                sea level radius =  x +  21( 90 – 36 degr.)/ 90degr = x + 12.6 
                Thus from earth’s centre   x + 12.6 + 8.85  =  x +  21.45 km
 
Chimborazo:  1.5 degr S and 6.3 km above sea level
sea level radius = x + 21(90 – 1.5 degr)/ 90 degr =  x + 20.7 
Thus from earth’s centre   x + 20.7 + 6.3    =  x +  27.00 km
 
Thus even at the first Chimborazo refugio at 4.8 km, you were already  x + 25.5 km

from the centre of the earth and 4 km further into space compared to standing on the summit of Everest !!!

Bem, de Latacunga peguei um ônibus lotado  até a pequena Zumbahua, passando por diversas vilas e bonitas paisagens. Assim que saímos do perímetro urbano, pedi para o ônibus parar e subi no teto, onde muitas vezes ficam as bagagens. Não existe melhor lugar para curtir o visual! Lá em cima estava o Pierre, um frances que faria um trajeto parecido com o meu (o chamado Quilotoa-loop). No entanto ele ia direto até Quilotoa, enquanto eu desci em Zumbahua para seguir a pé por vilas e um canion. Minha esperança era de ser convidado para ficar em alguma casa, o que não aconteceu então acabei indo (a pé) até Quilotoa.

Dentro do onibus

Em cima do onibus

Paisagens

A caminho de Quilotoa, agora a pé

O lugar é uma pequena vila, com algumas pousadas, mas praticamente nenhuma infraestrutura. A poucos metros dali fica uma das mais impressionantes atrações do Equador, a Lagoa Quilotoa, um vulcão extinto com um grande lago dentro. Lugar fantástico!! Algumas pessoas pegam um taxi de Latacunga, vem ver a lagoa e voltam, mas desta maneira perdem o grande encanto do lugar. É possível descer até o lago, tomar banho, ou dar a volta completa na cratera, que demora de 4 a 5 horas. Na pousada (8 usd incluindo 3 refeições) reencontrei o Pierre, além de fazer outras amizades, Nir, Janna, Nayra, que se tornariam ótimas companhia de viagem. Durante o jantar diversos assuntos, mas eu fui massacrado ao defender muçulmanos e falar da tranqüilidade que foi viajar em terras islâmicas. Bem, era um francês ateu, um israelense, uma libanesa cristã, uma espanhola e duas americanas. O ponto de vista deles era super unilateral, e sem conhecimento de causa (somente informação que vem na tv). Dias depois conheci um Italiano que viajava um monte, e deu risada quando eu contei da discussão. Ele disse que era perda de tempo falar com ocidentais, por mais legais que fossem, a respeito deste assunto, caso eles mesmos não tivessem  tido a experiência. Me conformei um pouco mais, pois na hora da discussão, tremi de raiva, não por causa da ignorância, mas por não me deixarem argumentar.

Lagoa Quilotoa

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A princípio queria viajar sozinho, seria mais fácil de interagir com as comunidades locais, mas o grupo se formou meio sem querer, e não seria uma má idéia ter alguém para se perder junto comigo…

Depois de ter ido novamente até a parte mais alta da cratera, nos encontramos todos e pegamos a trilha que levaria até Chugchilan. Umas 5 horas para caminhar os pouco mais de 10 km até a cidadezinha. Primeiro pela cratera, depois subindo e descendo montanhas e atravessando um grande canion e pequenas vilas.

Nir, Pierre, Janna, Nayra e eu

Na chegada em Chunchilan uma grande surpresa, uma ótima pousada, com um clima super acolhedor. Encontramos outras pessoas que estavam fazendo o caminho contrario e aproveitamos para trocar dicas. O grupo foi se unindo e estava bem divertido, todo mundo fazendo piadas.

As escolas daqui são trilíngues, ensinam espanhol, inglês e quechua, a língua nativa. Nestas vilas em geral o quechua é a primeira língua, e não tem como não pensar no assassinato cultural que o português fez no Brasil, já que quase todas as outras línguas hoje são secundárias e estão desaparecendo.

Nova caminhada, desta vez até Islivi. Mais uns 12 km, atravessando canions, montanhas e bonitas paisagens. No caminho tinha uma pequena interação, mas na maioria das vezes não passava dos “Holla, holla”. Não acho certo comparar lugares, mas caso tivesse no Paquistão ou Irã, não tenho duvidas que teriam oferecido lugares para dormir, algo para comer/beber, ou simplesmente bater um papo. Na pousada onde ficamos, estava trabalhando uma guria de Wisconsim, estado americano onde morei em 93. Muito estranho!

