O longo caminho de Nairobi para Addis Ababa

Tudo já estava agilizado então saímos só 3 horas antes do horário marcado com o motorista do caminhão. O Matatu demorou bastante, ate mandamos mensagem para o motorista para garantir. Acabamos chegando quinze para as quatro da tarde, pouco antes do combinado. O bairro em questão é Isili, bairro Somali de Nairóbi. Chegando lá nos avisaram que teríamos que esperar. Depois de um tempo nos falaram que não teria mais caminhão, mas teria ônibus. O caminhão iria muito mais rápido que o ônibus, portanto insistimos sem sucesso. Nos colocaram numa sala, e falaram para esperarmos la. Estranhamos e depois de um tempo saímos para dar uma olhada. Descobrimos que tinha sim um caminhão indo ate Moyale (fronteira).  Falamos que só iriamos com o caminhão. Nos mudamos para a frente de um bar e ficamos esperando mais um bom tempo. Depois vieram nos falar que era impossível irmos de caminhão, que eles tinham decidido que iriamos de ônibus. Nem adiantou o motorista do caminhão tentar nos ajudar, pois ELES tinham decidido, parecia piada. Pior que o Guru ja tinha pago tudo para garantir o lugar.

Pra piorar era Ramadam, e ninguém vendia comida. Como aqui praticamente so tem Somalis, levam muito a serio. Pra resumir realmente tinha um ônibus, e que surpreendentemente não ia até Isalo, e sim ate Moyale, na fronteira. Estes ônibus são raros, e normalmente tem que se fazer a viagem em etapas.

Depois de comermos, seguimos ate o ônibus que era praticamente um ônibus de linha e não de longa distancia. Milhares de malas, sacolas, caixas no topo, mas levei minha mochila comigo. As 21 hs estávamos saindo, e fui deitado pois sobrara espaço. A alegria não durou muito. Chegando em Isalo, no inicio da madrugada, o ônibus ficou super lotado, inclusive com caixas e bugigangas no corredor. Se olharem no mapa, Isalo não é longe de Nairóbi, tem muito Quênia pela frente, mas é a ultima cidade “estruturada” (na verdade só tem o básico do básico). Dois seguranças devidamente armados subiram no ônibus e passaram a  nos acompanhar ate a fronteira. Ja faz tempo que não existem problemas nesta região, mas as empresas de ônibus parecem se precaver.

Viajamos por horas e horas no meio do nada. O único animal comum aqui e o dik-dik, o menor antílope do mundo, do tamanho de um pequeno cachorro. Paramos poucas vezes, e os locais eram aglomerados de casas, mal da para chamar de vila. Numa das paradas um senhor de idade bastante avançada se aproximou de mim. Era o homem santo da região. Pegou na minha mão, cuspiu levemente e esfregou. Depois passou a mão no meu braco e rosto e me abençoou. Um Queniano traduzia o que ele falava. Falou que homem branco tinha que ser abençoado para passar por aquelas terras, e que eu era uma pessoa do bem. Ele disse que nunca se enganara, e que eu deveria levar a paz comigo… Muito bacana!

A Paisagem já estava bastante desértica ate chegarmos em Marsabit. Pequena região onde existe um parque nacional. Na bera da estrada pudemos ver alguns animais, dentre eles uma manada de elefantes. A paisagem continuou desertica depois deste “oasis” que é Marsabit. Pudemos ver varias crateras de vulcões, que estão espalhadas por esta região. Os Dik-dik foram ficando mais raros, e depois de um tempo só dava para ver alguns camelos, criados por algumas tribos que moram na região. Incrível que por mais inóspita que seja a região, sempre tem alguém se adaptando e sobrevivendo.

Horas e horas de Dida Galgalu, o deserto  de pedra, exatamente 26 hs depois de sairmos de Nairóbi, nos chegamos a Moyale, na fronteira. Procurar um hotel não foi difícil, pq só existem 3 opções. Nem percebi que o banho era frio e de balde, de tanto que estava precisando. Cheguei ate a levar baldes extras para aproveitar bem.

Deserto Dida Galgalu

Deserto Dida Galgalu

Dia seguinte cedo trocamos o restante do dinheiro e atravessamos a fronteira. Do lado da Etiópia o oficial resmungou que eu tinha um carimbo em cima do visto (na verdade não cobria nada). Falou que eu não podia entrar, que teria que voltar e tal. Sabia que ele não podia estar falando serio, mas fiquei preocupado se ele queria uma grana para me liberar. Final das contas só na conversa ele acabou me liberando.  O segundo problema que enfrentamos é que a imigração só abre as 8 hs, e o ônibus sai as 6. Não poderíamos ficar um dia inteiro de bobeira la, então fomos logo descobrindo onde era a parada dos caminhões para arranjar uma carona. Não demorou muito e descobrimos um que estava indo direto ate Addis Ababa. Melhor que o ônibus, que pararia na metade do caminho. Apos negociarmos tivemos que aguardar carregarem o caminha e partimos. Ao contrario do lado do Quênia, onde as estradas são de terra, no lado da Etiópia são todas asfaltadas. Aquelas retas intermináveis, inicialmente toda plana, mas depois começou a surgir um relevo. Paramos umas 2 vezes para carregar carvão de umas comunidades que vivem próximas da estrada, e depois foi meio direto. Na cabine estava eu, Guru, Motorista e um auxiliar. Meio apertado, mas dava para cochilar e eles eram gente boa. Foram mascando Qat do inicio ao final da viagem (igual ao Mira que comentamos em Lamu). Ate experimentei, por uns 5 min, mas é muito ruim. Para fazer efeito tem que mascar por horas. Com certeza vale mais a pena tomar um cafezao ou um Red Bull!! De qualquer forma era bom, pois o motorista ia dirigir a noite toda.

