Sandinista!

A Nicarágua é um dos países que mais vezes foi invadido pelos EUA. É também um dos poucos países onde os EUA admitem que perderam uma guerra. Uma das primeiras invasões foi pelo Mercenário americano Willian Walker. Com a proibição da escravidão nos EUA, ali a prática poderia ser rentável. Com a corrida do ouro, muito americanos navegavam pelo rio San Juan até o lago Nicarágua, atravessavam os poucos quilômetros de terra até o porto, onde pegavam um navio até a Califórnia. Era muito mais rápido, fácil e menos perigoso que atravessar os EUA por terra. Primeiramente ali pensaram em construir um canal transoceânico, mas depois de verem a atividade dos vulcões ao redor, acabaram transferindo para o Panamá.

A figura histórica mais importante do país é o Augusto C. Sandino, guerrilheiro nacionalista que lutou contra as interversões americanas e ditaduras instaladas. Acabou sendo assassinado após ter assinado um tratado de paz, pelo então ditador Somoza. A dinastia Somoza dominou o país com mãos de ferro por décadas e possuíam mais da metade das terras da Nicarágua. Como se o fantasma do Sandino tivesse voltado para prestar conta com os Somozas, surge a FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional). Em épocas de guerra fria, não era mais uma guerrilha somente nacionalista, mas também comunista (quem negaria o apoio da URSS tendo um inimigo em comum?). Para o povo sofrido com tantos anos de ditadura isto pouco importava, queriam era mudanças. Estudantes e camponeses aderiram a luta da FSLN, e finalmente acabaram com a ditadura. Parecia tudo terminado, mas o então presidente americano Reagan, decide apoiar a antiga guarda nacional do Samoza, e cria os “Contras”. Uma brutal guerra civil por mais quase dez anos, até que  assinam uma tratado de paz. Finalmente uma democracia. A FSLN perde a eleição, e existe uma sequencia de governos extremamente corruptos. Uma coalizão da FSLN com o ex-lider dos Contra assume o poder anos mais tarde, mas a corrupção não muda.

Toda a instabilidade do passado e dificuldades do presente, fez com que o turismo não tenha se desenvolvido tanto na Nicarágua. Com isto a região nos pareceu muito mais autentica, povo simpático e cultura melhor preservada. Mas tudo isto tende a mudar, o NY Times recomendou o país como um dos destinos para ser visitado em 2013: (Clique aqui).

Na movimentada fronteira de Peñas Blancas, pagamos a taxa de 13 usd (não precisa de visto, mas tem que pagar esta taxa) e pegamos um táxi junto com duas holandesas. De ônibus teríamos que fazer algumas conexões, seguir ao norte até Rivas para depois voltar. Fui batendo papo com o motorista que era muito gente boa, e os preços também eram bem convidativos. Não demoramos muito para chegar a San Juan del Sur, um balneário movimentado para o padrão das praias nicaraguenses, com sua praia em forma de ferradura e diversos barcos ancorados. Os preços eram menos da metade que os da Costa Rica.

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Por do sol em San Juan del Sur

Por do sol em San Juan del Sur

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De lá aproveitamos para visitar as outras praias da região. Para chegar na Playa Hermoza, não existe transporte publico, mas algumas vezes ao dia sai um caminhão pau-de-arara para levar o pessoal. Depois de trafegar por estradas de terra e passar por diversos portões de fazenda, chega-se à praia. Longa, boa para o surf, com petras para quebrar a monotonia do horizonte. Somente uma pequena pousada e um restaurantezinho.  Água gelada do pacifico para refrescar os sol que estava fortíssimo, e ainda tivemos a surpresa de ver pequenas tartarugas dando seus primeiros passos sentido ao mar.

Tartaruga

Tartaruga

Já a praia de Maderas já é mais da “galera”. Pequena, boas ondas, musica e publico jovem. A Bibi acabou fazendo aulas de surf e nos divertimos bastante. Ela surfando e eu vendo ela levar uns tombos!rs Ficamos amigos de umas norueguesas que também estavam fazendo aula de surf, e acabamos saindo em San Juan para comemorar o aniversário de uma delas. A balada é pesada por ali. Toca algumas musicas tradicionais e internacionais, mas o foco mesmo é o regatone. Antes de sair demos uma passada no desfile da miss Nicaragua, que estava acontecendo em um palco montado na praia. Super simples, mas tava divertido de ver, principalmente pela reação do publico.