Usamos o mapa para não seguir o caminho marcado

Para irmos até Saquisili tínhamos somente duas opções. O ônibus das 3 da manha, ou o caminhão de leite das 9. Como queríamos chegar para o mercado de animais, madrugamos mesmo. No teto do ônibus já tinham ovelhas e porcos. O marcado inicia cedo, e as pessoas vem de todos os cantos para vender e comprar seus animais. Chegamos na área dos porcos, onde tinha um barulho ensurdecedor de porcos gigantescos gritando. A área das vacas e ovelhas estava mais calma, mas o que nos interessava mesmo eram as Lhamas. Sem contar nas pessoas, com seus costumes e trajes típicos.

Mercado de animais

Trajes típicos

As meninas seguiram viagem, pois iam para Baños, e eu Nir e Pierre ficamos para ver o mercado de artesanato e para comer alguma coisa.Não muito tempo depois seguimos para Latacunga, onde nos despedimos do Pierre, que foi para Quito, onde tinha um casamento. Eu não tinha planos muito fixos sobre o que eu iria fazer nos próximos dias, e não foi difícil do Nir me convencer a escalar o vulcão Cotopaxi.

Chegando na pousada onde ele tinha deixado sua mochila grande, encontramos a Janna e Nayra que acabaram mudando os planos delas também, aceitando o desafio do vulcão. Logo um Inglês e um argentino também se juntariam a nós. Por falar em argentino, é incrível como eles estão com o país quebrado, moeda desvalorizada, e viajam por todos os cantos da América do Sul. Não encontrei NENHUM brasileiro! Não sei se os brasileiros estão trocando de carro ou indo pra Miami…

No primeiro dia emprestamos todo o equipamento e subimos até o acampamento base. Lá demos pequenas caminhadas e testamos os grampões de caminhar no gelo e equipamentos. Bate papo (encontrei aquele italiano que mencionei aqui), sopa quente e dormir pouco depois que o sol se põe, para levantar umas onze da noite, para sair perto da meia noite.

Antes da saída já tivemos nosso primeiro desfalque. O Nir, que me convenceu a subir, passou mal e nem saiu do acampamento base. Tínhamos todos jantado juntos um dia antes, e parece que tinha algo errado com a comida. Pelo caminho outros foram desistindo, não sei se pela altitude ou pelo problema da comida. A uma certa altura, o grupo já estava bem dividido, e eu e a Nayra, que é guia de aventura nas Ilhas Canárias, fomos nos destacando na frente junto com um guia. Não dava para ver muito longe, só até o alcance das nossas lanternas, mas sabíamos que se estávamos amarrados um nos outros era porque deveria ter alguns precipícios por ali. Eu tinha uma forte dor de cabeça, e depois uma forte dor de barriga, mas fui controlando a respiração e superando. A Nayra ia forte na frente. Tínhamos a recomendação que deveríamos chegar até a rocha negra até as 7 da manha, pois a partir dali seria mais uma hora até o cume, e teríamos que voltar no máximo às 8, quando o sol do equador começaria a derreter o gelo, tornando tudo mais perigoso.

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Chegamos na tal rocha antes das 5, então tínhamos 3 horas para fazer o que normalmente se faz em uma. Acontece que a Nayra começou a passar muito mal, e quando faltavam menos de 200 metros ela não conseguia mais seguir em frente. Eu queria ir sozinho, mas o guia disse que não seria possível. Disse também que se deixássemos ela lá para buscar na volta poderia ser perigoso, já que ela estava bem mal, e inclusive com diarréia. Já que tínhamos passado dos 5700 metros, pelo menos esperamos mais algum tempo até o sol nascer para curtir o visual. Na volta pudemos observar as geleiras, os precipícios e paredões que escalamos. Como o fato de não ver as vezes torna as coisas mais fáceis! Na volta eu ia na frente, e os dois atrás. Estava caminhando e escutei um ruído, derrepende o gelo embaixo do meu pé rachou, e minha perna inteira caiu num buraco, aquelas galerias, grotas de gelo. Uma verdadeira caverna. Levei um baita susto, mas por sorte estava com meu machado de gelo bem preso, e nem foi preciso usar a corda.

Quase lá

Cheguei no acampamento base desiludido, tão perto dos 5897 metros mas sem poder chegar lá. Mas na verdade valeu o passeio, o visual e a superação. Meu ego não é tão grande assim para eu precisar desta conquista. Fica a lição maior, que nem tudo depende de nós, e na caminhada não estamos sozinhos. Poderia ter sido o contrário, e eu não gostaria de ter sido abandonado. Sempre achei um absurdo ao ler sobre montanhistas que passavam sobre cadáveres sem se comover só para atingir um cume, e colecionar mais um numero.

