Muito dos que voam para a Ilha de Flores, vão para o Parque nacional de Komodo para ver os Dragões de Komodo e voam de volta. Algumas atrações estão sendo descobertas, aumentando o numero de visitantes. Mas não e só a ilha de Flores que e esquecida pelo turismo convencional. Entre Lombok e Flores esta a ilha de Sumbawa. Aqueles lugares que ate guias como o Lonly Planet (que deveriam ser para viajantes independentes) falam que é bem legal, mas complicado viajar por lá, devido a falta de infra estrutura, transportes irregulares, etc. Ate os barcos que vem de Bali ou Lombok, passando por varias ilhas, até terminar em flores, pulam Sumbawa, não entendemos porque.
O Ferry de Labumbajo/Flores ate Sape/Leste de Sumbawa foi tranquilo. Foram aproximadamente oito horas de viagem, mas com espaço, sem stress e uma ótima paisagem. Pudemos ver aquelas “ilhas vulcões” de outro ângulo. A Bibi aproveitou para botar o sono em dia, indo para a primeira classe e se espichando nas poltronas almofadadas que estavam vazias, nem percebendo o barulho da TV que passava o filme do Wolverine. Eu fiquei lendo na terceira classe, que inacreditavelmente não estava lotada. Tinha uma cafeteria que servia pequenas refeições alem de muitos curiosos que vinham conversar. Ao chegar, dezenas de carregadores subiram no ferry para ajudar os passageiros a carregar suas caixas e bagagens em troca de algumas moedas. Mais carregadores que mercadoria, acabou saindo uma briga, a primeira que presencio desde o inicio da viagem. Esperamos os ânimos se acalmarem e saímos do ferry, em direção aos micronibus para continuar viagem. Eles estavam saindo, e quase que ficamos presos ali, pois transporte só no dia seguinte. No inicio passamos por algumas montanhas, arrozais, mas não demorou muito e o relevo mudou, ficando bem mais plano. O ônibus estava lotado, cheio de coisas no corredor, mas logo chegamos na rodoviária de Bina. As duas primeiras cidades de Sumbawa nos impressionaram. Havíamos lido sobre o subdesenvolvimento da ilha, baixíssimo IDH, mas não víamos esta pobreza toda, pelo menos próximo das estradas que circulávamos e principais cidades. Gostaríamos de explorar mais Sumbawa, mas nosso tempo estava curto. Decidimos não arriscar por causa do escasso transporte e seguir para o outro lado da ilha, onde estaríamos pais perto de Lombok/Bali, destino final da nossa viagem. Tivemos um intervalo ate o próximo ônibus, e a Bibi foi para um mercadinho comprar sanduíche para mudar um pouco a comida. Eu achei uma tiazinha com um carrinho que parecia de pipoca. Comi um delicioso Nasigoreng (não, eu não enjoo!!), talvez o melhor da viagem. Ficamos sentados na estera estendida na calcada, comendo e esperando nosso ônibus. O senhor sentado ao lado com seu filho ate tentava se comunicar, mas trocávamos sinais e muitas risadas. O outro ônibus que pegamos era super bom, tinha ate banheiro!! Poltrona reclinava bastante e conseguimos dormir. Como chegaríamos em Pota Tano no meio da madrugada, e muita gente nos falou que não existiam hotéis por la, estávamos considerando ficar em Sumbawa Besar, capital da ilha, que ficava algumas horas antes. Tentei falar com o motorista algumas vezes, mas ele fazia sinal de que não me entendia e não falava comigo. Acordei com as luzes de Sumbawa Besar, e com rápidas paradas para passageiros descerem. Achei que o motorista nos deixaria numa área central. Quando fomos nos afastando do “movimento” (a cidade e pequena, mesmo sendo uma capital), a esperança era que parássemos na rodoviária, muitas vezes afastada do centro. Paramos, mas num restaurante, para o jantar, que estava incluso na passagem. Eram quase 2 da manha e tinha um pequeno buffet a nossa disposição, com arroz, frango, verduras e mais algumas coisinhas. Arranjei alguém que fala inglês, ou algo parecido, e la vou eu reclamar com o motorista. Ele