Se olhássemos mapas antigos, estaríamos viajando pelo Turquistão. Mas o que é antigo? A pouco tempo acabei de ler os Livros do Marco Polo e do Ibn Batuta (viajante marroquino que percorreu metade do mundo). Comparava impressões de lugares que eles tinham com as nossas. Alguns lugares já eram antigos quando eles passaram ha 700 anos atras, outros foram se formar bem depois deles, mas já são antigos para nos. De qualquer maneira são vestígios de civilizações historia, acontecimentos e pessoas. É como se existisse um ciclo. E se tem o ciclo de acontecimentos, existe também o ciclo de curiosos, e estávamos felizes por fazer parte destes.
Depois de 22 horas em um trem sem ar condicionado, e com altas temperaturas, chegamos em Tashkent. Como era uma sexta feira, aproveitamos para ir direto na embaixada da China, que estava aberta neste dia. Não e que deu certo! Acabamos conseguindo o visto no mesmo dia. Ficamos na casa de uma família que recebe bastante estrangeiros. Os quartos super bons, mas da pena da família, que não tem espaço nenhum na sua própria casa. Como tínhamos acesso a cozinha, aproveitamos para fazer arroz, batata, e logo curar nosso problema. A guest house era um ponte de encontro com as pessoas que viajam pela Asia Central, encontramos algumas pessoas fazendo o trajeto bem parecido com o nosso, alem de algumas delas terem encontrado com pessoas que também conhecemos na estrada. O mundo parece muito pequeno para quem viaja por aqui!
A grande piada dos viajantes era que a maior atracão de Tashkent era a estacão de trem. Todo mundo ficava feliz de ir embora. Mas como tínhamos que pegar o visto para a India, resolvemos aproveitar como podíamos A temporada de opera estava suspensa devido o inicio do verão mas mesmo assim fomos no teatro. Ao tentarmos entender que peca estava estava em cartas, e qual eram os preços, acabamos ganhando um convite para a primeira fileira!!!
Foi um programa bem interessante, teatro completamente lotado, mas confesso que depois da primeira meia hora sem entender nada ficou um pouco cansativo, mas valeu super a pena. Ainda demos uma esticada depois num barzinho.
Passeando pelo meio dos prédios soviéticos, aproveitamos para dar uma esticada no gramado de uma sombra em um parque. Logo um policial veio nos falar que não podia. Estranhamos que tinham pessoas pulando de uma ponte e nadando no rio que passava ao lado do parque, alem de um avo com seu neto tomando banho no chafariz… mas ficar na grama nao podia. Vai entender?!
Vistos encaminhados, pegamos o metro ate a estacão de trem, onde seguiríamos viagem. Normalmente tento seguir uma logística na viagem, mas com a questão dos vistos, tivemos que antecipar a ida para Tashkent e agora voltar um pouco no trajeto, quebrando a logística Nada demais, e os trens são relativamente bons. Como o destino não era longe, nada de cabines, e sim poltronas estilo avião com filmes passando nas televisões Samarkand é o destino mais famoso do Uzbequistão Eu brincava com a Gi em Londres que o Uzbequistão era super turístico, e Samarkand era o que faltava para assinarmos embaixo da minha afirmação.
Para cada mochileiro, tinha um ônibus de velhinhos visitando o lugar. Ao lado dos maravilhosos monumentos, uma rua basicamente só para um carro elétrico que levava os aposentados para cima e para baixo. Jardins, parques, tudo certinho. Monumentos todos reformados, ou sendo reconstruído Uma pena que em um dos lugares mais interessantes para ver os monumentos – a praça Registan, estava com um palco montado para uma apresentação que vai acontecer daqui a três meses. Um guarda tentou oferecer para subirmos em um dos minaretes em troca de um dinheirinho, mas com cuidado negamos. Madrassas, mesquitas e muitos mausóleos Um lugar que parece uma rua de mausóleos um do lado/frente para o outro. O lugar onde o Timur esta enterrado também é aqui, e muitas pessoas veem rezar por ele.