Boa parte do pessoal já tinha voltado para Latacunga, e nós também fomos. Tava arrebentado pela noite não dormida e por toda caminhada naquela altitude. Tomei um banho e ia seguir para Quito, onde um Couchsurfer me esperava, mas depois de irmos almoçar, o pessoal me convenceu de que eu precisava mesmo era dormir. Foi um dia revezado entre dormir, ver filme e bater papo. Só de perna para o ar.

Mas o dia da minha volta se aproximava, e fui para Quito bem cedo, antes do café da manhã ou de poder me despedir do pessoal. Chegando na rodoviária de Quito, peguei o “ligeirinho”deles (que custa 25 centavos) e fui até a casa dos Csers. Eles já estavam de saída, e eu decidi ir com eles. Fomos pra lá de Otavalo (onde tem um mercado ultra turístico) numa cachoeira.

Cpuchsurfing

Quito é uma cidade cheia de arquitetura colonial, igrejas por todos os lados. Não explorei muito a cidade, mas fui jantar no bairro badalado  El Mariscal.

Depois de viajar pelo Equador pude comprovar a facilidade que é viajar por aqui, e porque dos gringos gostarem tanto. É muito fácil, pra mim até um pouco fácil demais, faltou friozinho na barriga. E sobre os preços, um ônibus comum em Quito (não o estilo metrô) custa 5 centavos de dollar. A economia pode ser dolarizada, mas se utilizam muito as moedas (muitas destas made in Equador).

Então se você esta pensando em trocar de carro, ou ir fazer compras em Miami, pode ter certeza que uma viagem para o Equador vai ser migalha.

refeição completa, incluindo bebida

Soy loco por ti America.

O Equador funciona como uma espécie de porta de entrada da América do Sul. Não foram poucos os estrangeiros que iniciaram suas viagens pela América pelo Equador. Fácil de entender porque. Um país bem pequeno, com boa infraestrutura e uma grande diversidade, além de bem barato. Muitos viajantes ficam um tempo no país aprendendo espanhol, para depois se aventurar pelos  vizinhos. Um país onde as praias, as montanhas e vulcões e, a floresta amazônica estão há poucas horas entre si, sendo bem convidativo para uma viagem curta.

Meus amigos estavam indo surfar no Equador, como um deles logo seria pai insistia que eu fosse junto, já que depois seria mais complicado. Eu tinha milhagem, portanto não precisaria pagar a passagem aérea. Era só questão de organizar as coisas no Brasil para poder sair por algumas semanas.

O vôo era via Lima, onde passaríamos uma noite antes de pegar o avião para Guaiaquil. O Peru foi justamente o ultimo país da América do sul que eu viajei. Bem, fui para o Chile a trabalho, com final de semana estendido, mas daí não é uma viagem propriamente dita. Não deu tempo para fazer muita coisa em Lima a não ser comer no delicioso restaurante Punto Azul.

Em Guaiaquil o Rolando, equatoriano que meus amigos conheceram ano passado, ja estava nos esperando, e fomos de van até La Punta, pouco depois de Montañitas. No caminho todos que tinham estado lá ano passado se surpreendiam de como estava verde ao longo da estrada, pois antes era desértico.

Turma

O lugar em si não tem nada de mais. Pra falar a verdade não curti muito. Tipo de lugar que talvez a uns 5 anos atras deve ter sido legal, mas agora tá bem “over”. Mas como estava ali para curtir os amigos e surfar,  cumpria bem a função. Já no primeiro dia uns 2.5 metros de onda. Nos divertimos, demos muita risada, e me fez lembrar de quantos finais de semana e feriados viajamos juntos. Não é fácil juntar seis pessoas para viajar hoje em dia.

La Punta

Um dia fomos para a praia de Rio Chico, super astral, com falésias, visual e direito a por do sol com arco-íris enquanto surfávamos sozinhos. Um detalhe que tenho que mencionar é que surfei mal pra caramba! Muito tempo sem praticar e só me empenhando depois que voltei da viagem não foi o suficiente. De qualquer maneira me diverti, e em La Punta até que me virei bem.

Já estava para fazer uma semana que tinha saído do Brasil, o mar tinha baixado, então estava na hora de eu seguir a estrada, agora sozinho. Peguei um ônibus até Guaiaquil, e não tive que esperar nem 5 minutos para pegar outro até Riobamba. Perguntei preocupado se teria alguma parada, pois estava com fome. O motorista disse para não me preocupar e logo entendi porque. Nas paradas para pegar passageiros, subiam muitos vendedores, vendendo tudo que é tipo de comida, mas principalmente muitas opções de milho e frango. Tinha até vendedores de sorvete, bola mesmo, na casquinha, não picolé. Vendedores de pedras, bijouterias e até remédios, me lembraram bastante os ônibus no leste da África.

