Free Somaliland!!

Berbera era tudo o que precisávamos, um pouco de tranquilidade. Fomos ate o hotel indicado. Um hotel  muçulmano, com sua sala de orações bem no meio e ala separada para homens e mulheres. Hotel simples, mas impecavelmente limpo, a um preço de 2,5 usd por dia. Quando perguntamos se tinha banho quente o recepcionista respondeu que sim, mas meio sem jeito. Depois fomos descobrir que a água é temperatura ambiente, ou seja, a água fria mais quente do mundo. Mesmo de manha já está quente.

Já estava escurecendo, mas aqui não tivemos nem um problema em sair de noite. Pessoas nos cumprimentavam, eram simpáticas. Passei numa farmácia pois tava com um pouco de febre e fui super bem atendido por um Dr que fez questão de passar todo seu histórico escolar na Europa. Mesmo eu tomando 5 litros de água por dia eu estava um pouco desidratado. Pegamos a dica de um bom restaurante e saímos para procurar. Não encontrávamos e ao pedir informação, um moleque nos levou umas 10 quadras até o restaurante. Oferecemos um refrigerante e ele não aceitou,  disse que não precisava. Ainda perguntou se queríamos que ele fosse nos buscar. Me digam aonde existe algo assim? Inacreditável!!

O restaurante era na beira do mar, no Golfo do Aden, mas na parte do porto. Tinha um peixe gostoso mas as porcões eram pequenas. Bem, a coca-cola e a água estavam bem geladas! De lá caminhamos pelas ruas pouco iluminadas perto do porto. Passamos por pelo menos umas 15 mesquitas. Ao chegar na rua principal, vimos alguns camelos descansando tranquilamente debaixo de um poste de luz. Que astral este lugar!!

Cha e bate papo

Chá e bate papo

Acucar Brasileiro

Açúcar Brasileiro

Faz tanto calor aqui, que acordei cedo e não conseguia mais dormir. Tomei meu banho quente e saímos. Não demoramos muito para achar um lugar que servia chá. O chá aqui e com bastante leite, e poem outras coisas junto. Juntou bastante gente, e o lugar virou uma grande sala de reuniões, ou de entrevista. No canto tinha uma tv a cabo, com diversos canais. Ficamos conversando por um bom tempo, e as 9 da manha já estávamos pingando de suor. Interessante que chegavam, deixavam a sandália de lado para lavarem e sentavam. Andamos até perto do porto para descobrir mais informações sobre a viagem para o Djibuti. Não consegui meu visto para o Iêmen, então teria que ir para o Djibuti antes. A embaixada do Iêmen na Etiópia solicitou uma carta da Embaixada brasileira, coisa que o Embaixador Renato Xavier providenciou rapidamente (além de me dar dicas de viagem no Yemen). Acontece que quando voltei na embaixada depois do circuito histórico, estava fechada por uma semana devido ao final do Ramadã. Bem, procuramos caminhões, tentamos entrar no porto para ver se tinham barcos e nada. Tava cada vez mais abafado, insuportável. Resolvemos ir para uma praia logo no final da cidade, onde estão construindo um hotel resort. Nossa, que diferença. Lá tinha ate uma brisa, que apesar de quente refrescava. Fomos tomar o nosso merecido banho de mar. A praia inteira só para nós. Fiquei curtindo sozinho, afastado do Guru e Michael. Olhava aquela praia, as montanhas inclinadas ao fundo, e passava imagens tipo slide show dos últimos 6 meses. Fiquei mais de 2 horas na água, que estava com uma temperatura de 32 graus. Ainda apareceu um pessoal que começou a jogar bola. Um cara com seu traje tipico muçulmano veio falar com a gente. Ele falou que a Somalilândia não gostava de turistas e blablabla. Pior que sabia nosso hotel, e parecia estar hospedado lá. Bem, como não tinha muito o que fazer fomos conversando. Perguntamos se lia o Corão, e ele disse que sim, além de orar 5 vezes ao dia. Perguntamos sobre as passagens sobre o Rei Cristão de Axum ( Vejam este vídeo sobre esta estória), sobre o profeta Maomé falar que estrangeiros em terras islâmicas deveriam ser tratados bem, como um presente de Deus… Ele sabia tudo e nos contava empolgado. Acho que ele foi lembrando das palavras de Maomé e foi amolecendo. No final ate jogamos bola juntos, sob um sol de 42 graus.