apontou para mototaxis, que poderiam nos levar ate o hotel la mais perto do centro. Juntou mais alguns curiosos e falavam que eu deveria ir para Pota Tano, pois cedo já tinha transporte de lá para Maluk, a praia que queríamos ir. Mesmo com medo de ficar no meio da rua sem transporte, decidimos arriscar. Dormimos novamente e acordamos com o cobrador quase nos jogando para fora do ônibus. Saímos correndo para pegar as mochilas no bagageiro e nisso a Bibi esqueceu uma sacola com roupas molhadas dentro do ônibus (só foi reparar depois). Estávamos no cruzamento que ia para o porto, lugar escuro, só iluminado pela luz de uma guarita com 3 pessoas e uma moto ao lado. A vontade era de falar ”que merda!”, mas antes que as palavras saíssem da minha boca, passou uma van lotada de coisas perguntando para onde íamos. Eu falava Maluk, Maluk e eles só fizeram sinal para subir. O pessoal com cara de sono, de acordar tao cedo para trabalhar, ainda conseguiram sorrir para nos e ajudar a arranjar lugar para nossas mochilas. Algumas paradas para deixar o pessoal em seus trabalhos, e chamou atenção uma delas, cheia de gente, muitos com capacete. Descobriram uma mina de cobre e ouro nesta região a alguns anos atras e hoje e muito movimentada, explorada por uma empresa americana. Logo chegamos a Maluk, e nos deixaram a poucas quadras do único hotel que tínhamos nome. Já não era mais tarde, e sim cedo. Para nossa sorte tinha uma pessoa acordada e nos mostrou as 3 opções de quarto. Depois de tanto tempo viajando, decidimos pela melhor delas, com aircon e ate frigobar. Demos aquela merecida dormida e depois fomos conhecer a praia, que ficava bem pertinho. Praia bonita, uma baia em forma de ferradura. Uma pequena estrutura de bares/restaurantes cheia de locais, uma praça e parque para crianças. Fomos para o canto da praia, num barzinho de estrutura rustica, mas não tinha almoço. Resolvemos tomar alguma coisa e já veio uma pessoa falar com a gente, sentando na nossa mesa, mesmo sem ser convidado. Acabamos comendo um delicioso peixe assado na “praça de alimentação” entre os pequenos restaurantes. Não preciso nem comentar a dificuldade de comunicação, mas a mimica já esta boa. Era domingo e estava cheio de locais aproveitando a estrutura.Demos uma pequena caminhada e ficamos largados na areia conversando e tomando banho de mar, com aquela parte da praia só para nos. Final de tarde já estávamos indo para pousada quando vimos que o por de sol seria daqueles. Sentamos na areia e ficamos vendo o sol se por, todas aquelas cores, enquanto pessoas tomavam banho de mar de roupa e um arco-iris se formava no lado oposto.
Outro dia nos limitamos a uma caminhada ate o canto da praia, onde na “temporada seca” tem uma super onda chamada Supersuck, mas que agora parecia uma piscina. Grande parte do dia ficamos sentados num restaurante simpático, conversando com as pessoas que trabalhavam lá, mostrando fotos. Tava muito bom ficar largado ali, mas ouvimos dizer que em sengkonkang, poucos Km mais ao sul era melhor ainda. Arranjamos umas mototaxis e fomos ate uma pousada que nos indicaram. Estrutura simples, na beira da areia. Uma praia muito bonita, com bastante vegetação e cercada com morros. Tinham alguns outros estrangeiros na pousada, que já estavam a algumas semanas ali, devido as constantes ondas de Yoyo’s. O lugar parece uma comunidade, com todo mundo comendo junto, batendo papo, cantando em volta da fogueira. O pessoal que trabalha la super gente boa, ambiente show. A comida, principalmente nos jantares, era uma atracão a parte. Horas e horas gastas na parte da frente da pousada, que carinhosamente chamávamos de “escritório”. Redes, mesinhas, “refeitório”, mesa de ping-pong, tudo a poucos metros da areia. Uma torre com sirenes mostrava que mesmo nas praias mais isoladas, a Indonésia se preparou para próximos tsunamis.