Bibi surfando

Bibi surfando

Mas apesar da vida noturna movimentada, de dia o lugar parecia uma pequena vila. Ficamos numa pequena pousada bem gostosa e aproveitamos bastante a região. No mercado tinha uma seleção de frutas diferentes para experimentar, mas nem por isto abandonei os galo-pinto (feijão com arroz) feito com tanto carinho pela dona da pousada para o café da manhã.

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As distâncias enganam um pouco por aqui, em quilometragem tudo é perto, mas em tempo de viagem demorado. Pegamos um ônibus (estilo “onibus-galinha”, antigos ônibus escolares dos EUA) até Rivas, outro até o pequeno porto, de onde pegamos um barco. Carregaram o barco com tudo que era possível, e fomos no topo, para curtir o visual. O lago é gigante, se perde no horizonte, mas a ilha de Ometepe, em forma de oito, com seus dois vulcões se destaca.

Vulcão Concepcion

Vulcão Concepcion

Com o vento o lago estava agitado, balançou bastante, mas não demorou tanto assim para chegarmos no porto de Moygalpa. Deu tempo de se esticar um pouco, comer alguma coisa e pegar o último ultra-lotado ônibus até Santa Cruz, do outro lado da ilha. De lá ainda queríamos ir até a pequena vila de Balque, região bem rural. Não tinha mais transporte e seria uma longa caminhada. Fomos andando para ver se encontrávamos algum outro lugar para ficar quando passou um furgão antigo. Conseguimos pegar carona, e por sorte, eles estavam indo para a mesma fazenda que nós. Um casal de americanos que estava viajando com dois cachorros, pretendendo ir dos EUA até a argentina. O dia tinha se passado, mas deu tempo de ver o por de sol da varanda da antiga casa da fazenda de café, com o lago e vulcões para dar o clima.

Vista da varanda

Vista da varanda

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A ilha proporciona diversas atividades. A mais óbvia é subir um dos vulcões, claro. Existem cachoeiras, gravuras rupestres, trilhas e o próprio lago. Um dia alugamos uma scooter para dar uma circulada mais longe, mas outros dias a própria bicicleta quebrou o galho. Nosso quarto na fazenda de café parecia um galpão onde tinham colocado uma cama. De manhã bem cedo já acordávamos com os barulhos dos pássaros e dos macacos que gritavam nas arvores ali ao lado.

em algum lugar da ilha

em algum lugar da ilha

Antes de ir embora decidimos ficar na praia de Santo Domingo, de onde seria mais fácil para pegar transporte. Fomos tomar banho nas piscinas naturais , rodamos, curtimos o visual do lago com bois tomando água e se banhando com o vulcão ao fundo e no final do dia fui caminhar pelo Sendero Peña Inculta. Já na chegada um grupo de macacos me recepcionou. Foram me acompanhando não de muito longe. Ao caminhar no meio do mato se espera silencio, mas não ali. Com a chegada do final de tarde, pássaros cantavam alto, macacos berravam, arvores chacoalhavam com o vento, dentre diversos outros sons que eu não conseguia identificar. Sentei, fechei os olhos e fiquei curtindo o lugar.

animais tomando agua e vulcão Madero ao fundo

animais tomando água e vulcão Madero ao fundo

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Tem varias coisas para se fazer na ilha Ometepe, mas o mais legal é o lugar em si, o clima rural da região, a simpatia do povo, as fazendas de café e seus casarões com os vulcões ao fundo. O tempo passa devagar por ali. Existe um barco que atravessa o lago Nicarágua de ponta a ponta, onde poderíamos ir diretamente para a cidade de Granada. Mas como ele só passa duas vezes por semana, tivemos que pegar um barco para Rivas e de lá uma ônibus “escolar” para Granada, uma das cidades mais antigas de toda a América.

De volta a escola?

De volta a escola?

Ps- “Sandinista!” também é o nome de um disco (ou seriam três?) de uma das maiores bandas de todos os tempos, The Clash.

3 comentários em “Sandinista!

    • @Cyntia, vá mesmo, vale muito a pena!
      @Marcelo, as mudanças já estão acontecendo. Em algumas partes em ritmo mais acelerado, outras mais lento. Espero que também tenham gostado do segundo post da Nicarágua, que acabou de ser publicado!!

      Abs

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