Mar Vermelho com uma praia para mim

Mar Vermelho/Golfo do Aden com uma praia só para mim

Fomos até o hotel “resort” e chegou o Steve, Inglês que divide seu tempo entre a Inglaterra e a Somalilândia. É o único estrangeiro que vive aqui. Está ensinando a guarda costeira a mergulhar e montou sua base de mergulho no hotel para algum turista que aparecer. Ele mesmo confirmou que não ganha dinheiro com o turismo, que é mais hobby. Cobra 20 usd, o que deve ser um dos mergulhos mais barato do mundo. Marcamos para mergulhar no dia seguinte.

Conversamos bastante sobre a situação do pais, sobre o passado, perspectivas. Ele escreve para diversos jornais e revistas da Europa e USA sobre a situação politica da região. Conhece todo mundo do governo, e já sabia que estávamos em Berbera pois a inteligencia da policia ligou para ele perguntando se sabia quem eramos. Pelo jeito estávamos sendo observados de perto. O Ministro das relações Exteriores da Etiópia se hospedou neste hotel, e quando voltávamos para a cidade vimos uma cena de filme. Ele sentado tomando um refrigerante e vários soldados sentados em cadeiras de plastico virados de costas para o ministro. Ele veio intermediar os problemas ocorridos a 10 dias atrás (possível golpe de estado ou protesto resultando em mortes). Demos mais umas voltas na cidade antes de voltar para o hotel. De dia as ruas ficam vazias pois e muito quente, então ficam mascando qat na sombra. De noite saem, mas já não se entendem muito bem…hehe

Berbera

Berbera

Depois de um rápido chá e algumas frutas, fomos encontrar com o Steve para mergulhar. Como o Guru não tem certificação, o lugar foi bem básico então ficou devendo um pouco, afinal de contas estava no Mar Vermelho! O fato de um pequeno peixe leão vir para cima de mim, tentando me intimidar já valeu! Tinha uns restos de naufrágio também.

Depois de curtir a praia voltamos para a cidade para tentar agilizar a viagem para o Djibuti. Todos aconselhavam voar ou retornar a Hargeisa e de la ir para a fronteira, mas nos queríamos ir de Berbera para a Fronteira. Perguntávamos para varias pessoas na rua, e conhecemos um jornalista que nos ajudou um monte, além de nos entrevistar. Ele acha que ta cedo para publicar algo sobre turismo, mas pelo menos já tem alguma informação. Conhecemos um senhor no hotel que trabalhava no governo e tinha bastante contatos. Fomos até a policia de circulação, para ver se tinha alguém indo pela “estrada” que queríamos. Ficaram de retornar. Passamos na quadra esportiva que estava lotada, cheia de atividades. Logo encontramos aquele cara que tentou nos intimidar na praia. Ele estava todo simpático, e nos levou na rápida internet e depois para tomar leite de camela (bem ruinzinho). Quando souberam que voltaríamos para o hotel para jantar com o Steve fizeram questão em nos levar. Fomos escutando o corão em árabe. Ele falou que era para nos informarmos sobre o Islamismo e prometeu ler sobre outras religiões depois dos nossos bate papo. A criatura mudou da água para o vinho!

Jantamos com o Steave e 3 Chineses que moram em Adis-Abeba e voaram para o final de semana aqui. Adoraram nossas historias de viagens. O Jornalista ligou confirmando que seu amigo aceitou a contraproposta que fizemos para uma pick up nos levar pelo deserto. Passaram para nos buscar e acertar detalhes do dia seguinte.

Seguiríamos pela costa, por uma “estrada” pouco utilizada, atravessando o deserto. Passaram para nos buscar bem cedo e o carro era uma Land Cruiser descente. Tínhamos solicitado um guarda pois já tínhamos aprendido que era um super custo beneficio. Ao sair da cidade, o motorista errou o caminho e foi sentido ao final do porto. Quando vi estava o soldado abanando sua boina desesperadamente pala janela e alguém apontando um lança foguete para nos. Ops, acho que era área militar!!