Por melhor que seja ficar largado por aqui, fazer caminhadas, o ponto alto e o surf. Yoyo’s e uma onda bem constante, e a ondulação tava entrando bem quando cheguei. Consegui uma prancha com uma das pessoas que trabalhava la, emprestada, não alugada. Como alguns estrangeiros tinham ido surfar em Scareef (vários KM para o norte), outros se preparavam para o swell do dia seguinte, fui surfar sozinho. A Bibi ficou na areia e eu tentando achar a melhor maneira de passar por aqueles corais, muitas vezes com ouriços. Já tinha tido a oportunidade de surfar quase sem ninguém em Madagascar, mas agora estava sozinho, com altas ondas. Aquelas que você olha quebrar uma vez, outra, e são praticamente todas iguais. Como nada e perfeito, o lugar e muito raso, e apesar do coral não ser tao afiado por aqui, com certeza causaria um estrago. Ficava la no fundo, só esperando as maiores, para não correr o risco de nenhuma quebrar em cima de mim também. A serie vinha batendo na pedra do morro, que cheia de tuneis e cavernas fazia um barulho super alto. A adrenalina subia, mas depois do “buraco” inicial a onda era muito fácil. Difícil era surfar naquela água transparente vendo os corais. Acertei o pé rapidinho, e fiquei com dor na perna de tanto que surfei. Surfei mais num dia que nos últimos anos (praticamente não surfava mais). Como as ondas perto da praia já não estavam pequenas, e eu estava bem para o fundo, a Bibi não me via. Resolveu voltar por causa do sol forte e preocupada foi perguntar para alguém se o lugar não tinha perigo. O pia respondeu, que tinha um monte de tubarão, que era para ela pedir ajuda. Ela ficou super preocupada, mas o pessoal da pousada a acalmou, explicando que o pia era meio lesado da cabeça ate eu chegar já com o sol se pondo. Não foi difícil decidir que ficaríamos mais tempo la, naquela rotina “chata”. Mas um dia tínhamos que sair, e voltar para nossa saga dos transportes. O pessoal da pousada nos deu carona ate Maluk, devido a falta de transporte coletivo. De la pagamos um ônibus de volta para Pota Tano, Ferry para Lombok, onibus para Mataram, mototaxi para Senggigi. Parada para comer, sacar dinheiro e descobrir que de la para as Gili Islands so no dia seguinte. Como queríamos ir direto para a ilha, descobrimos um carro indo para Bangsal, de onde pegaríamos o barco para Gili Air. Parecia simples, mas os barcos públicos só saem quando cheios e isto também seria no dia seguinte. Varias pessoas na rua se ofereciam para nos ajudar, mas com aquela cara de que iam nos passar a perna. Nos guias falavam para não ir para esta cidade, pois o pessoal era agressivo e tentava passar a perna. Como não tínhamos outra opção, e também não levamos muito a serio o falho guia, ali estávamos. Sei que nos ofereceram um barco, que iria dali a algumas horas com outros estrangeiros. Cada hora um falava uma coisa, um preço, um horário. Certo momento acabei entrando numa discução para desespero da Bibi. Fomos praticamente expulsos do bar/restaurante onde a negociação estava sendo feita, e quase que sai um Muaythaizinho…hehe
Sentamos em outra mesa de bar e acertamos com um dos caras, que aparentava ser gente boa, mas que depois descobrimos ter mentido sobre os horários e nos feito esperar por horas. Final de tarde finalmente conseguimos partir para Gili Air. As 3 ilhas Gili ficam bem perto de Lombok e entre elas. Uma e famosa por suas festas e noitadas, outra pelo isolamento total, e a que fomos e considerada um meio termo. Lugar para casal, mas com varias opções.
