Antes de escrever sobre nossas impressões e relatos, resolvi falar sobe as duas moedas utilizadas em Cuba e seus mitos, alguns custos, além das ultimas mudanças nas regras da economia local.
Nos anos noventa, com o aumento do fluxo de turismo, o dólar americano foi legalizado na ilha. A moera local era o CUP, Peso Cubano. Passou a existir o CUC, Peso convertível equivalente ao dólar americano, mas inicialmente pouco utilizado. Devido as restrições dos EUA, que com o embargo dificultava o governo cubano em trocar a moeda, desde 2004 o dólar saiu de circulação. Ele foi desvalorizado na troca, sendo que hoje é muito mais interessante para quem vai para Cuba levar Euros.
Existe um mito que o Peso Cubano é para os Cubanos e o CUC para turista, mas isto não é verdade. No passado cubanos tinham restrições de frequentar lugares para turistas, que cobravam em CUC, mas até mesmo nas lojas do governo existem produtos vendidos em CUC. Qualquer cubano pode utilizar esta moeda e trocar livremente nos bancos. Inclusive cubanos em missões no exterior como médicos, por exemplo, recebem parte dos seus salários em CUC. Estrangeiros também podem utilizar o Peso Cubano livremente.
São duas moedas, uma para produtos básicos, essenciais, outra para os de “luxo”. Uma moeda “forte”e outra “fraca”, para produtos e serviços distintos.
CUC- Peso convertível se pronuncia “Cu”. Placas onde aceitam CUC muitas vezes apontam como “Divisa”. É a moeda forte. Também chamado informalmente de “Chavito”.

Moedas de 1 e 5 centavos de CUC. Não tem referencia dizendo que é CUC, portanto não se confundam com os centavos de Peso Cubano. São moedas muito mais novas.
CUP- Peso Cubano, chamado somente de Peso ou Moneda Nacional. Vale 24 vezes menos que o CUC. Aproximadamente 4 centavos de USD, mas lembrem-se que somente se você trocar EURO, se não vai valer 10% menos.
Para quem viaja num turismo estilo “Resort e táxi , Cuba vai ser um destino caro. Já que os preços vão se equivaler ao Dólar. Se misturando a população local, os preços vão cair bastante, mas devido a algumas restrições, nunca vai ser super barato para o estrangeiro.
As duas questões que aumentam o custo de quem viaja por Cuba são transporte e hospedagem. Atrações também são caras para o estrangeiro. (somente possível pagar em CUC)
Desde a abertura da ilha para o turismo, algumas famílias passaram a hospedar turistas em troca de uns trocados. Era uma coisa informal mas não ilegal. O governo percebeu a oportunidade e resolver regularizar, não sem pegar sua parcela. Desde 1997 existem as Casas Particulares, onde estas famílias recebem turistas, pagando uma licença mensal para o governo por isto ( além dos “Paladares” restaurantes familiares). Os preços destes quartos variam entre 15 a 30 CUC por quarto, independente do numero de camas. Se hospedar com uma família fora das casas particulares se tornou ilegal, inviabilizando a prática de Couchsurfing por exemplo (existem alguns meios, mas precisa de um visto familiar).
Dividindo os quartos em duas pessoas, o preço não é alto, mas em perspectiva sim. Já o transporte entre cidades, teoricamente (por lei) os estrangeiros só podem utilizar uma linha de ônibus específica, e cara. Ninguém vai te impedir de subir num caminhão estilo “Pau de Arara”ou Ônibus cubano. O cobrador pode até pedir para você descer antes de chegar o ponto final para evitar problemas. Você vai pagar umas 50 vezes menos, mas será um transporte demorado, lotado e com muitas conexões.
O que dificulta é que não existem Casas Particulares em todas as cidades, então pode ser que fique “preso”em um lugar sem transporte e lugar para dormir (legalmente).
Existem taxistas que cobram o preço do valor do ônibus + valor do táxi até a rodoviária para te levar até a outra cidade. Muito mais rápido e fácil que pegar os ônibus de turistas. Na verdade não são ônibus somente para turistas, são ônibus de luxo, pagos em CUC, onde alguns cubanos também viajam.
Dentro da cidades estrangeiro pode utilizar os ônibus livremente.
Melhor opção para viajar pela ilha parando e dormindo onde quiser, sem se preocupar, seria viajar de bicicleta e acampando, provavelmente a melhor forma de conhecer o país.
Alguns preços em CUP, Moeda nacional que eu vi. (1 peso cubano = 4 centavos de dólar).