Conhecemos um Uzbek que falava bem inglês e deu para encher ele de perguntas, e bater um longo papo. Num dia, ao procurarmos algo para comer achamos um mercado muito colorido. Grande parte do povo daqui e Tajik (o mesmo do Tajikistao). E uma etnia diferente, que fala uma língua parecida com o Farsi. Alem das roupas coloridas e chapéus, os dentes de ouro também fazem sucesso aqui.
O país e lindo, e toda hora nos questionávamos qual a cidade mais bonita, quais os monumentos mais impressionantes. Mas definitivamente tivemos uma overdose de monumentos. Precisávamos mudar um pouco. Taxi comunitário para Jiza, transporte para a cidadezinha de Yangiqislov, ate chegar na região de Florish. São algumas pequenas vilas na beira das montanhas Nurata, entrada para um parque nacional.
Nada de estrutura de hotéis pousadas, somente algumas famílias cadastradas para receber turistas. Tínhamos um quarto só para nos, dormindo no chão é claro, mas com colchoes bem confortáveis As refeições eram uma atracão a parte, sempre muita comida, e era só se espichar para pegar frutas nas diversas arvores ao redor (pêssegos, amoras, peras, ameixas, etc). De um lado um planalto sem fim, onde dava para ver que tinha água la longe, do outro as montanhas belíssimas Não imaginávamos quão longe era, e decidimos ir tomar banho no lago. Demorou uma hora e meia, mas compensou para dar um mergulho. Bandos de cabras e ovelhas dava um clima para o lugar, e a noite era espetacular com o céu todo estrelado.
Divertido foi o dia que resolvemos pegar cavalos para andar pela região Os cavalos da Asia Central sao super famosos, como nao podia ser diferente, pois era uma terra de nômades Já na saída o cavalo da Bibi disparou, e eu tive que cavalgar atras para conseguir fazer ele parar. A Bibi falava “para, para, help me, pleease”!! Ate agora não sei quem ela achava que iria entender, o cavalo quem sabe!!haha
Por segurança eu fui na frente puxando o cavalo dela com uma corda. O pior é que quando eles ficavam muito perto insistiam em se morder e brigar. Foi um super passeio, passando pelos planaltos, montanhas e vales. Difícil de esquecer, não só pela beleza, mas pela dor física que ficamos depois também…hehe
Muitos quilos de frutas depois, e horas de leitura debaixo das arvores, estávamos voltando para Tashkent para buscar o visto da India e nos despedir do Uzbequistão Voltamos a mesma guest house, encontramos amigos de viagem e encontramos novos. Andamos diversas vezes pelas estacoes de metro, que apesar de ser só o nosso caminho, eram uma atracão por seus candelabros e painéis Chato era ter que ficar mostrando o passaporte e registro toda a vez, alem de revistar a mochila. O Uzbequistão é uma ditadura, e você é obrigado a fazer um registro todo lugar que vai. Na verdade o hotel faz para você mas quando ficamos em Nurata não tivemos este registro, por exemplo. Conversamos um pouco com as pessoas, sobre a dura vida daqui. Todos reclamaram, e teve um couchsurfer que ate mudou de assunto com medo que alguém escutasse.
Os vistos para a Asia Central tem data de entrada e saída e já chegava a hora de partir. Ate e possível prorrogar, mas isto significaria menos tempo em outro lugar. A unica região que sentíamos por não ter ido era o Vale Fergana. Mas este vale se estende ate o Quirguistão e passaríamos por lá, então não tínhamos com o que se preocupar. Achamos que como viemos do Irã para o Uzbequistão acabamos comparando demais os dois países, parecia que o melhor teria sido ter ido primeiro para o Uzbequistão e depois para o Irã. Mas mesmo assim, antes de sair do pais, a caminho da fronteira, já batia aquela saudades…