Carona na Etiopia

Carona na Etiópia

Jantamos uma gostosa macarronada, herança dos italianos que ocuparam a Etiópia no período da Segunda Guerra, mas logo continuamos. Já de noite vimos uma pessoa andando no acostamento, de repente ela sumiu. Era um bêbado, que caiu numa valeta. Na mesma vila vimos outro cara dormindo no meio da estrada. Pelo jeito o pessoal gosta de um “gole” aqui…

Na Boleia

Na Boleia

Dormimos pouco, pois preferimos fazer companhia para o motorista, para que ele não dormisse. Passamo por Shashemene, região dos Rastafaris. Alias, a religião Rastafari iniciou na Jamaica, mas adorando um Rei Etíope. Ras= Rei Ta Faris (vejam a musica get up stand up, do Bob Marley). Foram muito influenciados pelo fato da Etiópia ter sempre sido uma nação independente, nunca foi colonizada (existem outras crenças, que o rei fez chover, mas ele não gostou muito da historia). Ela foi ocupada pelos Italianos na guerra, mas a Franca também foi ocupada pelos alemães, não foi?! No final do seculo 19 a Itália também tentou ocupar a Etiópia, mas perdeu a guerra. A Etiópia sempre foi uma nação com grande potencial, altas taxas de crescimento ate os anos 70, quando iniciou um regime comunista que acabou com o pais.

No outro dia pela manha chegamos em Addis Ababa, capital da Etiópia. Uma grande metrópole, uma das maiores da África. As placas em Amarico, língua que falam aqui (escrevem diferente também) dão um charme para o local. Pastores levavam suas ovelhas no meio das ruas. Logo vimos que a Etiópia tinha um estilo próprio, diferente de tudo que vimos na África.

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Nairobi / Extreme Makover 2

A um tempo atrás descobri que tinha um cara (nome dele é Guru) fazendo um roteiro pela África não muito diferente do meu, e que inclusive ficara na casa da mesma pessoa no Burundi e conhecera outras pessoas em comum. Acabamos entrando em contato e combinamos de ir para a Etiópia juntos. Depois dele visitar a vó do Obama, ficou uma semana em Nairóbi me esperando, fazendo couchsurfing num subúrbio. Neste meio tempo ele já agilizou um caminhão para irmos ate a Etiópia. Teria que esperar 2 dias em Nairóbi, e a família fez questão que eu ficasse la também. O Guru e Indiano, radicado nos EUA. Já esta viajando ha 2 anos, e pretende viajar mais 2. O Samuel, anfitrião, foi inclusive me buscar no aeroporto.

Curti Nairobi de uma forma diferente. Sempre íamos para o centro para fazer coisas praticas, mas passamos muito tempo dentro dos Matatus. Matatus daqueles originais, escuros dentro, com luzes piscando, telão com videoclipe. A casa dele ficava em Kayolo, subúrbio ao leste de Nairobi, a duas horas do centro. Casa simples, com banheiro fora, comunitário para varias casas. Chão de terra. Casa com 2 quartos, sala e cozinha. Não tinha água encanada, mas bem cuidadinha e com simples decorações. Me chamou atenção que um miolo de rolo de papel higiênico era utilizado para deixar a cortina aberta. Fiquei num quarto com cama, mas ele não tinha janelas, só uma telha transparente para entrar luminosidade. Eles adoram ver filmes. O Samuel falou que queria ver alguns filmes de noite. Na minha cabeça passaríamos numa locadora, certo?! Não, passa num camelô e compra, é tão baratinho. Nem existe aluguel. Outro dia resolvemos ir para Westlands, área rica de Nairobi. Fomos num shopping e depois almoçar num restaurante indiano que é considerado o melhor do Leste da Africa. Muito bom.

Um final de tarde quando voltávamos para casa e o transito estava infernal. O Matatu que estavamos ia pela calçada so para ganhar poucos metros. Um bom tempo depois chegamos a um acidente. Para controlar o transito, um policial, ou segurança particular, empunhava uma AK47 em uma mão e um chicote na outra. Na Índia ja tinha visto policiais distribuírem varetadas, mas um super chicote destes foi novidade para mim.

A família que nos hospedou era super simples, mas faziam questão de nos servir comida todas as refeições, e tentar aprender sobre os nossos países e cultura em geral. Foi uma super experiencia, com pessoas maravilhosas.

Kayole/Nairobi

Kayole/Nairobi

Não cortava meu cabelo desde que cheguei na Africa, então resolvi fazer outro extrem makeover. Querendo ou nao, este é o corte local. O pessoal na barbearia, que ficava perto da casa do Samuel, se divertiu um monte.

Ainda com cabelo

Ainda com cabelo

Careca

Careca