Riobamba não tem grandes atrativos, mas achei uma cidade bem simpática. Consegui um hotelzinho simples por 5 USD e, fui logo atrás do meu objetivo: Chimborazo, o maior vulcão do Equador, anunciado por aqui como o ponto mais perto do sol, já que a terra é elíptica. Meu objetivo não era escalar, e sim descer o vulcão, de bicicleta! Arranjei uma agência e no dia seguinte me levaram até o primeiro acampamento. Ainda caminhei até o segundo acampamento, a 5000 metros de altitude onde o tempo estava encoberto e logo começou a nevar. Logo percebi que seria “divertido”! Se não estava um dia bonito, com ceu aberto, pelo menos que tivesse emoção. Foi quase uma tarde inteira descendo de bicicleta, onde entendi o conceito de “mountain bike”. No inicio estava bem conservador, só observando as vicunhas e montanhas, mas depois não tem como não dar seus saltos. Já na parte mais baixa do vulcão, iniciam estradas rurais, por algumas das regiões mais indígenas do país. Muito legal! Encontrei três franceses que fizeram parte da descida comigo. Já no final do dia, o carro de apoio veio oferecer para voltarmos, pois faltavam só 5 km, e estava escurecendo. Eu insisti para pedalar mais, e paguei caro por isto. Muita chuva! Detalhe que só viajo com um tenis, então teria que achar alguma alternativa ou comprar um novo no dia seguinte, pois estava encharcado!

Chimborazo

Downhill!

Vicunha

Chegando nas vilas

Não é que secou!!!

De noite acordei com os estrondos do vulcão Tungurahua que está ativo há muitos anos. Meio assustador. Já com o tenis seco, fui para o mercado La Merced para provar um dos pratos típicos da região. O Hornado, porco assado, servido com milho. Muito gostosa a comida, conversei um pouco com algumas pessoas e fui pegar um ônibus para Baños, um dos principais destinos turísticos do Equador, estilo meca dos esportes radicais.

Hornado

O lugar é bonito, no meio das montanhas, com bastante verde, já que se aproxima da Amazonia. Mas por ser um destino tão conhecido paga seu preço. Dezenas (ou seriam centenas?) de agencias por todos os cantos, todas oferecendo outras centenas de atividades. Pode-se alugar quadricículos, escalar montanhas, fazer trilhas, bunge jump, rapel, tiroleza e por aí vai. O pessoal fica um bom tempo por aqui, já que tem algumas opçoes de restaurantes, cafés, sorveterias e baladinhas, além de centenas de hoteis baratos. Mas eu não consigo entender porque os mochileiros ficam em albergues com quarto comunitário só porque esta indicado no Lonely Planet, se tem hoteis bem melhores e mais baratos com quartos individuais.

A cidadezinha é bonitinha, com a igreja na praça central, ruas com lojinhas, mas o tipo de lugar que eu aproveitaria melhor se tivesse com a Bibi. Em vez de ir num restaurante descolado fui comer Cui, tipo de porquinho-da-Índia que é muito apreciado por aqui. Sabe que a carne é bem boa? Tipo frango? Não, muito melhor!

Porquinho da Índia ou Porcão da Índia?

Aprovado

Aluguei uma bicicleta para ir até Puyo, que já fica na área de floresta. Foram uns 60 km, vendo a transição dos andes até a Amazônia. Muitos rios, cachoeiras, todos com estrutura para atividades de “esportes radicais” para quem quisesse parar para conferir. Na minha opinião perde um pouco o charme, e a descida do Chimborazo foi bem mais legal. Para voltar peguei carona com uma caminhonete até metade do caminho e fiquei um bom tempo esperando um onibus para me levar até Baños novamente.

Cachoeiras

Pegando carona de volta!

Para descansar fui nas banhos, onde valeu mais pela experiência cultural do que pelo banho em si. Era final de semana e tinham vários locais. Famílias inteiras chegando com suas roupas típicas, chapéus e tranças para tomar banho nas aguas termais. Muito legal.

Peguei um ônibus para Latacunga, novamente cheio de vendedores e com bonitas paisagens. Ah, as passagens custam menos de 1 usd por hora de viagem e muitas vezes tem filme passando. Assim que cheguei um vento gelado e forte soprava, e no fundo da cidade dava para ver parcialmente o vulcão Cotopaxi. Esta não é a melhor época para se viajar pela região, pois chove e as montanhas muitas vezes ficam encobertas. Assim que cheguei no hotel iniciou uma fortíssima chuva de granizo, que escapei por pouco.

Vulcão Cotopaxi e a chuva de granizo vindo

Ainda tinha quase uma semana de viagem e,  o melhor do Equador estava por vir.