Pizza ou sanduíche de rua- 4 a 15 pesos
Ônibus simples – 0,20 Pesos ( 1,6 centavos de Real)
Metrobus (biarticulado) – 0,40 pesos
Café – 1 peso
Garrafa de Rum- 70 a 150 Pesos
Taxi compartilhado (carros antigos, não lotação) – 10 a 12 Pesos
Sabão – 6 Pesos
Cerveja – A partir de 15 Pesos. “Bruxa”é a mais barata…hehe
Papel higiênico (4 unidades) – 8 Pesos
Caldo de Cana- 1 Peso
Marmita popular ( arroz, feijão, Frango)- 20 a 25 pesos.
Pão com tomate- 3 Pesos
Paella mista no Bairro chines de Havana – 75 Pesos
Refrigerante local – 10 a 20 Cup
O salário de muitos cubanos ligados ao governo é de 350 a 600 Pesos. Tem também habitação, serviços básicos subsidiados (telefone, água luz, gás) e a famosa Livreta, que deveria fornecer comida para o mês, mas que hoje dura muito menos (pouco mais de uma semana). Arroz, Feijão,pasta, açúcar Sal, café, azeite, sabão, papel higiênico Cerca de 30 itens. Alguns deles dependem da disponibilidade, como frango e peixe. Ouvimos muita reclamação de que falta peixe para os cubanos mas nunca para os turistas.
Crianças e doentes tem direitos especiais, como um numero X de litros de leite além de carne de vaca. Existem lojas que vendem o restante dos produtos que uma pessoa precisa em pesos, mas alguns deles vão estar disponíveis somente em CUC.
Em Cuba vivem cerca de 11 milhões de pessoas, e pelo menos 10% desta quantidade no exterior. Se pensarmos que um “ núcleo familiar” é em média de, sei lá, cinco pessoas, pode se imaginar que todos tem algum parente próximo fora do país. Existe grandes envios de dinheiro, legal e ilegal, que sustentam uma economia informal. Além das pessoas ligadas ao turismo que, no final do mês acumulam gorjetas muito maiores que seus salários, existe uma classe alta sustentada pelos envios do exterior, coisa que eu nunca imaginaria. Igualitária no sentido Sócio-cultural, mas não no econômico.
Dentre os serviços informais, estava a venda de roupas vindas de fora. O governo legalizou, cobra uma taxa, e virou uma profissão. O governo não precisa pagar salário para esta pessoa, e ainda recebe, além de formalizar uma prática já existente. Assim vão acontecendo as mudanças em Cuba, lentamente. Conversamos longamente com um jovem casal que teve autorização para vender roupas (sapatos precisa de outra autorização). Eles estão empolgados, ganhando cerca de 300 CUC por mês.
Outra pratica muito comum que acabou de ser legalizada é a venda de casas. Antes as vendas e trocas eram feitas com documentos e advogados, mas não tinham um valor legal, era como a famosa “posse”no Brasil. Além dos imóveis, entrava dinheiro nas negociações. Agora a venda foi legalizada, e as placas de venda estão em varias janelas, cartazes pregados em postes. Conversamos com uma senhora no bairro de Vedado, que trocou seu apartamento, grande, com vista para o mar, por duas casas. Mora em uma e aluga a outra para estudantes de medicina latino-americanos. E assim as mudanças vão acontecendo.
Vendedor de bananas na rua, com seu carrinho de mão, tem licença para trabalhar. Um agente que arruma passageiros para taxis coletivos tem licença para trabalhar, e paga um imposto por isto. A iniciativa privada ainda é pequena, mas vai surgindo aos poucos. Me falaram que já passou dos 25%. Muitos taxistas, agora com seus próprios carros, não trabalham mais para o governo.
Mesmo saudosistas da época pré-período especial (colapso da URSS e aperto ao embargo feito pelos EUA gerou o Período Especial e muitas restrições) me falaram que as mudanças devem acontecer, mas com calma, para não gerar grandes problemas como os ocorridos na Russia ou China.
Repito a dica que me foi dada, corram para Cuba!
Ah Gui como é interessante esta transição das conquistas por direitos sociais do povo.Por um lado se ve uma abertura natural do ser humano valente lutando, e esta abertura mostra a não resistência da impostura do comunismo . é um começo, vou correr pra lá e ver mais um pouco pra ver o que podemos antes de ficar tudo igual aos outros países vizinhos. Parece que esta diversidade loucamente política é que encanta…
Mara, aguarde os outros posts, ou as nossas conversas. 🙂
As conquistas são econômicas, não sociais. Infelizmente socialmente acredito que Cuba só vai perder com isto. Muitas mudanças boas, e muitas ruins estão por vir.
Culturalmente é um país fantástico.
O grande erro está em fantasiar Cuba como um lugar Prefeito ou Terrível. Nem um nem outro.
Beijão