A estrada era um verdadeiro areião, deserto para os dois lados e aquela vista para o mar. Sempre passávamos por cabras e camelos e seus devidos donos. Quando tínhamos rodado uns 60 km encalhamos pela primeira vez. Foi quando descobri que não tínhamos nenhum equipamento, nem os mais básicos como pá, corrente… Tivemos que cavar na mão, sob um sol de 40 graus. Tentávamos de tudo mas não adiantava. Depois de umas 3 horas finalmente conseguimos. Já estava claro que não faríamos a viagem num só dia, nem perto das 15 horas que estimamos. O carro encalhou mais algumas vezes, parecia Camel Trophy, mas fomos nos virando. Depois de um tempo encalhou de novo, desta vez nem se mexia. Tentamos um pouco mas já nos largamos exaustos embaixo de alguns arbustos. Agora era torcer que alguém passasse. Demoraram algumas horas, mas passou um caminhão no sentido contrario que nos ajudou, claro que sem cobrar nada, só para praticar o bem. No meio de toda esta história ainda acabou furando um pneu, portanto sem estepe dali para frente!

Deserto entre Somalilandia e Djibouti

Deserto entre Somalilândia e Djibuti

Buscávamos não usar a trilha, mas a parte de pedra ao lado. Até que funcionava, mas a atenção por buracos e relevo tinha que ser redobrada. Paramos para almoçar num pequeno vilarejo e nem preciso comentar o espanto do pessoal ao nos ver. Aqui o açúcar brasileiro e mais famoso que o futebol e um saco era utilizado para fechar a janela. Em Berbera já tinha visto que para eles açúcar e sinônimo de Brasil.

Mais um pneu que se foi...

Mais um pneu que se foi…

Mais quilômetros rodados, de lugares intocados, mais vezes encalhamos, mas sempre conseguindo nos virar, até que no final da tarde, com uma lua cheia saindo, foi mais uma “daquelas vezes”. Nem tentamos nada. Simplesmente tiramos algumas esteiras de palha, e nos largamos ao lado do carro mesmo. Como não tinha o que fazer, resolvemos descansar. Um tempo depois apareceu uma pessoa de uma vila não muito distante. Ele carregava uma pá e trouxe chá para nos. Trabalhou duro, tentando tirar o carro, mas foi em vão. Eu queria dormir mas quando via a situação, com aquele guarda dormindo abracado com a metralhadora só conseguia era rir.

Boa Noite!

Boa Noite!

Algumas horas depois passa outro caminhão para nos salvar. Conseguimos ir até a vila (meia dizia de casas) e tivemos que insistir muito para pagar o jantar para o cara que trabalhou por horas cavando. Ele dizia que era um prazer… Eu torcia que fosse churrasco de camelo, mas era de bode. Andamos mais um pouco depois do jantar e dormimos no meio do deserto. Dia seguinte de muita viagem, mas um pouco mais tranquilo, mesmo com mais pneus furados. Curtimos a paisagem e os lugares, até finalmente chegarmos na fronteira. Tivemos que esperar um tempo, pois estava fechada e só abriria as 4 da tarde.

Na imigração foram super gente boa. Ficava me questionando como o povo ocidental é ignorante quanto aos muçulmanos. Quando se fala em muçulmano muitas pessoas confundem religião com raça e com política.

Árabe não é sinônimo de muçulmano, pois existem árabes cristãos. O maior pais muçulmano do mundo é a Indonésia, que não é árabe. Muitos costumes atribuídos ao Islamismo são regionais, tribais e não religiosos. O Irã também é muçulmano, mas e Persa e não árabe. O Irã e uma republica Islâmica e não reconhece Israel como estado. Ao mesmo tempo existem judeus que vivem no Irã, em paz indo nas suas sinagogas, sem serem incomodados. Religião, ou o próprio Deus, é sempre bom, que estraga são os humanos…

FREE SOMALILAND!!!

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