Íamos ficar alguns dias ali e ir comemorar o meu aniversario na Ilha das festas, mas acabamos não conseguindo sair de Gili Air. Dizem que o difícil de não fazer nada e que nunca sabemos quando acabamos. Foi mais ou menos assim. Dias largados, de férias da viagem, de se movimentar. Primeiro dia ate demos a volta na ilha, coisa que não demorou mais que uma hora. Depois disto era só se movimentar da pousada ate uma das casinhas na frente da praia, para o café da manha. Ficar horas deitado, lendo, conversando. Mergulho para refrescar o grande calor. Procurar outro lugar de frente para o mar pro almoço. Repetir a rotina, ate a hora do jantar. Varias opções de lugares para comer, todos com almofadas, estilosos, com boa musica. As praias bonitas, mas o melhor delas era dentro da água. Com os corais a água ficava transparente, e estes rodeavam boa parte da ilha. Na parte com areia era azul. Muitos peixes, tartarugas e a Bibi já esta intima do Snorkling. Pensou ate em fazer curso de mergulho, mas daí não estaríamos fazendo nada, nosso objetivo. Teve comemoração do aniversario em alto estilo, num lounge na frente da praia, com muita pipoca e cerveja, e me sinto mais jovem do que nunca!!haha
Os dias passaram e tínhamos que voltar para Bali para pegar o voo para Jakarta e seguir para o Vietnã. Quando pedi a conta do hotel, o já considerado antipático “gerente” me passou um punhado de notas, não esperando que eu fosse conferir. Na primeira olhada vi que o prato predileto da Bibi estava com o preço mais caro que o do cardápio e tinha uma refeição que não havíamos feito. Questionei amigavelmente sobre aquela refeição. Ele me explicou com detalhes, que a Bibi não estava junto, tinha ido caminhar, e eu comi no meio da tarde, junto com três suecas (se fosse verdade eu tinha caído do burro!!!haha). Como não ficamos separados por mais de 5 min, e não lembrava de nenhuma sueca, fui buscar meu diário no quarto. A refeição em questão era no primeiro dia, portanto difícil de lembrar. Comecei a ler para ele nosso dia, e depois de almoçar tínhamos ficado ate a metade da tarde largados ate o tempo melhorar, só depois fomos dar a volta na ilha. Isto derrubava a teoria dele, pois estávamos bem longe na hora que ele indicava. Ele ficou nervoso e já começou a me chamar de desonesto e tal. O nervosismo trocou de lado e fiquei puto da vida. Só pequei o cardápio e fui mostrar os preços errados que ele tava cobrando. Ele desesperadamente virou a conta de ponta cabeça e falava que era para eu pagar logo, que nem precisava pagar aquela refeição. Claro que fiz ele passar a maior vergonha na frente de todo mundo, alterando todos os preços. A audiência já não era pequena para desespero da Bibi. Acabamos perdendo o café da manha no dia seguinte, com medo que viesse com bonus…
Barco para Bangsal, van ate Lembar, horas de ferry para Sanur/Bali e finalmente van para Kuta. Tava muito quente, e mesmo no deck do ferry estávamos derretendo. Conseguimos ficar numa das poucas sombras existentes, e nos largamos no chão torcendo para que o vento aumentasse. A velocidade do ferry não ajudava muito também. Bom que eu estava empolgado com meu novo livro usado que comprei em Gili. O ferry tava cheio de mochileiros do mundo inteiro, maior concentração que vimos desde Kuta. Boa parte deveria estar vindo de Gili Travangan, a ilha da festa.
Chegamos tarde em Kuta e só deu tempo de me preocupar um pouco por não ter conseguido sacar dinheiro em 8 caixas eletrônicos diferentes. Tudo resolvido depois de uma ligação via Skype para o Brasil enquanto a Bibi visitava as lojas.
Ainda teríamos que acordar cedo para viajar para Jakarta, passar algumas horas no aeroporto para pegar o voo para Ho Chi Minh, no Vietna. Neste meio tempo eu não tinha como não pensar o quanto gostaria de voltar para a Indonésia. Voltar para muitos lugares que passei, mas também para Sumatra e Papua, ilhas que estão na minha lista faz tempo, mas merecem um bom tempo para serem exploradas.